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Artrite reumatoide e comportamento sedentário

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.2 Artrite reumatoide e comportamento sedentário

2.2.1 Estimativas de comportamento sedentário e nível de atividade física

Muitos estudos já avaliaram o nível de atividade física de pacientes com artrite reumatoide (n=51, dados não apresentados), entretanto apenas um pouco mais da metade desses estudos utilizou métodos objetivos (n=27, Tabela 2). Os pacientes com artrite reumatoide permanecem, em média, 10,4 ± 1,8 h/dia em comportamento sedentário (dados subjetivos: 6,4 ± 3,1 h/dia); 4,8 ± 2,7 h/dia em atividade física leve (dados subjetivos: 2,3 ± 1,9 h/dia); e 32,3 ± 29,2 min/dia em atividade física moderada a vigorosa (dados subjetivos: 64,6 ± 54,0 min/dia), sendo que apenas 37 ± 22%

dos pacientes eram considerados ativos (dados subjetivos: 54 ± 13%). Em suma, essas estimativas vão ao encontro dos dados disponíveis na literatura, que demonstram que as estimativas de comportamento sedentário e nível de atividade física advindas de métodos subjetivos subestimam sobremaneira o tempo sedentário e atividade física leve (38% e 52%, respectivamente) e superestimam o tempo gasto em atividade física moderada a vigorosa e o percentual de indivíduos ativos (199% e 145%, respectivamente), em comparação aos métodos objetivos (STAMATAKIS et al., 2018; VAN POPPEL et al., 2010).

Tabela 2. Comportamento sedentário e nível de atividade física mensurados objetivamente em pacientes com artrite reumatoide.

Estudo Amostra Instrumento de

avaliação Comportamento

sedentário Atividade física moderada a vigorosa AbouAssi et al. 2017 35 mulheres; 15 homens

Idade: 55,4±12,8 anos

Tabela 2. Continuação

Fenton et al. 2017 41 mulheres; 20 homens

Idade: 54,9±12,4 anos ActiGraph GT3X

Análise: Troiano 497,4±68,3 min/dia 18,0±17,3 min/dia Gilbert et al. 2016 142 mulheres; 30 homens

Idade: 55,1±13,9 anos IMC: 28,0±6,7 kg/m2

ActiGraph GT1M 9,9±1,4 h/dia *

Gilbert et al. 2018 155 mulheres; 30 homens Idade: 54,9±13,8 anos

Jacquemin et al. 2018 69 mulheres; 14 homens Idade: 49,9±12,9 anos

Khoja et al. 2018 49 mulheres; 11 homens Idade: 59,0±9,8 anos

Análise: Troiano 478±103 min/dia 19±19 min/dia Ativos: 58%

Legge et al. 2017 11 mulheres; 8 homens Idade: 51,5±13,4 anos IMC: 27,3±7,7 kg/m2

ActiGraph GT3X

Análise: Troiano 603,4±72,5 min/dia 41,5±21,3 min/dia Ativos: 15,8%

Munneke et al. 2001 28 mulheres; 13 homens Idade: 55 (35–69) anos

Dynaport ADL monitor

32,5±9,5%/dia

42,1±8,8%/dia *

Tabela 2. Continuação

ActivPAL 18,5±1,8 h/4 dias 25±11 min/dia Ativos: 32%

Semanik et al. 2010 91 mulheres; 16 homens

Idade: 54 (23–80) anos ActiGraph GT1M

Análise: Troiano * 9,1 min/dia

Semanik et al. 2011 140 mulheres; 31 homens Idade: 55±14 anos IMC: 28±6 kg/m2

ActiGraph GT1M

Análise: Troiano * 19±19 min/dia

Bouts: 9±13 min/dia Thomsen et al. 2016 12 mulheres; 8 homens

Idade: 59,3±12,5 anos ActivPAL 10,1±1,8 h/dia *

Análise: Troiano 569 (124–765) min/dia 14 (0–34) min/dia Abreviações: IMC, índice de massa corporal. ‘Análise’ refere-se ao ponto de corte utilizado para a análise dos dados.

*: informação indisponível.

Os pacientes com artrite reumatoide despendem a maior parte das horas diárias em comportamento sedentário e tendem a ser inativos. Em conjunto, os dados apresentados acima destacam a necessidade de promover a prática de exercício físico para essa população e de atenção no que diz respeito às estimativas de tempo sedentário, as quais são superiores ao que se é observado na população geral (média: 9,6 h/dia [intervalo: 8,0-14,1 h/dia] (BARONE GIBBS et al., 2015; CARSON et al., 2014; DIAZ et al., 2017; ENSRUD et al., 2014; EVENSON et al., 2012;

FISHMAN et al., 2016; HAGSTROMER et al., 2015; HANSEN et al., 2012; KIM et al., 2015;

MATTHEWS et al., 2008; QI et al., 2015; SCHMID et al., 2015; STAMATAKIS et al., 2012;

VAN DYCK et al., 2015)). Ademais, os dados de comportamento sedentário indicam que as estimativas de tempo sedentário em pacientes com artrite reumatoide é, na verdade, similar ou superior às de pacientes com outras condições crônicas, por exemplo, doenças cardiovasculares (10,0 h/dia) (EVENSON et al., 2014), diabetes tipo 2 (9,2 h/dia) (COOPER et al., 2012; LAMB et al., 2016) e obesidade (8,9 h/dia) (DE ROOIJ et al., 2016; HEALY; WINKLER;

BRAKENRIDGE; et al., 2015). Cabe destacar que nessas populações o comportamento sedentário se associa com sintomas, pior prognóstico e/ou morbidade e mortalidade (ENGELEN et al., 2016;

HENSON et al., 2013; NICHOLAS et al., 2015; VAN DER BERG et al., 2016; WILMOT et al., 2012). Apesar da ausência ou escassez de dados, é plausível assumir que isso também seja verdadeiro para pacientes com artrite reumatoide, uma vez que eles comumente apresentam fatores de risco (e.g., resistência à insulina, dislipidemia, hipertensão arterial e excesso de gordura corporal) que podem ser agravados pelo comportamento sedentário excessivo (HOLLAN et al., 2013).

2.2.2 Associações entre nível de (in)atividade física, comportamento sedentário e sintomas da doença

Há evidências de que ambos, inatividade física e comportamento sedentário, se associam com piores parâmetros da doença, capacidade física e outros desfechos de saúde em pacientes com artrite reumatoide.

Um maior tempo em atividade física moderada a vigorosa se associa com menor atividade da doença (DAS28 – do inglês Disease Activity Score 28) (HUFFMAN et al., 2015; IVERSEN et al., 2017; KHOJA et al., 2016), índice de massa corporal (IMC), pressão arterial e resistência à insulina (KHOJA et al., 2016), maior capacidade física (VO2máx) (YU et al., 2015), funcionalidade (HERNANDEZ-HERNANDEZ et al., 2014), auto eficácia (HUFFMAN et al., 2015) e qualidade de vida (PRIORESCHI et al., 2013). Ainda, a inatividade física estava associada com a presença de um maior número de comorbidades (SOKKA et al., 2008) e com fatores de risco cardiovascular elevados (METSIOS et al., 2009).

Um menor número de estudos verificou potenciais associações entre comportamento sedentário e desfechos de saúde nessa população, entretanto, parece que um maior tempo

sedentário associa-se com piores desfechos clínicos (DAS28 e fadiga) (HENCHOZ et al., 2012), pior função microvascular dependente do endotélio (FENTON et al., 2018), maior número de comorbidades (HUFFMAN et al., 2015) e risco de eventos cardiovasculares em 10 anos (FENTON; NTOUMANIS; et al., 2020; FENTON et al., 2017), e menor VO2máx (YU et al., 2015) e auto eficácia (HUFFMAN et al., 2015). Em contraste, a participação em atividade física leve parece estar associada com menor DAS28, IMC, pressão arterial sistólica e diastólica, resistência à insulina (KHOJA et al., 2016) e risco de eventos cardiovasculares em 10 anos (FENTON et al., 2017), e maior funcionalidade (avaliada por questionário) (KHOJA et al., 2016).

Em conjunto, esses resultados sugerem que o comportamento sedentário pode representar um risco para a saúde geral desses pacientes. Entretanto, nota-se a escassez de estudos transversais focados em associar o tempo em comportamento sedentário e o nível de atividade física com parâmetros clínicos e risco cardiometabólico em pacientes com artrite reumatoide. Ademais, pouco se sabe acerca de possíveis pontos de corte nos quais o tempo nesses comportamentos passam ou deixam de se associar com piora/melhora de desfechos de saúde nessa população. Tais análises têm grande potencial de fornecer evidências robustas sobre a associação de comportamentos sedentários e ativos com desfechos de saúde e informar estratégias que visam a promoção de um estilo de vida mais ativo nessa população. Entretanto, é preciso ter cautela, pois esses dados não nos permitem inferir causalidade. Para tal, são necessários estudos experimentais robustos que analisem os efeitos da redução do tempo sedentário com atividade física (leve ou moderada a vigorosa) em desfechos de saúde.