• Nenhum resultado encontrado

Foto 32: Joa lendo para os colegas

2 A LITERATURA INFANTIL PARA A / NA

4.5 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

4.5.2 As crianças

A caracterização das crianças das cinco turmas envolvidas neste estudo foi construída a partir de informações de documentos da secretaria da UMEI Era uma vez e de um questionário respondido pelos responsáveis pelas crianças (Apêndice E). Os questionários foram enviados às famílias nas agendas dos alunos, após a devolução dos termos de autorização para participação na pesquisa pelos responsáveis (Apêndice B). O número total de crianças, somando-se as cinco turmas, era de 103, porém o número de autorizações para participação na pesquisa totalizou 55.

Ao final do nosso período em campo, tivemos o retorno de 43 questionários. É importante salientar que, durante nossa passagem pela turma 4, que tinha vinte crianças, os responsáveis não deram o retorno satisfatório do termo de autorização para participação na pesquisa. Apenas uma família autorizou a participação da criança na pesquisa, o que inviabilizou o envio de questionários às famílias e a realização de entrevistas com as crianças dessa turma. Dessa forma, tivemos os seguintes índices de retorno dos questionários por turma: turma 1, quinze

questionários (34,8%); turma 2, nove questionários (20,9%); turma 3, treze questionários (30,2%), e turma 5, seis questionários (13,9%).

Buscando conhecer mais sobre esses sujeitos e as turmas, realizamos também entrevistas com as crianças (Apêndice D). As entrevistas foram realizadas por amostragem. Foram entrevistadas dez crianças da turma 1, dez da turma 2, dez da turma 3 e três da turma 5. As entrevistas foram realizadas com o objetivo de conhecermos as relações das crianças com textos literários e de lhes dar voz no decorrer do processo de pesquisa, uma vez que as concebemos como sujeitos ativos na inteireza de sua existência, assim como adultos e adolescentes, produtores e produzidos de cultura. Essas entrevistas foram gravadas e aconteceram individualmente com cada criança, em diferentes momentos durante nossa permanência em campo, e tiveram o tom de uma conversa.

A partir da constituição desse aparato de dados, é possível realizarmos algumas considerações sobre as crianças envolvidas na pesquisa após a autorização dos responsáveis. Quanto ao sexo, 52,7%, ou seja, 29 eram meninas, enquanto 47,2%, ou seja, 26 eram meninos. Essas crianças, na turma 1, estavam na faixa etária11 entre seis e sete anos de idade, nas turmas 2 e 3, estavam na faixa etária entre cinco e seis anos de idade e, na turma 5, estavam na faixa etária entre quatro e cinco anos de idade.

De acordo com as fichas de matrícula das crianças autorizadas a participarem da pesquisa e com o questionário respondido pelas famílias (Apêndice E), no que se refere à experiência escolar, os dados mostram-nos que 89% das crianças, ou seja, 49, já tinham experiência escolar na educação infantil, enquanto 10,9%, ou seja, 6 crianças, estavam freqüentando uma instituição educativa pela primeira vez. Com base nos questionários devolvidos verificamos que 27,9%, ou seja, 12 crianças que já tinham experiência escolar utilizaram por pelo menos um ano o serviço de instituições privadas. Esses índices refletem a realidade de muitas cidades

11 As faixas etárias das crianças matriculadas na UMEI indicam que o Município de Vila Velha estava passando

pelo processo de preparação para atender as demandas do Ensino Fundamental de Nove Anos (Lei nº. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006) que estabelece o ano de 2010 como prazo limite para sua implementação pelos municípios. A partir do momento que o Ensino Fundamental de Nove Anos estiver implementado no município de Vila Velha, a educação infantil passará a atender crianças na faixa etária entre zero a cinco anos.

brasileiras em que observamos a participação do segmento privado no atendimento das crianças de zero a seis anos, pois, como já foi sinalizado anteriormente, o atendimento à criança pequena em instituições públicas é insuficiente, apesar de se constituir num direito de todos. Essa situação tem relação com o fato de, até pouco tempo (até 2007 com a criação do FUNDEB), o Brasil não possuir recursos específicos para a educação infantil.

Kramer (2006) fala da séria desigualdade na distribuição de renda no Brasil e indica que a maioria das famílias que tem crianças de zero a seis anos pertence à classe de renda familiar mensal de aproximadamente um salário mínimo. Ao analisarmos o nível socioeconômico das crianças que participaram da pesquisa, visualizamos essa situação por meio dos 43 questionários respondidos pelas famílias.

Observamos que a renda familiar tem vinculação com a profissão que os responsáveis pelas crianças exercem. Pelo fato de ter aparecido uma considerável multiplicidade de atividades profissionais (sessenta no total), apoiamos-nos na classificação brasileira de ocupações12 do Ministério do Trabalho para indicar os grupos por similaridade nas atividades executadas pelos responsáveis pelas crianças. Nesse sentido, 63,3% dos responsáveis atuavam no Grande Grupo 5 (GG5), que agrega os empregos que produzem serviços pessoais e para a coletividade, bem como aqueles voltados para a intermediação de vendas de bens e serviços; 15%, atuavam no Grande Grupo 9 (GG9), reservado aos trabalhadores em nível elementar de serviços; 8,3% atuavam no Grande Grupo 2 (GG2), que agrega os empregos que compõem as profissões científicas e das artes em nível superior; 10% atuavam no Grande Grupo 4 (GG4), que agrupa empregos dos serviços administrativos, exceto técnicos e o pessoal de nível superior e, finalmente, 3,3% atuavam no Grande Grupo 3 (GG3), que agrega os empregos que compõem as profissões técnicas em nível médio.

Dessa maneira, a renda familiar girava entre um e cinco salários mínimos. Na turma 1, 15 famílias (34,8%) viviam de renda entre três e cinco salários mínimos; na turma

12 A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) é responsável pela unificação das classificações ocupacionais

utilizadas no território nacional. Site http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/informacoesGerais.jsf#6

2, nove famílias (20,9%) declararam ter rendimento mensal de um a cinco salários mínimos; na turma 3, treze famílias (30,2%) declararam ter renda mensal de menos de um a cinco salários mínimos, e, finalmente, na turma 5, as seis famílias (13,9%) declararam ter renda mensal de aproximadamente dois salários mínimos.

No que se refere à formação familiar, as famílias apresentavam em sua maioria a formação clássica, ou seja, dezessete crianças (39,5%) moravam com os pais e irmãos, e seis crianças (13,9%) moravam apenas com os pais. Ao lado dessas formações familiares também apareceram três crianças que moravam com pais, irmãos e avós (6,9%), três crianças que moravam com as mães e irmãos (6,9%) e duas crianças que moravam apenas com as mães (4,6%). Outros membros familiares também apareceram na composição das famílias: 4,6% das crianças moravam com os pais e a tia; 4,6%, com a mãe, irmãos e avós; uma criança (2,3%) morava com a mãe, o padastro e os irmãos; 2,3% moravam com o pai e a avó e (2,3%) moravam com os pais, avós, tia, sobrinhos e primos (2,3%). Vinte e sete respostas indicavam que essas crianças tinham irmãos (62,7%). Entre os que especificaram a quantidade, predominavam crianças com, no máximo, dois irmãos, o que reflete a redução da taxa de fecundidade13 da mulher na sociedade atual, taxa que, segundo as pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem relação com o papel diferenciado que a mulher tem ocupado na sociedade, por sua escolarização e inserção no mercado capitalista, participação nas escolhas do cotidiano, aumento da expectativa de vida, entre outras razões. Segundo a pesquisa, essa situação era bem diferente há aproximadamente cinquenta anos, quando se iniciava a redução da fecundidade no Brasil.

13 A fonte dessa informação são os Indicadores Sociodemográficos e de Saúde do período de 2000-2006

publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no site

5 A CIRCULAÇÃO DE GÊNEROS TEXTUAIS DO DOMÍNIO LITERÁRIO NA