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AS ENTREVISTAS COMO PROCEDIMENTO DE PRODUÇÃO DE DADOS

3. BASES TEÓRICAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

4.2. DETALHAMENTO DO PROCEDIMENTO

4.2.1. AS ENTREVISTAS COMO PROCEDIMENTO DE PRODUÇÃO DE DADOS

A coleta de dados iniciou-se com a realização de uma entrevista inicial com os possíveis sujeitos da pesquisa, educandos ingressantes na turma de alfabetização na FUMEC, com o objetivo de obter uma narrativa detalhada sobre suas histórias de

vida, destacando os fatores que os impediram de alfabetizarem-se na escola regular, bem como os momentos em que ler e escrever mais fizeram falta e as limitações vivenciadas, focando nos sentimentos que tais experiências geraram. Buscou-se construir uma descrição da imagem que o adulto faz de si mesmo e de suas possibilidades de atuação no mundo à sua volta, como uma pessoa não alfabetizada.

As entrevistas foram realizadas durante o horário de aula, no período noturno. A educadora liberava um educando e a pesquisadora seguia com ele para uma sala de aula que não era utilizada pela escola no período noturno. Na sala, a entrevista era gravada. A entrevista contava com um roteiro básico, mas era direcionada a partir dos dados apresentados pelo sujeito. A pesquisadora buscava explorar as experiências e narrativas mais significativas para os objetivos da pesquisa, tentando levar o sujeito a falar mais, através de pequenas interjeições, sobre os temas de interesse.

Na sequência, os educandos e sua educadora foram acompanhados ao longo dos meses e com a realização das filmagens, visando permitir que a pesquisadora conhecesse e caracterizasse as práticas vivenciadas, bem como acompanhasse o processo de aprendizagem, filmando e coletando material para as sessões de autoscopia.

Ao final do semestre, após as férias, no início de 2017, ocorreram as sessões de autoscopia, levando os sujeitos a descreverem como se sentiam em relação às mudanças que estavam vivenciando e como estavam sendo afetados pelo procedimento. As sessões de autoscopia ajudaram, em muito, na seleção dos sujeitos, pois foi possível observar quais mais estavam elaborando discursos verbais com conteúdos interessantes para os objetivos da pesquisa.

Ao final do ano de acompanhamento da pesquisa, em junho de 2017, foram realizadas as entrevistas finais, com roteiro muito próximo ao da entrevista inicial,

buscando delinear a narrativa com as possíveis mudanças na forma como o sujeito vê e narra sua história de vida, após conquistar a leitura e a escrita, bem como observar as mudanças da imagem de si e de suas possibilidades de atuação no mundo.

Em síntese, esta etapa do procedimento de coleta de dados contou, portanto, com entrevistas iniciais e finais, nas quais a pesquisadora buscou incentivar o sujeito a compartilhar sua história de vida, bem como a forma como ele vê e interpreta os fatos e acontecimentos vivenciados, sinalizando os sentidos que atribui a cada experiência. Nas duas entrevistas e nas sessões de autoscopia, a pesquisadora pediu que os sujeitos narrassem e significassem as experiências marcantes de sua história de vida, com intuito de observar a forma como, a partir da aquisição das práticas sociais de leitura e escrita, a história sofre alterações em sua narrativa, bem como na forma como os sujeitos interpretam e significam as experiências vividas.

Na etapa de análise de dados, na comparação das entrevistas, focou-se em observar, identificar e descrever as mudanças observadas nos sentidos e significados atribuídos aos fatos da história de vida, buscando compreender como a aquisição da escrita, na idade adulta, reconstitui a subjetividade humana.

De início, foram entrevistados todos os educandos que manifestaram vontade de participar, totalizando 15 entrevistados. Considerou-se que poderia causar impacto ruim deixar alguns educandos excluídos do processo, pois todos manifestavam entusiasmo e desejo de participar. A partir destas entrevistas, foram selecionados apenas os sujeitos que oferecerem dados mais relevantes para os objetivos da pesquisa, ou seja, aqueles que se apropriaram das práticas de leitura e escrita de forma mais significativa, com a intenção de observar a mudança de sua autoimagem, em sua trajetória de vida e sobre sua consciência de si e de suas possibilidades de intervenção na realidade.

Portanto, optou-se por escolher um número bem reduzido de sujeitos que apresentavam fortes marcas de ganhos subjetivos significativos, visando, em última instância, uma análise mais aprofundada de cada sujeito, possibilitada por procedimentos mais longos e detalhados, indicados para estudos de questões ligadas à subjetividade humana (BOGDAN e BIKLEN, 1991).

Inicialmente, quatro sujeitos foram préselecionados, pela qualidade e conteúdo de suas narrativas. Eram sujeitos que verbalizavam ter consciência da mudança em suas vidas que a aprendizagem, a escolarização e o letramento estavam proporcionando. Eles afirmavam que eram pessoas diferentes, que estavam mudando e explicavam como acreditavam que a escola estava causando tais mudanças neles, em suas vidas. Afirmavam tomar decisões de forma diferente, entender situações de forma diferente, narravam casos e diziam “antes, eu agia assim, mas agora aprendi na escola que (...), então na hora, eu posso agir diferente”. Alguns diziam que entes eram “burros”, ou “bixo do mato” e que com a escola, estavam mudando. Assim foram escolhidos os sujeitos, pela clareza e facilidade de verbalização sobre as mudanças vivenciadas, por eles percebidas.

Dos quatro sujeitos assim selecionados, dois chegaram a participar apenas até as sessões de autoscopia, mas, infelizmente, deixaram os estudos antes da entrevista final. Uma sujeito deixou a escola devido a problemas com narcóticos e o outro devido à prisão de seu filho, o que produziu fortes impactos em sua família.

Portanto, assim, foram selecionados dois sujeitos para o aprofundamento, construção e análise de dados.