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As condições e as consequências não intencionais da acção: O contexto da

PARTE I – Revisão bibliográfica

3. Problemática: Enquadramento Teórico

3.2. Perspectiva teórica da Avaliação de Desempenho

3.2.3. As condições e as consequências não intencionais da acção: O contexto da

A acção apresenta uma característica fundamental, centrada na ideia da liberdade do actor que podia desenvolver os seus processos e acções de maneira diferente. Neste sentido, Giddens (1979: 56) apresenta um modelo de estratificação da acção onde consta a monitorização reflexiva da acção, a racionalização da acção e a motivação da acção. Estes parâmetros situam-se entre dois pólos, as condições desconhecidas da acção e as consequências não intencionais da acção.

As condições desconhecidas da acção implicam a monitorização reflexiva da acção, isto é, centram-se no grau de desconhecimento das condições da acção pelos actores, o que pode dar origem a consequências que não estavam previstas inicialmente, sobretudo se estas forem negativas (Giddens, 1979: 56). As condições da acção dão origem a acções que podem ter consequências não intencionais, sendo que para acautelar esta situação é necessário monitorizar essas mesmas acções para que as consequências não sejam negativas (Giddens, 1979: 56). Esta monitorização reflexiva da acção diz respeito ao carácter intencional do comportamento humano, reflectindo a chamada consciência prática que os actores sociais não verbalizam.

A racionalização da acção é suporte da monitorização reflexiva da acção, pois reflecte as razões que os actores apresentam para determinadas acções sendo ainda parte integrante da reprodução social. Esta teoria refere que os actores sociais têm uma componente inconsciente na sua acção social, o que anteriormente não sucedia com a tradição anglo-saxónica (Giddens, 1979: 53-9). Esta componente inconsciente da acção dos actores surge pelo facto de em muitas ocasiões estes agirem inconscientemente na sua acção social por desconhecimento das

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condições da sua acção, podendo dar origem a consequências negativas. Nesta perspectiva, o desconhecimento das condições da acção faz com que os actores sociais não saibam as condições em que desenvolvem as suas acções, o que pode dar origem a um desconhecimento face às consequências das mesmas e gerar situações complicadas ao nível da reprodução social.

Na maior parte dos casos os actores sociais agem e sabem o que fazer, permitindo que todos construam as suas acções de modo intencional e possam atingir as finalidades

pretendidas com essa acção (Giddens, 2001).10 Deste modo, as consequências não intencionais

da acção ocorrem quando os actores sociais desenvolvem determinada acção, cujas consequências não são intencionais pelo desconhecimento das consequências que podem ser geradas por essa acção (Giddens, 2001). Neste sentido, o desconhecimento das consequências da acção é uma “pecha” que em muitos casos pode ocorrer contribuindo para que consequências negativas dessa acção possam suceder, apesar de esse aspecto suceder sem intenção do actor social que a pratica.

As condições da acção, em situações específicas, contribuem para o sucesso ou insucesso das práticas organizacionais, não fugindo a avaliação de desempenho à regra. Um dos casos em que estas condições se manifestam claramente é ao nível da avaliação de desempenho, porque as condições da acção podem dar origem a não conformidades que podem promover problemas na construção e implementação de um sistema eficaz (Santos e Cardoso, 2001: 11). Por outro lado, as acções empregues pelos integrantes das organizações podem produzir consequências que, apesar de serem na sua maioria não intencionais, podem dar origem a não conformidades na implementação do processo de avaliação de desempenho e demais processos organizacionais (Santos e Cardoso, 2001: 11). Neste sentido, as condições e as consequências não intencionais da acção podem trazer aspectos positivos e negativos às organizações contemporâneas, uma vez que ao serem não intencionais tornam impossível a quantificação da probabilidade de sucesso ou insucesso na implementação de um determinado processo e neste caso específico da avaliação de desempenho numa determinada organização.

Devemos ter a consciência que as condições (sobretudo as ambientais) podem tornar-se propícias a uma avaliação fidedigna que possa contribuir para a melhoria da qualidade

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organizacional (Fernandes e Machado, 2007: 5).11. As condições da acção (mesmo as não

intencionais) têm uma grande influência na construção do processo de avaliação e são um importante elemento no desenvolvimento positivo ou negativo do processo na organização.

No domínio das consequências não intencionais da acção, verifica-se que quando a avaliação e o próprio desempenho são realizados de modo não intencional podem dar origem a que os objectivos ou metas de desempenho estabelecidos não sejam cumpridos, o que pode gerar erros ou efeitos não pretendidos no processo de avaliação de desempenho. Esta conjuntura pode levar a que a avaliação de desempenho não alcance os parâmetros pretendidos (Santos e Cardoso, 2001). Neste sentido, as consequências de acções inadequadas no domínio da avaliação de desempenho pode fazer com que os resultados da avaliação e as vantagens que pode provocar sejam parcas face aos cânones que se pretendia alcançar, sendo esta uma situação que dá origem a falta de fidedignidade do processo e suas conclusões (Santos e Cardoso, 2001). As consequências, mesmo que sejam não intencionais, podem trazer aspectos negativos às organizações e levar ao surgimento de maior descrença e desvalorização do processo de avaliação de desempenho face a outros processos organizacionais.

As condições e consequências da acção têm grande impacto em diferentes vectores organizacionais, entre os quais nos recursos humanos e mais precisamente na avaliação de desempenho. Este fenómeno dá-se porque se tem visto que as condições da construção e desenvolvimento do processo de avaliação, as consequências das acções empreendidas durante o processo influenciam em larga escala e a fidedignidade dos resultados obtidos na avaliação se repercutem na qualidade, sustentabilidade e no desempenho dos colaboradores da organização

(Floriano e Lozecki, 2008: 3).12 Desta forma, mesmo as condições e as consequências não

intencionais da acção podem influenciar de forma evidente as vertentes em que se inserem e poder dar origem a factores positivos ou negativos. Esta situação representa uma situação a evitar para que os resultados das condições e das consequências sejam os esperados e não afectem essas vertentes, sendo a avaliação de desempenho bom exemplo desta premissa.

No que concerne à temática central desta investigação verifica-se que a avaliação de desempenho tem relação com o desconhecimento das condições e das consequências da acção, pois se a avaliação de desempenho for mal realizada as consequências podem ser

11 Retirado de: Fernandes, Mirtes, Machado, Sérgio (2007). A importância da qualidade de vida no trabalho. Revista Interdisciplinar de

Ciência Aplicada, 1 (2): 1-20.

12 Citado em: http://web03.unicentro.br/especializacao/Revista_Pos/P%C3%A1ginas/5%20Edi%C3%A7%C3%A3o/Aplicadas/PDF/6-

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negativas para a organização e para os colaboradores que a realizam dessa forma. Este é um aspecto que pode levar a que a qualidade e sustentabilidade organizacional sejam postas em causa. Neste sentido, o processo de avaliação de desempenho deve ser construído segundo ideias estruturadas que possam trazer valor acrescentado ao desempenho individual e ao desempenho organizacional, sob pena de virar as vantagens competitivas que o processo pode oferecer contra si.