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Professora 1 conversando com as crianças na roda no momento da leitura

 Estimula o olhar, como agente principal, na estruturação do mundo interior da criança, em relação ao mundo exterior que ela esta descobrindo.

 Estimula a atenção visual e o desenvolvimento da capacidade de percepção.

 Facilita a comunicação entre a criança e a situação proposta pela narrativa, pois lhe permite a percepção imediata e global do que vê.

 Concretiza relações abstratas que, só através da palavra, a mente

infantil teria dificuldades em perceber; e contribui para o desenvolvimento da capacidade da criança para a seleção, organização, abstração e síntese dos elementos que compõem o todo.

 Pela força com que toca a sensibilidade da criança, permite que se fixem, de maneira significativa e durável, as sensações ou impressões que a leitura deve transmitir. Se elaborada com arte ou inteligência, a

imagem aprofunda o poder mágico da palavra literária e facilita à

criança o convívio familiar com os universos que os livros lhe desvendam.

 Estimula e enriquece a imaginação infantil e ativa a potencialidade criadora, – natural em todo ser humano e que, muitas vezes, permanece latente durante toda a existência, por falta de estímulo.

Nessa direção, percebemos que o entrelaçamento entre as linguagens (verbal – imagética) tem imensurável participação na fruição do texto literário para as crianças, já que a união das linguagens constitui um sistema de significação a ser compreendido pelo leitor e também pelo fato da linguagem imagética ter papel de grande importância para a memória leitora, principalmente no caso das crianças pequenas, já que contribui para a constituição da memória de experiências a partir da leitura dos diferentes textos que o leitor poderá acessar ao longo da vida. Tal fato tem implicações sobre a constituição do gosto pela leitura e sobre a constituição de sentidos que acontece internamente na compreensão de uma obra, mas também externamente: quando incorporamos ao nosso repertório de leituras os sentidos disparados a partir da leitura de uma nova obra.

No que se refere à constituição de sentidos pela leitura do texto no evento descrito, percebemos que o diálogo na sala de aula foi direcionado pela professora quando deveria acontecer de forma inversa. Geraldi (2003, p. 157) nos diz que a iniciativa da ação deveria ser a “[...] de quem aprende, e não de quem ensina“. Esse fato tem implicações sobre a constituição do sentido atribuído à leitura do texto já que as

[...] respostas serão “candidatas” à resposta certa, cabendo a quem perguntou (o professor) o poder de avaliar a resposta dada. As possibilidades, portanto, de “quebrar a cara” são muito maiores nos diálogos de sala de aula do que em outras circunstâncias, em que a resposta adequada resulta de uma construção entre os participantes (GERALDI, 2003, p.157)

Não podemos desconsiderar que a leitura da obra colaborou para a compreensão de características dos povos indígenas, porém a reflexão conduzida pela professora ficou circunscrita à formação de atitudes desejadas socialmente, ou seja, um ponto de vista que remonta discursos do século XVII (origem da literatura infantil). A leitura desse texto poderia ter se constituído numa potência se contribuísse para a constituição de conhecimentos pelas crianças sobre a real situação dos povos indígenas no Brasil. Nessa direção, poderiam ter sido questionados aspectos sobre os sentidos da comemoração dessa data (Dia do Índio); a ocupação territorial por esses povos; a extinção da fauna e da flora brasileiras e seu impacto sobre a extinção de tribos indígenas; só para mencionar alguns possíveis questionamentos que poderiam ser arrolados a partir da leitura da obra e que poderiam ser cruzados com a leitura de outros textos que circulam em nossa sociedade e que abarcam a temática povos indígenas.

Observamos que as reflexões tecidas a partir da leitura do livro oportunizaram prioritariamente apenas que as crianças refletissem sobre seu comportamento em relação aos sujeitos que com elas interagem, fato que poderá incidir sobre as relações sociais dessas crianças. Assim, acreditamos que a leitura da literatura como prática social, ou seja, com o reconhecimento do enunciado (materializado pelo texto) com intencionalidade de transmitir uma experiência social com potência de contribuição para a formação crítica dos sujeitos e do gosto pela leitura, foi secundarizada por essa professora ao ser priorizado o aspecto sinalizado no início desse parágrafo. Ao final da leitura da história as crianças se preparam para ir para casa.

O terceiro evento que destacamos foi registrado no dia onze de maio de 2009, no Diário de Campo 18. A professora 2 solicitou que as crianças fizessem uma roda, pois iria contar para elas uma história que havia prometido ler na semana anterior.

Abriremos um parêntese antes de falar do evento para mostrar que ele apareceu vinculado a uma atividade desenvolvida anteriormente pela professora 2. No momento inicial, antes da leitura da história, essa professora relembrou às crianças a importância de sempre se lembrarem do que aprenderam com os cartazes de combinados (leitura de imagens e reflexão realizada com as crianças num momento

anterior à nossa inserção nessa sala que focalizava questões de boas maneiras e que, na seqüência, as crianças realizaram a pintura de atividade). Podemos visualizar esses materiais a seguir:

Figura 53: Primeiro cartaz de combinados da sala

Figura 54: Segundo cartaz de combinados da sala

Figura 55: Terceirocartaz de combinados da sala

Figura 56: Quarto cartaz de combinados da sala

Figura 57: Quinto cartaz de combinados da sala

Figura 58: Sexto cartaz de combinados da sala

Figura 59: Sétimo cartaz de combinados da sala

Figura 60: Oitavo cartaz de combinados da sala

Ressaltamos novamente que esse trabalho desenvolvido pela professora 2 (registrado pelas figuras acima) não foi acompanhado durante nossa pesquisa, mas aparece vinculado à história que foi lida por essa professora no dia onze de maio como poderemos acompanhar por meio do evento que será mostrado na sequência. Julgamos importante trazer esse momento anterior pois conseguiremos visualizar o encadeamento de temáticas no trabalho dessa professora e, assim sendo, perceber que a seleção de obras de literatura infantil e sua respectiva leitura não aconteceu de maneira desarticulada na sala de aula. A união entre as pessoas assim como regras de boas maneiras de convivência foram temáticas abordadas tanto nesse momento inicial (combinados de sala de aula) como no momento da leitura do texto “Era uma Vez a Cigarra e a Formiga”, que é um clássico da literatura infantil.

Como já foi mencionado, o evento ocorreu no dia onze de maio de 2009, registrado no Diário de Campo 18, em que a professora 2 realizou a leitura da fábula “Era uma Vez a Cigarra e a Formiga”. Inicialmente, a professora 2 conversou sobre a importância das crianças não esquecerem do que aprenderam com o livro de

Figura 61: Atividade sobre os combinados da sala de aula

combinados e deu continuidade afirmando que a história que iria ler era um exemplo de união entre as pessoas. Essa professora segurava em uma das mãos um fantoche palito com imagem do personagem Smilinguido (formiga personagem de cartum evangélico) e na outra mão segurava uma xerocópia que trazia informações sobre o modo de vida das formigas . A xerocópia utilizada pela professora 2 era da revista Guia Prático da Educação Infantil, como podemos visualizar a seguir:

A professora 2 realizou a leitura do texto da revista, que focalizava o modo de vida das formigas, e, a medida que lia as partes do texto, enfatizava o aspecto da função de cada formiga membro da comunidade do formigueiro para que houvesse um bom funcionamento do mesmo. Nessa ocasião, a professora associou o modo de vida desses insetos a comportamentos humanos desejáveis, principalmente no que se refere à colaboração da conservação da limpeza no espaço doméstico e familiar das crianças. Consideramos que a utilização de um planejamento pronto de uma revista pedagógica pela professora 2 não possibilitou que a mesma se colocasse como sujeito no processo educativo das crianças, pois essa profissional reproduziu o planejamento da revista pedagógica sem nenhuma alteração. A seguir, podemos

visualizar o momento da leitura do planejamento da revista pedagógica por meio da Foto 26:

Durante esse momento, a professora 2 fez a leitura do material utilizando o fantoche palito como um personagem que falava com as crianças. Como já foi salientado, essa professora seguiu passo a passo as instruções da revista inclusive no que se refere à seleção de materiais utilizados durante a leitura. Nesse caso, pontuamos a utilização do fantoche palito que, a nosso ver foi utilizado na tentativa de imprimir ludicidade à leitura. Na seqüência, essa professora também realizou leitura da fábula “Era uma Vez a Cigarra e a Formiga” a qual podemos acompanhar por meio da transcrição a seguir:

...

T40-Prof 2: olha aqui’ da cigarra e da formiga’ mas nós vamos pintar com muito capricho que nós

vamos esta fazendo um livro pra nossa mostra cultural’(+) olha aqui’ e::ra uma vez::’ (+) vai começar a história’ qual é a musiquinha da história que a gente canta”

T41-A6 LUA: a formiguinha corta folha e carrega,

Foto 26: Professora 2 utilizando fantoche palito durante a leitura