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V INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ – IFPA

5.2 As Ações Afirmativas Desenvolvidas no IFPA

Frente às desigualdades sociais e raciais existentes no Brasil, em 2003, o então Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará – CEFET/PA, no intuito de cumprir com sua função social na sua comunidade, iniciou uma trajetória de investimentos em medidas de ações afirmativas, dentro deste foco, destacam-se: o Projeto Vestibular

Solidário, o Programa A Cor Ausente, o Programa de Ingresso do CEFET/PA (PICEFET- PA) e o Projeto UNIAFRO.

O Projeto Vestibular Solidário foi o primeiro projeto de inclusão criado no IFPA, em 2003, por iniciativa do Diretório Central dos Estudantes, o DCE/CEFET-PA. O projeto objetivou oferecer condições necessárias para que alunos oriundos de escolas públicas se preparassem para o vestibular, por meio do repasse de conteúdos das disciplinas exigidas nas provas dos principais vestibulares de Belém. Nele, os licenciandos da Instituição, na condição de voluntários, ministravam as aulas.

No ano seguinte, o projeto passou a ser gerido pela Instituição, juntamente com o DCE/CEFET-PA. A Direção Geral ofertou uma bolsa de apoio no valor de R$ 260,00 (duzentos e sessenta reais) para os licenciandos ministrantes das aulas do Projeto. Os alunos do Projeto contribuíam nos finais de semana com um quilo de alimentos não perecíveis, que eram doados às instituições carentes de bairros de Belém. Depois, essa contribuição foi substituída pela cobrança de uma taxa simbólica de R$ 20,00 (vinte reais), sendo que os mais carentes (50%) eram isentos deste pagamento. Foram destinadas 10 vagas para pessoas portadoras de necessidades especiais, 5 vagas para deficientes físicos e 5 vagas para pessoas com problemas de visão.

O Projeto Inovador de Curso (PICEFET-PA) ocorreu em parceria com a UNESCO/MEC. Tratava-se de um curso preparatório para o vestibular desenvolvido em 900 horas, distribuídas em 200 dias letivos, e pretendia ampliar as condições de acesso e permanência de afrodescendentes, indígenas e desfavorecidos socioeconomicamente, no Ensino Superior. Os objetivos do PICEFET-PA eram: proporcionar reflexões sobre a temática da valorização racial e étnica; promover espaços de informação acerca da problemática racial; e desenvolver interesse pelas realidades socioculturais dos afrodescendentes e indígenas.

Os docentes foram capacitados antes do início dos cursos por meio de debates, cursos, discussões e palestras, como, por exemplo, a que tratava de racismo e educação. A metodologia de desenvolvimento do projeto esteve voltada para 700 horas de formação geral, que tratava dos conteúdos de diversas disciplinas exigidas nas provas do vestibular e 200 horas eram destinadas ao trato de questões como autoestima, identidade, racismo, preconceito, discriminação racial, conhecimento da legislação contra o racismo, dentre outras, por meio de oficinas, palestras e visita a um quilombo no município de Concórdia do Pará.

As aulas eram ministradas por acadêmicos de cursos de licenciatura do IFPA e de outras instituições e eles recebiam uma bolsa de R$ 275,00 (duzentos e setenta e cinco reais), enquanto os cursistas recebiam uma bolsa de R$ 45,00 (quarenta e cinco reais), como incentivo à sua permanência no curso. Foram inscritos 230 alunos, 5% foram aprovados em processos seletivos de universidades públicas e particulares, com incentivos do ProUni, e ingressaram em cursos superiores como: Pedagogia, Letras, Enfermagem, Engenharia Florestal, Desenho Industrial, Medicina Veterinária, Direito e outros.

Na condição de coordenadora pedagógica do PICEFET/PA, procurei me aproximar dos alunos e, em função disso, perceber e vivenciar situações relacionadas à baixa autoestima dos alunos decorrentes do pertencimento racial e de classe social, e disso deriva a vontade de ingressar em cursos superiores. Encontrei alunos que se matricularam no curso com vistas a receber a bolsa de 45,00 porque ajudaria no seu sustento; percebi, ainda, alunos com a tez mais clara, considerando-se superiores aos mais escuros; e observei na relação entre eles, o uso de apelidos como macaco, gorila; ou o uso de expressões como a “sala escureceu” com a chegada de alunos mais escuros. Essas observações sinalizavam a existência do racismo nas relações cotidianas da Universidade.

O Projeto A Cor Ausente, patrocinado pelo MEC/SESU/SECAD, por meio do Programa UNIAFRO, em 2006, iniciou no IFPA o processo de implementação da Lei 10.639/03, que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro- brasileira e Africana na Educação Básica. Ele foi desenvolvido com a realização das seguintes ações: oficinas com o tema “formação cultural e étnica”; visitas a comunidades quilombolas, com o intuito de fazer os estudantes perceberem o negro como elemento importante na formação da sociedade brasileira e que pudessem observar as relações de trabalho existentes nesses espaços; mesas-redondas com o tema “populações tradicionais, novos atores sociais e diferentes territorialidades na região amazônica” e “população negra, políticas públicas e políticas de ações afirmativas”.

O Projeto A Cor Ausente abrangia três subprojetos, sendo um de formação continuada de professores, tanto do IFPA, quanto da rede pública estadual, com o título Etnocentrismo, multiculturalismo, inclusão e cidadania, com o objetivo de formar agentes multiplicadores. Outro subprojeto desse programa foi o Teatro: resgatando a história do negro do IFPA, que objetivava vivenciar a cultura negra na Amazônia e em outras regiões do Brasil, incentivando os alunos a participarem de estudos sobre a participação do negro

no processo de formação da Amazônia, por meio de uma oficina com carga horária de 100 horas e de apresentações teatrais sobre a história do negro e do preconceito racial no Brasil.

Desse curso, surgiram algumas propostas para a implementação da Lei 10.639/03 e iniciaram-se as discussões sobre a reforma da matriz curricular das disciplinas Língua Portuguesa, Literatura, História e Artes, para o Ensino Médio e também deram-se os primeiros encaminhamentos para a elaboração da disciplina Educação para as Relações Étnico-Raciais, nos cursos de Licenciatura Plena. As discussões tiveram como objetivo a reformulação das matrizes curriculares dos níveis de ensino ofertados pela Instituição.

Cursos de Especialização em Educação para as Relações Étnico-Raciais, com carga horária de 375 horas, patrocinados pelo MEC/SESU, por meio do PROEXT/2007 – implementando a Lei 10.639/03, no IFPA, tinha o objetivo de capacitar alunos egressos dos cursos de licenciatura da instituição, para lhes oferecer referencial teórico, pedagógico e metodológico sobre os campos de estudos africanos e afro- brasileiros e, com isso, atender aos propósitos da Lei 10.639/03, que era o de inserir no currículo escolar, em todos os níveis, conteúdo de História e Cultura Africana e Afro- brasileira.

Segundo Santos (2005, p.34), “é fundamental que as Universidades já formem professores qualificados para uma Educação antirracista e não eurocêntrica”. Portanto, é necessário pensar uma mudança profunda nos programas e/ou currículos das licenciaturas universitárias, uma vez que, atualmente, elas não são capazes de cumprir os objetivos da Lei 10.639/03.

Com o desenvolvimento desses projetos, o IFPA demonstra interesse em propiciar uma mudança de valores, de posturas e de atitudes em relação aos afrodescendentes, índiodescendentes e pessoas carentes e, assim, engajar-se no processo de promoção de políticas de ações afirmativas.