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A CARACTERIZAÇAO DA UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE E DAS CONDIÇÕES DA ADESÃO

4 AS CONDIÇÕES INSTITUCIONAIS NA ÉPOCA DA ADESÃO: DAS EXPERIÊNCIAS EM AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL AO

4.1 A CARACTERIZAÇAO DA UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE E DAS CONDIÇÕES DA ADESÃO

A Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) possui uma afinidade considerável com seu contexto, considerando sua identidade de “Instituição Comunitária de Educação Superior”, legitimada pela Portaria MEC Nº 635, de 30 de outubro de 2014, publicada no Diário Oficial da União do dia 31 de outubro de 2014. Esse reconhecimento faz da UNESC uma instituição que aponta para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão no contexto de sua comunidade, fortalecendo a dinâmica de seu Plano de Desenvolvimento Institucional.

De acordo com o seu PDI, a UNESC é o fruto de uma articulação social que se constitui nos anos de 1960, com o objetivo de explorar as lacunas educacionais ocasionadas pela ausência da participação do estado no fomento a educação superior em Criciúma e região. A partir dessa oportunidade, em 1968 surge a Fundação

Educacional de Criciúma, que se constituiu pela Lei No. 697, de 22 de junho daquele ano, instituindo-a como uma entidade pública, não estatal e de direito privado, que se tornaria a mantenedora da atual Universidade.

A UNESC constitui-se pelos esforços empreitados na busca pela constituição de uma instituição de educação superior na região carbonífera em uma época na qual o ensino universitário estava restrito apenas às capitais ou às grandes cidades. A Instituição surge em um momento importante para o estado, contemporâneo à criação da Universidade Federal de Santa Catarina, colimando assim conceitos de democratização e interiorização da educação superior, análogo ao atual Plano Nacional da Educação.

Em seu percurso de desenvolvimento é possível identificar o reconhecimento da instituição pelo Conselho Estadual de Educação, que legitimou a estrutura constituída sob a ótica de quatro unidades de ensino que estabeleceram os marcos de seu desenvolvimento. Pelas atividades da Faculdade de Ciências e Educação de Criciúma (FACIECRI), da Escola Superior de Educação Física e Desporto (ESEDE), da Escola Superior de Tecnologia (ESTEC) e pela Escola Superior de Ciências Contábeis (ESCCA), estabelece-se um grupo de faculdades que se transforma, no ano de 1991, em União das Faculdades de Criciúma (UNIFACRI), desencadeando o processo de transformação em universidade, que se consolida no ano de 1997.

Ainda de acordo com o PDI, a UNESC expande sua atuação institucional ao longo da história para as diferentes modalidades de cursos de graduação e pós-graduação, permitindo que sua atuação possa articular movimentos que influenciem toda uma comunidade em suas diversas áreas e linhas de ensino, pesquisa e extensão. E nesse sentido ainda é possível identificar que:

O fato de a UNESC estar inserida em uma região altamente degradada, principalmente pela mineração de carvão, em decorrência da forma desenfreada e desvinculada da preservação ambiental com que extraímos da terra a riqueza que nos sustentou por um longo tempo, foi fator decisivo na definição de sua Missão na época: “Promover o desenvolvimento regional para melhorar a qualidade do ambiente de vida”. Tomando-a como sua principal motivação, a Universidade pretende dirigir todas as ações que realiza ou venha a realizar, transformando-se e

contribuindo para transformar a realidade que extrapola seus muros. (PDI UNESC, p. 19).

Ao assumir esse compromisso, a UNESC se posiciona como uma instituição social que desenvolve projetos que têm o objetivo principal de fomentar a qualidade de vida na região do extremo sul do estado catarinense, inserindo professores, acadêmicos, pesquisadores e a sociedade em um ambiente dinâmico e marcado pelo desenvolvimento de ações comunitárias. Atuando com as bases centradas no ensino, na pesquisa e na extensão, de acordo com seu Projeto Político Institucional - PPI (2013) -, a UNESC é uma Universidade Comunitária que compreende a educação como bem público e social, sempre na observância das políticas educacionais e os pressupostos reguladores da educação superior no Brasil.

Em consonância com estes pressupostos, o Plano de Desenvolvimento Institucional da Universidade retrata a preocupação com questões institucionais, políticas e governamentais, sobretudo quando apresenta as principais características de sua inserção regional. Nesse sentido, a UNESC se posiciona na vertente da vanguarda atendendo necessidades históricas de uma região que é marcada pela diversidade de panoramas políticos, econômicos e comerciais.

No que se refere a sua filosofia institucional, que propõe o direcionamento de suas atividades estratégicas, a UNESC considera como base fundamental a interlocução constante entre as atividades de ensino, pesquisa e extensão de maneira indissociável, articulando estes elementos com a dinâmica de seus valores institucionais, que considera como pilares os elementos destacados na figura 03.

Figura 03: Caracterização dos Valores da UNESC Fonte: UNESC 2013.

Amparada nessa plataforma, o PDI da Universidade destaca que são propostos 30 objetivos estratégicos e 69 planos de ação para o quinquênio de vigência do PDI, articulando-os com as áreas de atuação acadêmica da Universidade que são delimitadas pelo que o PDI denomina de Unidades Acadêmicas, estrutura que articula os cursos de graduação e pós-graduação, que são caracterizadas da seguinte forma:

➢ Unidade Acadêmica de Ciências, Engenharias e Tecnologias (UNACET): Unidade que contempla cursos de graduação, nas modalidades Bacharelado, Superior de Tecnologia (CST) e pós-graduação (stricto- sensu) que se encontram na área dos estudos tecnológicos e de engenharias;

➢ Unidade Acadêmica de Ciências Sociais Aplicadas (UNACSA): Unidade que contempla cursos de graduação, nas modalidades Bacharelado, Superior de Tecnologia (CST) e pós-graduação (stricto-sensu) que

se encontram na área dos estudos em ciências sociais aplicadas;

➢ Unidade Acadêmica de Humanidades, Ciências e Educação (UNAHCE): Unidade que contempla cursos de graduação, nas modalidades Bacharelado, Licenciatura e pós-graduação (stricto-sensu) que se encontram na área dos estudos em formação docente; ➢ Unidade Acadêmica de Ciências da Saúde (UNASAU):

Unidade que contempla cursos de graduação, nas modalidades Bacharelado, Superior de Tecnologia (CST) e pós-graduação (stricto-sensu) que se encontram na área dos estudos em saúde.

Apesar de sua estrutura apresentar uma caracterização considerável em se tratando de uma universidade localizada no interior, a UNESC sofreu influência de uma das possibilidades proporcionadas pela LDB. A competitividade promovida por este dispositivo legal, que de acordo com Monteiro (2011) abriu as portas da educação superior para a iniciativa privada, trouxe a necessidade de um ajustamento estrutural, técnico e estratégico para as instituições deste porte, devido ao crescimento assistemático das instituições privadas com finalidades lucrativas que de 1996 a 2006 chegou ao patamar de 200%, de acordo com a proposição de Garcia (2006).

Ademais, ao longo de sua trajetória a UNESC, devido a sua natureza pública de direito privado, optou pelo exercício de operações tributárias que posteriormente não foram reconhecidas pelos órgãos que regulam este processo, neste caso a Procuradoria da Receita Federal, gerando um passivo institucional que poderia, até mesmo, causar a destituição do patrimônio institucional, tal como é caracterizado no Parecer 01/2011 da Consultoria Jurídica do Ministério da Educação:

Quanto àquelas que, após o processo de migração, prosseguirem como vinculadas ao sistema estadual de Santa Catarina, o MEC, conforme assinalado anteriormente, deverá dar ciência do procedimento de supervisão, inclusive desta manifestação, ao Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina, ao Ministério Público do Estado, à Procuradoria da União no Estado de Santa Catarina e ao Ministério Público Federal, estes dois últimos para, eventualmente, promoverem medidas tendentes ao encerramento

das atividades das instituições que, embora não tendo migrado para o sistema federal de ensino, caracterizam-se como privadas, posto que não mantidas, nem administradas pelo Poder Público Estadual (PARECER CJ MEC 01/2011, (apud Parecer 13/2011 UNESC, p. 8)

Ainda surgiram duas outras condições que motivaram a adesão. No que se refere ao recolhimento do imposto de renda dos funcionários ocorreu que, devido a um conflituoso entendimento, a UNESC, em virtude de sua finalidade comunitária, não lucrativa e fundacional, instituída por fundação pública municipal, recolhia os tributos relativos ao Imposto de Renda dos Funcionários aos cuidados da Prefeitura do Município.

Esse aspecto não foi reconhecido como legítimo pelo Superior Tribunal Federal (STF), que emitiu sentença para que se retomassem as contribuições aos cofres da União e que esse recolhimento assumisse um caráter retroativo, em virtude do montante caracterizado pelo período em que a UNESC, assim como outras instituições, optou pela outra forma de recolhimento.

O Parecer Nº 13/2011, da Procuradoria Jurídica da UNESC, que pode ser considerado o documento que colaborou para o surgimento do PROIES, destaca que:

Durante muito tempo mantivemos o entendimento que as IES eram mantidas pelo poder público municipal, uma vez que recebiam recursos periódicos para sua manutenção. Infelizmente, tal tese, que sustentava inclusive o recolhimento do Imposto de Renda Retido na Fonte diretamente ao cofre municipal e não a Receita Federal, também já foi sinalizada em decisão recente do próprio STF como improcedente. (PARECER 13/2011, p. 8)

O mesmo parecer ainda descaracteriza a possibilidade da UNESC e suas congêneres de serem reconhecidas como instituições públicas mantidas por fundação municipal, consolidando o entendimento de que, sobretudo após a adesão ao PROIES, estas instituições assumiriam a condição de instituições privadas de educação superior, embora com seus fins legítimos comunitários.

Essa discussão já vinha de muito tempo, o que causou um conflito de entendimento sobre as competências relacionadas com as atividades de regulação, já que a UNESC, por meio das orientações da Associação Catarinense das Fundações Educacionais (ACAFE), entendia que possuía uma natureza pública, embora fosse considerada pelo MEC como uma instituição privada da educação superior.

Esse entendimento foi ratificado pelo Conselho Estadual de Santa Catarina, que se tornou órgão regulador da Universidade amparado nas diretrizes constitucionais, mas que, por decisão do Superior Tribunal Federal (STF), perdeu essa competência na medida em que a Universidade optou pela migração.

E perda da filantropia é um dos elementos que influenciaram o processo de adesão, já que o ajuste na proposta de recolhimento dos tributos, de forma retroativa, estabeleceu um severo compromisso à universidade no sentido de quitar os valores em débito. O que retira dela uma importante capacidade de promover a filantropia nos moldes da Lei Nº 12.793, de 02 de abril de 2013, que foi alterada pela Lei Nº 12.868, de 15 de outubro de 2013. Neste dispositivo, há obrigações que devem ser pactuadas para que as entidades educacionais possam ser consideradas filantrópicas e usufruir de isenções fiscais a partir da prerrogativa do Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social (CEBAS).

Essa perda também se ocasionaria devido ao fato de que, sem a adesão ao PROIES, devido ao que foi estabelecido pelo Edital SERES 01, de 09 de agosto de 2011, a Universidade não teria o acesso ao Programa Universidade para Todos (ProUni), o que inviabilizaria sua condição de oferta de filantropia. A prerrogativa legal da filantropia ainda exigia a aplicação de 20% da receita das mensalidades em assistência, uma cota de 75% de bolsas integrais ou parciais de 50% e bolsas concedidas a alunos que participem de projetos sociais realizados no entorno da universidade em uma determinada proporção. Tudo seria inviabilizado, caso a Universidade não optasse pela adesão ao PROIES, pois não haveria o acesso às Certidões Negativas de Débito (CNDs).

Surgem dois impactos. O primeiro deles era relacionado à condição dos atos regulatórios dos cursos e da própria instituição, já que ambos, devido ao processo de regulação estabelecido pelo Decreto Nº 5.773, de 09 de maio de 2006, necessitavam das evidências da regularidade fiscal das instituições. O segundo foi relacionado à própria adesão, já que ela deveria ser compreendida como um movimento institucional integrado, devido ao impacto gerado em suas estruturas física e social.

Ambos os impactos são tratados nos instrumentos norteadores do processo avaliativo e regulatório no Brasil. Na LDB (1996), é possível identificar que o Art. 7º determina que a educação superior é livre a qualquer tipo de pessoa jurídica, desde que se mantenham as considerações ensejadas pela Constituição Federal, que em seu Art. 209º, inciso III, destaca a capacidade de autofinanciamento.

No já citado Decreto Nº 5.773 de 09 de maio de 2006, identifica-se também esse aspecto, já que o documento exige a apresentação das Certidões Negativas de Débitos para o processo de recredenciamento institucional. No Art. 15º, o Decreto destaca que os pedidos de credenciamento e recredenciamento institucional carecem deste documento, acrescido das certidões de regularidade relativas à Seguridade Social e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

A escolha pela não adesão ao PROIES impediria o acesso a estes documentos e, portanto, determinaria, no médio prazo, a inviabilidade da atividade da Universidade.

Nesse sentido, surge um conjunto de agentes-chave para a gestão do processo de adesão, que assumiram a função de conhecer e gerenciar os impactos regulatórios advindos do PROIES, para orientar a comunidade acadêmica no processo de adesão. Estes agentes guardavam, pelo menos de alguma forma, a capacidade de influenciar na dinâmica da avaliação institucional da Universidade e gerenciar o movimento da adesão ao Programa.

A seguir o perfil e algumas características destes gestores serão apresentadas.

5.2 OS GESTORES DO PROCESSO DE ADESÃO AO PROIES