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2 OS PERCURSOS DE MERCANTILIZAÇÃO DA FINLANIDADE

2.1 IMPRESSÕES SOBRE A VIDA NA COLÔNIA ATÉ 1942

2.1.4 As dificuldades financeiras

O dinheiro sempre foi, até o fim do projeto, uma dificuldade, pois não havia grandes investidores. Isso levou Toivo Uuskallio a contrair empréstimos e, posteriormente, em 1942, a terminar o projeto, com a venda da fazenda Penedo.

A questão financeira sempre foi um problema, pois tudo que era adquirido, inclusive a propriedade, foi fruto da arrecadação dos participantes e de amigos (HILDÉN 1989; VALTONEN 1998; FAGERLANDE 2007). Conforme dito por diversas fontes40, Toivo Uuskallio e o pastor H. D. Pennanen viajaram toda a Finlândia e alguns países41 na busca de recursos financeiros. Eva Hildén (1989) conta que a maior preocupação dos imigrantes era a quitação da fazenda. Segundo ela, a propriedade foi adquirida da seguinte forma:

Uuskallio pagou o sinal da compra da Fazenda Penedo, 1.000 libras esterlinas, em 5 de dezembro de 1928, e mais 5.000 libras em janeiro de 1929, quando foi feita a escritura de promessa de compra e venda entre Toivo Uuskallio e a abadia de Nullius da Nossa Senhora de Monte Serrat. Os amigos da Finlândia ficariam encarregados de levantar entre si mais 3.000 libras esterlinas, o restante do pagamento da fazenda, que deveria ser pago no prazo de seis meses a partir da data de escritura (HILDÉN, 1989, p. 25).

40 Esta informação é relatada por Eva Hildén (1989); Eila Ampula (1997); Nilo Vantonen (1998); Aparecida Cerqueira (2005); Sérgio Fagerlande (2007); e Lila Praça de Carvalho (2014).

41 Os países visitados eram aqueles que tinham colônia de imigrantes finlandeses como os Estados Unidos e Canadá.

79 Na data prevista para o pagamento final, no dia 28 de julho de 1929, não havia recursos suficientes. Porém, conseguiu-se prorrogar o prazo até o dia 28 de setembro do mesmo ano (HILDÉN, 1989). Na referida data, ainda não havia quantia disponível para saldar a dívida e houve mais uma prorrogação da data, para 15 de outubro de 1929.

Graças aos recursos conseguidos na Finlândia, fruto de doações e de pagamentos de futuros interessados em adquirir um terreno para vir ao Brasil, a dívida foi quitada na última data prevista. Toda essa mobilização na Finlândia foi feita principalmente pelo Pastor H. D. Pennanen. Ele escrevia nos jornais locais sobre a necessidade de recursos para Penedo. Seus artigos sensibilizaram muitas pessoas a contribuir:

A exigência parecia dura e Pennanen continuou ansiosamente procurando financiadores, rezando muito e pedindo a ajuda de Deus. Ele recebeu uma carta comovente, onde uma senhora já de certa idade escreveu que tinha lido na revista Tyokansa sobre a necessidade de mandar dinheiro para Penedo e ela, desejando ajudar nesta causa nobre, ofereceu a quantia de dois mil marcos que tinha guardado para a compra de uma nova capa de inverno. [...] Um homem mandou o dinheiro da venda do seu relógio de ouro e deduas alianças, asua e a da esposa: “Por que nós usaríamos estas futilidades quando o dinheiro pode ser usado para ajudar a causa de Penedo? (HILDÉN, 1989, p. 44).

Conforme mostra o trecho retirado das memórias de Eva Hildén (1989), houve ajuda de pessoas para o projeto que não tinham recursos para fazê-lo, mas que estavam dispostas a se sacrificar para que seus compatriotas pudessem sobreviver no país estrangeiro.

O alívio durou pouco tempo. A fazenda estava paga, mas as despesas com “a lavoura, as construções, a compra de equipamentos, e a pensão com cerca de cem pessoas tinham consumido os recursos” (HILDÉN, op. cit., p. 43). Os investimentos haviam sido “grandes”, conforme relata Hildén (ibid., p. 56) e ainda “demorariam” para serem obtidos os retornos dos valores.

Todavia, a maior fonte de despesa não foram os investimentos na fazenda e sim com a desistência inesperada de uma parcela significativa dos participantes. Esta foi a principal causa das dificuldades financeiras. Era necessário devolver o que foi investido por estas pessoas e “Uuskallio quis cumprir rigorosamente o prometido” (HILDÉN, op.

cit., p. 56). Naquele mesmo ano, Toivo Uuskallio conseguiu obter no Brasil um

empréstimo com o diretor da Associação Cristã de Moços chamado Henry Lichtwardt. Como garantia de pagamento, ele hipotecou a fazenda para seu credor. O valor concedido foi o suficiente para devolver o dinheiro daqueles que desistiram do projeto até aquela data e para dar continuidade aos trabalhos na fazenda (HILDÉN, ibid.).

80 No dia 14 de junho de 1932, a hipoteca da fazenda feita ao Sr. Lichtwardt vencia e não havia dinheiro para pagá-lo. Toivo Uuskallio, naquele mesmo ano, viajou aos Estados Unidos na tentativa de conseguir com as colônias finlandesas de lá uma ajuda financeira. Ele não conseguiu obter os recursos desejados por conta da recessão econômica que o país sofria (HILDÉN, op. cit.). Conta Gustavo Praça (2016) que o real motivo da não obtenção de recursos foi sua má fama, divulgada nos jornais finlandeses locaispoucos dias antes de chegar ao país visitado. Como não havia outra saída, Toivo Uuskallio tentou prorrogar a dívida. Conseguiu-se adiar o pagamento para um prazo máximo de dois anos. Mesmo não estando em plena satisfação com as cláusulas estabelecidas, Eva Hildén conta que Toivo Uuskallio não tinha alternativa e “foi obrigado a concordar” (HILDÉN, 1989, p. 60).

Diante dessa situação, Toivo Uuskallio resolveu montar uma diretoria42 que o ajudasse a pensar em meios para pagar as dívidas e tirar Penedo das dificuldades financeiras. A principal fonte de renda da fazenda ainda estava nas atividades agrícolas, especificamente no enxerto de laranjeiras. A diretoria manteve a aposta nessa atividade como a principal para obtenção de rendimentos para a colônia. Paralelo a ela, resolveu- se abrir atividades secundárias que poderiam complementar a renda da enxertia:

A principal fonte de renda seria sempre a produção de enxertos de laranjeiras, mas não deveriam se dedicar a um só ramo, era necessário diversificar as atividades. Resolveu-se começar em pequena escala a criação de gado, suínos e avicultura. Era preciso aproveitar também os produtos florestais: lenha, carvão vegetal e madeira de lei. Cogitou-se a exportação de banana- passa e bucha para a Finlândia.

Na Casa Grande da Fazenda foi organizada uma pousada para receber hóspedes. (HILDÉN, 1989, p. 61)

É nesse momento de dificuldades financeiras que algumas atividades que não estavam previstas ou não eram aceitas apareceram como medida de emergência para salvar economicamente o projeto. A recepção de visitantes pagantes foi uma delas. A hospedagem, praticada antes esporadicamente para receber finlandeses, foi aberta às demais pessoas que se interessassem a visitar Penedo.

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