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“A dor é inevitável. O sofrimento, opcional”.

(Carlos Drumond de Andrade)

Experienciar o bullying seja como agressor, como vítima, ou até espectador pode ter consequências negativas e embora possam atingir todos os envolvidos, a vítima é a mais prejudicada por, muitas vezes, sofrer de forma solitária, escondendo-se por trás de suas

lágrimas, de seu sofrimento e de seu silêncio. No entanto, não se entende que seja algo determinante, ou seja, aquele que experiencia não está “condenado” a sofrer consequências negativas para o resto de sua vida.

Defende-se que esse tipo de violência pode ser superado com o apoio de figuras significativas, pois mesmo passando por esse tipo de violência, certas pessoas conseguem superá-la e sair dela vitoriosas, especialmente quando encontram ajuda de outras pessoas que as valorizem e as acolhem. Diz-se que essas pessoas apresentam capacidade de resiliência, fenômeno que se apresenta como uma esperança e, acima de tudo, impulsiona à ação e engajamento, é um construto que reafirma o humano como aquele capaz de superar adversidades.

Entretanto, quando essa vítima não consegue estabelecer uma relação de confiança, respeito e apoio, quando não encontra quem a escute, acredite e se sensibilize com sua dor, terá mais dificuldade de lidar com o bullying e nesse caso uma probabilidade maior de apresentar consequências negativas em sua vida.

De acordo com Chalita (2008), os danos internos começam lentamente a se manifestar com o surgimento das consequências externas, em que a dor e a angústia vivenciadas pelas vítimas de forma solitária, destroem o encantamento pela escola e até pela vida. Nesse sentido, o autor afirma que “há jovens que dominados por extrema depressão, acabam tentando ou cometendo o suicídio. Outros chegam a atos extremos, provocando outros tipos de tragédias pelo anseio de se vingar das humilhações vividas” (p. 88).

Casos de bullying “pipocam” pelo mundo, “gera e alimenta a violência explícita e que vem se disseminando nos últimos anos, tendo como resultado os nefastos massacres em escolas localizadas nas mais diversas partes do mundo e, ultimamente, no Brasil” (Fante, 2005, p. 21).

No âmbito internacional, podem-se citar casos de tragédias no ambiente escolar, como, por exemplo, no Instituto Columbine (Colorado, EUA), em 1999, Eric Harris e Dylan Klebold, vítimas de bullying entraram na escola e passaram a disparar contra professores e colegas. Após matar doze colegas e um professor, eles se suicidaram. Em 2006, na Alemanha, um ex-aluno abriu fogo numa escola e deixou onze feridos e em seguida cometeu suicídio. Em 2008, um aluno de 22 anos matou nove estudantes e um professor, em Kauhajoki (Finlândia), e em seguida se suicidou (Fante, 2005; Calhau, 2010).

No Brasil, há casos como as tragédias ocorridas, por exemplo, em janeiro de 2003 na cidade de Taiúva, interior do estado de São Paulo, em que um adolescente de 18 anos entrou armado na escola que havia concluído o ensino médio, abriu fogo contra cinquenta pessoas

que estavam no pátio, feriu seis alunos, um funcionário e a vice-diretora; em seguida, suicidou-se. Esse jovem era obeso desde a infância e foi motivo de piadas, ofensas, apelidos pejorativos e humilhações pelos colegas de escola que mesmo após emagrecer mais de 30 quilos, continuaram “zoando” ele. (Fante, 2005; Fante & Pedra, 2008; Silva, 2010).

Um ano depois dessa tragédia, em fevereiro de 2004, na cidade Remanso, norte da Bahia, um rapaz de 17 anos, após ser constantemente humilhado e ridicularizado na escola, resolveu se vingar. Foi até a casa do seu agressor principal, um garoto de 13 anos, desferiu um tiro em sua cabeça e seguiu para uma escola de informática, onde matou a secretária e feriu mais três pessoas. O adolescente também tentou suicídio, mas foi impedido e desarmado (Fante, 2005; Fante & Pedra, 2008; Silva, 2010).

Recentemente, o site da VEJA publicou uma matéria relatando que em abril de 2011, na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, chegou à escola bem vestido, carregando uma mochila, e disse aos funcionários que daria uma palestra para os alunos. Ao ser liberada sua entrada, subiu ao terceiro andar do prédio, entrou em uma das salas de aula armado com dois revólveres e começou a disparar contra os estudantes com idades entre 12 e 14 anos, matando doze deles e ferindo mais de vinte, após ser parado por um policial que atirou em sua perna, Wellington se deu um tiro na cabeça.

Esse rapaz era vítima de bullying nos anos em que estudou na escola, sofrendo constantes provocações de colegas da sua turma e sendo apelidado de forma pejorativa. Ele apresentava distúrbios de comportamento, não era bom aluno, e frequentemente tirava notas baixas na escola.

Sugere-se, nos casos de alunos armados que invadiram as escolas e atiraram contra colegas e professores, um desejo de vingar-se do ambiente escolar, local não experienciado por eles como um espaço seguro e saudável, em que o alunado possa desenvolver seus potenciais intelectuais e sociais, mas como um palco de violências frequentes, “recheado” de humilhações e sendo testemunhados por muitos que nada faziam para ajudá-los.

É importante buscar compreender os sentimentos relacionados ao bullying: um mal silencioso. Já que a incidência é corriqueira no ambiente escolar e muitas vezes é subentendido como brincadeira, mas que pode acarretar implicações graves e abrangentes, sobretudo nas vítimas. Sobre isto, Fante (2008), em entrevista para o Guia Rio Claro, alerta que:

No processo educacional pode repercutir na queda do rendimento escolar, desinteresse pelos estudos, déficit de concentração e de aprendizagem. Absentismo, reprovação e evasão escolar. No processo de socialização... a vítima vai se fechando para novos relacionamentos, dificultando a integração social.... Tendem a apresentar dificuldades na vida sentimental... No local de trabalho, podem apresentar dificuldade de expressão, de falar em público e de liderança, déficit de concentração, insegurança, dificuldade de resolução de conflitos, de tomada de decisões e iniciativas. Quanto à educação dos filhos, projetam sobre eles seus medos, desconfianças e inseguranças, tornando-se superprotetores em muitos casos. Na saúde, promovem queda da resistência imunológica e sintomas psicossomáticos diversificados.

Nota-se, portanto, que a manifestação do bullying acarreta consequências amplas e variadas que só quem sofre sabe expressar essas implicações. Podendo inclusive trazer prejuízos no processo de socialização, no local de trabalho, numa futura constituição familiar e criação dos filhos, além disso, pode ainda prejudicar a saúde física e/ou mental.

Porém, há vítimas que experienciam esse tipo de violência e conseguem reagir com flexibilidade e capacidade de recuperação diante das situações de agressão, demonstrando que pode ter havido o desenvolvimento de resiliência. Isso será discutido a seguir, ao se abordar a temática resiliência e a importância das figuras significativas no enfrentamento do bullying no contexto escolar.