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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.4 As contribuições do SPG Sul de Minas para o fortalecimento da

4.4.1 As contribuições para o aperfeiçoamento do sistema produtivo

a) Diversificação de cultivos

Em relação a essa dimensão, percebem-se avanços e dificuldades vivenciados pelos agricultores. Iniciando pela diversidade de cultivo, nota-se que existem situações bem diferenciadas entre os núcleos de certificação, havendo

vários agricultores com um único cultivo em sua propriedade, com destaque para banana, café, morango ou batata (monocultura), um grupo de agricultores com um número limitado de plantas cultivadas, com poucos objetivos comerciais e, normalmente, restrita aos cultivos de ervas medicinais, aromáticas e pequenos canteiros de horta doméstica (pouco diversificados), como também agricultores que cultivam mais de 20 variedades de interesses comerciais (diversificado). No Gráfico 3, é possível observar a situação das propriedades em relação à diversificação da produção.

Ainda relativo à produção, observaram-se unidades de produção apícola (abelhas africanizadas) cujos principais produtos são o mel, pólen e própolis. Produtos processados (Gráfico 3) também fazem parte do escopo do OPAC, principalmente voltados para a produção de café, derivados da cana-de-açúcar, doces à base de leite, amendoim e chocolate.

Gráfico 03 Diversificação da produção em unidades certificadas pelo Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade do Sul de Minas.

Na maioria das áreas de monocultivos, percebeu-se uma marcante relação da produção com a história local aliada a uma adaptação das lavouras, ao clima e solos. Em Brazópolis (ABAL), por exemplo, o cultivo de bananeiras faz parte do cotidiano dos agricultores de Luminosa há décadas, com relatos de bananais com mais de noventa anos de plantio. Fato semelhante é observado em áreas de monocultivos de café, no município de Poço Fundo (COOPFAM), onde a história de vida de muitas famílias está fortemente ligada à produção cafeeira. No caso específico da COOPFAM, foi possível observar, em algumas propriedades, que a monocultura é somente em áreas destinadas à produção de café para a comercialização. Nos arredores da casa, existe uma grande diversidade de cultivos de frutas e hortaliças, assim como criação de galinhas e uma vaca para o leite destinados à subsistência da família. Esses produtos, na ótica dos agricultores, não têm valor comercial, por isso, nunca são declarados na certificação, mesmo sendo produzidos no sistema orgânico. Questionados por que o limão não era incluído na certificação, uma agricultora se espantou, perguntando: “quem compraria limão caipira?”.

Durante as visitas (pares e verificação) a diversidade é sempre assunto debatido. Muitos agricultores defendem que a função da terra está relacionada ao sustento (alimentar) da família e que, nesse sentido, uma propriedade agrícola deve diversificar a sua produção. No formulário de visitas de pares do OPAC Sul de Minas, os questionamentos: “se alimenta de produtos que produz? Quanto do

que produz você utiliza na sua alimentação?” têm contribuído para fomentar e

tornar presente as discussões sobre o tema. Enquanto em algumas propriedades, a produção era diversificada e tinha por objetivo atender, primeiramente, às demandas da família, e depois a comercialização, em outras, toda a produção certificada era destinada à comercialização e à alimentação da família composta por produtos convencionais comprados em supermercados. A partir dessa análise, muitos passaram a diversificar ou a discutir as possibilidades de diversificação da

produção em suas unidades, inclusive com espécies vegetais nativas (não-- agrícolas). Gliessman (2001) descreve sobre a importância da diversificação de espécies em uma unidade produtiva e estabelece formas para se criar esses ambientes. O autor cita técnicas como os cultivos de cobertura de solo no inverno, a manutenção de árvores nativas no ambiente, o provimento de locais de pouso e abrigo para predadores (inimigos naturais), cultivos de gramíneas e plantas perenes que podem contribuir com a restauração de uma paisagem degradada.

No OPAC, Sul de Minas, é comum também o desenvolvimento e a socialização de técnicas de cultivos desenvolvidas pelos próprios agricultores, como, por exemplo, as técnicas de preparo do solo, sistema de plantio em papelão, pousio/rotação, plasticultura, controle de pragas e doenças, caldas e preparados diversos (XAVIER, 2014) dentre outras. Essas técnicas formam um arcabouço de soluções testadas que são difundidas por ocasião das visitas e dias de campo, enriquecendo as trocas de experiências.

b) Meio ambiente

No aspecto ambiental, a socialização de temas como a preservação de áreas de preservação permanente (APP), reservas legais, a proteção dos solos e da água são comumente tratados entre os agricultores, que nem sempre têm o entendimento claro da importância dessas ações. Entre os agricultores, os temas ambientais são constantemente apresentados e debatidos e problemas ou dificuldades apontadas em uma propriedade têm, em muitos casos, suas soluções imediatamente apresentadas. Normalmente, as práticas propostas vão, desde sugestões simples (podas) até manejos mais complexos, como, por exemplo, a implantação de sistemas agroflorestais, manejo de plantas espontâneas ou preservação de matas ciliares.

Para Machado e Machado Filho (2014), os procedimentos agroecológicos sempre são definidos a partir da proteção ambiental e o manejo correto do solo

em uma propriedade agrícola, por exemplo, mantém e até eleva o teor de matéria orgânica, melhorando a sua qualidade. Gliessman (2001), fazendo uma análise sobre as relações entre os sistemas agrícolas e as paisagens, afirma que quando o manejo do agroecossistema é executado em nível de paisagem os ecossistemas naturais presentes podem se tornar recursos para os agroecossistemas que, por sua vez, também contribui para a manutenção do ecossistema natural.

Durante a realização desta pesquisa, foi constatado que vários agricultores têm inserido algumas práticas conservacionistas no manejo de suas unidades, como a proteção de nascentes, preservação de mata ciliar e, ainda, a implantação do sistema agroflorestal. O uso dessas práticas, discutidas e cobradas nos diferentes espaços de integração, como as visitas, têm sido importantes para a melhoria das suas unidades de produção, sendo relevantes em aspectos correlatos às dimensões agroecológicas, caracterizando-se como importante ferramenta de fortalecimento da Agroecologia na região.

4.4.2 A contribuição para a construção do conhecimento Agroecológico