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3 A ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

3.5 OS FUNDAMENTOS DA CONSTRUÇÃO DA TEORIA

3.6.2 As conexões e os movimentos do cenário “pré-campo” da pesquisa

teoria possa ser compreendido.

3.6.2 As conexões e os movimentos do cenário “pré-campo” da pesquisa

Seguindo a estrutura legitimada na proposição de Oliveira (2016), que se apoiou nos trabalhos de Schröeder (2009), Bandeira-de- Mello (2002) e Pinto (2009), utilizo da primeira pessoa do singular para apresentar o que foi desenvolvido em relação ao que trato nas próximas duas seções, nesta e na próxima. Pelo que inferem os autores, é importante pois é o pesquisador; em suas vivências, angústias e pelo seu envolvimento; o principal responsável pelo movimento de transformar os dados em teoria a partir da Grounded Theory. Além disso, usar a primeira pessoa permite com que as escolhas, o caminho e os processos adotados pelo pesquisador possam favorecer uma análise fidedigna dos resultados, aumentando a acurácia das análises e a confiabilidade dados advindos do uso desta estratégia metodológica.

Dois aspectos merecem ser destacados. A escolha do tema ocorreu antes da escolha do método, quando em 2014 assumi uma nova condição profissional relacionada com as minhas atividades, tanto técnicas quanto de pesquisa, que eram desenvolvidas desde o ano de 2006. Ao me envolver com uma Universidade Comunitária Catarinense, no caso a UNESC, me deparei com uma grande oportunidade que poderia ser explorada e que se relacionava com a avaliação da educação superior. Alguns destes pontos já foram explorados no primeiro capítulo, mas outros destaques podem ser aprofundados aqui.

Por possuir uma visão do cenário da avaliação institucional no segmento privado da educação superior, e de suas conexões com a gestão que na avaliação dos gestores daquela instituição poderia contribuir com a universidade, encontrei oportunidades de contribuir com a UNESC a partir deste conhecimento. A principal delas, foi no momento em que identifiquei o envolvimento da Universidade com o PROIES, com a migração para o sistema federal, que demandava uma compreensão dos processos e dos conhecimentos necessários para gerir, adequadamente e com foco em resultados, os indicadores de qualidade da educação superior que se alinham, diretamente com a regulação. Dessa forma, além de encontrar um espaço onde pude utilizar os resultados da minha Dissertação de Mestrado, que sistematizou ações de gestão do IGC, em integração com o PDI, seria possível contribuir com a disseminação do conhecimento sobre a regulação, em um ambiente em transformação ocasionado pela adesão ao PROIES.

Então, surgiu a pergunta: O que o movimento do PROIES está causando na Universidade e como é possível contribuir para que todos possam compreende-lo melhor? O tema estava definido e validado junto com a minha orientadora, agora o desafio seria escolher a estratégia para o desenvolvimento da pesquisa.

Desde meu ingresso como aluno regular do PPEGC, no ano de 2014, tive a preocupação de compreender profundamente os princípios teórico-metodológicos que orientavam os trabalhos desenvolvidos no curso. O “Seminário de Pesquisa”, obrigatório aos alunos regulares, foi um momento de compartilhamento de experiências, o que me permitiu estar em contato com ideias, métodos e concepções das mais variadas. Mas o que me chamou a atenção, foi a oportunidade de dar continuidade aos estudos em uma linha mais “interpretativista”, da qual sou entusiasta desde o início do mestrado. Mas a pergunta ainda estava ali: Como?

Paralelo, as discussões que ocorreram no âmbito do NEOGAP, coordenado pela Professora Marina, aproximaram-me de uma estratégia metodológica complexa e que me chamou a atenção pelo fato de

permitir a construção de “teorias substantivas”. Na conversa com os colegas do grupo e com a Professora, ideias eram compartilhadas e a experiência sobre a Grounded Theory era construída, mas num primeiro momento ao invés de certeza, tive muita insegurança. Insegurança pelo fato de não compreender, pelo menos naquele momento, a possibilidade de desenvolver uma tese de doutorado sem uma “fundamentação teórica” e livre das minhas concepções do campo em que estou inserido há, pelo menos, 10 anos. Era momento de conhecer mais.

De outubro de 2014 a fevereiro de 2015, foram muitas leituras sobre o tema. De artigos a teses de doutorado, a blogs que tratavam do tema até os clássicos relacionados, o esforço aplicado ao entendimento da Grounded Theory me permitiu tomar a decisão de utilizar a estratégia. Neste trajeto, destaco as obras de: Strauss e Corbin (2008), Tarozzi (2011), Charmaz (2009), Bandeira-de-Melo e Cunha (2003), Strauss e Corbin (1990), Strauss e Corbin (1994), Glaser (1995), Rissi (2012), Pacheco (2010), Glaser e Holton (2004), Glaser e Strauss (1967), Dey (1999), Charmaz (2008), Soares (2012), El Hussein et al. (2014), entre outros. Além disso, também procurei insumos complementares que foram adquiridos nos créditos cursados com as disciplinas no programa e, sobretudo, com as atividades desenvolvidas na disciplina de “Teoria fundamentada em dados”, oferecida no período de maturação da ideia do uso da Grounded Theory.

Com as leituras feitas, o ano de 2015 começa com uma convicção: era hora de definir pela escolha da estratégia. O que ocorreu logo no primeiro encontro com a Professora Marina, no início de Fevereiro de 2015, momento em que as primeiras ações foram encaminhadas para a validação da proposta de pesquisa, que ocorreria no mês de março do mesmo ano, no Seminário de Pesquisa. Lá, com o apoio da Professora Marina e dos colegas do NEOGAP, fomos bem- sucedidos na primeira “validação” da proposta.

Neste percurso, também assumi como desafio a realização de estudos que pudessem me suportar ao longo do trajeto da pesquisa. A primeira, em Francisco et al. (2015) tratou da utilização da Grounded Theory no contexto da gestão universitária e a segunda, Francisco et al. (2016), trouxe o PROIES para a discussão e se constituiu como um dos estudos pioneiros sobre o programa, já que ele surge em 2012, mas os primeiros resultados e impactos surgem após o período de adesão das instituições, com um lapso de, pelo menos, três anos. Dessa forma, com base nas indicações de Bandeira-de-Mello e Cunha (2003) e de Oliveira (2016), mesmo com o panorama bibliográfico estabelecido optei por não adotar um “referencial teórico” como ponto de partida, pois era difícil

ter a ciência exata do que realmente faria sentido para àqueles envolvidos com a pesquisa. Os estudos realizados me ajudaram na construção de um estado da arte, que se encontra no capítulo 2, relacionado aos conceitos envolvidos, com a intenção de ocupar os espaços abertos para a teoria em proposição.

No mesmo percurso da produção acadêmica sobre as temáticas envolvidas com esta tese, outro ponto foi fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. O meu contato diário com a universidade me permitiu desenvolver um exercício constante de supressão da minha relação intrínseca com o campo, que adoto como atividade profissional há pelo menos 12 anos. Dessa forma, no momento da formalização da pesquisa, junto ao Reitor da Universidade, foi de fundamental importância esclarecer as formas pelas quais a investigação ocorreria e, para evitar qualquer tipo de conexão indevida ou conotação diferente, que não fosse aquela relacionada com as atividades de um doutorando.

Com o projeto firmado e formalizado, era hora de iniciar a leitura dos materiais, documentos e todas as demais peças que sustentaram e orientaram a adesão, as quais me foram disponibilizadas pelos setores envolvidos com o processo. Outro ponto que me ajudou, foi a oportunidade de fazer parte do setor que se envolveu de maneira profunda com a adesão ao PROIES, com a migração e com a gestão de todo este processo, que culminou na retomada da autonomia da universidade no início do ano de 2017. Aqui cabe um pequeno juízo de valor: essa retomada representa um evento de “exclusividade” e para poucas universidades no País, o que demonstra a competência desenvolvida pela Universidade para aderir, gerenciar e sair de um programa que exigiu severos compromissos da parte da instituição.

Retomando a formalização do projeto, cabe ressaltar também que ao longo deste período foram diversas às vezes em que a proposta da pesquisa passou por alterações em seus objetivos. Confesso que as primeiras trouxeram um pouco de insegurança, mas por outro lado foram importantes para me mostrar que eu fui bem-sucedido no exercício de “me livrar” das concepções que tinha no campo. Mas mesmo assim, com a segurança proporcionada pela orientadora em detrimento da proporcionada pela estratégia metodológica escolhida, foi possível elaborar o TCLE e o primeiro roteiro de entrevistas, que foi produzido a partir das orientações encontradas em Strauss e Corbin (2008) e Tarozzi (2011), o qual foi validado com membros do grupo de pesquisa ainda no primeiro semestre do ano de 2015.

Após mais de 10 meses de preparação, enfim a primeira oportunidade de ir a campo estava concretizada, permitindo que a

primeira entrevistada fosse definida. Ela respondia pela função de “Pesquisadora Institucional”, que de acordo com as orientações normativas e regulatórias da educação superior é a pessoa responsável por coordenar toda a comunicação entre o MEC e a Universidade. A partir dela, os outros entrevistados foram definidos e contatados por intermédio dos contatos disponíveis. Mas uma coisa foi curiosa neste processo.

Após a primeira entrevista, percebi que havia um espaço para “beber mais da fonte” da Grounded Theory e assim retornei aos estudos sobre o processo por mais seis meses, até retornar ao campo novamente. Foi um momento importante que me proporcionou um amadurecimento ainda maior, chegando ao ponto de trocar contatos com a Professora Juliet Corbin, para aparar algumas arestas de entendimento. Dessa forma, após a qualificação da pesquisa e de reuniões com a Professora Orientadora para dirimir algumas dúvidas, veio à tona o mote da investigação: identificar os desdobramentos da regulação em uma Universidade Comunitária Catarinense, a partir de sua adesão ao PROIES.

Vamos ao campo!

3.5.3 O movimento do campo e as conexões com o “pós-campo”