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Capítulo I Ser idoso em Portugal

4. O idoso e a Institucionalização

As mudanças ocorridas na sociedade, tal como já referido anteriormente, aparecem como as responsáveis pela situação actual de aumento da Institucionalização do idoso. Toffler (s/d, citado por Couvreur, 1999) reforça esta situação referindo que primeiramente a família era o suporte do idoso, de seguida os mesmos começam a ser transferidos para asilos, sendo que a família volta a estar na ordem do dia, ao procurar- se que esta volte a tomar a responsabilidade pelo seu idoso, evidenciando a importância da qualidade de vida do idoso.

Jacob (2002, citado por Almeida, 2008) refere que se fala em Institucionalização quando, por algum motivo, o idoso permanece durante o dia (ou parte dele) numa Instituição a si destinada. Quando a sua permanência se prolonga pelas 24 horas passam a designar-se de idosos institucionalizados residentes. As razões para a Institucionalização passam sobretudo pelo facto da família não conseguir dar resposta às necessidades do idoso ou então quando outras respostas sociais não conseguem prestar todos os cuidados solicitados. Levenson (2001, citado por Almeida, 2008) refere um conjunto de factores associados ao risco de institucionalização, sendo alguns dos mesmos: as deficiências cognitivas; o facto de se viver só; a perda de apoios sociais; os problemas com as actividades de vida diária; a pobreza; e as deficiências na rede de saúde informal. Por seu lado, Martins (s/d) evidencia o isolamento como causa mais comum para a entrada nas Instituições de Acolhimento, o que se explica pela inexistência de uma rede de interacções que facilitem a integração social e familiar dos idosos e que garantam um apoio efectivo em caso de maior necessidade. É de ressalvar que é o acumular de vários factores que leva à entrada do idoso numa Instituição e não apenas a existência de um factor isolado.

A entrada do idoso numa Instituição de acolhimento é, por norma, um momento difícil para o idoso, em especial quando este ainda possui alguma autonomia ou se a sua entrada se deveu a um acontecimento trágico (por exemplo, a morte de um cônjuge). Born e Boechat (2006) referem que por mais qualidade que a Instituição possua, vai haver sempre um corte com o que se passava anteriormente, passando a existir um certo afastamento do convívio social e familiar. A pessoa institucionalizada precisa de se acostumar ao seu novo espaço, às suas novas rotinas, a novas pessoas que irão partilhar o seu espaço e toda esta nova realidade pode criar situações de angústia, medo, revolta e insegurança.

Capítulo I - Ser idoso em Portugal

17 Porém, a institucionalização não deve ser encarada apenas pela negativa, pois existem idosos que podem sentir-se mais acompanhados, activos e mesmo mais felizes do que quando se encontravam sós em suas casas. Neste processo de mudança, o indivíduo pode criar os seus próprios mecanismos de adaptação e desenvolver uma sensação ou sentimento de satisfação pela sua nova situação. É neste aspecto que o modo de organização de uma Instituição, as actividades que oferece, a relação de inter- ajuda, o grupo de técnicos e colaboradores que possui, entre outros aspectos, são de extrema importância para que o sentimento de satisfação ocorra perante a nova situação de vida do idoso. Existem mesmo idosos que tomam a decisão de entrar na Instituição por conhecerem bem as instalações ou pessoas a viver nas mesmas e, como tal, sabem que a mesma pode providenciar uma vida digna e activa. Embora continuem a ter uma conotação negativa associada ao abandono dos idosos por parte da família, as Instituições de Acolhimento para Idosos já começam a ser melhor encaradas por estes, devido em grande parte, à preocupação das instituições em terem presentes as características individuais de cada cliente, de possuírem actividades que envolvem o convívio e de um maior envolvimento da família na vida da Instituição.

É comum pensar-se que as pessoas que habitam em família fazem parte da sociedade e aquelas que vivem em instituições se encontram excluídas desta, pois não se tem em conta que muitos desempenham um papel activo e que as relações familiares e de amizade permanecem. Contudo, o mesmo não corresponde totalmente à realidade, pois, a preocupação em propiciar actividades que envolvam a interação grupal e o convívio dentro e fora da Instituição é cada vez maior.

Quintela (2001) refere que

“todos os serviços…que se regulam por ópticas institucionais, têm de evoluir, face às novas realidades demográficas e sociais, numa atitude proactiva, produzindo cuidados e apoio competentes nesta matéria, com sentido realista dos constrangimentos ainda existentes, mas intransigentes na promoção da qualidade de vida das pessoas idosas” (p. 81)

Ainda neste âmbito, Quintela (2001) apresenta três desafios que as Instituições para a Terceira Idade necessitam de enfrentar, tendo presente a heterogeneidade do grupo etário dos idosos: (a) conciliar a colectivização com a individualidade; (b) satisfazer a população, apesar de, em princípio, a sua permanência neste local, ser imposta; e (c) satisfazer, tanto quanto possível, a insuficiência de recursos.

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O ambiente onde o idoso permanece é de extrema importância para que o mesmo se sinta seguro e confortável, e que possibilite preservar alguma autonomia. Neste sentido, para Perracini (2006, citado por Almeida, 2008) os ambientes para idosos deveriam possuir as seguintes características: (a) acessibilidade e uso; (b) facilidade de circulação, especificamente no que diz respeito ao conforto, à conveniência e à possibilidade de escolha; (c) conservação de energia; (d) comunicação: aspectos sensoriais e interacção social; (e) segurança: sem risco de lesão e acidentes; (f) protecção: que não cause medo ou ansiedade e que seja previsível (confiável); e (g) privacidade.

Deste modo é imprescindível uma atenção especial no acolhimento do idoso na Instituição pois este é, por norma, o primeiro contacto directo que o mesmo tem co m o local que vai ser o seu lar. Porém é necessário acompanhá-lo não apenas no acolhimento mas ao longo do seu dia-a-dia tendo presente a sua privacidade, vontade e unicidade.

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