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Capítulo II Cuidar de idosos

2. As dificuldades inerentes à profissão

O cuidar de idosos acarreta as suas dificuldades, em especial quando o idoso sofre de alguma demência. Deste modo, segundo investigações levadas a cabo por Barbosa et al. (2011), as principais dificuldades apresentadas pelos cuidadores formais são: a interacção com o utente; o desconhecimento da doença; a falta de tempo e de recursos humanos; o impacto emocional e físico; a dificuldade de organização; o planeamento de actividades; e a interacção com a família dos utentes.

Tendo como base a estimativa mundial que aponta para 24 milhões de pessoas com demência, com tendência a duplicar a cada 20 anos (Ferri et al., 2005, citados por Barbosa et al., 2011), a institucionalização do idoso apresenta-se como a única alternativa quando as capacidades cognitivas e motoras estão comprometidas e o meio familiar não consegue acarretar todos os cuidados que o mesmo obriga. Se a tendência

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for mantida, o número de idosos com demência irá aumentar nas Instituições e como tal existe a necessidade de organizar as mesmas e de apostar na formação e na qualidade de vida dos cuidadores formais (Kushe et al., 2007, citados por Barbosa et al., 2011). O cuidar de idosos demenciados tem consequências para o cuidador, designadamente níveis de stress, sobrecarga física (Rolland et al., 2007, citados por Barbosa et al., 2011) e insatisfação laboral nos cuidados formais, que derivam da dependência dos idosos, dos distúrbios comportamentais como discurso repetitivo, da agitação entre outras características da demência (Davison et al., 2007 e Kuske et al., 2009, citados por Barbosa et al., 2011).

Os programas de formação para cuidadores, que englobam a aquisição de competências e conhecimentos são cada vez mais postos em acção, sendo uma mais- valia para a qualidade do cuidado ao idoso. Porém, o stress e a sobrecarga emocional de quem cuida são normalmente desvalorizados, sendo que a qualidade de vida do cuidador é um aspecto com extrema importância e que necessita de ser tido em conta em programas de formação para os mesmos. Assim, “programas que integram informação e suporte emocional são os mais eficazes na melhoria das competências dos cuidadores formais e da qualidade dos cuidados prestados” (Davison et al., 2007, citados por Barbosa et al., 2011, p. 120). Oswald, Gunlmann e Ackermann (2007, citados por Barbosa, 2011) afirmam que “a abordagem de reabilitação, focalizada na maximização das capacidades do idoso com demência e na interacção idoso-cuidador é determinante para a promoção e manutenção da mobilidade, da funcionalidade e da estimulação dos idosos e para a diminuição da sobrecarga física e psicológica dos cuidadores formais” (p.121).

A investigação levada a cabo por Barbosa et al., (2011) demonstra que a maioria dos cuidadores formais não possuem uma formação específica para o cuidado ao idoso com demência. Contudo, os mesmos referem terem competências, sendo que estas advêm da experiência que possuem e da interacção estabelecida com aqueles que prestam serviço em Instituições para idosos há mais tempo. As dificuldades de comunicação e interacção com o idoso com demência são dificuldades apontadas pelos cuidadores, porém outras são referidas como é o caso de: lidar com distúrbios comportamentais; a falta de tempo pelo acumular de tarefas; a falta de recursos disponíveis (em especial de recursos humanos para o atendimento personalizado de cada idoso); o planeamento de actividades; a interacção com os familiares e o pouco envolvimento destes na dinâmica institucional.

Capítulo II – Cuidar de idosos

23 A sobrecarga de trabalho é uma dificuldade referida em praticamente todos os estudos elaborados na área do cuidado formal a idosos.5 Os trabalhadores em Instituições de Acolhimento de Idosos referem constantemente a falta de tempo para desempenhar as actividades de que estão encarregues, o que se vai repercutir no atendimento ao idoso, prejudicando esse atendimento assim como a sua própria qualidade de vida. O cansaço, o stress, a preocupação, a ansiedade, o aparecimento de sintomas/doenças e as mudanças no seu quotidiano e auto-estima são os sintomas apresentados por quem cuida constantemente de idosos (Colomé et al., 2011). O facto de muitos trabalhadores acumularem funções dentro da Instituição contribui para este desgaste a nível físico e psicológico, havendo uma necessidade de repensar as questões organizacionais o que passa por contratação de novos cuidadores ou, não sendo possível, através de uma distribuição mais equitativa das tarefas.

Um outro aspecto que nos parece importante refere-se ao facto de que devido a factores de organização institucional como é o caso de falta de cuidadores nas instituições, a existência de barreiras arquitectónicas, entre outros, a autonomia do idoso entrar em declínio de uma forma mais rápida pois nem sempre o exercício autónomo das actividades básicas da vida diária é estimulado. Este facto leva a uma dependência do idoso e consequentemente a um maior tempo dispensado pelo cuidador com o mesmo. Victor et al. (2007, citados por Colomé et al., 2011) referem a importância da presença de profissionais como médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, educadores e outros para a diminuição da sobrecarga dos cuidadores, pois os mesmos desenvolvem estratégias que vão ao encontro do bem-estar, das interacções sociais e da auto-estima tanto dos idosos com dos próprios cuidadores, através do planeamento e execução de actividades físicas, recreativas, interactivas e sociais.

A falta de conhecimento relativamente a alguns cuidados, em especial daqueles que apresentam alguma patologia ou necessidade especial, é outro aspecto comum em cuidadores a desempenhar funções em Instituições para idosos (Colomé et al., 2011). Como tal, é necessário apostar na formação destes profissionais em aspectos mais básicos relativos ao processo de envelhecimento, características de demências específicas, formas de comunicar com os idosos, cuidados práticos e outros semelhantes, assim como em aspectos de trabalho em equipa, de desenvolvimento de

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Como é o caso do levado a cabo por Colomé et al. (2011) intitulado Cuidar de Idosos Institucionalizados: características e dificuldades dos cuidadores e Cuidar de idosos com demência em instituições: competências, dificuldades e necessidades percepcionadas pelos cuidadores formais, de Barbosa et al.

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auto-estima e, de um modo geral, que propiciem uma qualidade de vida a quem envolve grande parte do seu tempo cuidando de quem apresenta as suas limitações e necessita de cuidados especiais.

Os cuidadores a sofrerem de problemas associados à sua actividade laboral são uma realidade e como refere Haley (2001) a afectação proveniente das tarefas inerentes à sua profissão levarão a dificuldades ao nível pessoal e familiar e como tal irão incidir no acto de cuidar, instalando-se assim uma espécie de círculo vicioso. A ansiedade e a depressão (outros aspectos negativos recorrentes no cuidador) são mais prováveis quanto maior a dependência física e as perdas a nível mental do paciente, assim como o baixo apoio social e o tempo que se exerce a tarefa (Serrano, 2003, citado por Paulino et al., 2009).

Assim, é crucial o conhecimento sobre a demência em questão, formas de actuação e cuidados especiais, pois a escassez do mesmo levará a dificuldades de interacção com o idoso, negligenciando o seu cuidado (Paulino et al., 2009), levando igualmente a situações de frustração no próprio cuidador.

Um outro aspecto importante refere-se ao facto dos cuidadores que não se envolvem emocionalmente com os idosos e com os seus familiares apresentarem valores ligeiramente superiores de stress em comparação comaqueles que possuem um maior envolvimento com o idoso e com a sua família, podendo-se constatar que a relação estabelecida entre cuidador-idoso-família do idoso é importante em questões de qualidade de vida laboral e como tal factor de protecção para o aparecimento de situações de stress no cuidador(Paulino et al., 2009).