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As custas, honorários e a sucumbência no processo do trabalho

Conforme já dito, no processo laboral existe o princípio da proteção processual, por este princípio, o trabalhador, quando ingressa com uma reclamação na Justiça do trabalho, tem uma série de vantagens frente ao empregador.

Até a edição da Lei nº 13.467/2017, em muitos casos, o empregador não era tratado da mesma forma que o trabalhador, por exemplo, no que se refere às custas processuais, aos honorários advocatícios e sucumbenciais, à gratuidade de justiça e outras.

Para melhor compreender as alterações trazidas pelo legislador com a nova redação do art. 789 da CLT, que trata das custas, é fundamental que sejam analisadas e comparadas ambas as formas de redação.

Assim dispunha o art. 789 da CLT antes da Lei nº 13.467/2017:

Art. 789. Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas ações e procedimentos de competência da Justiça do Trabalho, bem como nas demandas propostas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição trabalhista, as custas relativas ao processo de conhecimento incidirão à base de 2% (dois por cento), observado o mínimo de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) e serão calculadas:

I – quando houver acordo ou condenação, sobre o respectivo valor;

III – no caso de procedência do pedido formulado em ação declaratória e em ação constitutiva, sobre o valor da causa;

IV – quando o valor for indeterminado, sobre o que o juiz fixar.

§1º. As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da decisão. No caso de recurso, as custas serão pagas e comprovado o recolhimento dentro do prazo recursal.

§2º. Não sendo líquida a condenação, o juízo arbitrar-lhe-á o valor e fixará o montante das custas processuais.

§3º. Sempre que houver acordo, se de outra forma não for convencionado, o pagamento das custas caberá em partes iguais aos litigantes.

§4º. Nos dissídios coletivos, as partes vencidas responderão solidariamente pelo pagamento das custas, calculadas sobre o valor arbitrado na decisão, ou pelo Presidente do Tribunal.

Art. 789. Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas ações e procedimentos de competência da Justiça do Trabalho, bem como nas demandas propostas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição trabalhista, as custas relativas ao processo de conhecimento incidirão à base de 2% (dois por cento), observado o mínimo de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) e o

máximo de quatro vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, e serão calculadas (grifo nosso).

[...]

É nítida a diferença entre redações. Na primeira o legislador não limitava o valor das custas, devido ao fato de que, via de regra, quem as recolhe é o empregador. Dessa forma, era comum que não houvesse a interposição de recursos pelo empregador em razão do alto valor das custas para tal, posto que era possível que o reclamante apresentasse vários pedidos com valores altos para cada um. Assim, pela regra antiga, como não havia limitação ao valor das custas, era comum que o reclamado não recorresse. Todavia, pela novel redação, as custas máximas a serem pagas serão de quatro vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

Neste sentido, fala Martins (2018, p. 141):

A lei passa a tratar do valor máximo, que é o dobro do teto do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social. O estabelecimento de um limite máximo é uma forma de permitir a possibilidade de recurso da sentença, pois caso as custas sejam fixadas em valor muito alto, a parte pode não ter condições de pagá-las e inviabiliza o direito ao recurso.

Outro dispositivo que versa sobre as custas e que foi alterado é o art. 790 da CLT e seus parágrafos.

A redação anterior dispunha assim:

Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá às instruções que serão expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho.

§1º. Tratando-se de empregado que não tenha obtido o benefício da justiça gratuita, ou isenção de custas, o sindicato que houver intervindo no processo responderá solidariamente pelo pagamento das custas devidas.

§2º. No caso de não pagamento das custas, far-se-á execução da respectiva importância, segundo o procedimento estabelecido no Capítulo V deste Título. §3º. É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou declararem, sob as penas da lei,

que não estão em condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família (grifo nosso).

Atualmente, o §3º e §4º desse dispositivo determinam:

§3º. É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do

Regime Geral de Previdência Social (grifo nosso).

§4º. O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo.

A Lei nº 13.467/2017 alterou a redação do §3º e incluiu o §4º. Assim, pela nova redação, ainda que vencido, o empregador que comprova insuficiência de recursos e for beneficiário da gratuidade de justiça não precisará recolher as custas. Tal benefício era privilégio apenas do empregado, até a reforma.

Da mesma forma que as custas, os dispositivos que tratavam dos honorários e da sucumbência foram alterados. Antes de mais nada, importante conceituar o que são honorários e sucumbência, bem como compreender a que se prestam.

Assim conceitua e justifica Martins (2017, p. 546-547) traz conceito de honorários:

O fundamento dos honorários é o fato objetivo de alguém ter sido derrotado. Assim, aquele que ganhou a demanda não pode ter diminuição patrimonial em razão de ter ingressado em juízo. Os honorários de advogado decorrem, portanto, da sucumbência. A parte vencedora tem direito à reparação integral dos danos causados pela parte vencida, sem qualquer diminuição patrimonial.

Uma vez definidos os conceitos e suas funções, é cabível fazer uma análise do contexto histórico em que estes institutos estão inseridos.

Como sabido, um marco importante da legislação trabalhista foi a Emenda Constitucional nº 45/2004, esta emenda alterou a competência da Justiça do Trabalho, bem como outros aspectos, além de trazer modificações em relação aos honorários.

Anteriormente à referida Emenda Constitucional somente eram devidos honorários na Justiça do Trabalho se fosse possível o enquadramento no art. 14 da Lei nº 5.584/1970, o qual assim dispunha:

Art. 14. Na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, será prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhador.

§1º. A assistência é devida a todo aquêle que perceber salário igual ou inferior ao dôbro do mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de maior salário, uma vez provado que sua situação econômica não lhe permite demandar, sem prejuízo do sustento próprio ou da família.

§2º. A situação econômica do trabalhador será comprovada em atestado fornecido pela autoridade local do Ministério do Trabalho e Previdência Social, mediante diligência sumária, que não poderá exceder de 48 (quarenta e oito) horas.

§3º. Não havendo no local a autoridade referida no parágrafo anterior, o atestado deverá ser expedido pelo Delegado de Polícia da circunscrição onde resida o empregado.

Desse modo, os honorários advocatícios no processo não decorriam da sucumbência, tampouco destinavam-se aos advogados propriamente ditos, mas sim aos entes de representação sindical que representassem e assistissem o trabalhador. Havia ainda a Súmula 219 do TST, a qual fora recepcionada pelo ordenamento jurídico pátrio por meio da edição da Súmula 329 do TST.

Posteriormente às súmulas anteriores sobreveio a Súmula 463 do TST com a seguinte redação:

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. COMPROVAÇÃO (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 304 da SBDI-1, com alterações decorrentes do CPC de 2015) - Res. 219/2017, DEJT divulgado em 28, 29 e 30.06.2017 – republicada – DEJT divulgado em 12, 13 e 14.07.2017.

I – A partir de 26.06.2017, para a concessão da assistência judiciária gratuita à pessoa natural, basta a declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte ou por seu advogado, desde que munido de procuração com poderes específicos para esse fim (art. 105 do CPC de 2015).

II – No caso de pessoa jurídica, não basta a mera declaração: é necessária a demonstração cabal de impossibilidade de a parte arcar com as despesas do processo.

Importante frisar que, mesmo com a edição da Súmula 463 do TST, esta não faz qualquer menção ao afastamento do jus postulandi na Justiça do Trabalho, tampouco revoga a Súmula 425 do TST, que trata desse assunto. Portanto, continua não sendo obrigatória a presença e acompanhamento de advogado nos processo laboral.

Acerca desse assunto, Leite (2018, p. 946) faz a seguinte reflexão:

Ora, se para fins de pagamento de custas e honorários advocatícios nas ações não oriundas da relação de emprego é aplicável o princípio da sucumbência recíproca inerente ao processo civil, então, com muito mais razão, a presença do advogado

torna-se obrigatória em tais demandas, pois o “dever de pagar honorários pela mera sucumbência” pressupõe a presença do advogado, já que os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado (EOAB, art. 23).

Como já dito, importa ao estudo dos honorários e da sucumbência é a Súmula 219 do TST. Referido dispositivo trata das hipóteses de cabimento dos honorários da seguinte forma:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO (alterada a redação do item I e acrescidos os itens IV a VI em decorrência do CPC de 2015) - Res. 204/2016, DEJT divulgado em 17, 18 e 21.03.2016:

I – Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte, concomitantemente: a) estar assistida por sindicato da categoria profissional; b) comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar- se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família (art. 14, §1º, da Lei nº 5.584/1970) (ex-OJ nº 305 da SBDI-I).

II – É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação rescisória no processo trabalhista.

III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical figure como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de emprego.

IV – Na ação rescisória e nas lides que não derivem de relação de emprego, a responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios da sucumbência submete-se à disciplina do Código de Processo Civil (arts. 85, 86, 87 e 90).

V – Em caso de assistência judiciária sindical ou de substituição processual sindical, excetuados os processos em que a Fazenda Pública for parte, os honorários advocatícios são devidos entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa (CPC de 2015, art. 85, §2º).

VI – Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, aplicar-se-ão os percentuais específicos de honorários advocatícios contemplados no Código de Processo Civil.

Tal súmula trazia claramente as possibilidades de cabimento e as formas de aplicação dos honorários. Todavia, haviam restrições em relação aos procuradores particulares, contradizendo o disposto no art. 22 da Lei nº 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB). Referido dispositivo legal assegura aos inscritos nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, o direito a honorários convencionados, fixados arbitrariamente e aos de sucumbência pela prestação de serviço profissional.

Com o advento do art. 791-A da CLT, no entanto, restou pacificada a questão, assim dispondo o referido dispositivo:

Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da

sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.

§1º. Os honorários são devidos também nas ações contra a Fazenda Pública e nas ações em que a parte estiver assistida ou substituída pelo sindicato de sua categoria. §2º. Ao fixar os honorários, o juízo observará:

I – o grau de zelo do profissional; II – o lugar de prestação do serviço; III – a natureza e a importância da causa;

IV – o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. §3º. Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a compensação entre os honorários.

§4º. Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.

§5º. São devidos honorários de sucumbência na reconvenção.

Com o advento da Lei nº 13.467/2017, portanto, não há mais que se discutir o cabimento ou não de honorários sucumbenciais. Restou ainda determinado que a parte que for vencida em uma ou mais de suas pretensões, ainda que vitoriosa nas demais, deverá pagar honorários sucumbenciais ao procurador da parte vencedora. Antes da existência do art. 791- A, no entanto, o trabalhador somente pagaria honorários se fosse completamente derrotado. Assim, há o pagamento reciproco de honorários sucumbenciais.

Acerca do disposto no artigo mencionado, Martins (2018, p. 145) diz:

A adoção de honorários de advogado é uma forma de tentar diminuir o número excessivo de ações na Justiça do Trabalho e também o número excessivo de pedidos feitos sem fundamento, temerários e que não tinham nenhuma consequência. O advogado, ao elaborar a petição inicial, deverá ter mais cuidado naquilo que pede, observando-se a lealdade e boa-fé processuais, sob pena de seu cliente ter de pagar honorários de advogado.

É visível a tentativa do legislador de inibir o ingresso dos economicamente vulneráveis no Poder Judiciário. Um absurdo, haja vista que as verbas buscadas pelos trabalhadores, via de regra, são de caráter de subsistência.

Houve ainda e dição do art. 790-B da CLT, o qual prevê que, mesmo o beneficiário da justiça gratuita será obrigado a pagar os honorários periciais, que será fixado pelo juízo, podendo ainda ser parcelado, sem possibilidade de exigência de pagamento antecipado ou

adiantamento dos valores, quando não houver percebido créditos em juízo capazes de suportar o pagamento dos referidos honorários.

Tal medida também pode ser entendida como uma restrição ao direito do trabalhador, posto que, novamente, considerando a natureza das verbas buscadas através do processo, torna inviável e temerária a produção de prova pericial, tendo em vista que gerará custos ao trabalhador, que deveria ser protegido pela Justiça do trabalho.

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