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A resposta do réu no processo do trabalho e as mudanças ocasionadas pela Lei No 13.467/2017

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ALESSANDRO DUMKE CARNEIRO

A RESPOSTA DO RÉU NO PROCESSO DO TRABALHO E AS MUDANÇAS OCASIONADAS PELA LEI Nº 13.467/2017

Ijuí (RS) 2019

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ALESSANDRO DUMKE CARNEIRO

A RESPOSTA DO RÉU NO PROCESSO DO TRABALHO E AS MUDANÇAS OCASIONADAS PELA LEI Nº 13.467/2017

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Msc. Paulo Marcelo Scherer

Ijuí (RS) 2019

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Dedico este trabalho a todas aquelas pessoas que partiram durante minha caminhada e das quais não pude me despedir por estar lutando pelo meu sonho. Perdão.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me dar o dom da vida e a força para perseguir meus objetivos e sonhos.

A meu orientador, Paulo Marcelo Scherer por ter assumido a missão no meio do percurso e não ter medido esforços para me auxiliar.

A minha família e minha namorada, por me compreender nos momentos em que necessitei estar ausente e por apoiarem meu sonho incondicionalmente.

À Maria Alice, minha amada afilhada, por não estar presente em pequenos, mas importantes momentos de seus primeiros meses.

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“Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir”.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica tem como objetivo fazer uma análise crítica das alterações trazidas pela Lei nº 13.467/2017, promulgada em 13 de julho de 2017, denominada “Reforma Trabalhista”, às formas de resposta do réu, no âmbito do processo do trabalho. Através de um estudo do contexto histórico-social e da evolução do processo do trabalho, de suas normas, suas fontes e seus princípios, tenta apurar as possíveis consequências às partes e aos objetivos da Justiça do Trabalho e verificar possíveis aspectos positivos e negativos da Reforma.

Palavras-chave: Reforma Trabalhista. Processo do Trabalho. Justiça do Trabalho. Respostas do Réu.

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ABSTRACT

The present monographic research work aims to make a critical analysis of the changes brought by Law Nº 13.467/2017, promulgated on July 13, 2017, called “Labor Reform”, to the ways of responding of the defendant, in the context of the process of the Work. Through a study of the historical-social context and the evolution of the work process, its norms, its sources and its principles, it tries to ascertain the possible consequences to the parties and objectives of Labor Justice and to verify possible positive aspects negative stumits of the Reform.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 O PROCESSO DO TRABALHO: HISTÓRIA E NORMAS ... 10

1.1 Origem e história do processo e da justiça do trabalho ... 10

1.2 As fontes do direito processual do trabalho ... 16

1.3 Os princípios processuais trabalhistas ... 20

1.4 A lógica trabalhista conciliatória ... 26

2 A LEI Nº 13.467 E A NOVA DINÂMICA PROCESSUAL ... 29

2.1 As regras gerais processuais trabalhistas ... 30

2.2 As custas, honorários e a sucumbência no processo do trabalho ... 31

2.3 As alterações nas formas de resposta do reclamado ... 37

2.4 Manifestações dos tribunais acerca da Lei nº 13.467 ... 48

CONCLUSÃO ... 55

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INTRODUÇÃO

Em 13 de julho de 2017, foi promulgada a Lei nº 13.467/2017, denominada “Reforma Trabalhista”. Essa lei alterou dispositivos legais do Decreto-Lei nº 5.452/1943, denominada de Consolidação das Leis do Trabalho. Dentre todos os dispositivos modificados encontram-se regras de direito material do trabalho, como jornada de trabalho, gozo de férias, atividades restritas à lactantes e gestantes, entre outras, bem como regras de direito processual, nas quais nos aprofundaremos no presente trabalho, como: alterações no que se refere à custas processuais, à concessão ao benefício de gratuidade de justiça, condenação em honorários sucumbenciais ainda que a parte seja beneficiaria do benefício de justiça gratuita, alteração na contagem de prazos, alteração na forma de processamento de algumas respostas do reclamado, entre outras.

Em que pese, ao longo de muitos anos, o Direito do Trabalho, o Direito Processual do Trabalho e a Justiça do Trabalho tenham sido desenvolvidos por meio de evoluções constantes da legislação e do pensamento crítico, não se pode simplesmente recepcionar toda e qualquer alteração nas leis que regem as relações laborais e processuais do trabalho de braços abertos, sem analisar, sem averiguar as possíveis consequências e desdobramentos das mudanças na lei.

Portanto, é relevante que se tente apurar as consequências e os efeitos possíveis das modificações feitas nos dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho, enquanto esta última é a principal responsável por regular as relações de emprego e trabalho, bem como as relações processuais do trabalho, frente a todo o contexto histórico-social e aos princípios que norteiam, em especial, o Direito Processual do Trabalho.

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Ante a isso, o presente trabalho, busca realizar uma análise e reflexão, acerca das alterações realizadas pela Lei nº 13.467/2017, denominada “Reforma Trabalhista”, no âmbito das regras processuais que regem as formas de resposta do reclamado, sob a luz dos princípios processuais laborais, da história por trás da criação do Direito Processual e do Direito Material do trabalho, com o intuito de determinar, ao final, se as alterações que foram trazidas beneficiaram o processo e as partes e em que medida.

Objetiva apurar quais foram as alterações e quais as consequências destas para as partes e para o processo em si. Verificar quem foi beneficiado e quem foi prejudicado pelas mudanças na legislação, é importante, posto que, conforme restará demonstrado logo nos primeiros tópicos do trabalho, o Direito do Trabalho, o Direito Processual do Trabalho e a Justiça do Trabalho são conquistas dos trabalhadores e da sociedade. Estas conquistas se deram através de muita luta, muito sacrifício, de movimentações e organizações sociais de pessoas que, ao longo de muitos e muitos anos de história, se levantaram contra o poder daqueles que detinham e ainda detém o controle dos meios de produção e, assim, exploram a força de trabalho de uma maioria de pessoas que necessitam trabalhar para sobreviver.

Diante disso, nesta monografia utilizaremos a revisão literária, estudo de jurisprudências relacionadas ao tema. Tentaremos, em um primeiro momento, analisar o histórico e a evolução do processo do trabalho e suas normas, suas fontes, princípios norteadores e a lógica conciliatória que se aplica ao processo do trabalho. Após, tentaremos fazer uma análise dos institutos e artigos que tratam do processo do trabalho, mais especificamente, aqueles que guardam relação com as formas de resposta do reclamado, que foram alterados pela Lei nº 13.467/2017, sob a perspectiva das regras gerais processuais, e seus desdobramentos práticos observados através de dados estatísticos divulgados por órgãos oficiais e de decisões judiciais atuais, para, ao final, aliando a hermenêutica jurídica aos princípios e ao contexto histórico de surgimento do Direito do Trabalho, o Direito Processual do Trabalho e a Justiça do Trabalho, para, estabelecer um posicionamento crítico acerca da reforma e de suas possíveis consequências, sociais, econômicas e do ponto de vista da efetividade da Justiça do Trabalho.

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1 O PROCESSO DO TRABALHO: HISTÓRIA E NORMAS

Na vida em sociedade, cotidianamente, interesses se cruzam. Quando esses interesses são antagônicos um ao outro, surgem conflitos. Para resolução desses conflitos, teoricamente, as partes podem adotar uma de três formas de resolução de conflitos. São elas: autotutela,

autocomposição e a heterocomposição.

Da mesma forma que os conflitos por interesses particulares de natureza civil, como execução de contratos e obrigações, os conflitos trabalhistas estão inseridos em dentro de um contexto social.

Acerca disso Nascimento (2012, p. 37) comenta: “Os conflitos trabalhistas são parte de um fenômeno maior, os conflitos sociais, próprios da vida em comunidade. Pretender a sua superação não é possível, porque a vida do ser humano nos grupos sociais é problemática”.

Da leitura de diversos autores como: Sergio Pinto Martins, Carlos Henrique Bezerra Leite e Wagner D. Giglio, pode-se estabelecer uma ligação entre a história e evolução do Direito Processual do Trabalho e da Justiça do Trabalho e os métodos de resolução dos conflitos e à construção e evolução de diferentes tipos de Estado e suas ideologias (a saber: o

Estado Liberal, o Estado Social e o Estado Democrático de Direito), conforme restará melhor

evidenciado a seguir.

1.1 Origem e história do processo e da justiça do trabalho

Em relação ao Estado, em um primeiro momento, não havia preocupação estatal em promover direitos e garantias individuais, era comum a discriminação de certas camadas e grupos sociais. Critérios como etnia, cor, posição social, posses e bens eram considerados para que um indivíduo fosse reconhecido como cidadão e fosse protegido pelo Estado da época. Com as Revoluções Burguesas ocorridas nos séculos XVII e XVIII surge o chamado

Estado Liberal. Os burgueses, por medo dos mandos e desmandos dos monarcas rebelaram-se

e lograram certo êxito em assegurar que a atuação estatal se desse nos termos previstos na lei, que viria a ser criada por eles mesmos.

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Martins (2017, p. 37) afirma que a Revolução Industrial, por sua vez, trouxe avanços nos meios de produção e, como consequência, alterou enormemente a forma como as relações de trabalho funcionavam. Em decorrência desta Revolução surgiram os trabalhadores assalariados. Todavia, como os postos de trabalhos foram reduzidos em razão da mecanização, houve grande oferta de mão de obra, o que gerou conflitos entre trabalhadores e empregadores por melhores condições de trabalho. Destes conflitos surgiram as greves como ferramenta da autotutela.

Segundo o mesmo autor, com o advento das greves e paralisações e como consequência destas, o Estado viu sua arrecadação tributária ser reduzida de forma proporcional à duração das greves. Diante deste cenário, surgiu o interesse, por parte do Estado, de interferir no sentido de resolver os conflitos do trabalho.

No mesmo sentido é o que se extrai da doutrina de Giglio e Corrêa (2007, p. 2):

O Estado liberal dessa época não se imiscuía nas relações entre empregados e empregadores. Com o tempo e o recrudescimento dos conflitos trabalhista, entretanto, os governantes se deram conta dos prejuízos advindos à produção. Diante da conturbação da ordem interna e, principalmente, do empobrecimento da nação, causados pelas greves, o Estado abandonou sua posição de alheamento e passou a interferir nesses movimentos, ditando normas para a solução dos conflitos trabalhistas.

O Estado Liberal1 interveio nos conflitos somente ordenando às partes que chegassem a uma composição. Contudo, não havia imposição de sanções aos envolvidos em razão do descumprimento da ordem de chegar a um acordo e dos próprios acordos firmados. Deste modo, tal modalidade de intervenção mostrou-se ineficaz e caiu em desuso.

Com o passar do tempo, o Estado Liberal perdeu sua capacidade de gerir uma sociedade com uma imensa diferença social. Com a Revolução Industrial, o modelo liberal colapsou e surgiu o Estado Social, com um novo modelo de processo.

Sobre este modelo de Estado nos diz Leite (2018, p. 56-57):

1O Estado Liberal (ou Estado liberal de direito) é um modelo de governo baseado no liberalismo desenvolvido

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Surge, então, o chamado Estado Social, que é compelido a adotar políticas públicas destinadas à melhoria das condições de vida dos mais pobres, especialmente da classe trabalhadora, como forma de compensar as desigualdades originadas pelos novos modos de produção.

Diferentemente do modelo anterior de Estado, agora o poder mais importante passa a ser o Executivo. Com isso, o administrador passa a ter liberdade para criar normas e políticas públicas a fim de prestar assistência social. Neste modelo de Estado surge um efeito chamado de politização do jurídico.

Dentro do Estado Social2, começa a ser delineada a estrutura do processo. Diferentemente das ferramentas de resolução das divergências anteriores, este novo formato tem como objeto a jurisdição. Enquanto no modelo liberal o foco principal do processo era ação e imperava o princípio dispositivo, agora, para promover o acesso do economicamente fraco à justiça, houve a relativização do princípio referido.

Como características principais desse novo Estado se pode destacar: o constitucionalismo social a exemplo do México em 1917 e da Alemanha em 1919; o surgimento da função social da propriedade; a participação política dos trabalhadores na elaboração da ordem jurídica; e o intervencionismo estatal na economia. O processo do trabalho, durante o Estado Social passou a ter como objeto a jurisdição, submetendo os casos concretos aos olhos de um juiz.

O Estado Social, no entanto, não foi capaz de suportar os dois choques do petróleo na década de 1970 e, em função das crises, da expansão desordenada do Estado, do aumento exponencial da população mundial e do envelhecimento da população, surgiram crises na saúde e na previdência, os principais pilares de sustentação deste modelo.

Surge então o Estado Democrático de Direito3. Neste modelo, uma vez que entre os dois anteriores já haviam sido conquistados direitos privados e sociais, o foco principal passa

2O Estado Social surgiu entre o final do século XIX e o início do século XX, primeiramente na Europa,

disseminando-se pelo mundo. Deixou de considerar todos os homens como iguais e passou a se preocupar com questões de ordem social a fim de reduzir desigualdades.

3O Estado Democrático de Direito é conceito que busca unir as garantias individuais trazidas pelo Estado Liberal

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a ser a garantia de direitos a toda a população, independentemente de qualquer distinção entre as pessoas.

Nesse novo Estado, o Poder Judiciário e o processo são ferramentas fundamentais para que se alcance seus objetivos, de defender e assegurar a todos os direitos fundamentas e a inclusão social.

Em razão da evolução do Estado e das ideologias que cada uma de suas formas tinha como núcleo, as formas de dissolução das divergências entre empregadores e empregados evoluíram também, entretanto, os sistemas e ferramentas utilizadas para isto nos diferentes países seguiram diferentes caminhos. Dentre todos os países, a título de exemplo da evolução dos diferentes sistemas, destacam-se a França, Itália e Alemanha.

Os franceses criaram um sistema que se mantém até os presentes dias. Na França, em 1426, foi criado o Conseil Prud’hommes4 esta instituição tinha o mesmo objetivo do conselho

criado na Itália, dirimir conflitos entre empregados e empregadores, contudo surgiu muito antes e destinava-se a resolver desavenças relacionadas aos trabalhadores da seda. Em 1776 tais conselhos foram extintos, mas retornaram a atividade em 1806. Atualmente, seguem em atividade, contudo com divisões entre os diferentes setores da economia.

Na Itália, foi criado em 1878 o Conselho de Probivir5, com o intuito de resolver conflitos trabalhistas. Este conselho foi dissolvido e em 1924 foi criada a Magistratura Trabalhista e, após esta, em 1927 sobreveio a Carta de Lavoro6, que instituiu a representação do trabalhador e do empregador por meio do sistema de representação de classes. Por força da Carta, foi instituído ainda o poder normativo da Justiça do Trabalho, que tanto inspirou o legislador brasileiro. Naquele país, em 1940, extinguiu-se o sistema de magistratura do trabalho e atualmente as questões relacionadas ao trabalho são processadas por meio do processo civil.

4Entendido como o Conselho de Empresa ou sindicato, espécie de tribunal onde se apreciavam as demandas

relativas aos conflitos individuais.

5Conselho de Probivir equivalente ao Conseil Prud’hommes da França.

6Carta de Lavoro, redigida pelo Partido Nacional Fascista de Benito Mussolini, regulava as relações de trabalho

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Destaca-se também a história dos alemães. Em 1808, surgiram os Tribunais Industriais, que seriam compostos de presidentes e vice-presidentes, os quais eram indicados pelas autoridades da administração local e eram assessorados por quatro pessoas, que por sua vez eram eleitas para mandatos de um a seis anos. Sua atuação se dava mais no campo da conciliação. Desde 1923, contudo, o Ministro do Trabalho do Reich7 ganhou poderes para regulamentar o procedimento nos tribunais industriais. Este, por sua vez, editou a Carta do

Trabalho do III Reich8. Em consequência, em 1934 fora editada lei criando os tribunais do Trabalho. Estes tribunais tem estrutura bastante semelhante com a atual estrutura judiciária trabalhista brasileira. Eram compostos por um tribunal de primeira instância, um tribunal de apelação e um tribunal do Reich. Esta estrutura é a base da organização da Alemanha até os dias atuais.

Em terras brasileiras, assim como nas demais nações, a história do Direito Processual do Trabalho também se relaciona com a história da Justiça do Trabalho, podendo ser dividida em três etapas.

Em 1907, começa a primeira fase de desenvolvimento do que viria a ser a Justiça e o processo do trabalho como conhecemos. Esta fase pode ser subdividida em três períodos. No primeiro surgiram os Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem, os quais tiveram o maior destaque desta fase de desenvolvimento do Direito Processual do Trabalho. Instituídos pela Lei nº 1.637/1907, estes conselhos tinham seus regimentos internos, que regulavam a tramitação processual das conciliações, enquanto que as arbitragens observavam disposições de direito comum da época; o segundo período, surgiram os Tribunais Rurais de

São Paulo, criados em 1922. Referidos tribunais tratavam de litígios versando sobre

interpretação e execução de contratos de serviços agrícolas, com valores até 500 mil réis; e, por fim, no último momento foram criadas as Comissões Mistas de Conciliação e as Juntas de

Conciliação e Julgamento em 1932. As Comissões Mistas de Conciliação tratavam

exclusivamente de conflitos coletivos relativos ao trabalho. Já as Juntas de Conciliação e

Julgamento podiam tanto conciliar as partes quanto julgar os casos concretos, contudo,

somente em demandas individuais.

7Reich é uma palavra alemã que, em tradução literal, significa “império” ou “reino”.

8Carta do Trabalho do III Reich foi criada em 1934 traz ao processo do trabalho uma arbitragem interferida pelo

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A segunda fase da evolução foi marcada pela constitucionalização da Justiça do Trabalho. As Constituições de 1934 e 1937 trouxeram para dentro de si disposições acerca da Justiça do Trabalho. Nesta época houve grandes debates acerca da possibilidade de os juízes do trabalho atuarem ativamente na elaboração de normas. De um lado havia uma corrente que entendia que se a Justiça do Trabalho tivesse liberdade para criar normas nos dissídios coletivos, isto contrariaria princípios constitucionais, em especial ao princípio da separação dos Poderes. De outra banda, havia uma corrente de pensamento que defendia que a competência normativa da Justiça do Trabalho seria algo natural, haja vista que o juiz não poderia somente ser um intérprete gramatical da lei, apegando-se ao jusrealismo9 estadunidense.

A terceira fase se deu por meio do reconhecimento da Justiça do Trabalho como um órgão que faz parte do Poder Judiciário, por meio do Decreto-Lei nº 9.777/1946. Referido decreto organizou a Justiça do Trabalho e foi recepcionado pela Carta de 1946. A partir de então a Justiça do Trabalho era composta por: Tribunal Superior do Trabalho; Tribunais Regionais do Trabalho; e Juntas e Juízes de Conciliação e Julgamento.

Com a Constituição Federal de 1988, além de teoricamente surgir um novo Estado Brasileiro, surge um novo Poder Judiciário e surgem dentro da nova lex mater uma série de Direitos Humanos e Fundamentais.

Em virtude de estarem contidos dentro do texto constitucional, estes direitos devem ser assegurados pelo Estado a todo cidadão. Assim, surge o sistema judiciário, o qual deve ser acessível e funcional, pois é instrumento necessário para que se faça cumprir e respeitar os direitos positivados e prezados pelo Estado.

Toda essa evolução, essas mudanças históricas levaram ao desenvolvimento de um sistema complexo, com fontes de direito material e processual, princípios que norteiam todo o ordenamento jurídico e trouxeram o Processo e a Justiça do Trabalho a sua atual situação.

9Também conhecido como Realismo Jurídico, defende a prevalência do fato sobre a norma. Aborda o estudo do

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1.2 As fontes do direito processual do trabalho

Fonte, em uma breve reflexão metafórica remete a água viva que brota de forma contínua do ceio da terra. A fonte é aquilo que permite a criação de novas normas e novos conceitos jurídicos, nos mais variados ramos do Direito.

Martins (2017, p. 73) faz comparativo no mesmo sentido:

No significado vulgar, fonte tem o sentido de nascente de água, o lugar donde brota água. Figuradamente, refere-se à origem de alguma coisa, de onde provém algo. Fonte de Direito tem significado metafórico, em razão de que já é uma fonte de várias normas.

Em relação ao Direito Processual do Trabalho, em especial, doutrinariamente falando, existem divergências com relação à classificação das fontes do direito e quanto ao conceito destas. Existe corrente que conceitua as fontes do Direito Processual do Trabalho como a base, o alicerce que sustenta todo o sistema e o ponto de partida de qualquer estudo jurídico, sendo a origem do próprio direito. Por outro lado há corrente defendendo que as fontes são uma baliza para se definir qual norma jurídica tem validade e pode ser aplicada e qual não tem.

Quanto à classificação, há quem as considere como primárias (lei) e secundárias (doutrina, jurisprudência e costumes). De outra banda temos aqueles que as dividem em mediatas e imediatas, através da utilização de critérios bastante semelhantes a primeira corrente de pensamento e, por fim, temos quem entenda que as fontes podem ser materiais e formais, as materiais são os fatos sociais que levaram à elaboração das leis e as formais são a lei, o costume, a doutrina, jurisprudência, princípios, analogia, etc.

Mais comumente se encontra na doutrina esta última forma de classificação, à qual servirá como base para tratar desta temática no presente trabalho.

As fontes materiais surgem daqueles fatos que existem no mundo real e que geram distúrbios sociais, mas que são do interesse da população que o Estado os regule ou dê solução pacífica. Estas fontes levam à evolução do Direito. Mas, como elas atuam dentro do

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Direito Processual do Trabalho? Para responder a esta pergunta é necessário compreender a quê este ramo do Direito Processual se presta.

Para compreendê-las, pode se utilizar o conceito de Leite (2018, p. 69):

As fontes materiais são as fontes potenciais do direito processual do trabalho e emergem, em regra, do próprio direito material do trabalho. Este, por sua vez, encontra a sua fonte substancial nos fatos sociais, políticos, econômicos, culturais, éticos e morais de determinado povo em dado momento histórico [...].

Basicamente, o Direito Processual do Trabalho é uma ferramenta, que visa resolver os conflitos surgidos quando os indivíduos descumprem as normas do direito material do trabalho. Em síntese, é o mecanismo criado pelo Estado para coagir os particulares a seguir aquela conduta prevista no ordenamento jurídico, pois este último, para ser atendido, necessita da colaboração dos indivíduos e, quando isto não ocorre, o processo é a ferramenta de coerção.

Fontes formais, por sua vez, são aquelas que conferem ao Direito Processual do Trabalho um caráter de direito positivo, são as leis. Estas fontes, segundo a doutrina de Carlos Henrique Bezerra Leite, podem ser classificadas entre: fontes formais diretas; fontes formais indiretas; e fontes formais de explicitação.

É interessante a subdivisão das fontes formais feita, em especial, por Leite (2018), na qual nos aprofundaremos a seguir. Para ele, as fontes formais podem ser subdivididas em diretas, indiretas e formais de explicitação.

As fontes formais diretas são todas as leis e artigos de lei que dispões sobre o Direito Processual do Trabalho. Aqui pode-se fazer duas divisões: as normas constitucionais e infraconstitucionais.

É possível fazer tal divisão, haja vista que a Constituição Federal de 1988, trouxe para dentro de si normas e princípios gerais de Direito Processual e normas de princípios específicos de Direito Processual do Trabalho.

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Imediatamente abaixo destas normas e princípios constitucionais encontram-se todas as normas infraconstitucionais, quais sejam, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e as resoluções do Congresso Nacional, incluindo os decretos-leis que são anteriores à Constituição de 1988, mas que foram por ela recepcionados, bem como os regimentos internos dos tribunais, resoluções, instruções normativas e atos normativos destes últimos.

As fontes formais indiretas, por sua vez, são duas: doutrina e jurisprudência. Ambas são importantes ferramentas para a interpretação do Direito Processual do Trabalho e sua evolução.

Doutrina, nada mais é do que uma corrente de pensamento que busca compreender e posicionar-se criticamente acerca dos conteúdos do Direito, seja ele material ou processual. Os doutrinadores buscam oferecer uma base para interpretação dos dispositivos legais, contudo, como a doutrina está em um constante processo de evolução, é vital ao operador do Direito que mantenha-se atualizado.

A jurisprudência, por seu turno, pode ser definida com o conjunto das sentenças e dos acórdãos dos tribunais e a doutrina que levam a um novo entendimento sobre determinada temática ou que elucidam questão controversa do Direito.

Importante salientar, que a Lei nº 13.467/2017, retira ou pelo menos tenta retirar a capacidade hermenêutica do Tribunal Superior do Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho com a nova redação do §2º do artigo 8º da CLT. Por esta nova composição ficam os referidos órgãos impedidos de editar súmulas e enunciados que criem obrigações não previstas em lei ou de restringir direitos nelas previstos.

Este ponto da redação da Reforma Trabalhista vem sendo bastante questionado no mundo acadêmico. Existem doutrinadores contrários à atual redação do §2º do artigo 8º da CLT. E neste sentido a doutrina de Leite (2018, p. 74):

Ocorre que, no modelo constitucional do processo, cabe a todos os órgãos do Judiciário brasileiro – sem nenhuma distinção tal como pretendeu o legislador ordinário – interpretar e aplicar o ordenamento jurídico, sendo este constituído não apenas por leis, como também por valores, princípios e regras devendo qualquer magistrado, inclusive os da Justiça do Trabalho, observar o disposto nos arts. 1º e 8º

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do CPC/2015, ou seja, todas as leis devem ser interpretadas em conformidade aos valores democráticos e republicanos e aos princípios albergados na Constituição Federal, em especial o princípio da dignidade da pessoa humana.

Do modo como está posta a redação dada ao artigo de lei, é possível que haja grande redução da criação de jurisprudência e esta importante fonte formal indireta perderá sua principal função.

Por fim, as fontes formais de explicitação são mais complexas e, primeiramente, é necessário compreender os significados de dois termos: analogia e equidade.

Analogia se trata de utilizar raciocínio para detectar atributos semelhantes em seres ou coisas diferentes, neste caso em ramos diferentes do Direito, é encontrar semelhanças em um sistema e em outro e aplicar a regra existente em um ramo para solucionar problema criado por uma lacuna em outro.

Equidade, esta palavra remete à igualdade. O conceito em sentido amplo pode nos fornecer noções de justiça e igualdade. Em um sentido mais estrito e mais focado no Direito Processual do Trabalho, pode ser entendido como uma forma de suavizar e adequar uma norma abstrata, ou seja, determinada lei prevê determinada situação e determinadas consequências, caberia ao operador do direito proceder a mediação entre o fato previsto na norma e a situação fática.

Estes termos são importantes, haja vista que o artigo 769 da CLT autoriza a aplicação, nos casos em que a legislação trabalhista for omissa, de normas positivadas em outros ramos do direito, mas que não sejam contrárias aos princípios, valores e outras normas positivadas no direito material e processual do trabalho. A mais comum aplicação deste tipo de fonte é a utilização de normas do Código de Processo Civil no âmbito do processo do trabalho, como, por exemplo, a utilização da Ação de Consignação em Pagamento, prevista nos artigos 539 a 553 do CPC/15, que pode ser aplicada ao processo do trabalho.

Importante repisar, que todas as fontes, tanto materiais quanto formais, são vitais à manutenção do progresso do Direito em si, em especial do Direito Processual do Trabalho, pois, uma não existe sem a outra e, tendo em vista o fato de que nossa sociedade está em constante mudança, o ordenamento jurídico deve sempre evoluir, para que seja ele útil aos

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propósitos que se presta. Da mesma sorte que as fontes do Direito Processual do Trabalho, os princípios que o norteiam também são fundamentais para atingir sua finalidade, conforme será abordado a seguir.

1.3 Os princípios processuais trabalhistas

Um sistema jurídico, pode se dizer, surge da necessidade das pessoas de que o Estado regule as relações interpessoais, sejam elas de natureza civil, penal ou trabalhista. Como visto anteriormente, estes fatos, que se passam no mundo real afetam e servem de base para a elaboração de normas jurídicas que virão a regular a interação entre as pessoas e a forma como os eventuais conflitos podem ser solucionados.

Saraiva e Linhares (2017, p. 32) trazem a importância dos princípios para qualquer sistema jurídico:

Princípios são proposições genéricas, abstratas, que fundamentam e inspiram o legislador na elaboração da norma.

Os princípios também atuam como fonte integradora da norma suprimindo omissões e lacunas do ordenamento jurídico.

Exercem ainda os princípios importante função, atuando como instrumento orientador da interpretação de determinada norma pelo operador do direito.

Os princípios, portanto, desempenham uma tríplice função: informativa. Normativa e interpretativa.

Entre os princípios mais relevantes do ordenamento jurídico brasileiro atual, do ponto de vista do Direito Processual do Trabalho, estão: os princípios constitucionais fundamentais, os quais exercem função informativa, interpretativa e normativa; os princípios gerais do Direito Processual; princípios que são comuns ao Direito Processual Civil e ao Direito Processual do Trabalho e os princípios próprios do Direito Processual do Trabalho.

Contudo, para o presente trabalho, focaremos mormente nos princípios específicos do Direito Processual do Trabalho, fazendo remissões a princípios processuais civis e gerais quando necessário.

Na seara doutrinária não há uma posição consolidada naquilo que diz respeito aos princípios específicos deste ramo do Direito Processual. Existem posicionamentos

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doutrinários defendendo a não existência de princípios próprios do Direito Processual do Trabalho simultaneamente a doutrinadores que resguardam a posição de que existem. No entanto, o fato é que é vital compreendê-los, principalmente frente à nova legislação.

Existe, para alguns doutrinadores, no âmbito do Direito Processual do Trabalho, o princípio da proteção processual, este princípio, que pertence também ao direito material, tem como principal objetivo nivelar a relação jurídica entre empregadores e empregados. Tal princípio tenta remover desigualdades econômicas e sociais entre quem detém o capital e os meios de produção e aqueles que detêm suas vidas e força de trabalho, como meio de assegurar sua subsistência.

Martins (2017, p. 91) define este princípio como:

O verdadeiro princípio do processo do trabalho é o da proteção. Assim como no Direito do Trabalho, as regras são interpretadas mais favoravelmente ao empregado, em caso de dúvida, no processo do trabalho também vale o princípio protecionista, porém analisado sob o aspecto do direito instrumental.

Este princípio comprova sua existência através do fato de que a legislação previa aos trabalhadores uma série de benesses que não se aproveitavam aos patrões, por exemplo: gratuidade de justiça; isenção do pagamento de custas e despesas processuais; a inversão do ônus da prova por conta de presunção que favoreça ao trabalhador, que quase nunca aproveitava ao empregador; o impulso processual de ofício para realização de atos processuais como a execução de sentenças, que hoje inexiste; entre outras. Diante destas alterações, temos aqui um primeiro ponto em que o princípio começa a ser mitigado.

Outro princípio que sofreu com a Lei nº 13.467/2017 foi o princípio da finalidade social do processo. Este princípio marca fortemente uma das principais diferenças do processo do trabalho para o processo civil. Rompe com o princípio processual da isonomia entre as partes que predomina no Direito Processual Civil. Poderia ser considerado, talvez, como um princípio que complemente o princípio da proteção, posto que visa, ainda que ao fundo, equiparar as partes envolvidas no processo laboral, em relação de armas e forças, protegendo o trabalhador.

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A diferença básica entre o princípio da proteção processual e o princípio da finalidade social do processo é que, no primeiro, a própria lei confere a desigualdade no plano processual; no segundo, permite-se que o juiz tenha uma atuação mais ativa, na medida em que auxilia o trabalhador, em busca de uma solução justa, até chegar o momento de proferir a sentença.

Em termos, o princípio da finalidade social do processo e o princípio da proteção processual se complementam, permitindo que o juiz, ao trazer uma solução ao caso concreto, corrija injustiças, em certas vezes causadas até mesmo pela legislação.

Cabe relembrar, no entanto que este princípio sofreu e poderá vir a sofrer ainda mais restrições em sua aplicação, tendo em vista a vedação imposta aos juízes pelo §2º do artigo 8º da CLT, que já fora tratado anteriormente.

Comum ao processo civil, o princípio da busca da verdade real, tem sua melhor forma no processo laboral. Por ele, os Juízos e Tribunais do Trabalho tem autonomia para conduzir o procedimento da forma mais rápida e eficiente, podendo determinar diligências que entenda necessárias à elucidação dos fatos.

Segundo Saraiva e Linhares (2017, p. 58): “No processo do trabalho vigora o princípio da busca da verdade real, que faz com que a prova documental ceda espaço à testemunhal, quando esta se mostra firme no sentido da desconstituição daquela [...]”.

Por tal princípio, o juiz pode valorar qual prova tem mais peso, maior relevância, entre a prova documental e a prova testemunhal, podendo, esta última, por conta da busca da verdade real, ser utilizada para desconsiderar aquilo que os documentos apontam.

Princípio também importante ao processo laboral, haja vista sua lógica protecionista, o princípio da indisponibilidade, nada mais é do que a versão processual do princípio da irrenunciabilidade do direito material do trabalho. Este princípio visa impedir o indivíduo de, em uma possível posição de desvantagem, abdique de tantos benefícios e garantis que o direito material e processual lhe conferem.

Segundo Leite (2018, p. 120): “Vislumbramos, ainda, a aplicação do princípio ora focalizado na hipótese de substituição processual, pois ao sindicato (substituto processual) é vedado renunciar direitos metaindividuais veiculados em ação civil pública”.

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Se faz necessário neste ramo processual específico, haja vista que, na maioria das ações, o que se busca são verbas de caráter alimentar. Assim, não se pode permitir que o trabalhador abdique de um ou mais de seus direitos trabalhistas, assegurados pelo direito material, para poder receber outro, quando lhe são conferidos ambos.

Já o princípio da conciliação, talvez o princípio mais antigo do Direito Processual do Trabalho, tendo em vista que a conciliação foi a primeira ferramenta proposta para resolução das divergências ocorridas entre empregadores e empregados. Como princípio processual tem suas raízes, no ordenamento pátrio, nas Constituições de 1946, 1967 e 1969, bem como na atual, a Constituição Federal de 1988, até a Emenda Constitucional n. 45/2004, a qual substituiu no artigo 144 a expressão “conciliar e julgar” por “processar e julgar”.

De toda sorte, a alteração não remove tal princípio do ordenamento jurídico, posto que segue existindo em normas infraconstitucionais. São exemplos de normas que contêm esse princípio os artigos 764 e 831 da CLT.

Diz o artigo 764 da CLT (2019):

Art. 764 – Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação.

§1º – Para os efeitos deste artigo, os juízes e Tribunais do Trabalho empregarão sempre os seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma solução conciliatória dos conflitos.

§2º – Não havendo acordo, o juízo conciliatório converter-se-á obrigatoriamente em arbitral, proferindo decisão na forma prescrita neste Título.

§3º – É lícito às partes celebrar acordo que ponha termo ao processo, ainda mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório.

O artigo 831 da CLT, por sua vez (2019):

Art. 831 – A decisão será proferida depois de rejeitada pelas partes a proposta de conciliação.

Parágrafo único. No caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem devidas.

Fica evidenciada a primazia e a importância que o legislador confere a tal princípio, condicionando o andamento processual à inexistência de possibilidade de conciliação.

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Edificam Saraiva e Linhares (2017, p. 52):

O art. 764 da CLT contempla, de forma explícita, o princípio da conciliação, ao dispor que os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação.

Neste contexto, os juízes e tribunais do trabalho empregarão sempre os seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma solução conciliatória dos conflitos (art. 764, §1º, da CLT).

Tão verdadeira é a importância deste princípio que o legislador impôs dois momentos onde é possível a conciliação. O primeiro se dá no início da audiência, por força do artigo 846 da CLT e, o segundo, se dá após a instrução processual e da apresentação de razões finais, porém antes de prolatar a sentença, por força do disposto no artigo 850 da CLT.

Por fim, como fundamento cabal da importância deste princípio ao processo trabalhista, é possível citar o fato de que a conciliação é equiparada à coisa julgada, sendo irrecorrível, por ocasião da redação do artigo 831 da CLT. Também o faz no art. 625-E da CLT, quando este confere à conciliação firmada no âmbito das Comissões, empresarias ou sindicais, a força de título executivo extrajudicial.

Outro princípio característico do Direito Processual do Trabalho, o princípio da normatização coletiva pode vir a sofrer restrições, por ocasião da nova redação do §2º do artigo 8º da CLT, a qual já foi abordada anteriormente, tendo em vista que, por este princípio o Juízo e os Tribunais têm certa liberdade para criar soluções aos conflitos, consequentemente, podendo criar normas.

Para Giglio e Corrêa (2007, p. 85):

O segundo princípio concreto, da nomogênese10 derivada, da delegação legislativa

ou da jurisdição normativa, só vigora plenamente no Direito brasileiro. Significa ele uma delegação de poderes ao Judiciário Trabalhista para, utilizando a via processual, criar ou modificar norma jurídica, numa atividade mista que, sob forma externa do procedimento judicial, agasalha em seu bojo autêntica manifestação legislativa.

10Nomogênese é o processo de criação de uma norma jurídica. Nesse processo: fato, valor e norma estão em

constante interação assim como elucida a Teoria Tridimensional do Direito elaborada pelo filósofo e jurista Miguel Reale em 1968.

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Tal princípio, até a promulgação da Lei nº 13.467/2017, que os tribunais criassem ou alterassem normas por meios de decisões em ações coletivas. Todavia, após a referida lei, houveram restrições à este princípio. Atualmente, as decisões somente podem criar regras sobre determinados temas, diferente da legislação anterior, onde era quase livre a criação de normas.

Muito embora seja comum a diversos ramos do Direito Processual enquanto desdobramento do princípio constitucional da razoável duração do processo, no âmbito do Direito Processual do Trabalho, o princípio da celeridade, encontra sua mais aprimorada forma recebendo distinta ênfase neste ramo específico do Direito Processual.

Principalmente em razão do fato de que as verbas geralmente buscadas possuírem caráter alimentar, o legislador conferiu ao processo laboral uma celeridade que visa favorecer ao trabalhador. Tem previsão expressa no artigo 765 da CLT. Dita o dispositivo:

Art. 765 – Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas.

Tal princípio encontra guarida no texto constitucional. Após a Emenda Constitucional nº 45, de 2004, o art. 5º da Constituição Federal de 1988 passou a contar com a seguinte redação do inciso LXXVIII:

Art. 5º [...]

LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Desta forma, é possível concluir que, como o Direito Processual do Trabalho regra as relações processuais ligadas ao trabalho, a ele se aplica os dispositivos legais acima referidos, sendo, portanto, a celeridade processual um princípio do processo do trabalho.

Ao cabo, se entende que os princípios até aqui estudados visam atender ao trabalhador, posto que este, na maioria dos casos não tem capacidade de suportar a morosidade do processo até finalmente perceber os valores pleiteados, ao passo que o empregador, o qual, por sua vez, especialmente por se tratar de quem detém melhores condições econômicas, é capaz de suportar uma longa duração do processo e tem muitas vezes interesse nessa lentidão.

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Desta forma, se conclui que, em razão de ser um ramo específico do Direito Processual, de ser um instrumento de promoção da igualdade social, haja vista que esta última é um objetivo do Estado Democrático de Direito, o Direito Processual do Trabalho embarca dentro de si uma série de princípios específicos, que lhe permitem tutelar de forma mais eficiente os economicamente deficientes e assegurar-lhes seus direitos.

1.4 A lógica trabalhista conciliatória

Após o estudo do histórico de desenvolvimento dos tipos de Estado que já existiram, das formas de resolução dos conflitos trabalhistas no decorrer do tempo e dos princípios do Direito Processual do Trabalho, é possível perceber que toda a estrutura deste ramo do Direito Processual e da Justiça do Trabalho é voltada à proteção dos economicamente vulneráveis e à prestação judiciária da forma mais rápida e eficiente. Daí o interesse do Estado em desenvolver métodos e ferramentas que efetivamente atinjam estes objetivos.

Pode-se destacar como importante ferramenta para alcançar tais objetivos, a propensão à conciliação, percebida por meio das diversas vezes em que a preferência pela resolução dos conflitos por meio da conciliação é evidenciada nas normas que regem o processo laboral e o direito material do trabalho.

No direito material, que regula as relações de trabalho, o legislador cria mecanismos para resolução de conflitos, na seara administrativa, por meio da conciliação, prestigiando esse instituto. Vide os art. 625-A a 625-H da CLT, introduzidos pela Lei nº 9.958/2000.

Pelo art. 625-A da CLT, as empresas e os sindicatos tem poder de instituir Comissões de Conciliação Prévia, para tentar uma resolução dos conflitos sem a necessidade de se envolver a Justiça do Trabalho.

O art. 625-D, dispõe que, uma vez criada a Comissão de Conciliação Prévia, em determinada empresa ou por determinados sindicatos, todas as demandas trabalhistas daquela localidade e daquela classe ou daquela empresa serão submetidas primeiramente a ela e, uma vez encerradas as tratativas de forma frustrada, será emitida declaração pela Comissão da

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empresa ou Comissão sindical, conforme o caso, que deverá ser anexada à reclamação apresentada à Justiça do Trabalho.

Assim, é possível visualizar, que em todo o ordenamento trabalhista, há a priorização da conciliação em detrimento da sentença judicial. Tanto é assim que, uma vez que seja exitosa a conciliação realizada na Comissão empresarial ou sindical, tal acordo, uma vez lavrado e assinado por ambas as partes tem força de título executivo extrajudicial, tendo eficácia liberatória geral, com exceção de parcelas expressamente ressalvadas, conforme dispõe o art. 625-E da CLT.

No âmbito processual, também há uma forte tendência à conciliação. Como principais exemplos dessa lógica que prima pela conciliação, podemos citar diversos dispositivos da legislação trabalhista e processual trabalhista que tratam da conciliação, como os artigos 764, 831, 846 e 850 da CLT que versam sobre matéria processual e os artigos 39, §1º, 514, 613, 625-A e seguintes, todos da CLT, versando sobre direito material.

Saraiva e Linhares (2017, p. 52) edificam e evidenciam a existência desse apreço pela resolução conciliatória dos dissídios: “O art. 764 da CLT contempla, de forma explícita, o princípio da conciliação ao dispor que os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação”.

Tal visão acerca do processo traz diversos benefícios, por exemplo, a redução da duração dos processos, garante maior agilidade à Justiça do Trabalho, pode trazer uma solução pacífica a um conflito que, até então era travado de forma hostil entre as partes, resultando em uma saída amigável e uma reaproximação entre os protagonistas da lide. De todo modo existem benefícios às partes e à sociedade.

A lógica conciliatória contempla diversos princípios do Direito Processual, por exemplo, o princípio da celeridade, o princípio da eficiência, o princípio da economia processual, etc.

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A conciliação entendida em um conceito muito mais amplo do que o “acordo”, significando entendimento, recomposição de relações desarmônicas, empoderamento, capacitação, desarme de espírito, ajustamento de interesses. Em dizer psicanalítico: apaziguamento.

Não se olvide de que o processo e a própria função jurisdicional do Estado têm limites inerentes aos instrumentos jurídicos em geral e ao próprio Direito. É, portanto, extremamente ingênuo e porque não dizer, irreal, atribuir à função jurisdicional do Estado a tarefa de fornecer sempre uma solução absoluta, pronta e acabada para todo e qualquer conflito intersubjetivo de interesses, tão logo este se verifique.

Outro ponto que evidencia a importância da conciliação, para a Justiça e o processo do trabalho, é o fato de que, mesmo que já esteja encerrada a instrução ou já hajam sido superadas as fases em que se pode propor conciliação, a qualquer momento do processo, por força do §3º, do art. 764, da CLT, as partes podem celebrar acordo que traga fim ao processo. Todavia, não pode o juízo permitir que seja celebrado acordo que viole direitos do trabalhador, pois isso poderia afrontar os princípios da indisponibilidade.

Resta então evidente que a Justiça do Trabalho, o Direito Processual do Trabalho e o Direito do Trabalho preza e prestigiam a conciliação e a resolução amigável das lides, como ferramenta eficiente dos conflitos, a qual é buscada incessantemente.

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2 A LEI Nº 13.467 E A NOVA DINÂMICA PROCESSUAL

A Lei nº 13.467/2017, denominada como Reforma Trabalhista, fora apresentada ao congresso, inicialmente, por meio do projeto de Lei nº 6.787/2016, o qual pretendia a alteração de sete dispositivos da CLT. Porém, em determinado ponto de sua tramitação foi substituído por projeto apresentado por Comissão Especial e, ao final, a nova legislação alterou 97 dispositivos dentro e fora da CLT.

Muitas destas alterações ainda necessitam de interpretação e de estudo para que seja possível entender a que ponto o legislador pretendia chegar e, ao final, avaliar se foi bem sucedido em sua pretensão. Já em outros é claro seu objetivo.

Neste sentido é a posição de Martins (2018, p. 22):

A legislação trabalhista precisava ser atualizada em razão das constantes mudanças econômicas. O Direito também evolui com o passar do tempo, precisando tratar de outras situações.

Em muitos assuntos é possível dizer aonde o legislador quis chegar, mas em outros não, havendo necessidade de ser formada uma nova teoria e uma nova jurisprudência sobre o tema.

Em certos casos, há várias dúvidas ou mais de uma interpretação sobre o artigo, que só vai se consolidar com o tempo.

Não é possível prever todas as situações possíveis e imagináveis a respeito do enquadramento em cada um dos artigos alterados pela reforma. Isso será feito com o tempo, inclusive à medida que forem submetidos à apreciação do Poder Judiciário.

Após estudo comparado entre a redação dos dispositivos alterados antes e depois da reforma, no que diz respeito ao processo do trabalho, é possível se verificar pontos positivos e pontos negativos. Dentre esses pontos destacam-se: a) maior segurança jurídica em relação a aplicação de fontes subsidiárias do direito processual, como o CPC; b) recrudescimento das possibilidades de edição de súmulas pelos Tribunais do Trabalho; c) tratamento mais isonômico entre as partes, reduzindo vantagens processuais que o trabalhador tinha em relação às empresas; d) autorização para utilização de meios alternativos para resolução de conflitos; e) imposição de limite de custas a quatro vezes o teto dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social; f) imposição de limite para a concessão do benefício de gratuidade de justiça, referenciado pelo limite dos benefícios do Regime Geral da Previdência social.

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Como se vê, foram realizadas alterações que alteram a relação processual de forma direta e indireta, das quais algumas serão abordadas a seguir.

2.1 As regras gerais processuais trabalhistas

Como visto no capítulo anterior o processo do trabalho e a Justiça do trabalho, assim como qualquer outra criação humana passaram por transformações ao longo dos anos. Houveram lutas no passado e dessas lutas sobrevieram conquistas. Todavia, nem sempre as transformações ocorridas trazem benefícios a todos. No caso da Reforma Trabalhista nem todos a consideram positiva. Nesse sentido, se faz aqui uma análise e um contraponto entre normas processuais e princípios processuais que, após a Lei nº 13.467/2017, sofreram alterações importantes.

Conforme já abordado, o Direito Processual do Trabalho possui, como qualquer outro ramo do Direito Processual, princípios, que são máximas que exprimem valores e objetivos em caráter geral, os quais o legislador e os operadores do Direito utilizam para balizar sua atuação.

Conforme edifica Martins (2017, p. 85): “Princípios são as proposições que se colocam na base da ciência, informando-a e orientando-a. Para o Direito, o princípio é o seu fundamento, a base que irá informar e inspirar normas jurídicas”.

Dentre os princípios, podem ser destacados como regras gerais e especiais do processo laboral aqueles tratados no capítulo anterior. Em especial, destacam-se: o princípio da proteção processual, da finalidade social do processo, o princípio da conciliação e o princípio da celeridade. Portanto, os dispositivos da legislação trabalhista, sejam eles da CLT ou de outras normas, devem gravitar no entorno daqueles.

Os princípios podem ser considerados, além de uma base para a criação de uma nova regra, também o objetivo delas.

Assim, pode-se considerar que, as novas normas trazidas pela Lei nº 13.467/2017, deveriam ter como intuito atender aos referidos princípios. Entretanto, não é exatamente o que

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se vislumbra. Foram editadas várias normas que acabam por confrontar alguns destes princípios, conforme se verificará nos tópicos a seguir.

2.2 As custas, honorários e a sucumbência no processo do trabalho

Conforme já dito, no processo laboral existe o princípio da proteção processual, por este princípio, o trabalhador, quando ingressa com uma reclamação na Justiça do trabalho, tem uma série de vantagens frente ao empregador.

Até a edição da Lei nº 13.467/2017, em muitos casos, o empregador não era tratado da mesma forma que o trabalhador, por exemplo, no que se refere às custas processuais, aos honorários advocatícios e sucumbenciais, à gratuidade de justiça e outras.

Para melhor compreender as alterações trazidas pelo legislador com a nova redação do art. 789 da CLT, que trata das custas, é fundamental que sejam analisadas e comparadas ambas as formas de redação.

Assim dispunha o art. 789 da CLT antes da Lei nº 13.467/2017:

Art. 789. Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas ações e procedimentos de competência da Justiça do Trabalho, bem como nas demandas propostas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição trabalhista, as custas relativas ao processo de conhecimento incidirão à base de 2% (dois por cento), observado o mínimo de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) e serão calculadas:

I – quando houver acordo ou condenação, sobre o respectivo valor;

III – no caso de procedência do pedido formulado em ação declaratória e em ação constitutiva, sobre o valor da causa;

IV – quando o valor for indeterminado, sobre o que o juiz fixar.

§1º. As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da decisão. No caso de recurso, as custas serão pagas e comprovado o recolhimento dentro do prazo recursal.

§2º. Não sendo líquida a condenação, o juízo arbitrar-lhe-á o valor e fixará o montante das custas processuais.

§3º. Sempre que houver acordo, se de outra forma não for convencionado, o pagamento das custas caberá em partes iguais aos litigantes.

§4º. Nos dissídios coletivos, as partes vencidas responderão solidariamente pelo pagamento das custas, calculadas sobre o valor arbitrado na decisão, ou pelo Presidente do Tribunal.

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Art. 789. Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas ações e procedimentos de competência da Justiça do Trabalho, bem como nas demandas propostas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição trabalhista, as custas relativas ao processo de conhecimento incidirão à base de 2% (dois por cento), observado o mínimo de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) e o

máximo de quatro vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, e serão calculadas (grifo nosso).

[...]

É nítida a diferença entre redações. Na primeira o legislador não limitava o valor das custas, devido ao fato de que, via de regra, quem as recolhe é o empregador. Dessa forma, era comum que não houvesse a interposição de recursos pelo empregador em razão do alto valor das custas para tal, posto que era possível que o reclamante apresentasse vários pedidos com valores altos para cada um. Assim, pela regra antiga, como não havia limitação ao valor das custas, era comum que o reclamado não recorresse. Todavia, pela novel redação, as custas máximas a serem pagas serão de quatro vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

Neste sentido, fala Martins (2018, p. 141):

A lei passa a tratar do valor máximo, que é o dobro do teto do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social. O estabelecimento de um limite máximo é uma forma de permitir a possibilidade de recurso da sentença, pois caso as custas sejam fixadas em valor muito alto, a parte pode não ter condições de pagá-las e inviabiliza o direito ao recurso.

Outro dispositivo que versa sobre as custas e que foi alterado é o art. 790 da CLT e seus parágrafos.

A redação anterior dispunha assim:

Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá às instruções que serão expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho.

§1º. Tratando-se de empregado que não tenha obtido o benefício da justiça gratuita, ou isenção de custas, o sindicato que houver intervindo no processo responderá solidariamente pelo pagamento das custas devidas.

§2º. No caso de não pagamento das custas, far-se-á execução da respectiva importância, segundo o procedimento estabelecido no Capítulo V deste Título. §3º. É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou declararem, sob as penas da lei,

que não estão em condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família (grifo nosso).

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Atualmente, o §3º e §4º desse dispositivo determinam:

§3º. É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do

Regime Geral de Previdência Social (grifo nosso).

§4º. O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo.

A Lei nº 13.467/2017 alterou a redação do §3º e incluiu o §4º. Assim, pela nova redação, ainda que vencido, o empregador que comprova insuficiência de recursos e for beneficiário da gratuidade de justiça não precisará recolher as custas. Tal benefício era privilégio apenas do empregado, até a reforma.

Da mesma forma que as custas, os dispositivos que tratavam dos honorários e da sucumbência foram alterados. Antes de mais nada, importante conceituar o que são honorários e sucumbência, bem como compreender a que se prestam.

Assim conceitua e justifica Martins (2017, p. 546-547) traz conceito de honorários:

O fundamento dos honorários é o fato objetivo de alguém ter sido derrotado. Assim, aquele que ganhou a demanda não pode ter diminuição patrimonial em razão de ter ingressado em juízo. Os honorários de advogado decorrem, portanto, da sucumbência. A parte vencedora tem direito à reparação integral dos danos causados pela parte vencida, sem qualquer diminuição patrimonial.

Uma vez definidos os conceitos e suas funções, é cabível fazer uma análise do contexto histórico em que estes institutos estão inseridos.

Como sabido, um marco importante da legislação trabalhista foi a Emenda Constitucional nº 45/2004, esta emenda alterou a competência da Justiça do Trabalho, bem como outros aspectos, além de trazer modificações em relação aos honorários.

Anteriormente à referida Emenda Constitucional somente eram devidos honorários na Justiça do Trabalho se fosse possível o enquadramento no art. 14 da Lei nº 5.584/1970, o qual assim dispunha:

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Art. 14. Na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, será prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhador.

§1º. A assistência é devida a todo aquêle que perceber salário igual ou inferior ao dôbro do mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de maior salário, uma vez provado que sua situação econômica não lhe permite demandar, sem prejuízo do sustento próprio ou da família.

§2º. A situação econômica do trabalhador será comprovada em atestado fornecido pela autoridade local do Ministério do Trabalho e Previdência Social, mediante diligência sumária, que não poderá exceder de 48 (quarenta e oito) horas.

§3º. Não havendo no local a autoridade referida no parágrafo anterior, o atestado deverá ser expedido pelo Delegado de Polícia da circunscrição onde resida o empregado.

Desse modo, os honorários advocatícios no processo não decorriam da sucumbência, tampouco destinavam-se aos advogados propriamente ditos, mas sim aos entes de representação sindical que representassem e assistissem o trabalhador. Havia ainda a Súmula 219 do TST, a qual fora recepcionada pelo ordenamento jurídico pátrio por meio da edição da Súmula 329 do TST.

Posteriormente às súmulas anteriores sobreveio a Súmula 463 do TST com a seguinte redação:

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. COMPROVAÇÃO (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 304 da SBDI-1, com alterações decorrentes do CPC de 2015) - Res. 219/2017, DEJT divulgado em 28, 29 e 30.06.2017 – republicada – DEJT divulgado em 12, 13 e 14.07.2017.

I – A partir de 26.06.2017, para a concessão da assistência judiciária gratuita à pessoa natural, basta a declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte ou por seu advogado, desde que munido de procuração com poderes específicos para esse fim (art. 105 do CPC de 2015).

II – No caso de pessoa jurídica, não basta a mera declaração: é necessária a demonstração cabal de impossibilidade de a parte arcar com as despesas do processo.

Importante frisar que, mesmo com a edição da Súmula 463 do TST, esta não faz qualquer menção ao afastamento do jus postulandi na Justiça do Trabalho, tampouco revoga a Súmula 425 do TST, que trata desse assunto. Portanto, continua não sendo obrigatória a presença e acompanhamento de advogado nos processo laboral.

Acerca desse assunto, Leite (2018, p. 946) faz a seguinte reflexão:

Ora, se para fins de pagamento de custas e honorários advocatícios nas ações não oriundas da relação de emprego é aplicável o princípio da sucumbência recíproca inerente ao processo civil, então, com muito mais razão, a presença do advogado

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torna-se obrigatória em tais demandas, pois o “dever de pagar honorários pela mera sucumbência” pressupõe a presença do advogado, já que os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado (EOAB, art. 23).

Como já dito, importa ao estudo dos honorários e da sucumbência é a Súmula 219 do TST. Referido dispositivo trata das hipóteses de cabimento dos honorários da seguinte forma:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO (alterada a redação do item I e acrescidos os itens IV a VI em decorrência do CPC de 2015) - Res. 204/2016, DEJT divulgado em 17, 18 e 21.03.2016:

I – Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte, concomitantemente: a) estar assistida por sindicato da categoria profissional; b) comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar encontrar-sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família (art. 14, §1º, da Lei nº 5.584/1970) (ex-OJ nº 305 da SBDI-I).

II – É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação rescisória no processo trabalhista.

III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical figure como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de emprego.

IV – Na ação rescisória e nas lides que não derivem de relação de emprego, a responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios da sucumbência submete-se à disciplina do Código de Processo Civil (arts. 85, 86, 87 e 90).

V – Em caso de assistência judiciária sindical ou de substituição processual sindical, excetuados os processos em que a Fazenda Pública for parte, os honorários advocatícios são devidos entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa (CPC de 2015, art. 85, §2º).

VI – Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, aplicar-se-ão os percentuais específicos de honorários advocatícios contemplados no Código de Processo Civil.

Tal súmula trazia claramente as possibilidades de cabimento e as formas de aplicação dos honorários. Todavia, haviam restrições em relação aos procuradores particulares, contradizendo o disposto no art. 22 da Lei nº 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB). Referido dispositivo legal assegura aos inscritos nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, o direito a honorários convencionados, fixados arbitrariamente e aos de sucumbência pela prestação de serviço profissional.

Com o advento do art. 791-A da CLT, no entanto, restou pacificada a questão, assim dispondo o referido dispositivo:

Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da

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