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B.7 – AS «CARTAS» DA TESTEMUNHA DD E AS «TRÊS POSIÇÕES QUE ASSUMIU NO PROCESSO»

No documento Data do documento. 17 de março de 2016 (páginas 122-130)

O acórdão recorrido trata essa questão a págs. 140 a 150, 159 a 164, 201 a 208, 217, 218 e 237.

As «cartas» estão transcritas de págs. 159 a 164 do acórdão recorrido que, por sua vez, as referencia no processo a fls. 789 – 793 e 809 – 813.

Acresce dizer que as «cartas» têm exactamente o mesmo conteúdo, embora sejam dirigidas a entidades diferentes (MP e Jic).

Pretende-se no acórdão recorrido que a testemunha DD teve três posições no

processo – cfr. 3º § de pág. 237 que a seguir se transcreve:

«Por tudo isto, e repetindo, a testemunha DD teve três posições no processo: primeiro, de informador, ao prestar informações à P.J. sobre a autoria do crime; depois, assumiu alguma precipitação no depoimento prestado em 24-11-2012 e, por isso, escreveu as cartas a esclarecer o que se tinha passado; finalmente, em julgamento assumiu-se em confronto com toda a investigação, imputando a esta a autoria dolosa de toda a história contada na acusação.» - P. 237 do ac.

recorrido

Ora, isto é rigorosamente falso; e, sobretudo, não resulta da prova mencionada no acórdão recorrido, excepto na parte em que se pretende usar pretensas e inexistentes «conversas», «declarações» ou «diálogos» mantidos entre 22 e 24 de Novembro de 2012, entre a testemunha DD e os inspectores CC e II;

Na verdade, como se deixou já dito supra, essas conversas, a terem existido, o que não se concede, consubstanciam «prova proibida» que não pode ser valorada em julgamento ou posteriormente;

Além de que, lendo o acórdão recorrido e a prova que aí se quis deixar

consignada, percebe-se nitidamente que até à madrugada de 25/11/2012, a

arguida e o marido sempre estiveram juntos e sempre se apoiaram reciprocamente;

E que no dia 19, dia de aniversário de casamento, o marido não foi trabalhar, metendo um dia de férias, para celebrar a data com a mulher, como celebrou especialmente, e, além disso, para acompanhá-la à consulta médica, pós- operatória, na Trofa;

E que após o homicídio, até 25/11/2012, estiveram sempre juntos, dormindo inclusivamente em casa do amigo CCC de 23 para 24/11;

E que só em 25/11 é que DD se separou da arguida, saindo de casa, quando o inspector CC lhe disse que a mulher era a responsável pelo homicídio da sua avó.

Isso porque, em 24/11, quando é inquirido pelo inspector CC, este fala-lhe nas

localizações celulares e diz-lhe que a arma do crime era a da inspectora

BB.

Mas até aí, dia 24/11, nunca DD sequer equacionou a possibilidade de a mulher ser a homicida.

O que, portanto, não permite acreditar que, até aí, DD tenha dito o que quer que fosse à investigação sobre a relação da mulher com o homicídio.

Porque nada sabia que o pudesse levar a, sequer ao de leve, equacionar tal pensamento.

É o que claramente resulta da leitura do acórdão recorrido e da prova que aí se quis deixar consignada.

Daí que, mais uma vez, estejamos em presença de um clamoroso erro notório

na apreciação da prova que decorre claramente do próprio acórdão recorrido.

Como se infere ainda da própria fundamentação do acórdão do Tribunal do júri, transcrito, nessa parte, na pág. 40 do acórdão recorrido e que a seguir se transcreve:

«A isto acresce que o marido da arguida referiu desconhecer que a mesma tivesse sequer sapatilhas de cor clara. Se é certo que a relação de proximidade entre ambos não permite ao tribunal afastar a natural parcialidade do seu depoimento, a verdade é que não pode deixar de se atender ao facto de a vítima ser sua avó e o mesmo à data dos factos ter com esta uma relação de forte proximidade afectiva. Daqui decorre que dificilmente o marido da arguida aceitaria mentir para encobrir a mulher, sabendo que a mentira desta poderia ser um forte indício de a mesma ser responsável pela morte da sua avó, tanto mais que sendo o mesmo inspector da polícia judiciária facilmente conseguiria perceber o sentido das “mentiras” da esposa. E, recorde-se, que quando o

mesmo julgou que a esposa era a responsável pelo homicídio da avó – no dia 25.11.2012 – separou-se de facto da arguida. Aliás quanto a este

ponto sempre se dirá que não ficou o tribunal de júri minimamente

convencido que o mesmo tivesse tido antes do dia 24.11.2012 várias conversas com o inspector CC nos termos em que este referiu em audiência de julgamento de forma quase obsessiva de incriminação da arguida. Com efeito, atento o facto de o casal ainda no dia 19.11.2012 ter estado a comemorar o seu aniversário de casamento, não é crível que o mesmo tivesse tal comportamento que denota uma clara animosidade para com a esposa. A isto acresce que entre os dias 21 e 25 manteve-se junto da esposa havendo entre ambos um apoio recíproco. Quanto a esta matéria ficou o tribunal de júri convencido que o

estado emotivo do marido da arguida podendo levar a um discurso menos coerente não ocorreu antes do dia 24 conforme foi referido pelo inspector CC e

o que foi por aquele dito foi interpretado pela investigação nos termos mais coincidentes com uma conclusão que já no dia 22.11.2012 estava fixada.» (negrito e sublinhado nossos) – Pág. 40 do acórdão recorrido.

Erro notório que, resultando da própria decisão recorrida, conjugada com as

regras da experiência comum, por isso, mais uma vez aqui se invoca e que, acaso se entenda que não pode fundamentar este recurso, sempre deverá ser do conhecimento oficioso deste STJ, atenta a impossibilidade de se pretender aplicar o direito a matéria de facto clamorosa e notoriamente errada (cfr. arts. 410.º, n.º 2, al. c), e 434.º, do CPP).

Daqui decorre desde logo que não existe esta primeira posição, dita de

«informador» que o acórdão recorrido pretende atribuir a DD – cfr. pág. 237

do acórdão recorrido.

E, sendo assim, essa primeira alegada posição não pode ser confrontada com qualquer outra posição que o mesmo tenha assumido no processo. Porque aquela posição de «informador» não existiu

Depois, quanto a declarações prestadas em inquérito em autos de inquirição, ou mesmo em quaisquer pretensas e alegadas conversas informais a partir de 24/11/2012, com o inspector CC, ou o inspector II ou com qualquer outra pessoa ligada à investigação, como já se disse supra, e repetimos, não podem ser aqui valoradas.

Porque prova proibida.

Já quanto ao conteúdo das «cartas», e como se diz no acórdão recorrido (pág. 237), a testemunha DD não pretendeu aí mais do que prestar alguns esclarecimentos sobre o que se lembrava daquilo que havia sido consignado em

auto de inquirição de 24/11/2012;

Auto esse cuja leitura não é permitida e que portanto não se usou em audiência, nem usará aqui (art.356.º, do CPP);

E não consentiu que se usasse, nem consente, porque, como disse em julgamento, não tem a mínima confiança na investigação efectuada no inquérito dos presentes autos. Atento tudo o que já, exaustivamente, referiu supra sobre o assunto.

Portanto e desde logo, não podendo confrontar-se o conteúdo dessas cartas com o conteúdo daquele auto de inquirição, não pode retirar-se qualquer conclusão de tal confronto.

Resta, pois, o confronto das «cartas» com o depoimento prestado pelo seu autor em julgamento.

O acórdão recorrido diz que «a versão das cartas e a versão do

julgamento são muito diferentes» - cfr. pág. 202 do ac. recorrido, 1ª linha.

E nas páginas subsequentes, quando se pensa que nos iremos deparar com o confronto entre aquelas duas versões … não se encontra nenhuma discrepância e sobretudo percebe-se que o Tribunal recorrido quase nunca comparou a

versão das cartas com a «versão» do julgamento.

Na verdade, o acórdão recorrido confrontou o conteúdo das cartas com o depoimento de outras testemunhas que não a testemunha DD.

Do assistente EEE

Da mulher do assistente, FFF,

Mas com a versão de DD quase nunca o fez.

E quando o fez, encontrou o que o acórdão recorrido disse serem versões contraditórias, mas que de contraditórias NADA TÊM.

É o caso da situação económica do casal; comparando-se pág. 202 com pág. 205 do acórdão recorrido, não se encontra qualquer contradição. Basta

ler e comparar.

Quanto às conversas do casal sobre as contas bancárias tituladas pela avó compare-se pág. 202 com págs. 206 e 207 do acórdão recorrido: invoca-se o depoimento de…EEE, assistente, e não o da testemunha DD e depois compara- se o que aquele assistente afirmou com o conteúdo das «cartas» (??!!);

E não consegue apontar-se uma única contradição entre as «cartas»/ contas da avó e o depoimento de DD em julgamento/ contas da avó.

Nem uma!

Depois, invoca-se, a págs. 207 e 208 do acórdão recorrido, a perícia efectuada às contas da arguida e do marido.

Apenas uma certeza: essa perícia não é da autoria de DD; não foi

invocada nas cartas; nem tão-pouco no depoimento que fez em julgamento.

Mais uma vez: nenhuma contradição entre as «cartas» e o depoimento em julgamento.

Depois, o acórdão recorrido encontra a contradição quanto ao episódio do copo de vinho entornado sobre o telemóvel da arguida.

E aqui, comparando as «cartas» (pág. 203, linhas 6 a 12, do ac. recorrido) com o depoimento em julgamento (pág. 208, §§ 3º, 4º e 5º, do ac. recorrido), o acórdão encontrou a contradição.

Dia 19/11 não corresponde a fim-de-semana, porque foi uma segunda-feira.

Já noutra parte deste recurso nos referimos à questão (cfr. supra B.4 -

«Telemóvel») e damo-la aqui por reproduzida na íntegra para todos os efeitos

legais, por razões de economia e celeridade processuais.

Não há efectivamente qualquer contradição: dia 19, segunda – feira, foi o dia do aniversário do casamento do casal, o marido tirou um dia de férias e prolongou o fim-de-semana que, por isso, integrou a segunda-feira, dia 19…

Fim-de-semana prolongado.

Não há qualquer contradição.

Dizem-no as regras da experiência comum.

Finalmente, pretende-se ainda comparar o depoimento de DD em julgamento com o que…não consta das «cartas» (cfr. pág. 218, 1º a 5º §§, do acórdão recorrido).

Nas cartas não se falou da amiga que se atrasou no dia de entrega das armas, nem de contactos com inspector CC antes de 24/11/2012, nem da limpeza do automóvel, nem…;

Como se houvesse aqui alguma contradição…

inquirição ocorrida anteriormente; como se diz no acórdão recorrido.

E esquecendo-se que, em julgamento, não é, muitas vezes, a testemunha que escolhe as questões que o seu depoimento aborda. Depende das instâncias. Portanto, não pode pretender comparar-se o depoimento em julgamento com o q u e não consta das cartas. Muitos outros assuntos foram abordados no depoimento de DD em julgamento que não constam das «cartas».

O que é perfeitamente natural.

Ou seja:

Afinal não há três posições da testemunha DD. Há uma única.

A do julgamento; que as «cartas» em nada contrariam, antes confirmam ou, quando muito, apenas complementam.

De todo o exposto resulta à evidência o absoluto ERRO NOTÓRIO do acórdão recorrido na apreciação da prova, também neste segmento, o que aqui expressamente se invoca nos termos do disposto no art. 410.º, n.º2, al. c), do CPP, ou que, pelo menos, este STJ deverá conhecer oficiosamente atento o clamoroso e evidente erro em que incorreu o acórdão recorrido também aqui. Sendo certo que tal vício resulta da própria decisão recorrida conjugada com as regras da experiência comum.

No documento Data do documento. 17 de março de 2016 (páginas 122-130)