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B.5 – TRAJECTO ENTRE MAIA / COIMBRA / MAIA

No documento Data do documento. 17 de março de 2016 (páginas 113-120)

O acórdão do tribunal do júri tratou esta questão na respectiva fundamentação que o acórdão recorrido transcreveu (cfr. nomeadamente págs. 35, 36 e 37, do acórdão recorrido);

A arguida tratou desta matéria nas págs. 170 a 173 da resposta ao recurso do Ministério Público na 1.ª Instância;

O acórdão recorrido, a págs. 13, referencia essa parte da resposta da arguida dedicando-lhe 4 linhas, em que se afirma apenas que foi alegado que, encontrando-se na localidade onde reside às 14H30 nunca seria possível estar em Coimbra à hora a que o tribunal fixou a prática do crime.

O acórdão recorrido trata ainda desta questão do «trajecto» a págs. 173, 174, 177, 215 e 216.

Escreveu-se no acórdão recorrido (págs. 215 e 216) o seguinte:

«Sobre a deslocação a Coimbra por parte da arguida o tribunal recorrido disse: «se atentarmos ao facto de a arguida estar calmamente em casa por volta das 14H30 é expectável que ainda demorasse algum tempo – 10 a 20 minutos - a aprontar-se para sair. Por outro lado, se atentarmos que entre as cidades da Maia e Coimbra distam pelo menos 134 km o que implica sempre um mínimo de viagem de cerca de 01H25 (por auto-estrada) – sem contar com o facto de a arguida sair da sua casa na Maia e a casa da vítima situar-se na rua ...., o que implica que àquele tempo de viagem entre as cidades se tenha de acrescentar o tempo passado no trânsito interno de cada uma das cidades nunca inferior a 20 minutos no total dos dois trajectos …». Independentemente de reconhecermos a validade do argumento há que realçar, primeiro, que não se provou que o encontro entre a arguida e a vizinha tenha sido às 14h30, que não se provou, nem se indiciou, que naquela concreta situação uma pessoa demore entre 10 a 20 minutos a arranjar-se, tal como não se provou que no trajecto em cada uma das cidades se demore mais de 20 minutos. Quanto a este último pormenor remetemos para o que consta do auto de

cronometragem do percurso.

Para além disso também não foi considerada a outra hipótese, talvez mais óbvia, de a viagem ter sido feita por auto-estrada. Já vimos que o argumento invocado pela arguida, de que a querer cometer o crime nunca faria a viagem por auto-estrada porque isso deixaria “rasto”, não é verdadeiro.

Finalmente, diga-se que não se provou a hora em que o crime ocorreu e nem a hora aproximada, apenas constando da motivação que diz que o crime teria ocorrido no máximo entre as 15H53 e as 16H19.» - págs.

215 e 216 do ac. recorrido

Desde logo, o encontro entre a arguida e a vizinha, às 14H30, no prédio onde residem na cidade da Maia;

Trata-se da testemunha BBB, a tal testemunha cujo depoimento a investigação sonegou e não levou ao JIC no dia do primeiro interrogatório judicial de arguido detido (cfr. acórdão do Tribunal do Júri, transcrito, nesta parte, a pág. 37 e 38 do acórdão recorrido).

É um depoimento que incomodou, muito, a investigação. Por causa da hora, precisamente.

E agora, no Tribunal da Relação, de novo, este mesmo depoimento – só que, repetido em audiência – não tem qualquer valor.

É estranho e chocante.

Obviamente que o tribunal do júri não referenciou como provado o encontro com a vizinha. Porque é um facto instrumental que permitiu ao tribunal do júri,

juntamente com outros factos instrumentais e não instrumentais, alcançar a decisão que alcançou.

Depois, na exposição dos motivos que conduziram a considerar como provados ou não provados factos essenciais, o tribunal deverá explicar por que decidiu como decidiu. E aí sim, invocará depoimentos, documentos, circunstâncias de tudo o mais que se revele necessário a explicar aos intervenientes processuais, à comunidade em geral e a si próprio, tribunal, os motivos da decisão.

Foi o que sucedeu no caso do acórdão do tribunal do júri. O tribunal considerou não provado que, nomeadamente, a arguida se tivesse deslocado a Coimbra no dia do crime; e para assim decidir, fundou-se em factos instrumentais que retirou dos meios de prova que, em audiência, foram sendo produzidos. Como o caso do depoimento da testemunha BBB que o tribunal do júri, na fundamentação do acórdão, descreve até com algum pormenor, atribuindo-lhe, expressamente, total credibilidade. Leia-se a transcrição dessa fundamentação do acórdão do tribunal do júri que o acórdão recorrido fez a págs. 36:

«Por fim, o facto de o homicídio ter ocorrido no máximo entre as 15H53 e as 16H19 é relevantíssimo para aferir da possibilidade da arguida ter sido a autora do mesmo porquanto resultou do depoimento da testemunha BBB (moradora no prédio onde reside a arguida e que foi totalmente coerente e credível no seu depoimento, não suscitando quaisquer dúvidas ao tribunal de júri sobre a veracidade do mesmo) que a arguida por voltas das 14H30 encontrava-se calmamente no hall do seu prédio na Maia a ler a correspondência que havia retirado da sua caixa de correio, não denotando qualquer pressa ou agitação que seriam próprias de quem estaria prestes a deslocar-se para Coimbra para cometer um homicídio. A fixação deste horário não suscitou ao tribunal de júri quaisquer dúvidas uma vez que sendo a testemunha

advogada, a mesma referiu que consultou a agenda tendo a certeza que foi nessa hora que saiu de casa. Por outro lado, foi referido por esta testemunha que a mesma estava vestida com umas calças que poderiam ser de pijama, confirmando na íntegra, e nesta parte, o declarado pela arguida que referiu que estava de pijama tendo ido ao correio apenas com um casaco por cima do pijama.» Pág. 36 do ac.

recorrido

Que dúvidas é que estas palavras directas, rigorosas e indubitáveis podem ter suscitado ao Tribunal da Relação de Coimbra ?

Que dúvidas há, como o tribunal do júri considerou, que «por volta das 14H30» a arguida estava na cidade da Maia?

Não se entende por que motivo o depoimento desta testemunha sempre suscita mal-estar.

Depois, encontrando-se a arguida no hall de entrada do prédio, calmamente a ler a correspondência, é perfeitamente curial que leve entre 10-20 minutos a arranjar-se para sair, e depois que leve cerca de 20 minutos no trânsito interno de cada cidade (ao sair da Maia e ao entrar em Coimbra); as regras da experiência comum assim o determinam; todos sabemos que assim é.

Tendo em atenção, depois, a facturação detalhada da testemunha SS (de fls. 3374 a 3379) que o acórdão do tribunal do júri refere (cfr. pág. 35 do

acórdão recorrido), e a hora em que a dita testemunha estava ao telefone

com uma amiga quando ouviu os disparos (desde as 15:53:16 e durante 46 segundos), fácil foi fixar a hora dos primeiros disparos.

entre as 15H53 e as 16H19. Durante esse período vários vizinhos da infeliz vítima foram ouvindo os disparos. Que foram, pelo menos,14. E que, por isso, foram espaçados.

É o que decorre da fundamentação do acórdão do tribunal do júri (cfr. pág. 35

do acórdão recorrido) quando se refere às várias vizinhas.

De qualquer forma, a testemunha SS, indubitavelmente, através da sua facturação detalhada referida no acórdão recorrido coloca o início do crime às 15:53:16 (pág. 35 do acórdão recorrido).

O que significa que a essa hora a arguida tinha que estar no local do crime.

Ora, ainda que tivesse usado a auto-estrada, nunca a arguida poderia estar em Coimbra, NO INTERIOR DA CASA DA VÍTIMA, às 15:53, tendo saído de casa, na Maia, entre as 14H40 e as 14H50;

A cumprir as regras de trânsito, nomeadamente e sobretudo a velocidade

(para não ser apanhada em nenhum radar da polícia ou interceptada).

E contando com o tempo para sair da cidade da Maia e, depois, para entrar na de Coimbra.

Não utilizando a auto-estrada era completamente impossível efectuar aquele percurso sem ultrapassar sistematicamente os limites de velocidade, como o demonstra o RDE de fls. 404 a 406 de onde resulta um percurso, mesmo rodando por vezes a 130Km/hora, de cerca de duas horas (cfr. pág. 36 do acórdão recorrido, transcrevendo acórdão do tribunal do júri).

Apesar do exposto, e sobretudo apesar do referido depoimento de BBB, vizinha da arguida, que a coloca na Maia por volta das 14H30,

E apesar da facturação telefónica detalhada da testemunha BBB que situa, sem dúvidas, o início do crime entre 15:53:16 e os 46 segundos seguintes (o depoimento desta testemunha foi lido em audiência – cfr. págs. 148, último §, e 149, do acórdão recorrido),

O acórdão recorrido deu como provado, além do mais, que no dia 21/11/2012,

antes das 14H30, a arguida deslocou-se a Coimbra a casa da vítima.

O que está em completa contradição com a prova produzida em audiência, supra referida, e considerada pelo tribunal do júri. Tudo como resulta do próprio acórdão recorrido conjugado com as regras da experiência comum.

É ERRO NOTÓRIO na apreciação da prova, o que aqui expressamente se invoca (art. 410.º, n.º 2, al. c), do CPP), sendo que, acaso se entenda que o presente recurso não pode ter esse fundamento, sempre o apontado vício – porque evidente e notório – é do conhecimento oficioso deste STJ;

Para além de que o tribunal recorrido não fundamentou minimamente aquela decisão factual: «antes das 14H30» com que fundamento?

A falta de fundamentação consubstancia NULIDADE do acórdão recorrido que aqui se argui expressamente (art. 379.º, n.º 1, al. a), 1.ª parte, «ex vi» art. 425.º, n.º 4, ambos do CPP).

Finalmente, ao não se pronunciar sobre as supra citadas questões que a arguida suscitou na sua resposta ao recurso do Ministério Público na 1.ª Instância,

Sendo certo que, como se viu, se trata de questões cruciais para uma decisão justa e equitativa da matéria de facto,

Que, por isso, impunham que o tribunal recorrido as apreciasse,

O acórdão recorrido está ferido de NULIDADE que aqui se invoca expressamente (art. 379.º, n.º 1, al. c), «ex vi» art. 425.º, n.º 4, do CPP).

Em consequência de quanto se expôs acima, devem considerar-se não provados os factos que o tribunal recorrido deu como provados que contrariem o supra exposto, nomeadamente os referidos no n.º 66, 67, 69, 70 e 71 dos Factos Provados (págs. 248 e 249 do acórdão recorrido).

No documento Data do documento. 17 de março de 2016 (páginas 113-120)