• Nenhum resultado encontrado

As Constituições do século XX, a censura e o audiovisual

5. A E XPERIÊNCIA B RASILEIRA E A N ECESSIDADE DE UM P ROGRAMA N ORMATIVO P RÓ

5.2 As Constituições do século XX, a censura e o audiovisual

Ao longo do século XX, são cinco as constituições em vigência. As constituições de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. O presente tópico se restringe às constituições não vigentes, sendo reservado um tópico para a atual constituição de 1988.

A constituição de 1934 marca um novo período na história brasileira, iniciado em 1930, quando Getúlio Vargas se torna presidente da República do governo provisório, depois da tomada do poder, com a deposição de um presidente e o impedimento de que outro presidente eleito tomasse posse.519

É no governo provisório que o rádio é regulamentado, por meio do decreto 20.047/31, estabelecendo um sistema para exploração de frequência distribuída, cuja competência de conceder outorgas é do Poder Executivo, sem nenhum critério técnico-social.

O Rádio pode ser explorado por sociedades civis e por empresas. Até aquela data, o Rádio era mantido por entidades civis, com programas culturais, sem qualquer organização estatal. No momento da regulamentação, existem 21 emissoras no Brasil.520 Na sequencia, o decreto 21.111/1932 introduz a propaganda comercial no rádio.

517 Nelson Werneck Sodré (1911-1999), militar, historiador e professor.

518 SOUZA. José Inácio de Melo. O estado contra os meios de comunicação. São Paulo: Annablume, Fapesp, 2003, p. 26.

519 (Na República velha (1889-1930) o Brasil é comandado pela política “café com leite” (o poder nacional se concentra nas mãos das oligarquias do estado de São Paulo (café) e de Minas Gerais leite), que alternam a presidência da República). Em 1929, o então presidente da República, o paulista, Washington Luís (1869-1957) indica outro paulista, Júlio Prestes (1882-1946) para presidência. A chamada revolução de 30, liderada por Minas Gerias, Rio Grande do Sul e Paraíba, e impõe um golpe finalizando com a República café com leite.

Após a Revolução Constitucionalista de 1932521 e o seu insucesso, chega uma nova constituição, a de 1934. A Constituição de 1934 é inspirada na constituição de Weimer e inova em relação à constituição de 1989, incorporando Deus em seu preâmbulo, matéria de direito civil, comercial, direito social (educação, cultura, trabalho e previdência), direito administrativo, além de estabelecer normas que regulam a ordem econômica e social e a família.

Em relação à liberdade de expressão, o item 9, do artigo 113, estabelece a livre manifestação do pensamento, independentemente de censura, exceto nos casos de espetáculos e diversões públicas. A Constituição determina ainda a responsabilização por abuso, nos termos da lei, a proibição do anonimato, não sendo tolerada a propaganda de guerra e de processos violentos para subverter a ordem pública. A constituição determina ainda que o serviço de radiocomunicação seja explorado pela União, mediante concessão522. No mesmo ano, o decreto 24.776 estabelece nova lei de imprensa, com dispositivos que regulamentam o jornalismo.523

A vigência da constituição de 1934 não durou muito, logo surge a chamada constituição polaca, inspirada na constituição polonesa de 1935. A constituição de 37 limita as liberdades públicas, estabelece o estado de emergência, restaura a pena de morte.524

O plebiscito previsto na constituição, para sua vigência, não é realizado,525 sendo expedidas, pelo presidente, leis constitucionais e decretos. Com isto, se instaura um Estado ditatorial, partidos políticos são sumariamente dissolvidos, os tribunais de segurança iniciam julgamentos de crimes políticos e sociais e há ampliação dos casos de pena de morte.526

No campo da liberdade de expressão,527a constituição estabelece o direito de manifestar o pensamento nos limites da lei, podendo a lei prescrever para a garantia da paz e

521 Movimento ocorrido no Estado de São Paulo contra o governo provisório com o objetivo de ver promulgada uma nova constituição no Brasil.

522 Artigo 5º - Compete privativamente à União: VIII - explorar ou dar em concessão os serviços de telégrafos, radiocomunicação e navegação aérea, inclusive as instalações de pouso, bem como as vias- férreas que liguem diretamente portos marítimos a fronteiras nacionais, ou transponham os limites de um Estado.

523 Art. 69. Fica criada a Ordem dos Jornalistas Brasileiros, órgão de disciplina e seleção de classe dos jornalistas, que se regerá pelos estatutos que forem votados pela Associação Brasileira de Imprensa, com a colaboração das associações congêneres dos Estados, e aprovados pelo Governo.

524 SOBRINHO, Manoel de Oliveira Franco. História Breve do constitucionalismo no Brasil. Curitiba, 1970, p. 52.

525 Art. 187 - Esta Constituição entrará em vigor na sua data e será submetida ao plebiscito nacional na forma regulada em decreto do Presidente da República.

526 Ibid., p. 54.

527 15) todo cidadão tem o direito de manifestar o seu pensamento, oralmente, ou por escrito, impresso ou por imagens, mediante as condições e nos limites prescritos em lei. (Vide Decreto nº

da ordem e da segurança pública a censura prévia da imprensa, do teatro, do cinema e da radiodifusão. A lei pode ainda impor medidas para impedir as manifestações contrárias à moralidade pública e aos bons costumes. Ainda, nenhum jornal pode recusar a divulgação de comunicados do governo.

Logo depois do governo provisório, o Rádio passa a ser explorado por empresas privadas e ser impulsionado pela propaganda, assim como nos Estados Unidos. Porém, diferentemente dos EUA, o governo Vargas exerce forte controle sobre a imprensa escrita e o Rádio. Impulsionado com programas de variedades, logo o Rádio começa a ser utilizado pelo governo Vargas, que usando o mesmo modelo nazista, criou, por exemplo, a Hora do Brasil, em 1935, que além de notícias e propaganda do governo, tinha música e entretenimento no final.528

No ano de 1939, é criado o Departamento de Imprensa e Propaganda que tem como finalidade orientar e coordenar a propaganda governista e realizar a censura; somente em 1940 são proibidos 108 programas de rádio e submetidos à censura prévia 3770 programas, sendo que no Brasil existiam 78 rádios.529 O governo ainda encampa a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, uma das melhores em termos de equipamentos, e a Rádio Ipanema.530

10.358, de 1942) A lei pode prescrever: a) com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a censura prévia da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, da radiodifusão, facultando à autoridade competente proibir a circulação, a difusão ou a apresentação; b) medidas para impedir as manifestações contrárias à moralidade pública e aos bons costumes, assim como as especialmente destinadas à proteção da infância e da juventude; c) providências destinadas à proteção do interesse público, bem-estar do povo e segurança do Estado. A imprensa reger-se-á por lei especial, de acordo com os seguintes princípios: a) a imprensa exerce uma função de caráter público; b) nenhum jornal pode recusar a inserção de comunicados do Governo, nas dimensões taxadas em lei; c) é assegurado a todo cidadão o direito de fazer inserir gratuitamente nos jornais que o informarem ou injuriarem, resposta, defesa ou retificação; d) é proibido o anonimato; e) a responsabilidade se tornará efetiva por pena de prisão contra o diretor responsável e pena pecuniária aplicada à empresa; f) as máquinas, caracteres e outros objetos tipográficos utilizados na impressão do jornal constituem garantia do pagamento da multa, reparação ou indenização, e das despesas com o processo nas condenações pronunciadas por delito de imprensa, excluídos os privilégios eventuais derivados do contrato de trabalho da empresa jornalística com os seus empregados. A garantia poderá ser substituída por uma caução depositada no principio de cada ano e arbitrada pela autoridade competente, de acordo com a natureza, a importância e a circulação do jornal; g) não podem ser proprietários de empresas jornalísticas as sociedades por ações ao portador e os estrangeiros, vedado tanto a estes como às pessoas jurídicas participar de tais empresas como acionistas. A direção dos jornais, bem como a sua orientação intelectual, política e administrativa, só poderá ser exercida por brasileiros natos.

528 FIORILLO, 2000, p. 171.

529 HOUSSEN, Dóris Fagundes. Rádio e política: tempos de Vargas e Perón. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001, p. 45.

Os jornais também sofrem censura permanente; jornais são fechados e têm seus jornalistas presos. O jornal O Estado de S. Paulo teve seu diretor preso 17 vezes.531 Outra prática era a distribuição de verbas para jornais e rádios, direcionadas apenas para quem fosse favorável ao Estado Novo.532 A distribuição de verbas é realizada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda que também mantém a função de censor.

Com o fim da II Guerra Mundial, ocorre o fim do Estado Novo, após o presidente Getúlio Vargas, entrar na guerra, em 1942, contra países de governo autoritário (Alemanha e Itália). Nos anos seguintes, Vargas é levado pelas circunstâncias a conceder anistia aos presos políticos, liberdade de organização partidária, além de convocar Assembleia Nacional Constituinte e eleições presidenciais. Em 1945, ocorrem eleições diretas, sendo que em 1946 é promulgada a quinta constituição brasileira.

A constituição de 46 restabelece as atribuições do Senado, cria a Justiça do Trabalho.533 No campo da liberdade de expressão, o seu artigo 141, parágrafo 5534, declara a liberdade de expressão, independentemente de censura, salvo nos casos de espetáculos e diversões públicas, aplica a teoria da responsabilização posterior, veda o anonimato e garante o direito de resposta, isentando de licença qualquer publicação de livro ou periódico.535 O decreto 24.776 volta a vigorar e, em 1953, entra em vigor nova regulamentação da imprensa pelo decreto 2.083. 536

531 “Durante o Estado Novo, que consolidou a ditadura de Vargas neste ano, o Governo estado- novista tentou submeter o Estado à censura prévia. O jornal, porém conseguiu manter-se independente, encontrando meios de enfrentar o Regime Vargas mantendo os seus ideais jornalísticos. Não vendia páginas para propaganda getulista, farta em outros órgãos de imprensa. A repressão ao jornal era grande. Júlio de Mesquita Filho, então diretor, foi preso 17 vezes e afastado para o exílio”. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/historia dogrupo/decada_1930.shtm>. Acesso em: 16 jul. 2015. 532 HOUSSEN, 2001, p. 45.

533 SOBRINHO, 1970, p. 55.

534 Art. 160. É vedada a propriedade de emprêsas jornalísticas, sejam políticas ou simplesmente noticiosas, assim como a de radiodifusão, a sociedades anônimas por ações ao portador e a estrangeiros. Nem êsses, nem pessoas jurídicas, excetuados os partidos políticos nacionais, poderão ser acionistas de sociedades anônimas proprietárias dessas emprêsas. A brasileiros (art. 129, nº s I e II) caberá, exclusivamente, a responsabilidade principal delas e a sua orientação intelectual e administrativa.

535 § 5º É livre a manifestação do pensamento, sem que dependa de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um, nos casos e na forma que a lei preceituar pelos abusos que cometer. Não é permitido o anonimato. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos não dependerá de licença do poder público. Não será, porém, tolerada propaganda de guerra, de processos violentos para subverter a ordem política e social, ou de preconceitos de raça ou de classe.

536 Art. 1º É livre a publicação e a circulação no território nacional de jornais e outros periódicos. § 1º Só é proibida a publicação e circulação de jornais e outros periódicos quando clandestinos, isto é, sem editores, diretores ou redatores conhecidos, ou quando atentarem contra a moral e os bons costumes. § 2º Durante o estado de sítio, os jornais ou periódicos ficarão sujeitos à censura nas matérias atinentes

Durante o período que compreende de 46 até 67, o Brasil vive inúmeras tensões, sob inúmeros acontecimentos no cenário político, tais como: a cassação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1947, e a intervenção política em inúmeros sindicatos no mesmo ano,537 o início do segundo período de Getúlio Vargas, os escândalos políticos de corrupção envolvendo o governo Vargas, o suicídio do presidente em 1954, a mudança da capital para Brasília, o discurso do presidente Juscelino Kubitschek, “cinquenta anos em cinco”, a renúncia do presidente Jânio Quadros, o parlamentarismo imposto por meio de emenda constitucional em 1961, garantindo a posse de João Goulart, a volta do presidencialismo em 1963 e o golpe militar de 1964, com a queda do presidente.

No plano teórico, se restabelece uma perspectiva de liberdade de expressão, mas, logo se nota que apenas os grandes capitais são capazes de manter veículos de comunicação. No campo governamental, continua a manutenção dos créditos estatais para as empresas de jornalismo e radiofônica.538

No mesmo ano da volta de Vargas, em 1950, Assis Chateuabriand (1892-1968), fundador dos Diários Associados539, em 1924, inaugura a TV Tupi, a primeira televisão brasileira. A televisão logo conquistou o público brasileiro, sendo que, em 1956, já contava com 1,5 milhões de telespectadores.540

Na década de 50, a tiragem geral dos jornais chega a cinco milhões de exemplares541: o Jornal O Dia542, O Globo543 e Luta Democrática544, com tiragem de 240 mil, 187 mil e 117 aos motivos que o determinaram, como também em relação aos executores daquela medida. Art. 2º É vedada a propriedade de empresas jornalísticas, políticas ou simplesmente noticiosas, a estrangeiros e a sociedades anônimas por ações ao portador. Parágrafo único. Nem os estrangeiros, nem as pessoas jurídicas, excetuados os partidos políticos nacionais, poderão ser acionistas de sociedades anônimas, ou não, proprietárias de empresas jornalísticas.

537 Após a cassação de seu registro e PCB apela para o Judiciário, solicitando o funcionamento de sua sede, mas o pedido é negado. Os comunistas tentam organizar outro partido, mas não conseguem a obtenção de registro. Em 1948, todos dos mandatos dos parlamentares eleitos são cassados. Em plena guerra fria, o Brasil rompeu, em 1947, as relações diplomáticas com a União Soviética.

538 SODRÉ, 1999, p. 398.

539 O grupo conta hoje com 10 canais de televisão (TV Brasília, TV Borborema – Campina Grande - PB, TV Borborema – João Pessoa – PB, TV Alterosa – MG, TV Tiradentes-MG, TV Alterosa Sul – MG, TV Alterosa Zona da Mata – MG, TV Centro Oeste – MG, TV Minas – MG, TV Borborema – PE) 13 emissoras de rádio (Rádio Clube FM – DF, Rádio Clube AM – PB, Rádio Clube AM – CE, Rádio Clube FM – PB, Rádio Guarani FM – MG, Rádio Guarani AM-MG, Rádio Clube AM, Rádio Clube FM- RN, Rádio Clube AM, Rádio Clube FM - PE, Super Rádio Tupi AM/FM- RJ e Rádio Nativa FM), 13 portais na Internet, 12 jornais (Correio Brasiliense, Aqui – DF, Aqui-CE, Estado de Minas, Aqui Betim – MG, Aqui-BH, Diário de Pernambuco, Aqui-PE, Jornal do Commercio – RJ, Diário Mercantil – RJ, O Imparcial – MA e Aqui-MA) e 4 Revistas, somando 52 veículos de comunicação. Disponível em: <http://www.diariosassociados.com.br/>. Acesso em: 18 jul. 2015. 540 FIORILLO, 2000, p. 175.

541 Para se ter uma ideia, segundo o IBEGE a taxa de analfabetismo está em torno, hoje, de 8% e segundo a Associação Nacional de Jornais a tiragem por mês dos maiores jornais em circulação no

mil respectivamente545. Naquele ano, o Brasil conta com 51 milhões de brasileiros e a taxa de analfabetismo é de 50,5%.546

Em 1953, é objeto de Comissão Parlamentar de Inquérito, o jornal Última Hora, fundado pelo jornalista Samuel Wainer (1910-1980), amigo de Vargas. Além do jornal, Wainer mantinha a Companhia Paulista Editora e de Jornais S.A., a Editora Érica e o Rádio Clube, e logo é acusado pelo proprietário do jornal Tribuna da Imprensa547, Carlos Lacerda, então deputado da União Democrática Nacional (UDN) de ser beneficiado por órgãos oficiais, principalmente o Banco do Brasil. No final, a CPI conclui que havia irregularidade de concessão de empréstimo de órgãos estatais, principalmente o Banco do Brasil para quase todas as empresas de jornalismo, inclusive para o jornal Tribuna da Imprensa.548

Outro problema que afetou os meios de comunicação no período foi a questão da publicidade nos meios de comunicação que chegou a ser também objeto de Comissão Parlamentar de Inquérito em 1957, três anos após o suicídio de Vargas,549 em razão do controle que as agências de publicidade exerciam sobre os veículos de comunicação, principalmente as empresas estrangeiras550.

O segundo período Vargas551 é marcado pela campanha “O Petróleo é Nosso” e a criação da Petrobrás, em 1953. Logo há uma ofensiva campanha publicitaria, planejada por grandes grupos econômicos como a Esso e a Shell, que colocavam anúncios apenas em meios de comunicação contrários ao monopólio estatal do petróleo. 552 Finalmente, a CPI conclui que existe uma casualidade entre a campanha da imprensa brasileira contra o monopólio

Brasil, é : Folha de São Paulo 351 mil exemplares, O Globo 333 mil. Daqui 203 mil. Zero Hora 210 mil, O Estado de S Paulo 237 mil . Disponível em: <http://www.anj.org.br/maiores-jornais-do- brasil/#> e <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 15 abr. 2015.

542 O Jornal é fundado em 1951 pelo deputado Chagas Freitas (1914-1991) e governador do Rio de Janeiro.

543 Fundado em 1925 por Irineu Marinho (1879-1925), pai de Roberto Marinha (1904-2003) dono do sistema Globo de Comunicações um dos homens mais influentes do Brasil durante o século XX. 544 Fundado em 1954, pelo político Tenório Cavalcanti de Albuquerque (1906-1987), deputado estadual e federal.

545 BARBOSA, Marinalva. Historia Cultural da Imprensa. Rio de Janeiro: MAUAD, 2010. 546 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

547 Jornal fundado em 1949.

548Disponível em:

<http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao31/materia04/>. Acesso em: 18 jul. 2015.

549 Há polêmicas sobre o suicídio de Getúlio Vargas. 550 SODRÉ, Nelson Werneck. Ibid., p. 407.

551 Getúlio Vargas volta à presidência da República por eleições diretas. 552 SODRÉ, 1999, p. 404-405.

estatal do petróleo e a distribuição de verbas publicitárias realizadas pelas empresas estrangeiras do setor.553

Após as eleições de 1960, chega ao poder o paulista Jânio Quadros (1917-1992) que logo renuncia a seu mandato, em 1961, assumindo João Goulart, após ambiente turbulento, uma vez que os militares não aceitavam a posse do vice-presidente. Contudo, o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (1922-2004) utiliza os microfones radiofônicos para resistir, liderando a campanha da legalidade.554

Como o governo federal havia fechado duas rádios que transmitiam os discursos do governador, Brizola instala os estúdios da Rádio Guaíba, nos porões do Palácio Piratini, sede do Governo, e inicia a campanha, sendo que quinze emissoras se incorporam à cadeia da legalidade, e uma multidão apoia a campanha.555

O vice-presidente assume a presidência, mas o clima de instabilidade no país persiste, ocorrendo, em 1964, o chamado golpe militar que durará até 1985. Durante a ditadura, o Brasil é governado por 5 militares e uma junta militar composta por 3 militares.556 O Brasil passa a ter como principal fonte de Direito normativo organizacional os Atos Institucionais, baixados pelos presidentes membros das Forças Armadas.

Em 31 de março de 1964, ocorre o Ato institucional nº 01 que altera a constituição, estabelecendo a eleição indireta, suspendendo durante seis meses as garantias constitucionais, abrindo caminho para a suspensão dos direitos políticos e a possibilidade de cassação de mandatos. Os grandes veículos de comunicações, tais como as organizações Globo, o jornal O

553 Ibid., p. 407.

554Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/955500-leonel-brizola-e-a-defesa-da- legalidade.shtml>. Acesso em: 29 jun. 2015.

555 Discurso pelas ondas do Rádio de Leonel Brizola. “Não nos submeteremos a nenhum golpe. Que nos esmaguem. Que nos destruam. Que nos chacinem nesse palácio. Chacinado estará o Brasil com a imposição de uma ditadura contra a vontade de seu povo. Esta rádio será silenciada. O certo é que não será silenciada sem balas. Resistiremos até o fim. A morte é melhor do que a vida sem honra, sem dignidade e sem glória. Podem atirar. Que decolem os jatos. Que atirem os armamentos que tiverem comprado à custa da fome e do sacrifício do povo. Joguem essas armas contra este povo. Já fomos dominados pelos trustes e monopólios norte-americanos. Estaremos aqui para morrer, se necessário. Um dia, nossos filhos e irmãos farão a independência de nosso povo." Disponível em. <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/955500-leonel-brizola-e-a-defesa-da-legalidade.shtml>. Acesso em: 18 jul. 2015.

556 A) Castelo Brando (1897-1967), marechal do exército brasileiro, governou de abril de 1964 até março de 1967, morre logo após deixar o poder, em circunstâncias não esclarecidas. B) Costa e Silva (1899-1969), marechal do exército brasileiro, governou de março de 67 até agosto de 69. C) Junta Militar composta por Aurélio de Lira Tavares, ministro do Exército; Augusto Rademaker, ministro da Marinha, e Márcio Melo, ministro da Aeronáutica. A junta governou de agosto até outubro de 1696. D) Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), general do exército governou de outubro de 1969 até março de 1974. E) Ernesto Geisel (1907-1996) general do exército governou de 1974 até março de 1979. F) João Baptista Figueiredo (1918-1999), general do exército, governou de março de 1979 até março de 1985.

Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo apoiam a intervenção e o golpe militar.557 Poucos meios de comunicação são contrários ao golpe, dentre eles, a emissora Excelsior558, que mais tarde é fechada pelo regime.

Os atos institucionais determinam a eleição indireta dos cargos de presidente e vice- presidente da República, dos governadores e vice-governadores e nomeação de prefeitos,559 decretação pelo presidente de recesso do parlamento, suspensão de direitos políticos de qualquer cidadão, cassação de mandatos de parlamentares; suspensão das garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade dos juízes; suspensão da garantia de habeas corpus quando se tratar de crime político contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular,560; banimento de brasileiro que se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso para a segurança nacional.561

O Brasil conta com os 17 atos institucionais do período, que inclusive alteram o

Documentos relacionados