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O descaso do governo municipal para com a educação infantil no ano de 2008 se concretizou nos contextos das práticas de formação em serviço, nas precárias condições materiais e de infraestrutura em que funcionavam as escolas de educação infantil e no trabalho das professoras cursistas.

Essas condições precárias foram expostas nos vários relatos das professoras ao reconhecerem que o fazer curricular envolve estruturas político-administrativas que determinam as suas práticas pedagógicas.

Muito me entristece quando vejo a educação remediada [...]. É necessário

que o prefeito e a quem de direito faça um plano educacional pensando mesmo a educação em geral. Na estrutura física das escolas, na formação

dos docentes, no pessoal de apoio e na segurança geral da escola e dos alunos, como também a remuneração dos envolvidos no setor educacional

(Nilda, Professora).

Ficava muito indignada e triste, quando lia textos que apresentavam as

instalações físicas adequadas e o que precisa existir na escola de educação infantil, e não condizia com a minha realidade. Não é fácil desenvolver um

bom trabalho em um ambiente que não nos oferece, pelo menos, as mínimas condições de trabalho. O descaso do governo é grande. Muitas vezes recorremos a ele, mas é em vão (Carmem, professora).

Nos relatos aparece a compreensão das professoras cursistas de que apenas a construção do documento da proposta curricular não é suficiente para resolver os problemas de natureza política e econômica da escola de educação infantil. Os discursos indicam a urgência de dotar as escolas de infraestrutura física e material e de qualificar os professores.

Sei que as coisas não se modificarão imediatamente e nem tudo estará resolvido (Com a elaboração da proposta curricular). Preciso de material

didático, de escolas com boas estruturas, de merenda escolar regularmente e mais e mais. Hoje, não posso mais aceitar esse descaso com a educação.

Porém continuo procurando caminhos e resoluções para fazer meu trabalho cada vez melhor (Fabiana, professora).

[...], apenas a concretização da proposta em si não é suficiente, esta precisa, verdadeiramente, ser posta em prática, não somente pelos

educadores, mas também pelos órgãos competentes e responsáveis pela educação infantil, oferecendo prédios com instalações adequadas e material humano qualificado (Carmem, professora).

O registro seguinte reflete as condições de trabalho, a não valorização dos profissionais que atuam em educação e a importância que a mesma tem na sociedade. A professora formadora toca numa questão central da carreira docente e da valorização dos profissionais da educação, que é a ausência do plano de carreira no município e provoca o sindicato da categoria que não tem contribuído para a formação política dos professores.

Quando falamos em educação, talvez não estejamos sendo tão específicas como deveríamos. É o ensino público que vai muito mal: falta de condições

de trabalho, profissionais que muitas vezes não possuem preparo para a docência, infraestrutura precarizada, ausência de plano de carreira que valorize o docente e inadequação dos espaços destinados à formação continuada dos profissionais da educação. Todas estas questões têm reflexo na sala de aula, no ensino e nas aprendizagens das crianças (Nina,

professora formadora).

Chegamos à conclusão que precisaríamos provocar o nosso sindicato, com relação a estas questões, para que tivesse atuação efetiva em defesa dos

interesses dos professores, voltada para a valorização da categoria em seu sentido mais amplo, e não apenas às vésperas de aumento de salário-

mínimo quando convoca assembleia pra discutir reajuste salarial. O papel

do sindicato tem sido reducionista nesse sentido, pois não tem contribuído para a formação política dos professores (Nina, professora formadora).

A análise das práticas de formação profissional promovidas pela DEI no ano de 2008, em sua problemática situacional e institucional, revela a não existência de uma política de formação profissional em serviço na secretaria municipal da educação. A formação promovida por esta Divisão traz a marca da descontinuidade, da não articulação das ações educativas e do isolamento na Secretaria da Educação e nas escolas da rede municipal para as quais a formação se dirige.

Constata-se não haver articulação entre as Divisões da Secretaria Municipal da Educação e nem clareza conceitual sobre a formação profissional em serviço nas ações educativas realizadas pelos diferentes grupos.

Desse modo, a formação de grupos de trabalho que envolvam professoras de todas as Divisões para a discussão de concepções de formação, de educação, de proposta curricular, de gestão, de sociedade e do papel da Secretaria da Educação, parece ser uma alternativa promissora para a instauração de coletivos, esclarecimento conceitual nas ações educativas e proposição de políticas públicas para a educação do município.

Grupos que pensem com as professoras da rede municipal as alternativas para o estudo na escola, criação de contextos participativos e integrativos, idealização, planejamento e execução das ações educativas de formação profissional em serviço.

Realizar uma política de formação profissional em serviço atuante e valorizar essa formação implica vontade, destinação de recursos para efetivá-la, implica dotar as professoras formadoras e cursistas de condições de trabalho dignas, as escolas e a Secretaria Municipal da Educação de boa infraestrutura humana, física e material.

Ao comentar um texto de Walter Benjamin, Kramer (1993) ressalta que o desafio para as políticas públicas na formação de professores é o de tornar a experiência contável para que possa ser transformada e recontada. Acrescentaria que o desafio de contar a experiência para que possa ser transformada e recontada é o desafio da própria formação. Assim, vou contando as nossas experiências na Ação Educativa empreendida, nos capítulos que seguem.

4 EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS DE PROFESSORAS FORMADORAS NA AÇÃO EDUCATIVA