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3 O IMBARA-YO BARREIRA DO MAR

3.1 As diversas definições de Marajó

A região do estado do Pará denominada Marajó é um dos espaços mais ricos do Brasil em termos de recursos hídricos e biológicos, sendo um termo muito conhecido no mundo e, em geral, está associado à Amazônia. Seu território é constituído por uma parte continental e outra parte que abrange um majestoso arquipélago de centenas de ilhas localizadas entre o Estuário do Rio Amazonas e o Oceano Atlântico, destacando-se entre elas a ilha grande de Marajó, conhecida como a maior ilha fluviomarítima do mundo, com 49.606 Km² (BRASIL, 2007c). De acordo com o IBGE (2015), em sua totalidade abrange uma área de aproximadamente 104.140Km² (IBGE, 2010) e uma população estimada em cerca de 533.397 habitantes.

Entretanto é importante justificar a diversidade de utilizações e variações do termo “Marajó” em textos acadêmicos, estudos e pesquisas, projetos e programas de cunho oficial, que, vez por outra, podem levar a equívocos de emprego. Marajó, Arquipélago do Marajó, Mesorregião do Marajó, Região de Integração do Marajó, Marajó das florestas, Marajó oriental e Marajó ocidental são algumas dessas denominações que merecem destaque por sua importância e utilização ao longo desta pesquisa.

Segundo Machado (1994 apud SANTOS JÚNIOR, 2006), Américo Vespúcio foi o primeiro navegador a ter contato com as terras marajoaras, no ano de 1499. Pouco depois, em 1500, o espanhol Vicente Iañez Pizón explorou e fez contato com os nativos da região, tendo levado para a Espanha várias amostras da produção indígena (NETTO, 1885 apud NETO, 1993); em sua homenagem, o território foi denominado ilha Grande de Joanes (MD, 1970, apud Santos Júnior, 2006, p. 46). Para Cruz (1999, p. 27), a denominação Marajó foi adotada pelos portugueses em 1757, a partir do termo tupi imbara-yo - barreira do mar, visto ser a ilha “[...] uma muralha colocada pela natureza contra as tormentas do mar”.

Arquipélago do Marajó ou marajoara é definido como o conjunto de centenas de ilhas de dimensões diversas situadas na reentrância da costa norte do Brasil, denominada Golfão do Amazonas (ISLAND, 2006 apud SANTOS JÚNIOR, 2006). Além da ilha Grande de Marajó, se destacam outras três: Grande Gurupá, com 4.864 Km²; Mexiana, com 1.534 Km²; e Caviana, com 4.968 Km² (MIRANDA NETO; 2001 apud SANTOS JÚNIOR, 2006, p. 46). Ainda segundo este último autor, o espaço territorial do arquipélago está dividido em 12

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municípios: os da porção oriental repousam sobre terras consolidadas e as da porção ocidental sobre sedimentos fluviais recentes. A Figura 1 representa a vastidão e o ecletismo marajoara:

Figura 1- Representação artística do arquipélago do Marajó

Fonte: Matias e Battaglin (1989).

Em 1990, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estabeleceu uma metodologia de divisão regional dentro dos entes federados. No documento intitulado “Divisão regional do Brasil em mesorregiões e microrregiões geográficas”, foram estabelecidos três parâmetros de identificação das Mesorregiões (MSR): o processo social como determinante, o quadro natural como condicionante e a rede de comunicação e de lugares como elemento da articulação espacial. Para identificação das Microrregiões (MR) foram identificados dois indicadores básicos: a estrutura de produção e a interação espacial (IBGE, 1990, p. 9). O estado do Pará foi dividido em seis Mesorregiões (IBGE, 1990, p. 15).

Como consequência do modelo adotado pelo IBGE, foi criada a Mesorregião do Marajó, que congrega dezesseis municípios, divididos em três MR: MR do Arari, formada pelos municípios de Cachoeira do Arari, Chaves, Muaná, Ponta de Pedras, Santa Cruz do Arari, Salvaterra e Soure, onde estão localizados os campos naturais e que é banhada pelo oceano Atlântico; MR dos Furos de Breves, composta por Afuá, Anajás, Breves, Curralinho e São Sebastião da Boa Vista, que é dominada pela paisagem formada por florestas fechadas e um emaranhado incontável de rios influenciados pelo Rio Amazonas; MR de Portel, formada pelos municípios de Bagre, Gurupá, Melgaço e Portel, que estão localizados na porção continental (IBGE, 1990, p. 26). É uma conforme pode ser mais bem entendido no Mapa 1:

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Mapa 1 - Mesorregião e Microrregiões do Marajó

Fontes: GeoPARÁ (2007). SDT/MDA, 2010. Movimento Marajó Forte (2014). Adaptado pelo autor (2015). A MR do Arari é caracterizada pela presença marcante dos campos naturais e influência do Oceano atlântico. Na MR dos Furos de Breves, a predominância dos inúmeros cursos d’água e das terras de várzea dita e condiciona o ritmo de vida das populações. A MR de Portel é formada pela porção continental, a sudoeste do Arquipélago, da foz do Rio Amazonas ao Rio Pará (ver mapas 1 e 2 e figura 2 desta pesquisa).

Conforme define Costa (2011, p. 128), no ano de 2007, foi criada a Secretaria de Estado de Integração Regional (SEIR) (PARÁ, 2007), no âmbito do poder executivo do estado do Pará, “[...] com a missão de combater as desigualdades regionais através da descentralização regional e do fortalecimento das relações entre níveis de governo e a sociedade”. Assim e nos termos de Costa (2011), dentro de uma política de aproximação e compartilhamento de responsabilidades, foi desenvolvida uma metodologia de trabalho composta por algumas diretrizes, uma estratégia e alguns instrumentos.

Ainda, segundo afirma Costa (2011, p. 129), sobre as ações da SEIR:

[...] a estratégia eleita teve como eixo principal a ideia de que o processo de planejamento do desenvolvimento dever ser pensado de cima para baixo, através de políticas públicas regionalizadas, e de baixo para cima a partir da construção de territórios e da participação popular. É em função disto, e após a constatação de que as micro e as mesorregiões do IBGE não representavam mais a espacialidade adequada para se pensar o planejamento regional, que o Governo do Estado adotou a divisão do estado em 12 regiões, batizadas de Regiões de Integração (RI), como instrumento fundamental para se pensar o desenvolvimento regional.

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Entre as 12 RI criadas, destacamos a Região de Integração do Marajó RI Marajó (COSTA, 2011, p. 130), que em relação à divisão espacial em micro e mesorregiões geográficas (IBGE, 1990) é idêntica na composição dos municípios.

Recentemente, passou-se a utilizar corriqueiramente o termo “Marajó das florestas [...]”, que primeiramente foi utilizado por Pacheco (2009, p. 20)para referir-se à área dos municípios localizados na região sul e sudoeste da ilha de Marajó, precisamente, os municípios de Bagre, Breves, Curralinho, Gurupá, Melgaço, Portel e São Sebastião da Boa Vista, onde predomina o modo de viver ribeirinho.

Por último, os termos “Marajó oriental” e “Marajó ocidental” foram adotados no âmbito do Governo do Estado do Pará, em específico no campo da segurança pública, por conta da divisão territorial das áreas de atuação da SEGUP e da PMPA. O Marajó oriental se refere aos municípios marajoaras localizados na porção nordeste da Ilha Grande de Marajó, que são: Cachoeira do Arari, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra, Santa Cruz do Arari e Soure (PARÁ, 2012c, art. 3º § 5º; PARÁ, 2014b, anexo I). O Marajó ocidental é formado pelos demais municípios: Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Chaves, Curralinho, Gurupá, Melgaço, Portel e São Sebastião da Boa Vista (PARÁ, 2012c, art. 3º § 8º; PARÁ, 2014b, anexo I).