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3.4 DO SURGIMENTO DOS LIVROS DIDÁTICOS NO BRASIL ÀS CHARGES E

3.4.5 As charges e os cartuns no Hipergênero Quadrinhos

O hipergênero denominado quadrinhos ou história em quadrinhos (HQs), de acordo com as definições de Bakhtin (1997), é um gênero secundário que utiliza o discurso direto, característico da língua falada, para transmitir o contexto enunciativo ao leitor, através de narrativas que se desenvolvem quadro a quadro e são compostas por elementos visuais (imagens) e verbais (textos). Segundo Bakhtin (1997, p. 326) “esses gêneros secundários, que pertencem à comunicação cultural complexa,

simulam, em princípio, as várias formas da comunicação verbal primária”.

O hipergênero HQ une diferentes características comuns e abrange uma diversidade de gêneros afins, como os cartuns, as charges, as tiras cômicas e os vários modos de produção das histórias em quadrinhos. Todos esses gêneros compartilham a linguagem dos quadrinhos para compor um texto narrativo dentro de um contexto sócio-comunicativo. De acordo com Ramos (2009, p.20) “quadrinhos seriam, então, um grande rótulo, um hiper-gênero, que agregaria diferentes outros gêneros, cada um com suas peculiaridades”.

Entre os gêneros afins que compõem o hipergênero Histórias em Quadrinhos, são os cartuns e as charges que interessam aos propósitos desta tese e que serão definidos a seguir.

A charge e o cartum são gêneros textuais que, na sua maioria, são representados pelas linguagens verbal e visual num processo de complementação mutua. Enquanto as charges são temporais e utilizam o humor e a ironia para fazer críticas a problemas sociais, principalmente questões de cunho político, os cartuns são atemporais e os utilizam para fazer críticas a costumes e comportamentos sociais.

O dicionário Houaiss (2001) define charge como:

Desenho humorístico, com ou sem legenda ou balão, veiculado pela imprensa e tendo por tema algum acontecimento atual, que comporta crítica e focaliza, por meio de caricatura, um ou mais personagens envolvidas. Do francês charge (S. XII), significa carga que por extensão quer dizer que exagera o caráter de alguém ou de algo para torná-lo ridículo, representação exagerada e burlesca.

De acordo com Simões (2010, p. 85), o gênero discursivo charge se insere no campo da “argumentação imagética retextualizada de uma notícia jornalística, com vistas à divulgação de uma opinião sobre um fato social relevante”. Para Ramos (2009, p. 21), trata-se de “um texto de humor que aborda algum fato ou tema ligado ao noticiário. De certa forma, ela cria o fato de forma ficcional, estabelecendo com a notícia uma relação intertextual”.

Por se tratar de um gênero que denuncia problemas do cotidiano, que são mais facilmente compreendidos dentro do contexto histórico em que os fatos ocorreram, a temporalidade é uma característica importante da charge.

Já o termo cartum é definido no dicionário Houaiss (2001) como:

Desenho humorístico ou caricatural, espécie de anedota gráfica que satiriza comportamentos humanos. Adaptado do Inglês cartoon (1671) significa esboço ou modelo desenhado em cartão ou (1863) desenho humorístico ou satírico veiculado em geral por jornais e revistas. Mais tarde se chamou animated cartoon, desenho animado”.

Simões (2010, p. 71) insere o gênero discursivo cartum no campo da “exposição imagética de experiências atemporais vividas e compartilhadas por uma sociedade e por uma cultura particular, com vistas à memorização e à documentação de ações humanas singulares, reais – ainda que satirizadas”. Para Ramos (2009, p. 23), “não estar vinculado a um fato do noticiário é a principal diferença entre a charge e o cartum. No mais são muito parecidos”. Mendonça (2005) nos diz que:

O cartum surgiu despois da charge, e é uma forma de expressar ideias e opiniões, seja uma crítica política, esportiva, religiosa, social, através de uma imagem ou uma sequência de imagens, dentro de um quadrinho ou não; podendo ter balões ou legendas. A charge “envelhece”, como a notícia, enquanto o cartum é mais atemporal (MENDONÇA, 2005, p. 197).

Em seu Dicionário de Comunicação, Rabaça e Barbosa (2002, p. 112) definem cartum como uma anedota gráfica que tem o objetivo de levar ao riso por meio de uma “crítica mordaz, satírica, irônica e principalmente, humorística, do comportamento do ser humano, das suas fraquezas, dos seus hábitos e costumes”. Eles afirmam que a narrativa do cartum pode comportar uma cena apenas ou uma sequência de cenas.

4. ANÁLISE DAS IMAGENS E DOS DADOS DA PESQUISA DE RECEPÇÃO COM ROTEIROS DE AUDIODESCRIÇÃO REELABORADOS À LUZ DA GRAMÁTICA DO DESIGN VISUAL

Este capítulo tem início com informações referentes aos procedimentos da pesquisa de recepção, em seguida apresento a análise de dez imagens selecionadas para o corpus da pesquisa proposta por esta tese. A análise de cada imagem será apresentada numa seção composta por três subseções, a saber: 1) análise da imagem segundo a GDV; 2) análise da AD do Mecdaisy a partir da GDV; 3) proposta da AD com base na GDV. Após os subitens 2 e 3, apresento os dados da pesquisa de recepção referentes a cada audiodescrição proposta. Para as ADs que tiveram indicação de alteração, apresento o roteiro final reelaborado ao final do subitem 3.

Durante a pesquisa de recepção, as PcDVs apreciaram ADs geradas por esta tese com base nos pressupostos da Gramática do Design Visual e ADs fornecidas pelo Ministério da Educação através da plataforma Mecdaisy. Os problemas surgidos nesta etapa, foram levados em consideração para a reelaboração dos roteiros das audiodescrições, e são apresentados ao final do subitem 3.

Os dados foram coletados via Skype e as sessões, gravadas em vídeo, constam no acervo de dados de pesquisa do TRAMAD na UFBA. Foi realizada uma sessão de coleta individualmente, na qual cada um participou através de relatos Livres e Guiados. Para preservar suas identidades, cada participante foi identificado por um número. Como nesta etapa trabalhamos com cinco PcDVs, as identificações serão, respectivamente: PcDV-1, PcDV-2, PcDV-3, PcDV-4 e PcDV-5.

As ADs elaboradas por mim, com base na GDV, obedeceram aos parâmetros sistematizados na Metodologia para Audiodescrição de Imagens Estáticas, doravante MAIE, apresentada após o capítulo de análises.

RELATO LIVRE

A instrução dada para o Relato Livre foi que os participantes ouviriam a audiodescrição de duas imagens diferentes e para cada imagem haveria duas ADs. Após ouvir a primeira audiodescrição eles poderiam falar tudo o que desejassem, tanto sobre a AD quanto sobre a imagem. Em seguida eles receberiam instrução para fazer o mesmo após ouvir a segunda audiodescrição da mesma imagem. Selecionei

apenas alguns pontos para apresentar nesta parte. Os relatos na íntegra encontram- se transcritos nos Apêndices E, F, G, H e I, assim como também os Relatos Guiados.

Para a primeira imagem, a primeira AD apresentada foi a proposta pelo MEC e a segunda a proposta por esta pesquisa com base na GDV. Já para a segunda imagem, a ordem das ADs se inverteu, sem que os participantes tivessem qualquer informação sobre a origem das audiodescrições, para que fosse possível preservar a imparcialidade.

RELATO GUIADO

O Relato Guiado é composto por oito perguntas que tem início com a percepção das PcDVs sobre se as duas audiodescrições que eles ouviram são iguais ou diferentes. Em caso de diferentes, eles devem escolher qual a melhor, e a partir de aí eles devem responder às perguntas propostas no questionário. (Vê Apêndices E, F, G, H e I).

Embora as imagens selecionadas sejam fonte de informação para a resolução de questões discursivas propostas pelos livros, os participantes não tiveram acesso às questões. Logo, algumas de suas observações sobre as audiodescrições não poderão ser acatadas para a reelaboração dos roteiros, por que não eram as questões que estavam sendo avaliadas pelas PcDVs e sim somente as audiodescrições. Contudo, ainda assim, algumas das observações devem ser acrescentadas ao roteiro da AD, como se os participantes tivessem tido acesso às questões propostas pelo livro.

As falas dos participantes foram transcritas respeitando a maneira como foram ditas. Expressões de riso ou intervenção da pesquisadora durante as falas estão dentro de colchetes, em letras maiúsculas.

Com exceção das imagens 4.2 e 4.5, os nomes das imagens foram atribuídos pela autora da tese, pois as mesmas ou não são nomeadas ou não foram localizadas.