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As diretrizes da Educação Política

A CONSTRUÇÃO DE UMA CONCEPÇÃO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

apoio 57 , o qual viria a cumprir um papel muito importante no fortalecimento dos grupos de trabalhadores na luta pela terra.

2.5. O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO POLÍTICA

2.5.2. As diretrizes da Educação Política

O Programa de Educação Política sempre procurou empregar o método VER, JULGAR, AGIR e AVALIAR criticamente a realidade, utilizando, inicialmente, a técnica de pequenos grupos, em função da comunidade e, posteriormente, grandes mobilizações na luta pela terra e nas campanhas salariais da área canavieira (litoral sul do Rio Grande do Norte). Esse programa, conforme documentos do SAR, desenvolve o seu apoio e assessoramento81 aos

grupos, dentro de uma visão mais ampla da sociedade, para que, à luz da fé empenhem-se, na sua transformação, tanto da sociedade civil como da sociedade política. Esse documento diz ainda que o caminho é fortalecer as classes

populares, apoiar e incentivar a criação de movimentos que nasçam do povo e engajar-se em partidos políticos, que sejam capazes de promover a transformação de estruturas da sociedade.

A CNBB, no seu Documento de Estudos 10 (p. 33, número 27) referindo-se ao Programa de Educação Política, assim se expressa quanto aos seus objetivos:

81 Até meados da década de 80, o SAR ainda usava o termo acompanhamento. Posteriormente,

participação política no povo brasileiro;

- Motivar os cristãos a participar de modo livre, segundo o carisma de cada um, no processo político-partidário do País, superando o espírito de clientela eleitoral;

- Ajudar a população a participar, de modo livre, consciente e responsável, nas eleições, renunciando a buscar vantagens imediatas e egoístas.

Esses objetivos se inspiram nas palavras do Papa Paulo VI, em mensagem transmitida, a 22 de agosto de 1968, por ocasião da III Conferência do Episcopado Latino-americano, em Medellin: “ajudar a cada um ter a plena

consciência de sua própria personalidade dentro da comunidade de que é membro, a ser consciente de seus direitos e obrigações, a ser livremente um elemento válido de progresso econômico, cívico e moral na sociedade a que pertence: esta é a grande e primordial empresa, sem a qual, qualquer mudança repentina de estruturas sociais, seria um artifício em vão, efêmero e perigoso”.

O Programa de Educação Política se apóia também no 6º Plano Bienal da CNBB (1981/1982), e se define

(...) pelas atividades que visam, dentro da evangelização, atuar na dimensão social do compromisso cristão de transformar a sociedade através da defesa e promoção da dignidade da pessoa humana, da educação para a justiça e fraternidade, do estímulo à criação de organizações assumidas pelo próprio povo, da formação da consciência crítica e participativa na comunicação humana, nos Meios de Comunicação Social e na informação.

As ações coletivas do SAR foram de fundamental importância no trabalho da equipe, principalmente depois de meados dos anos 1980. A Entidade passou a ser um dos mediadores fundamentais nos conflitos de terra no RN, junto aos trabalhadores rurais e outras entidades parceiras (MEB e ACR). O apoio era buscado pelos trabalhadores, no sentido de resolver as questões dos conflitos com grileiros, violências sofridas pela polícia e prepostos dos proprietários para conseguir a desapropriação da terra.

O apoio do SAR, muitas vezes, não era revelado pelas famílias dos trabalhadores nos momentos que estas realizavam interlocução junto aos órgãos do Estado. É como se o discurso do órgão não fosse revelado. Além da assessoria política, viabilizada através de visitas, reuniões, encontros, cursos de formação para discutir as questões do cotidiano, da luta pela terra, esse Serviço sempre dispunha de apoio material – através de pequenos atos de ações financeiras para a aquisição de materiais para a construção de cercas, plantios de sementes – o que passa a ser incorporado na estratégia das lutas (PALHANO, 1985). Ou seja, o trabalho educativo, vai sendo incorporado, conscientemente, pelas famílias de trabalhadores, à sua maneira, conforme as particularidades de cada uma das lutas, dos interesses em jogo. É a linha de trabalho do SAR numa perspectiva da Teologia da Libertação.

O importante desse processo é que esses sujeitos reconhecem o SAR enquanto entidade política de apoio, que tem o papel de orientar, tornar público os conflitos e entender-se com o Estado em alguns momentos. No entanto, o processo educativo vai no sentido de orientar os trabalhadores para que eles possam assumir seu próprio rumo, sua autonomia. O processo político- pedagógico da Instituição constitui-se num elemento central de articulação e idéias dos grupos, possibilitando a esses sujeitos assumirem sua história.

papel de intermediação das lutas dos trabalhadores nos mais diversos conflitos, no entanto, essas ações eram bastante debilitadas. Isso possibilitou a emergência das oposições sindicais rurais.

O programa de Educação, como centro de todo esse processo educativo do SAR, deu mais ênfase à questão política partidária, desde 1981, a partir de um Encontro de Inter-regional (Nordeste I, II, III e IV) sobre Ação Pastoral

Político-Partidária, realizado em Olinda-PE. Nesse encontro, foram tirados os

seguintes pontos de convergência entre as várias pastorais participantes:

- Não há incompatibilidade entre o trabalho pastoral e o trabalho político-partidário, à medida que ambos estejam ligados ao movimento popular. A atuação em um ou em outro, ou nos dois, não é apenas um problema a ser resolvido individualmente, mas, depende do consenso da comunidade e de cada situação;

- É necessário que as informações sobre a realidade sejam transmitidas, trocadas e debatidas pelas bases;

- Daí, a importância de freqüentes análises das conjunturas local, nacional e internacional, bem como do estudo dos programas e das práticas dos partidos políticos;

- Deve haver preocupação com uma Educação Política crítica, não impositiva, à luz das exigências da fé;

- É imprescindível ter presente que a atuação política não se reduz apenas à política partidária;

- Elimine-se a idéia de que a política partidária é coisa suja e assuma-se a prática político-partidária como uma ação de interesse coletivo em vista de fortalecer o movimento popular;

alguns partidos políticos, deverão estar a serviço da comunidade do povo;

- As prioridades de tarefas nas organizações populares devem ser debatidas e definidas pela comunidade, a partir de sua realidade própria;

- A igreja deve ser um espaço de reflexão sobre as realidades social, econômica e política, num clima de diálogo e respeito a diversidade de posições;

- O agente de pastoral deve estar atento ao aspecto educativo de sua tarefa, evitando ser autoritário e impositivo.

- A Igreja não deve marginalizar aqueles que se comprometem com a política partidária, mas, ao contrário, incentivá-los na própria comunidade eclesial.

Esses pontos convergentes nesse encontro passariam a ser um referencial político-pedagógico para as ações das pastorais que tinham como prioridade, o Programa de Educação Política de cada uma das Regionais presentes. A partir daí, coube a cada uma das pastorais, encontrar as possíveis mediações para trabalhar essa questão. O SAR, o MEB e a ACR trabalharam, ao longo dos anos 80, com base nestas e noutras sugestões que surgiram em outras oportunidades. Vale salientar que essa questão era delicada dentro do MEB e SAR, tendo em vista que havia opções partidárias diferentes (PT e PMDB). Verificamos que todas essas questões foram trabalhadas nas áreas, que foram sendo definidas a partir das avaliações anuais do trabalho da Entidade.

Os grandes momentos da Educação política se configuravam nos Encontros do Regional NE II, onde se discutiam temas gerais sobre a ação da Igreja em relação à situação de exploração em que se encontravam os trabalhadores rurais. O SAR, que coordenava esse programa em nível regional, politizava todas as suas ações, enquanto entidade mediadora dos movimentos

Política algumas ações político-pedagógicas desse Serviço, a partir da segunda metade dos anos 80.