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Parte IV Análise e Discussão de Resultados

9. Apresentação de Resultados e Respetivas Considerações

9.4. As práticas de Gestão

9.4.2. As Ações de Formação

9.4.2.1. A Relevância das Ações de Formação

O primeiro assunto a tratar sobre as ações de formação centra-se, fundamentalmente, na utilidade das ações de formação a que os voluntários tiveram acesso, assim como analisar a importância atribuída pelos mesmos a esta prática.

As ações de formação da Instituição em causa contemplam dois aspetos, em primeiro lugar, a Formação Básica Institucional (FBI), que dá a conhecer aos voluntários toda a história da Instituição, tais como os seus princípios e valores. E, em segundo lugar, a formação específica, direcionada para os objetivos de cada projeto.

Segundo os indivíduos que fizeram menção à FBI, esta é um elemento muito importante para o início da atividade voluntária:

“Há sempre o voluntário antes e depois do FBI, ou o voluntário antes e depois de conhecer a instituição. Porque a partir do momento em que conhecemos a Juventude e todo o historial e como é que surgiu, e o fundador, e os ideais, e os princípios, ganhamos um amor tal (…).” (Ana Maria)

Assim se verifica, como já indicado por Eisner et al. (2009), que a Formação Básica Institucional está a ter o impacto previsto, dando a conhecer a Instituição aos seus voluntários, assim como a criar laços de envolvimento entre si. Por outro lado, a oferta formativa da Cruz Vermelha parece estar bem estruturada. Uma vez que considera aspetos gerais e específicos, por um lado, dá a conhecer aos voluntários os princípios da atividade voluntária e a Instituição à qual pertencem e, por outro, procura facultar os instrumentos e conhecimentos necessários para a execução das tarefas, tal como recomendado pelo Projecto GRACE (2006).

Relativamente às ações de formação específicas, as posições dos inquiridos dividem-se, essencialmente, em três. Sensivelmente metade dos inquiridos considera a formação uma prática de cariz salutar e de extrema importância para o seu trabalho. Todavia, alguns destes indivíduos reclamam um maior número de ações de formação devido a necessidades sentidas na prática do trabalho:

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“Eu acho que foram interessantes, foram úteis, mas há mais que poderia ser feito (…), especialmente, sobre questões como lidar com crianças de etnia cigana (…), como lidar com eles, lidar com uma situação de birra extrema, coisas assim. Aí, senti-me um bocadinho perdida no início (…).” (Ana Paula)

Em contrapartida, para outros indivíduos, o acesso a ações de formação parece ser datado de maior abrangência, como se pode estudar nos próximos comentários:

“Acho que sim (…). Nós vamos tendo vários tipos de formações em diferentes projetos e vou tentando aproveitar aquelas que podem ser benéficas para o meu trabalho (…).” (Catarina)

“Sim é. E depois nós vamo-nos adequando cada vez mais às formações (…). Renovamos porque, às vezes, vamo-nos esquecendo, e temos mais formações.” (Carolina)

Opostamente, um número considerável de apreciações confirmam que as ações de formação não foram suficientes para a realização do trabalho, além de insinuarem uma lacuna na transmissão ou no conteúdo das matérias:

“A formação deu-nos muita utilidade acerca do conhecimento da causa (…), agora, acerca do trabalho de campo em si… claro que temos de saber os direitos (…), agora, na prática, não acho que isso tenha dado alguma coisa.” (Mariana)

“Não (…). A formação não é contínua. Isto é, nós temos uma formação que não nos prepara para o terreno, eles dão-nos uma formaçãozinha e a gente vai e depois, lá está, as coisas têm que ser todas decoradas, todas ditas (…).” (Matilde)

“Não. Acho que faltaram algumas informações ou algumas informações até foram dadas, mas foram dadas de forma rápida e foi difícil apreender para depois passar ao campo (…). Falta o lado afetivo do que vamos fazer, mais uma orientação do que devemos ou não fazer com as crianças (…).” (Alexandra)

Além destas posições principais, há quem pondere que a formação pode não ser suficiente para o trabalho prático por considerar que o perfil do voluntário não se encaixa nas funções respetivas. Esta postura conduz à ideia de que, independentemente da formação, há indivíduos que não possuem capacidades para o exercício de determinadas tarefas. Por outro lado, há também a ideia de que a transposição dos conhecimentos adquiridos para a prática é sempre uma tarefa mais difícil. Por isto,

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só depois de experimentado o trabalho prático é que realmente se começam a conhecer os seus meandros, não sendo a formação, por si só, condição suficiente para o seu eficaz exercício.

Tendo em conta algumas opiniões, pode apontar-se para a ideia de que as ações de formação concedidas na Juventude Cruz Vermelha podem não estar perfeitamente adequadas às necessidades de cada função, o que se pode traduzir numa perda de eficiência. Além disso, as referências à ausência de uma formação contínua acusam uma falha nestes processos (Ellis, 2005), visto o ideal ser um processo contrário ao que aqui se relata. No entanto, deve ter-se especial cuidado com as referências à formação insuficiente, dado que pode constituir um elemento de insatisfação que, segundo Skoglund (2006), pode conduzir os voluntários a uma saída da Instituição.

Em jeito conclusivo, a ideia que parece ser difundida é a de que embora o desenho das ações de formação esteja de acordo com os ideais alvitrados pela literatura, os conteúdos ou a forma como estes são transmitidos não estão a ter o impacto previsto. Portanto, a Instituição em causa deve atender a estes aspetos, com vista à satisfação dos voluntários, assim como ao melhoramento do trabalho e aos objetivos organizacionais. De realçar, também, a pertinência da realização de um levantamento de necessidades de formação, quer das funções em vigor quer, fundamentalmente, dos próprios voluntários.

9.4.2.2. O Impacto das Ações de Formação no Voluntário

Pretende-se agora analisar quais os impactos que a formação teve a nível pessoal. Para praticamente todos os voluntários a formação recebida teve impactos positivos. No entanto, as opiniões desse mesmo impacto apresentam-se bastante heterogéneas. O impacto mais comum foi a aquisição de novos conhecimentos, seguindo-se a aquisição de competências e, equitativamente a esta, uma mudança na maneira de ver o mundo. Estudem-se estes comentários:

“Sim, nós começámos a entender a etnia cigana (…) de uma outra maneira, porque antes de os conhecer e de ter essa formação acho que, como todos pensam, que roubam (…), têm mais os preconceitos, e essas formações ajudaram a perceber a vida deles.” (Carolina)

“A nível pessoal trouxe-me imensa coisa. Ainda aconselhei umas amigas minhas a entrarem no meu projeto, porque no curso (…) nós apresentámos muitos trabalhos, e (…) é muito importante sabermos falar para o público, é muito importante ter aquele à vontade, e (…) dá para aprender muito isso (…).” (Matilde)

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Os aspetos menos referidos como decorrentes da formação recebida são a questão da certificação das ações de formação, a valorização do trabalho e, por último, o interesse pessoal nas matérias lecionadas. Uma vez que o aumento de conhecimento e de competências serve propósitos e necessidades pessoais, é de salientar o conhecimento de que estes são componentes propulsores das taxas de retenção (Skoglund, 2006), servindo, igualmente, as necessidades da Juventude Cruz Vermelha.