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Fatores que Motivam para a Continuidade do Trabalho Voluntariado

Parte IV Análise e Discussão de Resultados

9. Apresentação de Resultados e Respetivas Considerações

9.6. Aspetos Motivacionais do Trabalho Voluntário

9.6.5. Fatores que Motivam para a Continuidade do Trabalho Voluntariado

Exibem-se, presentemente, quais as motivações gerais, concebidas pelos entrevistados, para se fazer voluntariado. De certa maneira, foi possível perceber, identicamente, o que leva os mesmos a continuarem a exercer esta atividade.

Tal como na motivação inicial, a causa com maior impacto, para cerca de metade dos inquiridos, é ser útil à sociedade ajudando os outros, seguindo-se a satisfação/realização e crescimento pessoal. Reflita-se sobre um argumento representativo destes dois fatores:

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“(…) é fazer parte de alguma coisa, contribuir para o bem estar, a satisfação (…) de alguém. E claro que isso passa também a nível pessoal, é uma satisfação imensa (…).” (Isabel)

Uma motivação que surge agora com mais força, comparativamente às causas para a motivação inicial, refere-se ao desenvolvimento de competências e ao uso das mesmas para o enriquecimento do currículo e para a entrada no mercado de trabalho do indivíduo voluntário:

“A motivação é aquilo que nos leva a fazer algo (…). É o crescimento pessoal que isso nos pode proporcionar através do conhecimento e do contacto com imensa gente com perfis completamente diferentes (…). E o saber que estou a fazer alguma coisa que me está a trazer competências para um trabalho futuro.” (Maria)

Finalmente, um novo fator motivador aqui ilustrado é a relação com os outros, e o ambiente familiar que se cria na Instituição:

“A relação que estabeleci com as crianças (…), a relação que tenho com os coordenadores, com as pessoas de cá (…).” (Joana)

“(…) as amizades que nós temos aqui, o convívio (…), é uma família aqui dentro (…). Nós sentimo-nos mesmo bem aqui.” (Carolina)

Uma vez que os fatores de motivação agora explanados não constituem uma novidade no contexto deste trabalho, o que se mostra importante com este ponto é a análise das diferenças entre este e a motivação inicial. E, neste sentido, a justificação que se exalta para o “bom ambiente organizacional” e para o aumento de referências sobre o “desenvolvimento de competências”, poderá estar relacionada com o facto de serem novidades para os voluntários. Ou seja, no que respeita ao ambiente organizacional, é uma situação vivida e conhecida apenas a posteriori. Quanto à oportunidade para o desenvolvimento de habilidades para o contexto profissional, por um lado, pode ser do desconhecimento de muitos a certificação do trabalho voluntário e, por outro lado, o sentimento de desenvolvimento de certas competências e a verificação de que esta atividade pode facilitar a entrada no mercado de trabalho são questões igualmente percebidas aquando da efetivação prática deste trabalho, sendo mais difícil percebê-lo antes. Aprecie-se, por fim, o seguinte testemunho:

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“(…) fazer voluntariado dá um conhecimento da realidade que dificilmente eu teria, e ‘desperconceitualiza’ uma série de coisas (…). É uma desconstrução de mitos que me tornam uma pessoa melhor, mais compreensiva, mais aberta a ouvir a história do outro (…). E depois aquela questão (…) da capacitação. Eu posso-lhe dizer que tudo o que eu sei fazer hoje (…) devo aqui (…). Quando daqui a uns meses eu for para o mercado de trabalho, muito do acervo e da ‘estaleca’ que eu vou levar, não o vou dever à minha licenciatura, de todo.” (Beatriz)

Em jeito conclusivo, aprecie-se a tabela que se segue, onde se apresentam os principais fatores de motivação e de desmotivação apontados pelos entrevistados:

108 Principais fatores indicados pelos voluntários

como conducentes a:

Motivação Desmotivação Medidas de prevenção da desmotivação

O desenvolvimento do trabalho voluntário (conteúdo do mesmo)

Difícil conjugação do trabalho voluntário com as restantes exigências da vida do voluntário

Desenvolver maior preocupação em não sobrecarregar os voluntários, tentando possibilitar horários mais flexíveis para as reuniões e para as ações de formação.

Satisfação em ajudar os outros

Aumento de exigências e responsabilidades subsequentes

do Plano de Voluntariado

Primeiramente, apresentar de forma conveniente o Plano de Voluntariado (objetivos e benefícios) e, de seguida, consultar os voluntários sobre as suas conceções do mesmo, na tentativa de ajustar todo o plano às caraterísticas da força de trabalho voluntária e obter a sua aceitação.

Realização pessoal e desenvolvimento de novos

conhecimentos e competências

Falta de liberdade e autonomia

Deve ter-se em atenção o possível excesso de rigidez na implementação das práticas de gestão, e procurar fazer uso dos conhecimentos que os voluntários detêm.

Ambiente organizacional Falta de compreensão e apoio por parte da Instituição

Desenvolver maior preocupação para com as necessidades dos voluntários. Quer no que respeita ao trabalho voluntário, quer no que concerne às questões pessoais que possam intervir no exercício deste trabalho.

Sentimento de pertença à

organização Aumento do número de regras (por exemplo, a coima)

Estimular os voluntários, não por via da obrigação, mas através de meios de satisfação com o trabalho.

Consideração das suas opiniões e apoio por parte

da Instituição

Falta de reconhecimento do trabalho por parte da Instituição

Promover meios e hábitos de reconhecimento do trabalho realizado pelos voluntários, não deixando passar despercebido um simples “parabéns”.

Avaliação de Desempenho Avaliação de Desempenho

Desenvolver a avaliação de desempenho de modo a que os voluntários não a interpretem como via para uma crítica negativa ao trabalho realizado mas como uma oportunidade de melhoria. Devem ser sublinhados os vários benefícios da avaliação. Não se pode esquecer o feedback posterior ao exercício da avaliação. Maior esforço e

responsabilidade dos outros voluntários para um

melhor trabalho

Falta de comunicação, essencialmente, no processo de

feedback

Desenvolver meios para uma melhor comunicação e para um processo de

feedback, preferencialmente, bidirecional.

Autonomia

É importante manter o grau de autonomia exaltado pelos voluntários, embora se deva ter em atenção situações de autonomia exagerada que podem conduzir a comportamentos contraproducentes.

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voluntários é um bom indicador da orientação e apoio facultados pela Instituição. Porém, deve ser continuadamente promovido, com vista a um aperfeiçoamento contínuo do desempenho.

Reconhecimento e recompensas

São práticas de gestão com bastante influência ao nível da motivação e, por esse motivo, a Instituição deve continuar a desenvolver um bom trabalho nesta área.

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