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As emoções na visão de Lazarus

No documento carloshenriquegoncalves (páginas 58-61)

CAPÍTULO 3: PSICOLOGIA DA EMOÇÃO

3.3. Teorias cognitivas da emoção

3.3.2. Teoria da emoção de Richard Lazarus

3.3.2.1. As emoções na visão de Lazarus

Para Lazarus (1991b), “as emoções desempenham um papel central nos eventos importantes de nossas vidas. Embora tenham muitas características, algumas comportamentais e outras fisiológicas, as emoções são, acima de tudo, psicológicas” (p. 3). As pessoas manifestam emoções nos eventos de suas vidas como felicidade no nascimento de filhos, orgulho quando pessoas próximas fazem conquistas, ficamos com raiva ou vergonha quando humilhados, com ansiedade ou tristeza na morte de entes queridos, e assim afirma Lazarus, que as emoções têm um papel central nos eventos significantes de nossas vidas. Muito do que fazemos e a maneira como fazemos é influenciado pelas emoções e as condições que a geraram. O orgulho e a alegria que sentimos pelas nossas crianças revitaliza o nosso comprometimento pelo esforço em proteger e proporcionar o bem estar para nossa família; perdas podem prejudicar nosso apreço pela vida e nos conduzir a um distanciamento ou a uma depressão; a raiva por ter sido injustiçado pode nos mobilizar para ação em retribuição ou reparação. Entretanto, Lazarus comenta que sob o domínio da raiva o nosso pensamento é prejudicado podendo nos colocar em situação de risco. Diante da reflexão acima, Lazarus (1991b) conclui: Quando “cegos de raiva”, nosso pensamento é prejudicado, o que nos coloca em risco. De forma razoável, é dito que emoções contribuem para nossa saúde física e mental; emoções positivas para a saúde, negativas para a doença.Certamente, um

processo tão poderoso merece um estudo cuidadoso. Desde a época dos meus primeiros estudos em Psicologia; eu estava certo de não entenderíamos as pessoas a não ser que entendêssemos suas emoções. (p. 3)

Entretanto, Lazarus comenta que até meados de 1960 existia uma resistência à importância das emoções no meio acadêmico, especialmente no período em que vigoravam os posicionamentos behavioristas e do positivismo lógico na Psicologia. Poucos estudos eram direcionados profundamente à emoção, e quando ocorriam, o que se observava nos manuais de introdução à Psicologia era geralmente não mais do que um capítulo. A ênfase recaia mais sobre temas como a percepção, aprendizado, motivação, fisiologia, personalidade, psicopatologia e processos sociais. Ficava claro o papel secundário dado à emoção no período anterior ao denominado Revolução Cognitiva.

Em contraste com este cenário, Lazarus (1991b) menciona que mesmo as teorias clínicas de psicopatologia centradas na emoção, não o faziam levando em consideração um espectro amplo das emoções, mas tradicionalmente e, principalmente, a ênfase era dada sobre a ansiedade como que sendo um fator de causa significante nas doenças mentais. A depressão e a culpa eram exceções minoritárias, e neste caso o interesse maior foi sendo sobre a etiologia e sintomatologia da depressão, e o seu tratamento, e pouco interesse sobre a culpa. Entretanto, Lazarus afirma que a depressão não pode ser considerada per se como sendo uma emoção, sendo a depressão um complexo estado de sofrimento onde tristeza, ansiedade, raiva e culpa predominam.

Para Lazarus é importante observar o que torna uma emoção positiva ou negativa, e cita como exemplo a raiva, que em uma primeira avaliação pode ser vista como uma emoção negativa, entretanto, pessoas relatam sentir-se bem com sua raiva, e algumas práticas clínicas acreditam que indivíduos em estado depressivo profundo podem apresentar melhoras em seu estado clínico quando começam a direcionar sua raiva para fora, ao invés de direcionarem e mantê-las contra si próprios. Nessa perspectiva, encontramos uma semelhança com a explicação psicanalítica para a depressão, onde Freud (1917) postulava que o sujeito, diante de uma perda de objeto amado, sendo ele uma representação real ou imaginária, desenvolveria uma raiva retrofletida, uma espécie de raiva contra si próprio, gerando sintomas característicos da depressão como auto descriminação.

Apesar de assumir sua dificuldade em classificar as emoções devido à complexidade de tal tarefa, ainda sim traz sua visão sobre as categorias da emoção (Lazarus 1991b, 1991c). Esta poderia ser considerada positiva ou negativa dependendo do seu foco de interesse, que segundo Lazarus seriam três: (1) a relação prejudicial pessoa-ambiente provocando emoções, onde emoções negativas sempre apontam para as condições causais negativas, produzindo um significado que deve ser distinguido da qualidade subjetiva negativa e das consequências adaptativas negativas. Mas podemos preferir focar (2) na sensação subjetiva de uma emoção, ou (3) em suas consequências adaptativas importantes. As consequências não são de simples avaliação, pois podem ser positivas de emoções negativas, ou negativas de emoções positivas, o que torna este critério confuso. Lazarus propõe, de acordo com sua predileção de avaliação, a alternativa (1) para a avaliação entre emoção positiva e negativa onde seria a avaliação da pessoa sobre o que é prejudicial ou benéfico na sua relação com o meio, seria o que geraria a emoção. E dessa forma Lazarus define o conceito de emoção negativa e positiva.

Lazarus traz sua visão de aspectos envolvidos junto à emoção como a cognição, referindo-se principalmente a diversas formas de pensamentos, sejam eles conscientes ou não, que permeiam tudo o que fazemos, utilizando-os para nos orientar a responder aos sinais do meio ambiente, e para nossa sobrevivência. Outro aspecto envolvido é a motivação que tem a ver com o que queremos, desejamos, e precisamos. E como terceiro aspecto, Lazarus apresenta um ensaio de definição de emoção como complexa, padronizada, como reações organísmicas de como nós achamos que estamos nos saindo em nossos esforços ao longo da vida, visando sobreviver, prosperar e alcançar o que desejamos para nós mesmos. Emoções diferentes de todas as construções psicosociobiológicas na medida em que o indivíduo expressa de forma íntima o que está acontecendo em sua vida social, em combinação com processos motivacionais, cognitivos, adaptativos e fisiológicos, em um único complexo que envolve vários níveis de análise.

Na visão de Lazarus, a emoção não poderia ser entendida e observada desconectadas de cognição, motivação adaptação e atividade fisiológica (Lazarus, 1991b, p. 6). Reforçando esta visão afirma que quando o indivíduo reage com uma emoção forte, cada fibra de seu corpo está suscetível de ser envolvida, sua atenção e pensamentos, seus desejos e necessidades. A reação nos informa que um importante valor ou objetivo foi encontrado e está sendo ameaçado ou prejudicado. E a partir de uma reação emocional, poderíamos aprender muito sobre o que uma pessoa tem de importante na relação com o meio com a qual se relaciona, como a pessoa

interpreta o eu e o mundo, e quais são as suas estratégias de enfrentamento diante dos desafios. Para Lazarus, nenhum outro conceito em psicologia seria tão rico para revelar como uma pessoa se relaciona com a vida e as especificidades do ambiente físico e social senão a emoção.

No documento carloshenriquegoncalves (páginas 58-61)