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Como era o desemprego juvenil nas décadas de 1970 e 1980 e a partir

CAPÍTULO 1 OS JOVENS E O DESEMPREGO

1.5 O desemprego juvenil no Brasil

1.5.3 Como era o desemprego juvenil nas décadas de 1970 e 1980 e a partir

Na década de 1970 e em parte na de 1980, o desemprego juvenil era baixo e ocorria facilmente a incorporação dos jovens ao mundo do trabalho, quase sempre no mercado formal. Os jovens tinham condições de vida e trabalho semelhantes ou melhores que as dos seus pais, era assegurado inclusive para parte do grupo juvenil a mobilidade social. Nos anos de crise econômica, o desemprego se expandia, porém quando a economia retornava ao crescimento, a quantidade de jovens desempregados reduzia-se de maneira significativa.

A partir do final dos anos 1980 e início dos 1990, ocorre o aumento do desemprego e dos obstáculos ao ingresso ocupacional dos jovens. Nos anos 1980, segundo a PED do SEADE / DIEESE, a taxa média de desemprego dos jovens da faixa etária entre 15 e 17 anos era de 24,4%, ao passo que para os indivíduos entre 18 e 24 anos a taxa média era de 13,2%. Na década de 1980 tal como afirma Pochmann (2000), o desemprego juvenil era aproximadamente 1,5 vez maior que a taxa de desemprego total. Ao passo que nos anos 1990, subiu para aproximadamente 2 vezes.

Tenha-se presente que nos anos 1990, segundo a PED, a taxa média de desemprego era de 37,2% para o grupo etário de 15 a 17 anos e de 20,7% para os jovens que tinham entre 18 e 24 anos. Deste modo, houve um substancial aumento para o desemprego dos jovens na década de 1990.

Na visão de Pochmann (2000), a evolução do desemprego total no Brasil desde 1980 mostra uma leve queda da participação dos jovens. Porém isso, não significa, necessariamente, que tenha ocorrido uma redução do desemprego juvenil, mas a expansão para outras faixas etárias acima dos jovens.

Gráfico 6 - Taxas de desemprego juvenil na RMSP por faixa etária (1985 -1994) em %

29,6 24,5 21,5 24,7 21,9 25,1 26 36,7 38,1 38 16 12,5 12,7 12,9 11,9 14,4 16 20,8 20,1 20,1 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 15-17 18-24

Fonte: PED - SEADE – DIEESE – elaboração própria

O gráfico acima demonstra a ampliação do desemprego juvenil a partir do final da década de 1980 e uma expansão ainda maior no início da década de 1990 tanto

para a faixa etária de 15 a 17 anos, quanto para a de 18 a 24 anos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Contudo, devido à falta de experiência profissional e as barreiras criadas pelo mercado de trabalho, o aumento do desemprego foi mais significativo para a faixa etária de 15 a 17 anos.

Ao passo que nos anos 1990 e início do século XXI, os jovens foram um dos grupos mais atingidos pelas transformações na economia e no mercado de trabalho. Apesar do aumento da escolaridade entre os jovens, observa-se desde os anos 1990 que um contingente crescente de jovens tem ficado excluído do mercado de trabalho. De igual forma ocorreu o aumento dos empregos reservados aos jovens na situação de autônomo e diminuição nos segmentos assalariados formais.

Não se pode perder de vista que nas duas últimas décadas cresceu o desemprego e a inatividade entre os jovens. Para explicar esses fenômenos há duas hipóteses, ou os jovens estão preferindo aumentar o tempo de estudo e retardar seu ingresso no mundo de trabalho.

Ou, ainda, os jovens não estão sendo absorvidos pelo mercado de trabalho, quando ficam desanimados acabam se transformando em desempregados ocultos por desalento. A segunda hipótese é a mais aceitável, especialmente em um contexto de expansão do desemprego juvenil e ampliação dos obstáculos ao ingresso no mundo do trabalho, como demonstram os dados da tabela a seguir.

Tabela 7 - Brasil – Evolução do emprego formal dos jovens por faixa etária, segundo os setores de atividade.

Setores de atividade Faixa etária 1989 1994 1999 Variação 1989- 1999 Indústria 15-17 anos 342.121 181.423 99.641 -70,90% Indústria 18-24 anos 1.678.454 1.218.330 1.136.089 -32,30% Construção Civil 15-17 anos 18.029 12.273 5.061 -71,90% Construção Civil 18-24 anos 246.942 214.418 193.927 -21,50% Comércio 15-17 anos 238.540 160.713 130.095 -45,50% Comércio 18-24 anos 1.046.619 1.026.136 1.286.782 22,90% Serviços 15-17 anos 215.644 131.584 114.829 -46,80% Serviços 18-24 anos 2.125.484 1.623.112 1.817.818 -14,50% Total 15-17 anos 902.894 550.079 374.578 -58,50% Total 18-24 anos 5.479.686 4.423.123 4.631.580 -15,50%

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS30 1989, RAIS 1994 e RAIS 1999) – Elaboração própria.

No período entre 1989 e 1999, houve uma diminuição dos jovens no mercado de trabalho formal porque foram eliminados, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, 1,38 milhões de empregos formais que pertenciam ao segmento juvenil. Em relação aos jovens de 15 a 17 anos houve redução de sua participação em todos os setores de atividades. À medida que o grupo etário de 18 a 24 anos teve leve recuperação do nível de emprego formal na segunda metade da década de 1990, além do crescimento nos

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A RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) se refere aos dados do emprego formal no Brasil, trata-se de um registro administrativo, de âmbito nacional, obrigatório para todos os empregadores, alcançando segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego aproximadamente 90% dos estabelecimentos formais do país.

setores do comércio e agrícola. A diminuição de empregos formais durante os anos 1990 produz forte impacto na relação dos jovens com o trabalho, sobretudo entre aqueles pertencentes às famílias de menor renda, que necessitam auxiliar no orçamento doméstico.

Oportuno se torna dizer que na década de 1990, todas as regiões geográficas registraram aumento expressivo do desemprego dos jovens. Ocorre ainda, diminuição do número de jovens ocupados e de sua participação na população ocupada.

Uma das modalidades de desemprego que vem tendo forte expansão entre os jovens brasileiros nas últimas décadas é o de longa duração. Segundo a pesquisa “O Perfil da Juventude Brasileira”, 1/3 dos jovens desempregados procura emprego há mais de um ano e esse percentual aumenta a quase 2/3 se o período de busca de uma ocupação for igual ou superior a 6 meses.

Gráfico 7 - Taxas de desemprego juvenil na RMSP por faixa etária (1995 - 2003) em %

32,7 38,7 40,8 46,7 48,7 46,5 47 51,5 51,8 19,1 21 22,4 25,7 27,5 25,3 25,2 28,3 30,1 0 10 20 30 40 50 60 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 15-17 18-24

Fonte: PED - SEADE – DIEESE – elaboração própria

O gráfico acima demonstra que na segunda metade da década de 1990 há um forte aumento do desemprego juvenil para as faixas etárias de 15 a 17 anos e de 18 a 24 anos , porém mais acentuado para o grupo etário de 15 a 17 anos. No ano 2000, houve uma pequena queda do desemprego, mas que volta a aumentar no ano de 2001.

Durante a década de 1990 e início da atual ocorreu o aumento do desemprego total, que relacionado ao baixo crescimento econômico, teve como conseqüência ampliação acima da média do desemprego juvenil. Segundo o IBGE, em 1989 o Brasil

possuía um milhão de jovens desempregados, passando em 1998, para aproximadamente 3,3 milhões.

De acordo com Pochmann (2001), na média, a cada ano, 1,5 milhão de pessoas ingressam na PEA, mas nos anos 1990, desses apenas 943 mil tiveram acesso ao emprego. Portanto, na década de 1990, apenas 62,5% das pessoas que se inseriram no mercado de trabalho encontraram uma ocupação, enquanto na década de 1980, 96,1% dos indivíduos que ingressavam no mercado de trabalho alcançaram um posto de trabalho. Na argumentação de Bombach (2004), o baixo crescimento econômico não permite que o contingente de 1,5 a 1,7 milhão de jovens que ingressam na PEA anualmente consiga conquistar um posto de trabalho. Por conseguinte, são ampliados os níveis de desemprego, além da precarização das condições e relações de trabalho, bem como o rebaixamento dos salários. A força de trabalho juvenil representa uma parcela expressiva do total da PEA, o que torna o desemprego desse segmento social ainda mais grave. Nos anos 1990, houve a diminuição da PEA masculina juvenil e aumento da feminina juvenil.

Convém ressaltar que entre as alternativas ao desemprego encontradas pelos jovens estão: encontrar um emprego formal ou estágio; recorrer a políticas públicas; realizar táticas de sobrevivência; se transformar em inativo ampliando o período de escolarização e qualificação profissional; ou ainda, ‘apelar’ para os mecanismos do crime.

Em relação a taxa global de participação da população juvenil em agosto de 2005 na Região Metropolitana de São Paulo era de 63%, segundo a PED do SEADE / DIEESE. Essa taxa é a relação entre a PEA e a PIA. A PEA juvenil neste mês de 2005 constituía-se de 2 milhões e 22 mil jovens, ao passo que a PIA era de 3 milhões 180 mil jovens. Por meio desta taxa pode-se a perceber a proporção das pessoas que, estando preparadas a ingressar no mercado de trabalho, efetivamente o fazem, mesmo estando ocupadas ou desempregadas. Por conseguinte, é a PEA dentro da PIA. Com isso, fica claro que apenas 63% da PIA juvenil pressionava o mercado de trabalho da Região Metropolitana de São Paulo, os outros 37% eram inativos se dedicando apenas aos estudos ou à outras atividades que não manifestavam procura de trabalho ou realização

de atividade empregatícia, ou devido as dificuldades enfrentadas para a inserção no mundo do trabalho preferiam ser inativos dando maior valor a escolarização.

Segundo o levantamento "Juventude: Diversidades e desafios no mercado de trabalho metropolitano", realizada pelo DIEESE, entre os 3,5 milhões de desempregados existentes no ano de 2004 em Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal, 1,6 milhão estavam na faixa etária juvenil. Ou seja, 46,4% do total de desempregados nesses centros urbanos é formada por pessoas de 16 a 24 anos. A taxa de desemprego nas seis regiões para essa faixa etária se aproxima de 34%, enquanto que é de 19% para as pessoas acima de 24 anos.

Por fim, o aumento do desemprego juvenil nas últimas décadas é conseqüência da desestruturação do mercado de trabalho brasileiro. A desestruturação causou os seguintes problemas: elevadas taxas de desemprego, diminuição do número de empregos assalariados no total das ocupações e a geração de postos de trabalho precários. Este contexto “penaliza todos os trabalhadores, em especial os jovens que, diante da escassez de empregos, terminam por não dispor de condições de igualdade em meio à concorrência do mercado de trabalho, devido à falta de experiência profissional e de especialização” (Pochmann: 1998, 15). Por tais razões, aumentaram as barreiras para os jovens terem acesso ao primeiro emprego, sobretudo no mercado formal, e de se manter em uma ocupação.