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Capítulo V – Análise das Aulas

V. 3.2 – As aulas experimentais investigadas

Para investigar as aulas experimentais de ensino superior, gravamos em vídeo as aulas de dois professores, sendo que um deles descreveu suas aulas como interativas – com participação dos estudantes – e o outro as descreveu como não interativas – os estudantes assistindo à aula passivamente. Porém, uma caracterização de cada uma destas aulas ficaria prejudicada em função da padronização das mesmas, existente dentro do Departamento de Química. Isto faz com que as estratégias usadas pelos professores se assemelhem em alguns aspectos.

É prática comum dos professores iniciarem uma aula fazendo uma explicação do processo a ser usado e uma previsão de possíveis resultados. Desta forma, espera-se que os estudantes sejam capazes de projetar resultados possíveis e, com isto, selecionar adequadamente o material a ser usado, principalmente em termos de volume das vidrarias e de quantidades de reagentes. Descreveremos resumidamente uma aula de cada um dos professores, para dar uma ideia melhor dessa projeção.

a) Aulas do professor André

Esta aula foi realizada com o intuito de fazer uma titulação usando o pHmetro. O professor inicia a aula explicando o funcionamento do aparelho e de seus eletrodos. Essa explicação inclui a calibração, os ajustes de temperatura, a solução tampão, entre outras técnicas.

Este professor passa, então, a explicar a atividade, questionando os estudantes sobre técnicas usuais para determinar a concentração de uma solução a partir de outra cuja concentração é conhecida, soluções estas que reagem entre si. Trata, assim, do equilíbrio químico como uma ferramenta analítica e discute o ponto de equivalência e sua relação com o equilíbrio da reação, os indicadores e o ponto final propiciado pelo uso dos indicadores. Ressalta a importância da escolha adequada dos indicadores, que devem ter o ponto final o mais próximo possível do ponto de equivalência. Faz, então, a projeção do pH no qual ocorre o ponto de equivalência e, junto com os estudantes, escolhe os indicadores a serem usados.

Toma como exemplo a solução a ser usada no experimento daquela aula, calculando a quantidade necessária para titular. Com isto, define qual o volume da

bureta, dos béqueres e outros recipientes a serem usados naquele experimento e, ainda, dos intervalos que devem ser considerados ao construir a curva de titulação.

Apenas depois desta discussão, o professor libera os estudantes para fazerem a calibração dos pHmetros e, após, iniciarem a prática. O tempo gasto com a explicação de tipos, componentes e calibração do pHmetro e de projeção da aula foi em torno de 1h 18min e 40s. Quando um dos cinco grupos que realizam o experimento termina a atividade o professor coloca os dados obtidos no computador e faz o gráfico, projetando-o no quadro. Mostra a diferença entre o resultado encontrado e aquilo que foi projetado no início da aula e comenta sobre os fatores que podem ter colaborado para essa diferença. Em função destes fatores, chama a atenção para a necessidade de várias análises quando se quer um resultado quantitativo preciso. Explica, a seguir, como usar a curva de titulação para calcular o volume final, através dos pontos de intersecção.

O tempo usado para a realização do experimento, a explicação de construção da curva de titulação, a análise das diferenças e a explicação do cálculo do volume final foi de, aproximadamente, 21min e 30s. A discussão destes gráficos e do cálculo foi feita em aula posterior, considerando os resultados que os estudantes já haviam registrado no relatório.

Nota-se que há um entendimento de que é muito importante ter uma noção prévia de possíveis resultados e escolher adequadamente a aparelhagem necessária, já que a maior parte da aula foi usada para isso.

b) Aulas da professora Rosa

Por se tratar da primeira aula desta turma na disciplina, a professora usa, no início da aula, 4min e 10s para estabelecer a agenda, 6min e 34s explicando os passos para a confecção do relatório de cada aula prática e outros 2min explicando alguns cuidados básicos que os estudantes devem ter no laboratório. Só então inicia a aula propriamente dita.

Faz, então, uma discussão geral das técnicas a serem usadas naquela aula, alertando que serão três, sobre as quais dá explicações em termos gerais. Em cada uma das técnicas a professora mostra os materiais normalmente usados, a maneira de usá-los e as etapas que estão envolvidas em cada uma das técnicas. Assim que vai mostrando os materiais, também os vai desenhado no quadro. Todos os

materiais usados nas montagens são mostrados, acompanhados de cuidadosa explicação de suas funções Após esta parte, a professora discute com os estudantes quando cada uma das técnicas deve ser usada.

Passa, então, à explicação da aula, descrevendo cada um dos passos a serem feitos e o que deve ser observado durante as diferentes etapas. Por se tratar da extração de um dos princípios ativos de um medicamento, as três técnicas descritas serão usadas nas diferentes etapas da extração. A professora aproveita para mostrar todos os cuidados que os estudantes devem ter com o material usado. Esta etapa de explicação da aula dura cerca de 37min e 25s.

Após isso, a professora libera os estudantes para realizar a atividade prática, acompanhando-os durante toda a aula. Os estudantes usam um tempo de aproximadamente 1h e 16min para desenvolverem o experimento usando as três técnicas explicadas pela professora. A seguir, a professora entrega o que chama de ―testinho‖, que consiste em algumas poucas questões básicas referente às técnicas utilizadas. Esse ―testinho‖ é considerado, pela professora, como uma estratégia para que cada um dos estudantes acompanhe a aula de forma dedicada e para que ela própria possa perceber o que eles não entenderam e retomar o assunto na aula seguinte.

Podemos observar que os dois professores investigados usam um tempo no início da aula prática para fazer a explicação do experimento e a previsão de possíveis resultados. Essa previsão serve para selecionar os materiais adequados ao experimento e para orientar os estudantes sobre a técnica e os cuidados necessários. Porém, isto não acontece apenas nas aulas práticas dos dois professores pesquisados. Faz parte de orientações repassadas aos professores recém-ingressados pelos professores mais antigos e vem sendo tradicionalmente usada em todas as aulas práticas do departamento. Este procedimento usado pelos professores de Química está relacionado à expectativa de que o egresso, seja ele bacharel ou professor de Química, ao desenvolver uma atividade experimental, seja capaz de selecionar os materiais e equipamentos adequados e realizar aquilo que é esperado de um Químico.

V.3.3 – A prática da graduação interferindo na formação de professores: um