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Os jovens que estavam cadastrados no CIEE e sua relação com o

CAPÍTULO 2 O CIEE (CENTRO DE INTEGRAÇÃO EMPRESA-ESCOLA) E A INTEGRAÇÃO DOS

2.6 A relação dos jovens entrevistados com o mundo do trabalho

2.6.1 Os jovens que estavam cadastrados no CIEE e sua relação com o

As entrevistas com os jovens cadastrados no CIEE foram importantes para a pesquisa, pois mostraram a visão que os entrevistados possuíam em relação ao estágio e ao mercado de trabalho.

Em relação à idade é um grupo bastante distinto, que busca o CIEE para conseguir a oportunidade de estagiar e poder deixar o desemprego. Metade dos entrevistados tinha 16 anos, enquanto 25,1% possuíam 18 anos; 8,3% se encontravam com 17 anos e mais uma fração de 8,3% estava com 19 anos. Um pequeno conjunto dos jovens entrevistados não fazia parte da faixa etária (15-24 anos) utilizada neste trabalho para definir a juventude. Eles são 8,3% dos entrevistados e possuem 28 anos. Quanto ao gênero, 58,3% são do sexo masculino e 41,7% do feminino.

Os entrevistados residiam em três cidades da Região Metropolitana de Campinas: 66,6% na metrópole regional, 25,1% em Hortolândia e 8,3% em Indaiatuba. O fato de mais jovens Campineiros procurarem o CIEE fica evidenciado por causa da

agência dessa ONG se localizar no município de Campinas e também porque nele se encontra a maior população juvenil da região.

Cerca de 50% dos entrevistados pertenciam a famílias com renda mensal de 2 a 4 salários mínimos. Esse dado demonstra que o CIEE não está focado em jovens de maior renda ou apenas pertencente à classe média, é uma entidade que atende a jovens de diversas classes sociais e expectativas de vida e trabalho. O Supervisor de Operações do CIEE nos informou que nessa instituição não há distinção de jovens, todos seriam importantes e por isso, deveriam ser atendidos. Quanto aos outros entrevistados, 8,3% tinham renda familiar de 8 a 12 salários mínimos, 16,7% entre 4 e 8 salários mínimos e 16,7% até 2 salários mínimos. O restante dos jovens, 8,3%, não sabia ou não lembrava a renda familiar.

De igual forma, a escolaridade dos jovens pesquisados era formada por três classificações: 58,3% estavam cursando o ensino médio; 16,6% tinham o ensino médio completo e cursavam o Ensino Técnico, e 25,1% cursavam o Ensino Superior. As instituições de ensino que freqüentavam eram as seguintes: 58,5% em escolas públicas de ensino médio (em Campinas e em outras cidades); 8,3% no Colégio Técnico Bento Quirino (em Campinas); 16,6% na Universidade Paulista (UNIP) na cidade de Campinas e outros 16,6% no Colégio Técnico de Hortolândia. Com esses dados constata-se como o público que procura o CIEE é variado, desde alunos de ensino médio público até estudantes de Ensino Superior de Universidades particulares. Portanto, o CIEE tem algo de muito interessante e que inexiste em muitas políticas estatais de emprego, não está voltado apenas para os segmentos de menor renda.

Entre os cursos que realizavam os entrevistados estão: 58,3% ensino médio, 25,1% curso técnico, sendo 100% deles técnico em informática. O restante 16,6%, fazia curso superior, sendo que 70% deles cursavam Propaganda e Marketing e 30% Engenharia (Mecatrônica e Civil).

Ao perguntar o principal motivo que os levaram a querer trabalhar. Obteve-se diversas respostas, que auxiliam nesta reflexão sobre as questões relacionadas aos jovens e ao mundo do trabalho. Estão destacadas na tabela a seguir.

Tabela 9 - Qual o principal motivo que o leva a querer trabalhar? (em %)

Ter renda para ajudar em casa e poder fazer alguns cursos 50

Oportunidade de adquirir experiência profissional 21,4

Para ter independência 14,2

Oportunidade de adquirir conhecimentos profissionais 7,2

Para adquirir responsabilidade 7,2

Para boa parte dos jovens brasileiros, sobretudo aqueles de baixa renda, trabalhar é um mecanismo fundamental para a sua manutenção e de sua família, ainda mais que não podem dar ao luxo de permanecerem desempregados por um longo período. Nas entrevistas, isso fica comprovado, pois 50% dos jovens querem trabalhar para auxiliar no orçamento doméstico e poder ampliar a qualificação (cursos profissionalizante, técnico e superior) e, ainda, 66,7% deles possuem renda familiar até 4 salários mínimos. Um entrevistado chamou a atenção para a necessidade de programas públicos de qualificação profissional, até mesmo cursos de idiomas. Esses jovens têm a ilusão de que a realização de cursos para ampliar a qualificação será uma forma de facilitar seu ingresso e permanência no mercado de trabalho, contudo sabe-se que a qualificação não é garantia de emprego e nem influencia na geração de novos postos de trabalho. Esses jovens pensam dessa forma porque reproduzem a idéia de que o desemprego é um problema individual decorrente da falta de qualificação. Por isso, Pochmann (2000) afirma que não existe uma saída individual para o desemprego porque não há empregos para todos.

Registra-se, ainda que entre as famílias de menor renda, o trabalho é algo bom e dignificante existindo assim uma ética do trabalho. Por isso, na argumentação de Gorz (2004), o trabalho ocupa uma função socialmente identificada e normatizada na produção e na reprodução do todo social. No caso dos jovens, a pressão das famílias pobres é muito grande, pois vêem no trabalho o meio da juventude adquirir responsabilidade, dignidade e se distanciar do mundo do crime. Por isso, Martins (1997) afirma que entre os pobres o trabalho juvenil é uma necessidade que se transforma em virtude. Assim, 7,2% dos entrevistados ou têm essas idéias ou sofrem

em seu cotidiano a influência delas, considerando o trabalho um meio de adquirir responsabilidade. Um dos jovens pesquisados disse: “se houvesse mais oportunidades

para os jovens se qualificarem e estagiarem haveria menos criminalidade”.

Além desses fatores, 21,4%, dos jovens entrevistados mencionaram que um meio de tornar mais fácil a permanência no mercado de trabalho e a conquista de melhores empregos é a aquisição de experiência profissional por meio dos primeiros empregos. Alguns desses jovens relataram que passaram por bicos e outras táticas de sobrevivência, sempre como mecanismo para adquirir alguma renda, até que pudessem chegar ao primeiro emprego formal. Na batalha pelo primeiro posto de trabalho, geralmente os jovens passam por diversos obstáculos. Entre o maior deles está um círculo vicioso que sem experiência profissional os jovens não ingressam no mercado de trabalho, mas se não ingressarem, não terão experiência.

De igual forma, uma entrevistada afirmou “o governo não está atento com os

problemas que enfrentamos para conseguir um emprego, só pensa nos problemas da economia”. Enquanto um entrevistado destacou o fato da economia brasileira estar

pouco dinâmica e com isso, atrapalhar a situação dos jovens no mercado de trabalho. Ter a opinião que apenas o crescimento econômico resolverá os problemas referentes ao desemprego é uma ilusão, pois são necessárias políticas de emprego. Entretanto é indispensável também a constituição de mecanismos de garantia de renda para retirar certos grupos sociais (crianças, adolescentes, jovens e idosos) do mercado de trabalho, e desta forma diminuir a pressão sobre ele.

Não se pode perder de vista que, 7,2%, dos entrevistados destacaram como motivo para querer trabalhar o aprendizado alcançado no cotidiano do emprego. Quanto ao estágio esse aprendizado se torna ainda mais relevante, sobretudo quando supervisionado pela instituição de ensino e por um profissional da empresa na qual o jovem estagia.

A ampliação da independência foi destacada por 14,2% dos entrevistados como principal motivo para quererem trabalhar. O emprego pode possibilitar aos jovens ampliarem a independência financeira em relação aos seus pais. “Trabalhar, receber algum salário, para quem tem uma autonomia apenas relativa, mas está procurando aumentar-lhe o grau, significa liberdade” (Madeira et al., 1993,19).

Os dados das entrevistas mostram que 91,7% dos entrevistados afirmaram que boa parte dos jovens brasileiros enfrenta dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. Segundo 70% desses jovens os principais motivos para isso são a falta de qualificação e de experiência profissional, e também o fato do Estado não estar atento aos problemas dos jovens no mercado de trabalho. Um entrevistado disse “para a

geração de vagas há muitos impostos e a barreira da falta de experiência, mas se o jovem não trabalhar não terá experiência”. Para a solução dessas dificuldades, uma

entrevistada destacou que o Estado e as empresas deveriam dar cursos gratuitos de qualificação para ajudar os jovens no mercado de trabalho. Parte dos jovens entrevistados consegue visualizar as barreiras encontradas por eles no mercado de trabalho, sobretudo em relação à exigência de altos critérios de escolaridade e de experiência profissional anterior. Verifica-se no Brasil atual, que muitos empresários utilizam o fato de existirem muitos jovens sem emprego e dispostos a trabalhar nas condições dadas, para ampliar as exigências e torná-las em muitos casos exageradas (Quadros, 2001). Isso torna possível a contratação de um jovem altamente qualificado para um emprego que exige pouca capacitação profissional.

Convém assinalar que uma jovem entrevistada destacou um dos obstáculos enfrentados na disputa por uma ocupação: o racismo contra a mulher e a negra. Muitas análises têm a ilusão de que as condições de inserção e de permanência dos jovens e das jovens no mercado de trabalho são idênticas, mas as taxas de desemprego juvenil são maiores para as jovens. Entretanto, as jovens normalmente ingressam mais tarde no mercado de trabalho porque muitas delas cuidam da casa e dos irmãos menores, ou ainda, quando a mãe é empregada doméstica seguem a profissão materna ainda na adolescência. Quando negras, as jovens enfrentam o racismo como ampliador das dificuldades para a conquista de uma ocupação, ou mesmo de um estágio. Na análise de Offe (1998), as mulheres são consideradas também grupos-problema no mercado de trabalho, enfrentando mais dificuldades para conseguir uma ocupação e permanecendo por mais tempo desempregadas. Essa situação é da mesma forma sentida pelas jovens, que em muitos casos enfrentam o machismo dos empregadores e dos jovens.

Precisa-se destacar que um dos entrevistados afirmou: “além de não ter muitos

empregos, há empresas que não empregam jovens que moram longe, eles não querem pagar 2 ou 3 conduções”. Ele disse ainda: “se o jovem já tem filhos as dificuldades aumentam ainda mais, para ter um novo emprego não pode nem ter nome sujo no Serasa69”. Há ainda entre as empresas uma outra seleção, a referente ao bairro que o

futuro trabalhador mora. O objetivo das empresas é ter o menor custo com os trabalhadores, não somente em relação aos salários, mas também quanto aos benefícios (vale-refeição, vale-transporte, auxílio-saúde, entre outros). Desta forma, na visão dos empresários, trabalhadores que moram distantes da empresa além de aumentarem os gastos tem maiores riscos de chegarem atrasados ao trabalho. Se os jovens já têm filhos sofrem com um preconceito no mercado de trabalho, visto que para algumas empresas eles não seriam responsáveis e causariam maiores gastos.

Uma jovem entrevistada destacou que ingressar no mercado de trabalho de forma prematura e precária atrapalha o processo de formação escolar. Isso é evidente, principalmente porque os trabalhadores jovens têm uma jornada de trabalho similar a dos adultos, o que dificulta a ida à escola. Para conseguir um emprego, ou mesmo um estágio, o jovem precisa aceitar as exigências dos empregadores, tais como a longa jornada de trabalho, que tornam mais comprometidos a ida a entidade educacional e o desenvolvimento futuro do jovem.

Entre as situações destacadas pelos entrevistados estão o desemprego juvenil e seus problemas. Um entrevistado declarou “não há nada pior para um jovem do que

estar desempregado, todos te olham feio, te chamam de vagabundo, no meu caso, meus vizinhos tem preconceito com desempregados... o pior é quando meus filhos70 pedem as coisas e daí vem o desespero, o desempregado pode até enlouquecer”.

Algumas falas desse entrevistado chamaram atenção: “o desempregado sofre muito,

estuda, se esforça, faz currículo, anda em agências e empresas e mesmo assim não

69

Uma das entidades de proteção ao crédito. Outra prática ilegal realizada pelas empresas é exigir dos candidatos a emprego um atestado de antecedentes criminais.

70

Esse entrevistado ainda é jovem, mas já é pai de 2 filhos. Ele está desempregado e para que as crianças possam ter alimentos e suprir suas necessidades, ele realiza diversas táticas de sobrevivência, nos disse que já foi pintor, segurança, servente de pedreiro, carpinteiro, entre outros bicos. Faz qualquer trabalho que aparecer só para poder sustentar a família, como a sua esposa também está desempregada sua situação se torna ainda mais dramática.

consegue emprego..o desemprego causa desespero e leva a criminalidade”. O jovem

entrevistado relatou os sofrimentos enfrentados pelos desempregos, tanto a crise psicológica quanto a pressão social por não ter um emprego, quanto à situação econômica precária de não ter um salário. É certo que o desemprego leva ainda, a vulnerabilidade social e a degradação das condições de vida. Por isso, Forrester (1997) tinha consciência de que o desempregado se sente envergonhado pela situação a qual vive e sem controle sobre o seu destino. “Não há nada que enfraqueça nem paralise mais que a vergonha. Desempregados vivem a vergonha de estarem sem empregos. A vergonha tem o poder de impedir a luta política contra o desemprego” (Forrester, 1997: 15).

Apesar do forte discurso dos economistas e políticos conservadores de que o Estado deve intervir pouco nas dinâmicas econômica e social, muitos jovens destacaram nas entrevistas a falta de ações estatais. Ressaltaram também a necessidade de que o Estado realize diversas políticas públicas nos âmbitos da educação, da formação para o trabalho, na geração de empregos e que esteja mais atento aos problemas juvenis. Portanto, esses jovens querem uma maior intervenção do Estado na economia, no mercado de trabalho e na sociedade, mas pouco se mobilizam para criar instrumentos de pressão para que essas ações sejam realizadas.

Assinale, ainda, que não mais que 8,3% dos entrevistados tiveram a opinião de que não existem dificuldades para o ingresso dos jovens no mundo do trabalho. Mas talvez o tempo e os obstáculos encontrados para ingressarem e permanecer no mercado de trabalho os faça mudar de opinião.

Quanto à experiência profissional anterior, somente 33,3% a possuem. Sendo que 25% deles possuem experiência na indústria, outros 25% no comércio e 50% no setor de serviços, o que mais emprega atualmente. Em síntese, os jovens cadastrados ao CIEE em sua maioria, 66,7%, não possuem experiência profissional, estão em busca do primeiro emprego e o estágio seria para eles, uma forma interessante de terem o contato inicial com o mundo do trabalho.

2.6.2. Os jovens que estavam estagiando por intermédio do CIEE e sua relação