CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE
2.2.2 As Dimensões da Sustentabilidade
Na busca por um novo modelo de sustentabilidade, é de primordial importância o reconhecimento da heterogeneidade estrutural das diversas dimensões, assim como os múltiplos objetivos que norteiam o modo de vida em sociedade.
Neste contexto, Brown (2003) acredita que a procura por um novo modelo de desenvolvimento, sustentável no decorrer do tempo, é irrefutável e ―a questão não é quanto irá custar para se realizar essa transformação, e sim quanto custará se falharmos‖. Para tanto, torna-se essencial que se compreendam as várias dimensões da sustentabilidade e os diversos objetivos envolvidos.
Paulista, Varvakis e Montibeller-Filho (2008) asseguram que as dimensões da sustentabilidade devem ser consideradas no sentido de medir a real sustentabilidade com o intuito de propor soluções para determinadas questões, não existindo consenso para tal.
Relativamente ao conceito de desenvolvimento sustentável, Silva e Mendes (2005) ponderam que o desenvolvimento sustentável necessita ser explorado num aspecto multidisciplinar, a partir de múltiplas dimensões, tais como: social, econômica, ambiental, espacial e cultural, considerando suas relações de interdependência.
Quanto aos enfoques teóricos dados a essas dimensões, Van Bellen (2005), Sachs (1997), Montibeller-Filho (2001) apresentam no Quadro 2, as abordagens que as caracterizam, a saber:
DIMENSÕES CARACTERÍSTICAS COMPONENTES OBJETIVOS
SOCIAL
Nesse tipo, dá-se ênfase a presença do ser humano na ecosfera. A preocupação é com o bem estar humano, a condição humana e os meios utilizados para aumentar a qualidade de vida dessa condição.
criação de postos de trabalho que permitam a obtenção de renda individual adequada; produção de bens dirigida
prioritariamente às
necessidades básicas sociais.
Redução das desigualdades
ECONÔMICA
Abrange a alocação e distribuição eficiente dos recursos naturais dentro de uma escala apropriada. Nessa dimensão os termos mais importantes são o estoque e o fluxo de capital. Assim, para os
economistas a problemática da sustentabilidade se refere à manutenção do capital em todas as suas formas.
fluxo permanente de investimentos públicos e privados;
manejo eficiente dos recursos; absorção, pela empresa, dos
custos ambientais;
endogeneização: contar com suas próprias forças.
Aumento da produção e da riqueza social, sem dependência externa
AMBIENTAL
Nesta, a principal preocupação é relativa aos impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente. É expressa por meio do que os economistas chamam de capital natural. Logo, a produção primária, oferecida pela natureza, é a base fundamental sobre a qual se assenta a espécie humana. O principal modelo capaz de mensurá-la e foco principal deste estudo é o modelo pressure, state, response (PSR) idealizado para indicadores ambientais e que o defendem para outras esferas.
produzir respeitando os ciclos ecológicos dos ecossistemas; prudência no uso dos recursos
naturais; prioridade à produção de biomassa e à industrialização de insumos naturais renováveis; redução da intensidade energética e aumento da conservação de energia; tecnologias e processos
produtivos de baixo índice de resíduos; cuidados ambientais. Melhoria da qualidade do meio ambiente e preservação das fontes de recursos energéticos e naturais para as próximas gerações ESPACIAL
Pode ser alcançada por meio de uma melhor distribuição dos
assentamentos humanos e das atividades econômicas. Nesta dimensão deve-se buscar uma configuração rural-urbana mais adequada para proteger a diversidade biológica, ao mesmo tempo em que se melhora a qualidade de vida das pessoas
desconcentração espacial (de atividades e de população); desconcentração/democra-
tização do poder local e regional; relação cidade/campo equilibrada (benefícios centrípetos). Evitar excesso de aglomerações CULTURAL
É considera a mais difícil de ser definida e concretizada. Isto porque, está relacionada ao caminho da modernização sem o rompimento da identidade cultural dentro de contextos espaciais específicos
soluções adaptadas a cada ecossistema;
respeito à formação cultural comunitária.
Evitar conflitos culturais com potencial regressivo
Quadro 2 - Dimensões da Sustentabilidade.
Fonte: Adaptado de Van Bellen (2005), Sachs (1993), Montibeller-Filho (2001).
Contextualizadas essas dimensões, percebe-se a variedade de aspectos existentes e relacionados às diferentes abordagens proferidas. Porém, ainda o ponto de partida dessas
abordagens sendo diferentes entre si, tem-se um reconhecimento de que existe uma lacuna de interação entre esses diferentes campos.
Fica explícito também a partir dessa exposição não um fator de negatividade no que se refere à diversidade de conceitos, mas sim um fio condutor capaz de estabelecer e fundamentar novas ferramentas e dimensões capazes de descrever a verdadeira essência do desenvolvimento na perspectiva da sustentabilidade. Este não se limita a buscar uma compatibilização do crescimento econômico com a preservação dos recursos naturais.
O verdadeiro desenvolvimento convida a pensar de forma holística e democrática, em que os potenciais da natureza são aliados às novas tecnologias e a busca infinita de uma melhor qualidade de vida para as populações, objetivando diminuir as disparidades regionais e a preservação de recursos naturais na reconstituição dos recursos renováveis.
Entretanto, na tentativa de concretização do desenvolvimento na perspectiva de sustentabilidade, um dos principais desafios tornou-se a construção de instrumentos para sua medição, tendo em vista que estes também seriam instrumentos essenciais para nortear a ação e auxiliar o acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado em direção ao desenvolvimento sustentável.
Sendo assim e diante do exposto acerca do que seja desenvolvimento sustentável, percebe-se que é de concordância unânime que é um processo evolutivo e que se concretiza no ajuste dos três pilares de desenvolvimento de um país para melhoramento das gerações presente e futura: crescimento da economia, melhoria da qualidade do ambiente e melhoria da sociedade.
Neste aspecto, faz parte dessa tríade um elemento essencial e de singular valia para a mensuração do desenvolvimento: os indicadores de sustentabilidade. Isto porque sua essencialidade fundamenta-se não no fato de que os são indispensáveis para tornar visíveis as características e/ou programas que não são claramente compreendidos e analisar a extensão dos problemas considerados.
Os indicadores mostram-se de suma importância, tendo em vista que eles possibilitam a conjugação de algumas dimensões, como por exemplo, ambientais e sociais, além do que, também permite encontrar soluções e políticas para sua provável consecução.