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6 DEMANDAS DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E MERCADO DE

6.5 As demandas do setor do comércio em Santa Catarina

O comércio se caracteriza pela diversidade de ramos que apresenta. Existem duas formas gerais de comércio, a atacadista e a varejista. A transformação de praticamente todos os produtos e serviços em mercadorias disponíveis para a venda, permite ter uma idéia do tamanho e importância deste setor.

Em Santa Catarina, de acordo com o cadastro da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS, 1995), do total de estabelecimentos existentes no comércio, 90,6% constituem-se de micro e pequenas empresas. Ainda de acordo com a RAIS, são esses micro e pequenos empresários os responsáveis por 91% dos empregos criados. O fato do setor de comércio ser constituído praticamente por micro e pequenas empresas, já o diferencia do setor industrial, onde predominam médias e grandes empresas, e constitui- se em um indicador importante para a definição de estratégias para a formulação de políticas de qualificação.

O mercado formal do comércio emprega no Estado 255.301 trabalhadores, o que significa 10,6% da PEA (PNAD-SC apud DIEESE, 1997). Por mercado formal do comércio compreende-se aquelas empresas que estão regularizadas na junta comercial, na prefeitura, que assinam carteira de trabalho do empregado e que pagam os encargos sociais. Embora este mercado esteja em crescimento em termos absolutos (criou 21.4 mil novos empregos ou 36,7% entre 1986/1996), ele tende a se reduzir em termos

relativos, em comparação com o rápido crescimento do setor informal, ou seja, aquele que não cumpre as obrigações mencionadas acima (Dieese, 1997, p. 152).

No mercado informal predominam os comerciantes autônomos, pessoas desocupadas e trabalhadores que não tiveram acesso ao mercado formal de trabalho. O comércio informal se caracteriza pelo trabalho de ambulantes, camelôs, autônomos, etc. Estes trabalhadores, em função das atividades que desempenham, também geram uma demanda por qualificação que não encontra respostas nas políticas públicas, uma vez que o foco do SENAC, a instituição que executa a qualificação para o setor do comércio, está totalmente voltado para o mercado formal do comércio.

I Em 1998, o Dieese-SC realizou uma pesquisa, custeada com recursos do FAT, entitulada "Reestruturação Tecnológica e Emprego no Comércio em SC", que permitiu o levantamento de alguns indicadores relevantes quanto às demandas de qualificação do mercado formal e informal do comércio.

Com relação à escolaridade dos trabalhadores do mercado formal do comércio, a pesquisa constatou que 63,47% possuem até o primeiro grau, outros 31,17% se encontram na faixa do segundo grau (incompleto e completo) e apenas 5,36% possuem o terceiro grau. Estes dados sugerem que o setor do comércio é ainda um grande empregador de mão-de-obra com baixa escolaridade, justamente a clientela que é prioritária (primeiro grau) no âmbito das políticas de qualificação (Dieese, 1999, Anexo 3, Tabela 2).

A concentração de trabalhadores com baixa escolaridade, ou seja, com Io grau incompleto, ocorre principalmente nos grupos mais representativos, como os de vendedor de atacado e varejo, trabalhador de serviço e abastecimento, trabalhadores de comércio e outros. Este expressivo contigente de trabalhadores, que na maioria possui apenas os quatro primeiros anos de escolaridade básica, estão ficando numa condição vulnerável quanto à manutenção de seus empregos, e em caso de demissão, de serem novamente contratados.

De acordo ainda com a pesquisa, foi possível constatar que há uma tendência geral com relação às novas contratações, de dar preferência para os homens que possuem o Io grau completo, e para as mulheres com o 2°grau completo (Ibid, p. 125 e 169).

O SENAC, que é a instituição responsável pela qualificação dos comerciários, tem deixado de atender as pessoas que possuem apenas o Io grau, incompleto ou completo. A qualificação profissional desenvolvida pelo SENAC, está cada vez mais orientada para as pessoas que possuem o 2o grau.

Seguindo as determinações de mercado, esta instituição realiza cursos assim classificados: qualificação, habilitação, graduação e pós-graduação, nas áreas de maior demanda, o que leva à exigência de níveis maiores de escolaridade. Segundo esta instituição "não há programação de cursos para pessoas com apenas o l°grau , porque o mercado não absorve" (Ibid, p. 177).

Pelo levantamento realizado pela pesquisa fica clara a orientação do SENAC de excluir os trabalhadores com baixa escolaridade. Os cursos de qualificação na área de Administração e de Aperfeiçoamento à distância, exigem como escolaridade mínima o 2o grau completo. Os cursos voltados para: serviços de pessoal, contabilidade, secretário, almoxarifado e vendas, estão dirigidos para pessoas com, no mínimo, o 2°grau incompleto. Até mesmo para cursos como office-boy e telefonista a exigência de escolaridade é o 2°grau. A mesma exigência é aplicada para cursos com baixa carga horária, tais como: chefia e liderança, promoção de vendas, organização de eventos, gerência financeira, gerência de marketing e habilidades gerenciais (Ibid, p. 175).

Seguindo ainda na lógica do mercado, embora predominem pequenas e micro empresas no setor, são as médias e grandes empresas que mais apresentam demandas de qualificação para o SENAC. Isto ocorre tanto diretamente, através do treinamento de seus empregados, como indiretamente, ao estabelecerem um nível de qualificação maior no processo de seleção dos seus empregados, o que motivou o SENAC a criar um serviço de atendimento exclusivo, voltado para atender às exigências das grandes empresas (Ibid, p. 179).

Todos estes indicadores apresentados pela pesquisa do Dieese, com relação ao perfil dos trabalhadores do comércio e atuação do SENAC, interpelam os responsáveis pela formulação das políticas públicas de qualificação quanto à necessidade em dar um novo direcionamento ao atendimento das demandas do setor de comércio, frente às seguintes evidências:

> Atendimento prioritário e exclusivo aos trabalhadores com escolaridade inferior ao Io grau;

> Ações de qualificação voltadas para as microempresas do setor; > Cursos supletivos de primeiro grau, aliados à qualificação;

> Ações que tenham como foco, a qualificação para a atividade autônoma e informal no comércio, com vistas à possibilidade de geração de renda.

É com base nestes indicadores que a política de qualificação deve voltar sua atenção, com relação ao atendimento de demandas do setor de comércio. O setor de serviços assim como o de comércio, tem se contituído também em um forte catalizador de demandas do mercado de trabalho, que apontam tanto para a possibilidade de emprego como de geração de renda, razão pela qual toma-se necessária uma análise mais apurada de suas demandas.