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ECONOMIA SOLIDÁRIA

4.2.2 As dificuldades dos GCR

Os GCR, assim como todo empreendimento, também possuem suas dificuldades, as quais também foram objeto de análise na referida pesquisa, a seguir relatadas82.

A primeira questão a ser analisada é a sustentabilidade econômica do grupo, a qual não figura como dificuldade para grande parte dos GCR, uma vez que apenas 3 dos 11 pesquisados afirmaram enfrentar problemas neste sentido. Desses três grupos, um relatou dificuldade para pagar custo com espaço físico, um segundo grupo revelou dificuldade para pagar pessoa para a gestão o grupo, enquanto outro grupo manifestou dificuldade em alcançar seu ponto de equilíbrio (o pagamento de todas as contas relativas ao grupo)83. Tais GCR com as citadas dificuldades provavelmente possuem pouca ou nenhuma parceria nesses campos, ou não possuem consumidores suficientes às necessidades do grupo. Esse dado revela, também, que a maioria dos grupos não pretende consistir na atividade principal dos integrantes; apenas 2 GCR apontam para a possibilidade de pagamento de pessoal, embora a maioria dos grupos possuam voluntários.

Nota-se que a flexibilidade na gestão e estrutura faz com que os GCR tenham poucos custos, diminuindo a dificuldade no quesito sustentabilidade. Ainda que haja uma margem

79 Pergunta com opção de escolha única. A pergunta original foi ―O grupo de consumo tem algum engajamento político/causa enquanto grupo?‖

80

Pergunta com opção de escolha única. A pergunta original foi ―O grupo atua em rede com outros grupos de produtores e/ou consumidores?‖

81 Pergunta com possibilidade de múltipla escolha das respostas.A pergunta original foi ―Com que parcerias o grupo conta?―

82 Essas questões foram abertas e foi feita uma compilação por área das respostas. 83 Não fica claro na resposta o que envolve esse ponto de equilíbrio.

pequena de contribuição em cima dos produtos, os grupos aparentemente conseguem pagar as contas (se é que as tem). Esta afirmação pode ser fortalecida a partir dos dados coletados pelo Instituto Kairos (2013), no qual os GCR afirmam funcionar sem nenhum tipo de auxílio financeiro externo; dos 14 grupos pesquisados, apenas 4 afirmaram ter algum tipo de apoio público.

Por outro lado, um das principais dificuldades apontadas é encontrar pessoas que topem contribuir na organização da atividade do GCR. Como já dito, tais grupos são formados por um número já pequeno de pessoas, tornando-se difícil encontrar voluntários suficientes para contribuir nas ações e articulações para o fortalecimento e crescimento do grupo (incluindo ações com produtores, de comunicação externa, etc.). Essa insuficiência faz com que haja um grande número de tarefas sem ter quem as execute, comprometendo o funcionamento básico do grupo; os principais reflexos são a falta de volume no consumo, comprometendo questões como o pagamento de pessoas para a gestão do grupo ou mesmo a logística.

A rotatividade dos consumidores também é um fator que influi no engajamento das ações dos GCR, bem como uma das responsáveis pela falta de pessoas na gestão do grupo. Esta rotatividade ocorre por diversos motivos: pela dinâmica de vida das pessoas que se mudam da localidade; por elas não se habituarem à forma de organização do grupo ou aos produtos consumidos; por alguns acharem incomôdo carregar sacola de alimentos até sua casa; pela diferença do produto com relação ao que estão habituados (a ―cor‖ da tangerina não ser tão forte como a vendida no supermercado, por exemplo); por alguns não se adaptarem com relação à gestão ou não poderem viver do trabalho voluntário; dentre outros fatores. É o processo continuado de formação que permite a estabilidade e expansão da rede e, conseqüentemente, fortalece a produção, dando maiores garantias e possibilidades aos produtores (BERMEJO; TOMCHINSKY, 2014).

A logística, assim como nos EES, também aparece como uma das principais dificuldades enfrentadas pelos GCR, em especial para os produtos processados. Porém, para os GCR, a dificuldade da logística está na aquisição do produto e não no seu escoamento ou consumo. A dificuldade da logística é um problema de toda a economia solidária (os empreendimentos têm dificuldade de escoar sua produção e os GCR têm dificuldades em adquirir, inclusive desses mesmos EES). Por incrível que pareça, essa dificuldade está presente também nas ―pequenas‖ distâncias, como dentro do próprio Estado. Uns grupos afirmaram que há problemas na relação entre o campo e a cidade, por possuírem tempos distintos e por haver falta de informação do grupo para lidar com a logística, não possuindo

informações sobre qual a melhor forma de transporte para a quantidade e característica do produto. Há ainda produtores em locais não atendidos pelas transportadoras e os transportes de ―vizinhos‖ ser muito caro. Alguns GCR também não possuem quantidade de consumo suficiente para que o valor da entrega seja razoável ao valor unitário do produto.

Outra dificuldade detectada é a falta de diversidade de produtos. A intenção dos GCR é vender somente produtos de origem solidária e ecológica, mas nem sempre é possível, seja pela diversidade ao longo do ano ou por não conseguirem encontrar alimentos in natura em sua região. Além de haver poucos produtores, ainda há a falta de pessoas no grupo para realizar um mapeamento de produtores solidários e ecológicos e fomentar a criação desses empreendimentos na região (PISTELLI, 2010).

Na aquisição de produtos para além do seu território, seja com empresas ou com outros EES, falta aos grupos a ―simples‖ formalização que algumas vezes necessária para a venda nas condições do atacado. É de se estranhar que essa dificuldade exista na relação com EES, mas pela distância e pelo desconhecimento da proposta do grupo de consumo, os empreendimentos acabam adotando critérios gerais a todos os compradores.

Outras dificuldades apontadas pelos grupos foram a falta de apoio público, os problemas nas relações interpessoais nas ação de trabalho coletivo e não conseguirem organizar discussões políticas ou atividades de promoção ao consumo responsável, provavelmente pela falta de pessoas na gestão do grupo.