• Nenhum resultado encontrado

Evidências empíricas da teoria de Lazarus

No documento carloshenriquegoncalves (páginas 73-75)

CAPÍTULO 3: PSICOLOGIA DA EMOÇÃO

3.4. Evidências empíricas da teoria de Lazarus

Em um experimento onde tinha como objetivo identificar fontes de estresse, Lazarus, Speisman, Davison, e Mordkoff (1964a) mostraram aos participantes um filme com uma intervenção cirúrgica na parte genital, que como já observado, suscitava uma ansiedade relacionada à castração. O que Lazarus observou foi que o teor de ameaça passado pelo filme, não residia somente na ansiedade de castração, mas também em outros tipos de conteúdo como a nudez. O filme também revelou uma variação nos padrões de emoções, que não podiam ser analisados em um nível fisiológico. Lazarus observou que aspectos da personalidade dos participantes determinavam as reações. Tal conclusão concede aspecto empírico à afirmação de Lazarus que aspectos da personalidade do sujeito influenciam nas suas avaliações.

Em outro experimento, Lazarus, Speisman, Davison, e Mordkoff (1964b) validam a importância da avaliação (appraisal) cognitiva sobre ameaças quando da produção de reações ao estresse. Diante de um mesmo filme (operação de circuncisão em adolescentes) apresentado sem fundo sonoro e com trilhas sonoras com perfis de realce da ameaça, encorajamento e intelectualização, apontou para a conclusão de que um mesmo estímulo visual pode variar na quantidade de tensão produzida, a depender da natureza da avaliação pessoal.

Nos dois estudos cima, aspectos de personalidade e a importância da avaliação cognitiva ganharam reforço empírico diante do resultado que aponta a possibilidade da redução do estresse diante de narrativas apropriadas e trilhas sonoras incitadoras de encorajamento. Lazarus e Alfert (1964c) reforça a abordagem empírica relacionada a primazia da cognição com relação a emoção ao realizar pesquisa onde se utiliza de narrativas previas de negação e de formação ou indução de reação, antes da exibição de filmes com teor de ameaça. Os resultados apontaram para uma significante diminuição de reações fisiológicas e de narrativas de estresse por parte dos participantes. Novamente, a quantidade de reação ao estresse mostrou ser dependente de aspectos individuais da personalidade.

Testando o processo de avaliação cognitiva (appraisal), enfrentamento e padrões de reação, Monat, James, e Lazarus (1972), realizaram experimento em que submeteram voluntários a choques elétricos sem que soubessem o momento em que estes ocorreriam ou se ocorreriam. Os padrões diversos de respostas encontrados pela pesquisa indicaram a importância da avaliação cognitiva e os processos de enfrentamento em padrões de reações de estresse sob várias condições de incerteza.

Folkman, Lazarus, Gruen, e DeLongis (1996a) examinaram fatores de personalidade, avaliação primária e secundária em um grupo de 150 adultos de uma mesma comunidade em situações de estresse cotidiano, suas formas de enfrentamento focados na emoção, e seus sintomas somáticos. A pesquisa observou que os resultados encontrados de certos processos como a avaliação secundária foram muito variáveis, enquanto outros como o enfrentamento focado na emoção foram relativamente estáveis. O resultado da pesquisa apontou que as variáveis encontradas não explicavam a variedade significativa na variação do estado de saúde e seus sintomas, mas por outro lado explicavam uma quantidade significativa da variação dos sintomas psicológicos. O que, segundo os autores, indicava padrões de associação entre as variáveis e os sintomas, conferindo aspecto empírico a tese da avaliação primária, secundária e aspectos de personalidade influenciando a emoção.

Folkman, Lazarus, Schetter, DeLongis e Gruen (1996b), ampliaram a observação do estudo anterior ao realizar uma análise individual das inter-relações entre a avaliação primaria, avaliação secundária e as formas de enfrentamento dos sujeitos adultos de uma mesma comunidade em eventos estressantes. O que se observou foi a relação estreita entre as formas de enfrentamento e as avaliações cognitivas realizadas pelos indivíduos no momento do encontro, assim como também se era satisfatório ou não, o resultado desse encontro. Novamente, podemos observar o reforço da tese das relações funcionais entre avaliações e variáveis de enfrentamento em eventos estressantes.

Folkman e Lazarus (1988a, 1988b) reforçam os estudos que indicam a ligação entre enfrentamento e emoção, mais especificamente como o enfrentamento media a emoção em situações de estresse. E o que foi observado é a associação da forma de enfrentamento nas emoções observadas no estudo, assim como essa associação estava relacionada ao aumento de emoções negativas ou positivas. Essas pesquisas reforçam os estudos empíricos que relacionam a cognição à emoção, à primazia temporal da cognição com relação à emoção e suas formas de influência.

Aprimorando o entendimento de como se dá o processo e a influência cognitiva com relação às emoções produzidas, Smith, Haynes, Lazarus e Pope (1993) realizaram uma pesquisa onde examinaram o status hipotético da avaliação (appraisal) com relação às atribuições. Os indivíduos da pesquisa relataram suas avaliações, atribuições e emoções relativas a experiência de situações vividas em um momento anterior. O resultado da pesquisa apontou para o fato de que as emoções eram mais diretamente relacionadas às avaliações do que as atribuições de

significado, e que a avaliação serve como um mediador entre a atribuição e a resposta emocional. Tal resultado apoia a hipótese do estado de avaliação como antecedente cognitivo mais próximo e anterior a emoção.

As pesquisas apresentadas acima se prestam a suportar empiricamente a teoria de Lazarus, e seus conceitos de avaliação primária, secundária, enfrentamento, e dessa forma, conferem também um suporte empírico a Terapia Cognitiva de Beck, uma vez que podemos observar, a princípio, a referência direta da utilização de tais conceitos por Beck em sua formulação teórica e aplicação prática.

No documento carloshenriquegoncalves (páginas 73-75)