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As atribuições legais do gestor escolar e as formas de provimento ao cargo

No documento helenacardosoribeiro (páginas 48-51)

A partir de um enfoque no cotidiano escolar, buscamos verificar as atribuições legalmente exigidas dos diretores de escola e as formas como estes chegam ao cargo e, a partir daí, procurar compreender sua rotina e observar se as exigências do seu dia a dia confluem com o que está preestabelecido como sua função.

A Constituição de 1988, em seu Artigo 206, estabelece que o ensino seja ministrado com base em alguns princípios, dentre os quais está “a gestão democrática do ensino público”, sem mais definições para tal (BRASIL, 2010a). Em 1996, a gestão democrática da Educação foi reforçada pela LDB, em seu Artigo 3º, colocando novamente a gestão democrática do ensino público como um dos princípios da Educação (BRASIL, 2010b). A LDB de 1996 ainda institui em seu Artigo 14 que:

Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na Educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I – participação dos profissionais da Educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 2010b).

Desse modo, a gestão democrática da Educação, considerando-se os princípios estabelecidos na LDB, será definida pelos sistemas de ensino. Assim, cada sistema determina como o gestor escolar terá acesso ao cargo e quais serão suas atribuições como gestor. Souza (2006a), utilizando dados do Saeb 2003, apresenta as formas de provimento ao cargo de gestor escolar existentes no Brasil, são elas: seleção, só eleição, seleção e eleição, indicação de técnicos, indicação de políticos, e outras indicações. Já na pesquisa realizada pelo CAEd (2009), no que se refere ao processo de escolha do diretor, foi perguntado “Como você assumiu a direção dessa escola?” e as alternativas foram: eleição por colegiado escolar, eleição pela comunidade escolar, exame de seleção, exame de seleção e eleição, e indicação de técnicos. Apesar de serem pesquisas que utilizaram fontes diferentes e terem algumas de suas porcentagens também distintas, os dados levantados por ambas as pesquisas confluem para reflexões semelhantes.

Souza (2006a) chama atenção para o fato de que mais de 43% do total dos diretores foram escolhidos através de alguma forma de eleição (27,5% por eleição e 15,5% por seleção com eleição). Somando-se a isso os 6% de cargos preenchidos via seleção, tem-se um total de quase 49% de diretores que assumiram por mecanismos aparentemente mais democráticos. Esses resultados são semelhantes aos encontrados pelo CAEd (2009) em que 45% foram eleitos, seja pelo colegiado, pela comunidade ou pelo exame de seleção mais eleição. Outros 30% desses profissionais chegaram ao cargo por seleção, totalizando até aqui 75% do total das formas de acesso ao cargo. Apesar de a forma de provimento ao cargo não garantir a ampliação da gestão democrática, tais resultados são um indicativo importante do desenvolvimento de melhores condições para a democracia na escola, além de revelar que o estabelecido pela Constituição Federal e pela LDB está sendo seguido.

Outra forma de provimento ao cargo com porcentagem considerável é a indicação. Sousa (2006a) aponta em sua pesquisa que esse percentual chega a 11,9% para indicações por técnicos e 21,8% por políticos, ou seja, 33,7% dos diretores são indicados ao cargo. Já a pesquisa do CAEd (2009) assinala que 25% dos diretores são indicados. Apesar da diferença de percentual entre as duas pesquisas, ambas apontam que há ainda um grande número de diretores que tem acesso ao cargo por indicação. Essas indicações têm uma forte carga política e representam uma “intervenção direta do poder público nas escolas ou utilização da

direção como peça do jogo político-partidário cotidianamente executado nas políticas regionais ou locais.” (SOUZA, 2006a, p. 230).

É importante destacar algumas características das diferentes formas de provimento ao cargo de diretor. Em geral, as escolas de Ensino Médio possuem mecanismos mais democráticos de escolha dos diretores do que as escolas do primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Isso também está ligado à rede às quais elas pertencem, de modo que escolas estaduais (que atendem a maior parte do Ensino Médio) adotam mais os mecanismos ligados às eleições e as escolas das redes municipais (responsáveis pelo Ensino Fundamental) tendem a adotar os mecanismos de indicação.

Ainda sobre a forma de provimento ao cargo, Souza (2006a) sustenta que é nesse aspecto do perfil da gestão escolar no Brasil que ocorrem as maiores discrepâncias regionais. Por exemplo, nos estados do Nordeste a indicação por políticos é a opção mais marcada pelos diretores no questionário, já nos estados do Sudeste, as eleições ocupam a primeira posição.

O Brasil apresenta um quadro bastante difuso com relação às formas de provimento ao cargo de diretor escolar, mesmo com a identificada tendência às formas mais democráticas. A Constituição e a LDB não definem de modo claro como seria a forma de provimento ao cargo, estabelecendo apenas que esta deve ser democrática. Deste modo, como disposto nas leis, fica incumbido a cada sistema de ensino definir a melhor maneira de se chegar ao cargo de diretor e é em âmbito regional ou local que esse processo ganha configuração. Afirmado isso, é necessário que contextualizemos o município de Juiz de Fora de acordo com suas características físicas, socioeconômicas, políticas e, por fim, sua legislação referente à forma de provimento ao cargo de diretor e ao estabelecimento das funções desse profissional.

2 A GESTÃO ESCOLAR NO MUNICIPIO DE JUIZ DE FORA

Neste Capítulo apresentamos o município de Juiz de Fora em seus aspectos gerais, com destaque para a Educação. Buscamos resgatar a trajetória do município no setor educacional, enfatizando os pontos considerados fundamentais para entendermos melhor o contexto desta pesquisa. Destacamos a legislação vigente no município no que ela dispõe sobre a gestão escolar, definindo a forma de provimento ao cargo de diretor e suas funções.

No documento helenacardosoribeiro (páginas 48-51)