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A passagem para um novo paradigma de produção veio acompanhada de mudanças tanto nos setores de tecnologia quanto no de gestão de mão-de-obra que

refletiu sobre as necessidades de qualificação. Diante de maiores e diferentes exigências educacionais, geram-se desigualdades sociais e, por conseguinte, raciais. Vêm à tona muitas incertezas para os grupos considerados minorias e, nesse sentido, as gestões educacionais são obrigadas a olhar para isso.

Ciavata (2006), ao questionar em seus estudos a transformação dos CEFETs em instituições de ensino superior, delineou as seguintes hipóteses:

A transformação dos CEFETs em instituições de ensino superior expressaria, em parte, a rejeição às atividades técnicas supostamente, subalternas que tem uma origem histórica no mundo ocidental e no Brasil, com seus quatro séculos de escravidão e cinco de dualismo estrutural e discriminação étnica e social ante as atividades manuais. Em um mundo saturado de alta tecnologia, apropriação privada da riqueza social e o empobrecimento crescente de grandes massas da população, como os CEFETs se aproximam dessa questão? Qual é leitura do mundo que preparam seus alunos?

Destinados, originariamente, para as “classes desfavorecidas”, que continuam a procurá-los pelo vínculo da escola com o trabalho, a questão das classes sociais e a exclusão de tantos dos benefícios são aspectos da realidade que não pode ser alheios a sua prática pedagógica. A técnica não é uma questão técnica , é uma questão política no sentido de que surge , é criada para dar solução a problemas humanos e sofre todas as distorções da apropriação privada em favor de classes e de grupos hegemônicos. As armas poderosas das intervenções militares, os alimentos transgênicos, a indústria farmacêutica são alguns exemplos da mercantilização do conhecimento em favor dos países ricos com graves conseqüências para os mais pobres. Estas questões são inerentes á ação educativa profissional e técnicas, seja nos atuais CEFETs seja nas futuras universidades tecnológicas (CIAVATTA, 2006, p.929).

Para a juventude negra e a população negra em geral, a quem durante séculos foram reservados ofícios inseridos no universo da desqualificação e desvalorização profissionais, nas últimas décadas, ingressar nas Escolas Técnicas pode significar a inserção no mercado de trabalho com mais qualificação e, por conseguinte, a garantia de melhores condições de vida. Um caminho para a ascensão social.

Muitos alunos foram estimulados a cursarem Escola Técnica na perspectiva de obter profissionalização, por um lado, mas, por outro, significou abster-se de ingressar na universidade. Hoje, acessar aos cursos do Instituto Federal de Educação Tecnológica, principalmente de nível superior, não é só uma aspiração de negros, mas um desejo de todos os segmentos raciais.

A Rede Federal de Educação Tecnológica possui autonomia para criação de cursos e ampliação de vagas

,

o que é fundamental para atender ao dinamismo do mercado de trabalho, bem comocontribuir para erradicar desigualdades.

Após quase cem anos da efetivação da Educação Profissional como política pública, haja vista que data de 1909 foi a criação das Escolas de Aprendizes de Artífices, houve, em 2006, a realização da Conferência Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, cujo tema foi: Educação como estratégia para o desenvolvimento e a inclusão social. Tal encontro buscou pensar e traçar diretrizes para a consolidação da Educação Profissional e Tecnológica como instrumento imprescindível para o aperfeiçoamento da democracia, para o desenvolvimento econômico e para a construção de políticas de inclusão social no país.

Foi uma experiência marcante que trouxe muitas esperanças de inclusão, porque era foco da Conferência propor mecanismos permanentes de financiamento com o objetivo de assegurar a expansão, a qualificação e a manutenção da Educação Profissional e Tecnológica, a fim de garantir a implantação de ações efetivas para o atendimento das necessidades de jovens e adultos e a participação destes no mercado de trabalho.

4.4

A Lei 10.639/03 em Busca da Desconstrução do Racismo

Institucional no Mercado de Trabalho

As desigualdades raciais estão presentes em todos os níveis de ensino da educação brasileira. Por mais que os negros ampliem sua presença nas escolas e nas universidades, ainda permanecem em situação de desvantagem em relação aos brancos.

Nas escolas, a cor da pele e outras características fenotípicas, como textura dos cabelos, traços fisionômicos e manifestação de aspectos das heranças culturais africanas fazem com que os negros sejam tratados de forma inferiorizadora, tanto em aspectos cognitivos quanto em aspectos morais.

A implementação da Lei 10.639/03 tem por objetivo desconstruir o racismo no cotidiano, e, nos sistemas de ensino, é imprescindível a aplicação dela na Educação Profissional porque esse público, como já foi explicado anteriormente, é historicamente alijado das oportunidades educacionais e profissionais. Para que isso se realize, é necessário que os Institutos Federais de Educação tenham um currículo articulado entre

a formação humanística e técnica/tecnológica e que observem as necessidades dos diferentes.

Entretanto, ressalta-se que a Educação Profissional e Tecnológica - uma modalidade da educação brasileira tão importante quanto outras - não foi contemplada no documento “Orientações e Ações para as Relações Étnicas Raciais”, publicado pelo MEC. A SETEC, entendendo que a temática é pertinente à Educação Profissional e Tecnológica, tomou iniciativas para que tal modalidade se relacionasse com a referida lei. Em 2006, pela Portaria nº 10, da SETEC, foi criado um Grupo de Trabalho constituído por representantes dos segmentos de órgãos governamentais e de militâncias e, em parceria SETEC com a SECAD e SEPPIR, organizaram oficinas regionais denominadas de “Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”, com o objetivo de criar condições iniciais para a aplicação da Lei 10.639/03 na Rede Federal, através da sensibilização e da troca de experiências, usando a estratégia de ouvir e buscar propostas dos próprios profissionais de como aplicar a lei nos espaços dos Institutos Federais de Educação. Eu participei dos encontros e da sistematização dos resultados das oficinas (SETEC, 2008).

As oficinas foram realizadas nos CEFETs das regiões Norte (envolvendo os professores do Norte e do Nordeste), Centro–Oeste, Sudeste, Nordeste e Sul. A primeira oficina foi organizada pelo antigo CEFET/PA, nos dias 22 e 23 de novembro de 2006. Ali, evidenciou-se que o primeiro desafio para a implementação da Lei 10.639/03 e suas Diretrizes na Rede de Educação Profissional e Tecnológica seria a superação do currículo até então adotado e seu respectivo processo pedagógico.

A iniciativa da SETEC foi coroada com a publicação em 2008 do livro “Implementação das Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico- Raciais e o Ensino de História e Afro-Brasileira e Africana na Educação Profissional Tecnológica e Cultural” - Lei 10.639/03 na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. Os autores foram professores dos IFETs, alguns representantes do Grupo de Trabalho e voluntários especialistas na temática.

Nos primeiros artigos, foram elencados os desafios de se ter novas concepções nas relações do mundo globalizado e que desconsideram o conhecimento e a tecnologia desenvolvidos pela cultura africana, a realidade da população negra, as condições do

mercado de trabalho e da educação que justificam a implementação da referida lei também na Educação Profissional e Tecnológica (SETEC, 2006, p.14).

V

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E