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Capítulo III: Do Risco Intenso da Assimetria Informativa nos Contratos de

B. As armas do Consumidor e Mecanismos de Controlo na Tutela do

Um controlo eficaz terá de actuar em três vertentes: pela consagração de medidas destinadas a obter, em cada contrato que se venha a concluir, um efectivo e real acordo sobre todos os aspectos da regulamentação contratual; pela proibição de cláusulas abusivas; e pela atribuição de legitimidade processual activa a certas instituições (como o Ministério Público) ou organizações (como as associações de defesa do consumidor) para desencadearem um controlo preventivo (que além de permitir superar a habitual inércia do aderente se mostra bem mais adequado à generalidade e indeterminação que caracteriza este processo negocial), isto é, um controlo sobre as «condições gerais».

No domínio do direito do consumo, conforma supra se expendeu, congregam- se interesses colectivos, pelo que os ilícitos podem atingir um número significativo de consumidores causando-lhe danos, ao que se erguem duas armas possíveis: as acções popular e colectiva. A acção popular no direito português difere das class actions no direito norte-americano, porquanto a sua

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legitimidade não se limita a um membro ou vários membros de uma classe poderem instauram uma acção que produzirá efeitos em relação a todos, mas surge também prevista relativamente a associações de defesa do consumidor. Com efeito, não são usuais acções populares instauradas por cidadãos individuais, tendo este meio processual sido utilizado sobretudo pelas associações de defesa do consumidor.

Na verdade, conforme refere, e bem, Adelaide Menezes Leitão, «as acções

populares não configuram um meio processual, mas um problema de legitimidade»70. A

maioria destas acções é instaurada por associações de defesa do consumidor e tendem a ser substituídas pelas acções inibitórias sobretudo nas áreas das cláusulas contratuais inválidas. Porém, estas acções inibitórias uma vez que instauradas por associações de defesas de consumidor tomam a forma de acções populares inibitórias. Summo rigore, quadro legislativo da acção popular encontra-se previsto na Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto, na qual a protecção do consumo de bens e serviços é um dos interesses protegidos (art. 1.º/2), sendo titulares do direito de acção popular os cidadãos individuais e as associações e fundações defensoras do consumo de bens e serviços (art. 2.º/1), estando a legitimidade activa das associações e fundações dependente de personalidade jurídica, de que conste nos seus estatutos a defesa do interesse assinalado e não exercerem concorrência com empresas ou profissionais liberais (art. 3.º/1). O art. 12.º/2 da Lei antes referida dispõe que a acção popular pode revestir qualquer das formas previstas no Código de Processo Civil. Abrangem-se, assim, acções declarativas e executivas, bem como as providências cautelares.

Também o mediador de crédito desempenha um papel fulcral na assistência ao consumidor: o Decreto-Lei n.º 144/2009, de 17 de Junho, introduziu no

70 MENEZES LEITÃO, Adelaide. (2011). Publicidade e Tutela do Consumidor. In: Estudos em

memória do Professor Doutor J. L. Saldanha Sanches / org. Paulo Otero, Fernando Araújo, João Taborda da Gama. Coimbra. Coimbra Editora. Vol. II. Pp. 9-27.

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ordenamento jurídico português a figura do Mediador do Crédito, cuja actividade visa a defesa e a promoção dos direitos, garantias e interesses legítimos de quaisquer pessoas ou entidades em relações de crédito, designadamente no domínio do crédito à habitação, com vista a contribuir para melhorar o acesso ao crédito junto do sistema financeiro. Com a mediação pretende-se fomentar a comunicação entre as partes, no sentido de se conseguir uma alternativa viável na resolução de litígios nas relações de crédito, quando se tenham esgotado todas as hipóteses de entendimento entre os clientes bancários e as instituições de crédito.

Acresce, por fim, a dimensão internacional de protecção do direito do consumidor como bastião do núcleo de protecção mínima dos consumidores, porquanto uma ordem de limitações imposta aos contratos de consumo radica precisamente na escolha da lei pelas partes, conforme decorre do artigo 23.º da RCCG. Aí se consagra uma norma de conflitos que visa dar primazia à RCCG, sempre que o contrato celebrado por adesão apresente conexão estreita com o território português, malgrado a lei escolhida pelas partes71.

No que tange aos meios de resolução de litígios, se subsistir um conflito que envolva uma instituição que comercializa produtos e serviços bancários, como crédito à habitação e outros créditos hipotecários, crédito aos consumidores, serviços mínimos bancários, contas e serviços de pagamento e emissão de moeda electrónica, o consumidor pode recorrer a uma entidade de resolução alternativa de litígios, em vez de se dirigir ao tribunal, poupando elevados montantes em taxas de justiça. Contudo, há que consultar a informação sobre as entidades de resolução alternativa de litígios a que a

71 MOURA VICENTE, Dário. (2005). Lei Reguladora dos Contratos de Consumo». In: Estudos

do Instituto de Direito do Consumo. Instituto de Direito do Consumo da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Almedina. Coimbra. Vol.II.

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instituição em causa aderiu e às quais se pode dirigir72, porquanto a arbitragem

não é necessária, não estando as IC obrigadas a dirimir pelos meios alternativos os litígios, a menos que tenha aderido plenamente ou parcialmente, relativamente a um número limitado de matérias. Também os meios RALC têm exibido resultados assaz positivos na resolução de litígios de consumo, num período substancialmente mais curto do que os tribunais judiciais e julgados de paz, que começam a acusar sinais de paralisação em razão do congestionamento que decorre da falta de meios humanos, insuficiência de número de julgados para os grandes concelhos e do alargamento das competências.

Tratando-se de um consumidor residente noutro Estado-Membro, poderá apresentar a sua reclamação através do Centro Europeu do Consumidor, acedendo ao sítio electrónico onde dispõe do formulário electrónico para o efeito73, como resposta aos desafios da avolumada dimensão do Mercado

Interno Digital da UE, firmada pelo Regulamento (EU) 524/2013, de 21 de Maio, cuja aplicação efectiva nos Estados-Membros teve início no dia 15 de Janeiro de 2016.