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As Conseqüências sociais do desemprego dos jovens

CAPÍTULO 1 OS JOVENS E O DESEMPREGO

1.5 O desemprego juvenil no Brasil

1.5.4 As Conseqüências sociais do desemprego dos jovens

A probabilidade de um jovem desempregado conseguir um emprego é inferior à observada para os trabalhadores de idade mais avançada e em uma conjuntura como a atual, as barreiras juvenis a um posto de trabalho se tornam ainda maiores. Assim, o desemprego, a instabilidade e precariedade ocupacional dos jovens se manifesta de forma mais acentuada, ficando comprometida à integração social da juventude. Precisamos recordar que na sociedade capitalista a principal forma de um indivíduo se integrar à sociedade é por meio da conquista de um trabalho assalariado. Na visão de Sanchis (1997), muitos jovens foram ensinados que a única maneira ‘legítima’ para se

tornar adulto é mediante um trabalho assalariado. Mas como nem todos conseguem uma ocupação, chegar à fase adulta se torna ainda mais difícil.

Sem um emprego, o jovem não pode se emancipar dos seus pais e nem tem condições de ampliar sua independência e de planejar a constituição de uma nova família. Portanto, a integração dos jovens ao mercado de trabalho é uma peça chave de sua integração social, visto que ao terem um emprego podem ter condições para o seu desenvolvimento. Na análise de Quadros (2001), por meio do desemprego juvenil e da ampliação da exclusão social os jovens passam a ter obstáculos crescentes, em alguns casos intransponíveis, para sustentar as condições de vida e trabalho de sua família de origem.

Mister se faz ressaltar que uma fração dos pais está apreensiva com a ‘ausência de futuro’ que enfrentam seus filhos por causa do alto desemprego juvenil. Contudo, uma parte da sociedade e das famílias, equivocadamente, culpa os jovens pelo fato deles estarem desempregados. Quase sempre relacionando o desemprego com a falta de qualificação, se esquecendo que não existem empregos para todos que buscam um posto de trabalho. O que vem fazendo parcela dos jovens se sentirem envergonhados por se encontrarem desempregados. Em muitos casos, os jovens podem ficar depressivos, desanimados, sem perspectiva de futuro e até chegarem a ponto de se autoculparem pela situação que vive. À medida que os jovens passam a considerar o desemprego juvenil um problema individual a ser resolvido por meio da ampliação da qualificação, a situação se torna ainda mais grave, pois destrói qualquer possibilidade de luta entre os jovens por mais empregos e empregos melhores. Pode ser criada uma situação de rejeição entre os próprios jovens em relação àqueles que estiverem desempregados, que podem ser classificados e considerados incompetentes, sem qualificação e até preguiçosos.

Na análise de Martins (1997), uma idéia muito divulgada por empresários e por parte da mídia é que o jovem tem alergia ao trabalho, ou seja, faltaria a ele a disciplina do trabalho e a rigidez de horários. Uma opinião por muitas vezes propagada pelos capitalistas, por empresários e outros grupos sociais é que os jovens têm menos compromisso e responsabilidade com o trabalho. Algumas empresas chegam a afirmar que não empregam jovens por considerar que a produtividade desse grupo é menor.

Essas são ideologias utilizadas no Brasil atual para culpar os jovens pela situação de desemprego, deixando encoberto os verdadeiros culpados pelo alto desemprego juvenil. Para boa parte dos jovens, o que não faltaria seria compromisso, responsabilidade e respeito aos horários se tivessem uma ocupação, sobretudo no mercado de trabalho formal. No entanto, a geração de emprego em proveito dos jovens jamais pode se basear na garantia de ocupações para esse segmento em detrimento da demissão dos trabalhadores adultos. Deste modo, os únicos beneficiados são as empresas que demitem trabalhadores com maiores salários e contratam trabalhadores mais baratos. Chegaria-se à loucura de empregar o filho e desempregar o pai.

Em relação ao Estado, na análise de Corrochano et al (2003), há uma pequena tradição na elaboração de políticas públicas para a juventude31, especialmente relacionadas à geração de emprego e renda, o que torna a situação ainda mais grave. O que deixa em dúvida como será o desenvolvimento futuro da juventude e da sociedade brasileira em um contexto cada vez mais problemático e precarizado do mundo do trabalho e das políticas públicas. Convém lembrar que na juventude ocorre a transição de uma situação de dependência econômica e social para a sua emancipação. Mas essa emancipação vem se tornando cada vez mais difícil de acontecer, pois as dificuldades de ingresso e permanência dos jovens no mercado de trabalho vem tendo como conseqüências a ampliação do tempo na escola e na casa dos pais.

Não se pode perder de vista que uma parcela dos jovens desempregados pode utilizar suas energias em atividades prejudiciais a sociedade (drogas, violência etc). Alguns podem se revoltar contra a sociedade por meio de ações violentas, preconceituosas ou até mesmo pelo exercício de atividades criminosas. Houve na última década, o aumento do número de mortes de jovens por causas violentas, especialmente homicídios. Em especial nas grandes cidades brasileiras, o desemprego vem gerando uma condição de vulnerabilidade juvenil a violência.

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Quando essas políticas existem normalmente são focadas nos jovens de baixa renda, ou seja, não possuem caráter universal. Na visão da OIT, nem sempre os Estados conseguem perceber as dificuldades e as necessidades dos jovens em relação à questão do emprego. Para essa organização, um dos erros de algumas políticas de emprego para o segmento juvenil é o fato de terem um olhar adulto, que muitas vezes não entende o que é melhor para os jovens.

O desemprego juvenil é uma barreira para a vivência da juventude, já que pode causar desesperança quanto ao futuro. Por não terem recursos financeiros, os jovens passam a depender da ajuda familiar e estatal, mas que nem sempre existe ou é eficiente. Uma vez que, no caso brasileiro, muitas famílias são de baixa renda pouco podem fazer para auxiliar os jovens que estão sem emprego. Desta forma, os jovens da classe média estariam mais protegidos dos efeitos negativos do desemprego.