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dias o telemóvel da arguida tenha estado desligado 5 vezes, 4 das quais durante a tarde do dia 21-11-2012; de ele ter tido

No documento Data do documento. 17 de março de 2016 (páginas 109-113)

alegadamente problemas pela primeira vez apenas neste dia 21; que tenha retomado o normal funcionamento sem que nenhuma explicação tenha sido avançada para a sua recuperação espontânea.» - cfr. pág. 209 do acórdão recorrido.

A este respeito, consta também do acórdão recorrido (págs. 163, 169 e 170) o que a arguida e o marido (testemunha DD) afirmaram a respeito da avaria do telemóvel da arguida: que o marido entornou um copo de vinho sobre aquele telemóvel que, em consequência, deixou de funcionar bem, desligando-se.

A arguida referiu-o em audiência, dizendo que tal sucedera no dia 19/11/2012, dia de aniversário de casamento do casal (cfr. pág. 165 e 169 do acórdão recorrido);

O marido referiu em audiência que tal sucedera em 19/11/2012; e nas cartas que estão referenciadas no acórdão recorrido disse que tal terá sucedido no fim de semana anterior aos factos (cfr. pág. 163 do acórdão recorrido).

O tribunal recorrido, entendendo que o fim-de-semana foi nos dias 17 e 18 de Novembro de 2012 (como efectivamente foi) e que o dia 19 correspondeu a uma segunda-feira, concluiu que as declarações da testemunha DD são contraditórias.

Todavia, não o são.

Bastava que o Tribunal recorrido tivesse atentado no que a arguida disse na respectiva resposta ao recurso do Ministério Público na 1.ª Instância. Aí se disse que não havia qualquer contradição, uma vez que no dia 19 de Novembro foi o dia de aniversário de casamento do casal e que, por isso, o marido não foi trabalhar, tirando um dia de férias nesse dia, ficando com a arguida, e passando o dia juntos a celebrar o dito aniversário.

Daí que DD tenha considerado o dia 19, segunda-feira, como incluído no fim-de- semana que assim foi, efectivamente, um fim-de-semana alargado.

Daí que a referência nas cartas ao fim-de-semana como sendo a altura em que ocorreu o episódio do copo de vinho mais não foi do que a tradução dessa ideia que, como é da experiência comum, ocorre com todos nós. Sempre que na sexta-feira ou na segunda-feira, por um ou outro motivo não trabalhamos,

falamos sempre em fim-de-semana, abrangendo os três dias.

O acórdão recorrido não se pronunciou sobre esta questão referenciada expressamente na resposta da arguida ao recurso do Ministério Público (cfr. págs. 166 e 167), apesar de, a pág. 230 (3 últimas linhas), o mesmo acórdão recorrido referir expressamente o dia 19/11 como dia do aniversário do casamento que o casal celebrou.

As regras da experiência comum impunham que o Tribunal recorrido tivesse

considerado o dia 19 como integrado no fim-de-semana e que, portanto, não visse nas cartas e no depoimento em audiência qualquer contradição.

É ERRO NOTÓRIO na apreciação da prova, que aqui se invoca e que, acaso se entenda que não pode fundamentar este recurso, este STJ poderá, se assim o entender, conhecer oficiosamente.

Por outro lado, o acórdão recorrido, a págs. 153 e 154, referenciou também os documentos de fls.545 (factura detalhada do número de telemóvel da arguida) e o de fls. 1231 (ofício da TMN contendo a explicação do que significam os códigos usados naquela factura – nomeadamente em 21/11/2012 -

«BSC_CBR2L» e «N/E»).

Dali se infere que o código «BSC_CBR2L» aparece quando é efectuada uma comunicação e o equipamento está desligado, não sendo possível detectar a célula; e o código «N/E» que significa célula não especificada. É o que consta do ofício da TMN de fls. 1231.

Analisando a facturação detalhada de fls. 545, verifica-se que no dia 21/11/2012, pelas 15h28m37s, o telemóvel da arguida encontrava-se

Ou seja, o telemóvel estava ligado, detecta uma célula, mas não conseguiu especificá-la. É o que sucede quando se diz que o telemóvel está «sem rede».

Daí que a questão que o acórdão recorrido acolhe de que não é lógico que durante 19 dias o telemóvel da arguida tenha estado desligado 5 vezes, 4 das quais durante a tarde do dia 21/11/2012, e de ter problemas pela primeira vez apenas neste dia 21 e que tenha retomado o normal funcionamento sem qualquer explicação,

É, aqui e para o efeito, absolutamente irrelevante.

Na verdade, não interessa saber se o telemóvel esteve ou não desligado no dia 21/11 às horas referidas no acórdão recorrido a págs. 208, porquanto o fundamental é que o telemóvel, nesse dia, de tarde, às 15h28m37s, esteve

LIGADO.

Se a arguida tivesse ido a Coimbra matar a avó do marido e tivesse desligado o telemóvel para aí não ser detectada, por que razão iria ligá-lo a uma hora em que estaria em Coimbra ou a chegar a Coimbra?

Mais: como diz o acórdão do tribunal do júri (nesta parte, transcrita a pág. 39

do acórdão recorrido), a que propósito sequer teria levado consigo o telemóvel a Coimbra e não o deixaria em casa, na Maia, ligado?

Do exposto resulta que o tribunal recorrido laborou em ERRO NOTÓRIO na apreciação da prova que aqui se invoca expressamente, nos termos do disposto no art. 410.º, n.º 2, al. c), do CPP, por resultar da decisão recorrida, por si e conjugada com as regras da experiência comum e que, acaso se entenda não poder fundamentar o presente recurso, deverá, pelo menos, ser do

conhecimento oficioso deste STJ;

Além de que ocorre ainda omissão de pronúncia sobre as questões supra mencionadas que foram expressamente suscitadas pela arguida na respectiva resposta ao recurso do Ministério Público na 1.ª Instância, e no acórdão do tribunal de júri, questões que o tribunal recorrido não apreciou e deveria ter apreciado por se revelarem cruciais para a decisão da matéria de facto em causa.

O que constitui NULIDADE nos termos do disposto no art. 379.º, n.º 1, al. c), «ex vi» art. 425.º, n.º 4, do CPP.

Em consequência, deverão considerar-se como não provados os factos que o tribunal recorrido deu como provados relacionados com as questões supra referenciadas, nomeadamente os factos constantes do n.º 64 dos factos provados (pág. 248 do acórdão recorrido).

O que, aliás, deverá suceder em qualquer caso, porquanto de um telemóvel desligado nunca poderá inferir-se, sem mais, que se tenha “ido a Coimbra matar a avó do marido”.

No documento Data do documento. 17 de março de 2016 (páginas 109-113)