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A ROTA CARTOGRÁFICA QUE ORIENTA A NAVEGAÇÃO METODOLÓGICA

2.2 AS CARTAS GEOGRÁFICAS DA ROTA DE NAVEGAÇÃO METODOLÓGICA

As cartas geográficas são desenhos feitos à grande altura, que têm como objetivo mostrar os elementos de uma determinada região. Os elementos são representados por símbolos, escalas, legendas etc. As cartas não são totalmente fiéis, considerando-se que a terra é esférica (ainda que estejamos vivendo em tempos em que se precise provar o óbvio), ao contrário do papel, em que suas projeções são feitas no plano. Corroborando com a escolha da metáfora da pesquisa, apresento as cartas geográficas da rota da navegação metodológica da tese, sendo a primeira constituída pela tipologia da pesquisa documental; a segunda pelas entrevistas narrativas; por fim, as cartas com base no SIG, considerado um instrumento para mapear e indicar respostas às várias questões sobre planejamento urbano, meio rural, local e regional, levantamento de recursos, análise espacial e social. Assim como as cartas, ambas não têm a intenção de apresentar a verdade absoluta, mas seguiram técnicas que buscam aproximar-se de resultados concisos e concretos para as respostas que se investiga no estudo. Ao delinear a opção de nomear os instrumentos por “cartas”, proponho-me a refletir que ao escrever uma carta, a maior expectativa é a de que alguém a responda.

2.2.1 Carta geográfica 1: Pesquisa documental

A carta geográfica da pesquisa documental tem como intenção analisar documentos que regem as políticas públicas e os marcos legais da formação de professores de Geografia, do local ao global. O recorte temporal delimitado ficou estabelecido entre os anos de 2012 e 2021, considerando-se que o primeiro documento orientador em esfera local é o Projeto Conhecer, da Secretaria Municipal de Educação de Lages. Por essa razão, optou-se em analisar os

documentos a partir do ano de 2012, até a data da homologação da Proposta Curricular do município, em 2021.

Nesse cenário, descrevo, de forma detalhada, os documentos que subsidiaram a pesquisa documental: O Projeto Conhecer: “a Excelência do Ser na Busca do Saber e do Fazer” (2012), que orientava o Sistema Municipal de Educação de Lages; as Diretrizes Curriculares do Sistema Municipal de Educação de Lages (2021); a Proposta Curricular de Santa Catarina em suas diferentes versões; o Currículo do Território Catarinense (2019; 2021); e a Base Nacional Comum Curricular (2017 e 2018), que traz orientações acerca do currículo na Educação Básica.

Por fim, as principais políticas da formação de professores do período de 2012 a 2021, mais precisamente os marcos legais das prescrições, atentando para o local com escala global para perceber numa dinâmica global essas inter-relações de forma dialética.

Flick (2009) traz a importância da utilização de documentos para a pesquisa no sentido de refletir e analisar sua relevância social. Complementa, ainda, afirmando que os documentos têm um conteúdo que deve ser analisado considerando os padrões de referência, os padrões de produção e de utilização em seus contextos mundanos. Essa carta foi relevante para a compreensão, a análise dos aspectos legais que regem/ orientam as políticas de formação permanente de professores de Geografia. Nas linhas em que traço a tessitura, oriento a projeção dos caminhos que devem ser percorridos, anotados, e analisados, a fim de que a rota cartográfica encontre seu espaço na feitura do mapa.

2.2.2 Carta geográfica 2: Entrevistas narrativas

Na continuidade da principal tarefa de um cartógrafo, continuo a desenhar, agora a segunda carta geográfica, composta pela realização de entrevistas narrativas com aqueles que, de fato, vivem e experienciam os momentos de formação permanente: os professores.

Definidos os critérios de inclusão para a etapa de entrevistas narrativas, as realizei com cinco professores formadores que atuaram nos últimos oitos anos na Secretaria Municipal de Lages, na área das Ciências Humanas. Todos eram licenciados em Geografia e atuavam há mais de três anos no corpo docente efetivo do Sistema Público Municipal. A fim de ouvir os professores, cinco profissionais foram escolhidos, sendo o critério para a participação o fato de não terem atuado em formação continuada/ permanente, sendo membros efetivos do Sistema Público Municipal e licenciados em Geografia.

Para realizar as entrevistas narrativas, adotei como procedimento metodológico uma entrevista semiestruturada, com a elaboração prévia de um roteiro com 11 perguntas (Apêndice B) para os professores formadores e para os professores que atuam somente em sala de aula (Apêndice C), além da aplicação de um questionário sociográfico, que permitiu mapear o perfil dos entrevistados. As entrevistas gravadas foram, posteriormente, transcritas.

Paiva (2004, p. 136) considera importante para a transcrição transpor o discurso falado de uma forma fiel, mostrando que “a fidelidade aos dados orais deve ser o objetivo de toda transcrição, queremos registrar o que foi dito por um falante da forma como foi dito, uma transcrição não é, e não pode ser uma edição da fala do entrevistado”.

Sobre a entrevista semiestruturada, Flick (2009, p. 143) entende que tais entrevistas:

[...], em particular, têm atraído interesse e passaram a ser amplamente utilizadas. Este interesse está associado à expectativa de que é mais provável que os pontos de vista dos sujeitos entrevistados sejam expressos em uma situação de entrevista com um planejamento aberto do que em uma entrevista padronizada ou em um questionário.

Detalho, agora, o passo a passo das principais fases da realização das entrevistas narrativas, amparado no que orientam Jovchelovitch e Bauer (2010, p. 97):

1. Preparação (exploração do campo); formulação das questões;

2. Iniciação (formulação do tópico inicial para narração);

3. Narração central (não interromper, somente encorajar para continuar);

4. Espera de sinais de finalização da fala para intervir (dar continuidade);

5. Fase das perguntas (não dar opiniões);

6. Fala conclusiva (parar de gravar, fazer anotações imediatamente após a entrevista, no caderno de campo).

Diante do que se expõe acima, fica definido um breve roteiro de condução para acolher as informações dessa carta. Destaco que, após a análise das entrevistas, foi realizada a indexação da pesquisa documental, a fim de complementar os dados que emergiram da carta.

2.2.3 Carta geográfica 3: SIG

Na sintonia de um mundo cada vez mais digital, utilizo as ferramentas de geoprocessamento10 disponíveis na contemporaneidade, adotando como uma das cartas geográficas o SIG. A análise espacial versará a elaboração de mapas temáticos e de localização de ordem local, regional, estadual e nacional, demarcando o território da pesquisa e contribuindo para outras interpretações essenciais, com foco em aspectos socioculturais, econômicos e de produção acadêmica. Os mapas cartográficos de localização e temáticos foram elaborados com a utilização do software QGIS 3.10 versão A Coruña.As malhas territoriais foram coletadas na plataforma digital do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O QGIS (anteriormente conhecido como Quantum GIS) é um software, com código-fonte aberto, multiplataforma de SIG que permite a visualização, a edição e a análise de dados georreferenciados. Os dados geográficos descrevem os objetos do mundo real, com base na localização geográfica (posição em relação a um sistema de coordenadas), nos relacionamentos espaciais ou topológicos (relações espaciais entre objetos) e em atributos temáticos (propriedades medidas ou observadas dos objetos cartográficos) (BARBOSA, 1997).

Aronoff (1995) descreve aplicações representativas para as quais um SIG pode ser utilizado com sucesso. Os exemplos se fazem presentes em várias disciplinas, incluindo aplicações amplamente aceitas, tais como o planejamento do uso do solo, a silvicultura e o gerenciamento da vida silvestre; o monitoramento e a gestão de áreas costeiras; a arqueologia;

a geologia e aplicações de localizações municipais. Os campos de aplicação dos SIG, por serem versáteis, são muito vastos, podendo-se utilizar na maioria das atividades com um componente espacial, da cartografia a estudos de impacto ambiental ou vigilância epidemiológica de doenças. A profunda revolução que provocaram as novas tecnologias afetou decisivamente a evolução da análise espacial, com isso, aproveito tal ferramenta para compor as cartas geográficas adotadas como instrumento na construção dos dados, que me orienta na rota cartográfica, em busca de respostas para o objeto de investigação do estudo.

10 O geoprocessamento, ou processamento informatizado de dados georreferenciados, utiliza programas de computador que permitem o uso de informações cartográficas e informações às quais se possa associar coordenadas de mapas, cartas ou plantas.

2.3 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DAS CARTAS GEOGRÁFICAS: UMA VIAGEM