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2 A QUESTÃO DE GÊNERO E O SISTEMA PENITENCIÁRIO: O TRATAMENTO

2.3 As demandas mínimas do Grupo LGBT+ e a necessária adequação do sistema

direito de identidade

As pessoas pertencentes ao grupo LGBT+ que estão em privação de liberdade vivem em uma situação de vulnerabilidade, motivo pelo qual merece uma atenção especial. Estes sujeitos são tratados de maneira inferior aos demais detentos e vivem em circunstâncias, que na maioria das vezes, violam os direitos humanos, correndo um enorme risco de sofrerem abusos e violência sexual. Na maioria dos estabelecimentos penais há presos LGBT+, todavia ainda são poucos em relação aos demais presos, em consequência, por estarem em menor número esses sujeitos acabam por enfrentar o descaso do Estado e do próprio sistema, quanto a sua proteção e suas necessidades específicas. (ANDRADE; FERREIRA, 2016, p. 120).

A legislação que estabelece o tratamento que deveria ser dispensado e efetivado à população LGBT+ privada de liberdade, pois a Declaração Universal dos Direitos Humanos dispõe em seu artigo 5º que nenhuma pessoa será submetida a penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes, ainda o artigo 7º da referida declaração estabelece que todos são iguais perante a lei, e sem distinção, têm direito a igual proteção da lei, contra qualquer discriminação e qualquer incitamento a tal discriminação. Ainda, o artigo 5º da Carta Magna,

em seu inciso XLI, determina que a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais, no inciso XLVIII, está disposto ainda, que a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado, e ainda no inciso XLIX é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.

Felizmente, há no Brasil a Resolução Conjunta nº 1, de 15 de abril de 2014, citada no tópico anterior, que traz medidas protetivas especialmente aos presos do grupo LGBT+. Essa resolução faz menção aos Princípios de Yogyakarta ou princípios sobre a aplicação da lei internacional de direitos humanos acerca da identidade de gênero e orientação sexual. Esses princípios foram criados em 2006, na Indonésia, por um grupo de especialistas em direitos humanos, visando proteger as minorias sexuais. O documento possui um total de 29 princípios acerca da temática. (PENAL REFORM INTERNACIONAL, 2013, p. 3).

O Princípio de Yogyakarta nº 09 fala do direito ao tratamento humano durante a detenção das pessoas pertencentes ao grupo das minorias sexuais (PENAL REFORM INTERNACIONAL, 2013, p. 19):

Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com humanidade e com respeito pela dignidade inerente à pessoa humana. A orientação sexual e identidade de gênero são partes essenciais da dignidade de cada pessoa.

A partir dessas considerações, passa-se a analisar a referida Resolução Conjunta nº 1/2014. Esta resolução, em seu artigo 1º, especifica que sua função é estabelecer parâmetros de acolhimento de pessoas LGBT+ em privação de liberdade. Em relação aos artigos seguintes da referida resolução, estão dispostas as recomendações que devem ser observadas pelos responsáveis da administração do estabelecimento prisional.

A primeira norma diz respeito ao direito que a pessoa travesti ou transexual presa tem de ser chamada pelo seu nome social, de acordo com o seu gênero, que inclusive, deverá constar no registro de admissão do estabelecimento prisional. (BRASIL, 2014a).

Em relação aos gays, travestis e transexuais que cumprem pena em estabelecimentos penais masculinos, em decorrência de sua especial vulnerabilidade e por garantia de sua segurança, deverão ter espaços específicos reservados a eles. Esse espaço não pode ser

destinado à aplicação de medidas disciplinares, bem como para que seja efetivada a transferência da pessoa para ambiente específico, deverá haver a expressa manifestação de vontade por parte desta. (BRASIL, 2014a).

Quanto às demandas mínimas da população LGBT+, pode-se elencar as mais importantes, como a possibilidade de as pessoas transexuais serem encaminhadas para estabelecimentos prisionais femininos, visando garantir a proteção desses sujeitos. A resolução também aponta que às mulheres transexuais deve ser garantido tratamento isonômico entre as demais mulheres que se encontram presas, objetivando o princípio constitucional da igualdade que versa que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Ainda, para as pessoas transexuais ou travestis é assegurado que estas podem escolher qual vestes irão escolher, uso de roupas femininas e masculinas conforme o seu gênero, da mesma forma é garantida a manutenção dos cabelos compridos, aos que desejarem, garantindo suas características secundária conforme sua identidade de gênero. (BRASIL, 2014a).

Para a população carcerária LGBT+ é garantido o direito à visita íntima, assim como é estabelecido para os demais apenados, é garantida atenção integral à saúde, observando a manutenção do seu tratamento hormonal e acompanhamento médico específico. (BRASIL, 2014a).

A Resolução 1/2014 ainda dispõe que é garantido aos apenados LGBT+, o acesso e a continuidade se sua formação educacional e profissional, em iguais condições aos demais presos. O Estado, como órgão garantidor, deverá oferecer a capacitação continuada aos profissionais dos presídios levando em consideração os direitos humanos, os princípios de igualdade e não-discriminação, inclusive em relação à identidade de gênero dessas pessoas e sua orientação sexual, cumpre destacar que serão considerados tratamentos desumanos e degradantes qualquer castigo, transferências entre celas ou alas, ou sanções que sejam em razão da condição da pessoa LGBT+. Outra garantia é quanto ao benefício de auxilio- reclusão, que será em igualdade de condições para os dependentes do recluso segurado, inclusive ao cônjuge ou companheiro do mesmo sexo. (BRASIL, 2014a).

Portanto, legalmente se tem a premissa da proteção e respeito aos detentos do grupo LGBT+, porém, na prática há muita disparidade, em consequência da atual situação do

sistema penitenciário, haja vista que há muitos transexuais cumprindo sua pena em unidades penitenciárias masculinas e sem nenhum amparo necessário. As diferenças encontradas em presídios masculinos e femininos são notórias, pois o homem, transexual, travesti ou homossexual sofre repressão e é maltratado de maneira bem mais significativa em relação aos detentos heterossexuais em razão do seu gênero.

Acerca das questões da homossexualidade feminina no sistema carcerário, a autora Nana Queiroz, em sua obra, leciona que:

A homossexualidade nas prisões femininas é consideravelmente maior do que nos presídios masculinos. Em 1983, um estudo já estimava que ela girasse em torno de 50%. Hoje, após uma relativa liberação sexual, o fortalecimento do movimento gay e o aumento da aceitação, os casos ficaram menos clandestinos. Isso não quer dizer, de maneira alguma, que as homossexuais cometam mais crimes, mas que, para as mulheres, ao menos na cadeia, a afetividade pode moldar — e, por que não, expandir — a sexualidade. São, em sua maioria, mulheres que se consideravam heterossexuais antes da detenção e afirmam que, ligadas pelo companheirismo, o apoio na depressão e no medo, se envolveram com outras mulheres. Nessas parcerias descobrem novos desejos e, às vezes, o amor. Algumas chegam a dizer que não são, mas “estão lésbicas”. (QUEIROZ, 2015, p. 143).

Ainda, cumpre dizer que há uma significativa diferença entre o sistema penitenciário masculino do feminino, posto que a maioria dos homens têm relações homossexuais por meio de estupros, prostituição e de aventuras passageiras, já as mulheres, ao se relacionarem homossexualmente acabam construindo relações e laços afetivos com as outras mulheres. (QUEIROZ, 2015, p. 143).

Segundo Beatriz Drague Ramos (2017) as opressões e vulnerabilidades sentidas pelas pessoas LGBT+ no sistema prisional são corriqueiramente narradas por ex-detentas. Em São Paulo, no final de junho de 2017, durante o debate “Sistema Penitenciário e a população LGBT+” a transexual Verônica Bolina, ex-apenada, sofreu humilhação e foi torturada por policiais, seu caso teve repercussão após as fotos e vídeos da agressão terem sido virais nas redes sociais. A ex-presidiária transexual narra que as condições dentro do sistema prisional são desumanas:

Se aqui fora existe preconceito, lá dentro é a treva de preconceito. Vi meninas se prostituírem por causa de um sabonete, para escovar os dentes. A saúde é totalmente precária, se você está com alguma coisa, vai morrer lá

dentro. Nós que somos transexuais, é só prostituição, e isso gera uma revolta dentro da gente. A pessoa que não tem apoio familiar, não tem apoio psicológico, lá dentro ela sofre mais ainda.

Paulo Santos Sampaio Santana (2016, p. 52), aborda que, muito embora a Resolução Conjunta nº 1/2014 demonstre um avanço nas normas que protegem a comunidade LGBT+ privada de liberdade, na prática nem sempre as determinações impostas são realmente efetivadas. Nos últimos anos o número de políticas públicas direcionadas à população LGBT+ teve um significativo aumento, todavia ainda é sabido que apesar dos avanços das políticas públicas, o sistema prisional brasileiro é muito precário, o que acaba gerando uma desconexão com a realidade encontrada nos presídios.

De acordo com os autores Uliana Lemos de Paiva e Jahyr-Philippe Bichara (2013, p. 03), a sociedade civil cada vez mais se distancia da esfera do sistema prisional, porquanto que a segregação de indivíduos do meio social progressivamente vem aumentando de modo significativo, acaba ocorrendo esse distanciamento que gera e acarreta um generalizado descaso com esses sujeitos. A partir do momento em que são presos e inseridos no sistema prisional, os apenados são totalmente esquecidos pela sociedade, que não demonstra se importar como eles vivem ou sobrevivem, ou se há respeito aos princípios elencados na Constituição Republicana, bem como se há respeito quanto ao princípio da dignidade da pessoa humana ou, se até mesmo, as regras da Lei de Execuções Penais são atendidas.

Pâmela Copetti Ghisleni (2014, p. 197), leciona que a pessoa desde o princípio de sua inserção no sistema prisional perde o vínculo existente com a sua vida externa, logo, tem ferida a sua personalidade e sua autonomia, isso revela que ela é privada de possuir pressupostos mínimos de pertencimento à sociedade. O objetivo da pena de prisão é fazer com que o apenado se adeque às regras sociais de convivência para que, após o período de encarceramento, ele possa voltar reabilitado para o meio social, entretanto o sistema prisional não encontra conexão com a finalidade que propõe, uma vez que a ideia da prisão não está em conformidade com a vida em liberdade.

Nesse contexto Andrade e Ferreira (2015, p. 123) lecionam que:

[...] a partir do momento em que existe uma prisão onde se retira a liberdade do cidadão e não se respeita os demais direitos universais, de imediato se está trabalhando de forma antagônica para recuperar esta pessoa. Diante de

todas as questões supracitadas atuais nos presídios brasileiros, os quais não são exclusivos apenas do Brasil, mas também dos cárceres de muitos outros países, se entende que a procura de alternativas para extirpar, ou pelo menos diminuir o caos instalado, vem se tornando a grande missão do Estado e daqueles preocupados na matéria.

Por existir tantos problemas relacionados às unidades prisionais do Brasil, é que se defende a ideia de se buscar soluções para tratar ou, ao menos, amenizar essas situações mediante um planejamento estratégicos. Nesse sentido, o Departamento Penitenciário Nacional – DEPEN, criou e aprimorou o Plano Diretor de Melhorias para o Sistema Prisional, que objetiva a integração dos órgãos da esfera estadual e federal, fortalecimento institucional e administrativo dos órgãos da execução penal, o qual visa a uniformização e o melhoramento do atual modelo prisional.

O Plano Diretor de Melhorias para o Sistema Prisional merece destaque pois possui 16 objetivos estratégicos, através deles cada unidade traçará um plano com intuito de adequar a realidade das casas prisionais no país, quais sejam eles:

Assistência jurídica aos presos provisórios, condenados e internados que comprovem a insuficiência de recursos para constituir advogado, esses sujeitos têm direito à assistência jurídica, que deve ser ampliada e efetivada para atender à Constituição Federal e a Lei de Execução Penal. O objetivo estratégico do Plano Diretor visa a ampliação da oferta dessa assistência aos presos. (BRASIL, 2014b).

Aplicação de penas restritivas de direitos e medidas alternativas à pena de prisão, cuja sanção penal é de curta duração, de 0 a 4 anos de condenação, para crimes praticados sem violência, nem grave ameaça. A aplicação das penas e medidas alternativas à prisão deve ser fomentada como forma de contribuir para a diminuição da superlotação dos estabelecimentos penais, impedindo a entrada de pessoas que cometeram crimes de menor potencial ofensivo no cárcere, bem como diminuindo o percentual de reincidência criminal. (BRASIL, 2014b).

As comissões técnicas de classificação deverão ser criadas em cada estabelecimento prisional, atendendo ao princípio da individualização da pena, disposto no texto constitucional, em seu art. 5º, inciso XLVI. A classificação do preso condenado deverá ser realizada atendendo aos critérios de antecedência e personalidade, como forma de orientar a individualização da execução penal, conforme os artigos 5º e seguintes da LEP. Neste sentido,

deve ser observado também quanto as medidas adequadas para assegurar a proteção e integridade física de pessoas com orientações sexuais e identidade de gênero diversas, quando da sua inserção no sistema prisional. (BRASIL, 2014b).

A importância da participação do Conselho da Comunidade, que é um dos órgãos da execução penal, previsto no artigo 61 da LEP, que representa a sociedade ao acompanhar o cumprimento da pena desde o ingresso do preso no estabelecimento prisional até o seu retorno ao convívio social. Tem por objetivo acompanhar e diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para uma melhor assistência ao preso ou internado. (BRASIL, 2014b).

Visando a diminuição do déficit de vagas em unidades prisionais, os estados e Distrito Federal devem adotar práticas planejadas de construção e ampliação dos estabelecimentos. Visando um espaço para melhor cumprimento da pena, a modernização dos estabelecimentos prisionais é efetivada, também, através do aparelhamento e do reaparelhamento, com a aquisição de equipamentos, veículos e outros. (BRASIL, 2014b).

A ouvidoria do sistema prisional atua direta e indiretamente nos estabelecimentos penais, e representa o canal de comunicação entre a sociedade e os órgãos estaduais responsáveis pela administração do sistema. (BRASIL, 2014b).

As escolas de administração prisional devem ter como objetivo geral fornecer elementos teóricos e práticos que permitam a formação integral, a capacitação profissional e a construção de uma identidade específica do profissional do sistema prisional, possibilitando a valorização e o pleno desenvolvimento da sua função social e institucional e contribuam para a segurança e reinserção social das pessoas presas, de acordo com o disposto na Lei de Execução Penal e com pleno respeito aos direitos humanos. (BRASIL, 2014b).

Os órgãos estaduais de administração prisional devem efetivar a integração do sistema de gestão prisional local com a base nacional e fornecer dados estatísticos ao Departamento Penitenciário Nacional, com o objetivo de interligar todos os estabelecimentos prisionais ao DEPEN e obter um panorama atualizado sobre a situação prisional e processual dos presos e internados no território brasileiro. A partir da integração de dados haverá maior eficiência e visibilidade no acompanhamento das penas e da realidade de cada estabelecimento prisional. (BRASIL, 2014b).

Os órgãos estaduais de administração prisional devem criar e instituir carreiras próprias para os profissionais que atuam no sistema, promover a profissionalização desses, bem como fomentar a realização de concursos públicos, visando ampliar o quantitativo de recursos humanos a serviço do sistema prisional e evitar ou minimizar a atuação de funcionários sem vínculo com o governo. (BRASIL, 2014b).

As unidades da federação devem criar, implantar e acompanhar as ações e atividades desenvolvidas pelos patronatos ou órgãos equivalentes, com vistas ao apoio ao egresso do sistema penal. (BRASIL, 2014b).

É responsabilidade dos órgãos estaduais de administração prisional, em parceria com secretaria estadual, o oferecimento de assistência à saúde do preso e do internado, em conformidade com a Política Nacional de Saúde no Sistema Prisional. Bem como o oferecimento da educação nos estabelecimentos prisionais, que é dever do Estado, com vistas à prevenção do crime e orientação do preso ao retorno à convivência em sociedade. A educação nas prisões tem como objetivo aumentar o índice de alfabetização e ampliar a escolarização dos presos. (BRASIL, 2014b).

Os direitos sociais, de acordo com o art. 6º da Constituição Federal são: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. Conforme o presente objetivo estratégico do Plano Diretor, deve-se ampliar a oferta de mão de obra intramuros e extramuros e oferecer cursos de capacitação profissional para os presos. (BRASIL, 2014b).

Os órgãos estaduais de administração prisional devem ofertar assistência social às famílias dos presos, com vistas à orientação e amparo, quando necessário, conforme art. 23, VII da Lei de Execução Penal. (BRASIL, 2014b).

Todas as unidades da federação, por meio do órgão estadual responsável pela administração prisional, devem elaborar e efetivar a execução de uma política estadual de garantia dos direitos das mulheres presas e egressas do sistema prisional, no que tange à melhoria da situação do sistema criminal e penitenciário feminino nas áreas da saúde,

educação, profissionalização, atendimento diferenciado à gestante, à parturiente, à criança e outros. (BRASIL, 2014b).

Desta análise aos objetivos do Plano Diretor, é perceptível a intenção do Governo brasileiro em tentar encontrar soluções para os problemas encontrados no cárcere. Entretanto as causas desses infortúnios começam fora do sistema carcerário, posto que a desigualdade social fomenta a violência, analfabetismo, desemprego, uso de drogas, roubos, assassinatos e outros crimes que levam à prisão. Deste modo, a principal ação para evitar que mais pessoas sejam privadas de sua liberdade é a buscar um maior investimento em educação, em saúde e em ações sociais, desta forma solucionando as questões de cunho social diminuiria significativamente a criminalidade no país.

Neste viés, Andrade e Ferreira (2015, p. 128) lecionam que

Mesmo com a Constituição Federal e diversos códigos e estatutos, assegurando o acesso à educação, moradia, saúde, segurança pública, além de autonomias econômicas e ideológicas, o fato que se vê ainda é distante do que se reza nos direitos do cidadão brasileiro no que concerne à erradicação da desigualdade social neste país, em constante crescimento econômico e político. Entende-se, desta forma, que a problemática que envolve a crise no sistema prisional brasileiro poderia ser solucionada quando a sociedade e os governantes começarem a perceber que se faz necessário solucionar por primeiro as questões de cunho social, o que diminuiria substancialmente o índice da desigualdade social e, por conseguinte, o índice da criminalidade. Destarte, menos pessoas adentrariam ao cárcere, fazendo com que o sistema seja mais fácil de ser administrado.

Pelo exposto anteriormente, é possível perceber que há intenção do governo em apresentar soluções para a problemática suscitada. O plano diretor expõe propostas de baixo custo de planejamento e execução, o que resta claro que se aplicado efetivamente seria muito útil na promoção de políticas públicas o que implicaria em um tratamento melhor para as minorias que se encontram em privação de liberdade, principalmente os LGBT+s.

A partir da implementação da Resolução Conjunta nº 01, de 2014, que estabeleceu paramentos de acolhimento aos presos LGBT+s, dentre as determinações impostas está a implementação de alas específicas para o cumprimento da pena, a seguridade da integridade física, psicológica e a proteção ao direito de expressão de sua identidade individual, a garantia de tratamentos específicos, uso de roupas e manutenção de cabelos conforme o gênero. A

respeito da implementação da Resolução, houveram melhoras e mais visibilidade para essa minoria no âmbito do cárcere, porém ainda faltam mecanismos capazes de realizar fiscalização dessas medidas que foram propostas, tendo em vista que nem todas os presídios brasileiros possuem estrutura física e recursos para oferecer espaços e tratamentos específicos à população prisional LGBT+.

Sendo assim, para que haja uma política efetiva quando ao tratamento dispensado aos apenados LGBT+s, é muito importante que haja movimentos sociais que versem sobre as mazelas do sistema prisional e sejam sensíveis com as questões relacionadas ao gênero e sexualidade, para que haja promoção de tratamentos adequados que visem a proteção dos direitos inerentes à pessoa presa pertencente ao grupo LGBT+.

CONCLUSÃO

A presente pesquisa iniciou-se com uma análise acerca da execução da pena no atual sistema penitenciário brasileiro. Através do estudo do histórico da pena privativa de liberdade, pode-se verificar que nos tempos antigos não existia a privação de liberdade como pena, a prisão era utilizada como método de custódia dos delinquentes, em que objetivava-se deter a pessoa até sua execução, tendo em vista que na época as sanções eram penas de morte ou penas corporais. A pena privativa de liberdade somente tornou-se a principal maneira de punir os criminosos por volta do século XIX, em face da exclusão da pena de morte do nosso ordenamento jurídico. Surgiu então um sistema organizado pelo Estado, enquanto responsável da ordem e da justiça, no qual se visava proteger a comunidade e também o criminoso, posto que não era mais viável a vingança privada. Pode-se perceber que os sistemas de punição

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