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3. BASES TEÓRICAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

4.5. PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS

Ao fim dos procedimentos de produção de dados, concluindo a metodologia da pesquisa, iniciou-se o processo de análise dos dados. Esta etapa constitui-se em uma organização dos dados construídos durante a investigação e objetiva apresentá-los de forma sistematizada, no intuito de facilitar sua interpretação. Segundo Bogdan e Biklen (1991),

A análise envolve o trabalho com os dados, sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões, descoberta de aspectos importantes do que deve ser apreendido e a decisão do que vai ser transmitido aos outros. (p. 225).

O procedimento de análise dos dados partiu da transcrição das entrevistas iniciais e recorrentes da história de vida dos sujeitos, bem como das sessões de

autoscopia, seguindo-se a construção de Núcleos Temáticos14, proposta inspirada nos

Núcleos de Significação (AGUIAR, 2006). Para a fase de análise, a pesquisadora extraiu trechos das falas dos sujeitos, agrupando-os de acordo com grandes categorias de interesse da pesquisa.

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14 Os Nucleos Temáticos apresentam características muito semelhantes aos Núcleos de Significação, porém, os Núcleos de Significação compõem precedimentos metodológicos

específicos com características próprias, envolvendo pré-indicadores, indicadores e uma série de procedimentos que caracterizam o método. Os Núcleos Temáticos, apesar da proximidade, seguem outros caminhos, descritos neste capítulo.

A proposta de trabalho com Núcleos Temáticos vem sendo desenvolvida pelas pesquisas do Grupo do Afeto e tem inspiração no trabalho com Núcleos de Significação, devido à sua clara adequação e reiterada utilização em pesquisas sobre a questão da afetividade (LEITE, 2006). Em tais pesquisas, tal organização dos dados permitiu uma apresentação mais detalhada, possibilitando um tratamento adequado aos dados de natureza afetiva e subjetiva. Pelo fato de os núcleos serem amplos, seguiu-se, conforme previsto, com a criação de subnúcleos para que temas mais específicos pudessem ser destacados, possibilitando um maior detalhamento dos dados.

De acordo com Aguiar (2006), esses núcleos e seus subnúcleos são constituídos a partir da reunião de temas, pela frequência, pela importância enfatizada nas falas dos informantes, pela carga emocional presente, pelas ambivalências ou contradições, pelas insinuações não concretizadas. Tais indicadores permitem amplas possibilidades de organização dos núcleos.

É importante ressaltar que o mais importante na construção desses núcleos não é a frequência com que aparecem os temas e conteúdos apreendidos das verbalizações dos sujeitos, mas a importância dos mesmos para a compreensão do objeto da investigação.

De acordo com Aguiar (2006), os núcleos resultantes

(...) devem expressar os pontos centrais e fundamentais que trazem implicações para o sujeito, que o envolvam emocionalmente, que revelem as determinações constitutivas do sujeito. (p. 12).

Na presente pesquisa, os Núcleos Temáticos indicam os aspectos relacionados com a dimensão subjetiva identificada no processo de desenvolvimento a partir das práticas pedagógicas de alfabetização de adultos observadas.

Para Aguiar e Ozella (2013), a construção de Núcleos de Significação pode ser entendida como um procedimento teórico metodológico de análise dos sentidos e significados que o sujeito expressa através da linguagem. Para os autores, a palavra com seu significado constitui a unidade básica de análise, pois ela será o ponto de partida para uma aproximação das zonas de sentido, o que permite alcançar aspectos da dimensão subjetiva da realidade.

Ou seja, para Aguiar e Ozella (2013), na busca pela compreensão do ser humano e de sua subjetividade, é preciso encontrar uma possibilidade de acesso que tenha materialidade e, ao mesmo tempo, permita uma incursão à subjetividade do sujeito. A partir dos estudos de Vigotski, os autores entendem que a relação entre a palavra e o pensamento é mediada pelo significado, portanto, cada palavra com significado expressa a menor partícula que contém o que se quer compreender – o sujeito e sua subjetividade – em seu pensamento discursivo e emocionado.

Para Aguiar e Ozella (2013), os significados podem ser entendidos como a generalização ou conceito, sendo mais estáveis e compartilhados socialmente. Os sentidos, por sua vez, referem-se à articulação de eventos psicológicos que o sujeito produz frente a uma dada experiência, e são mais próximos da subjetividade, ou seja, constituem zonas mais fluidas, profundas e instáveis. Porém, ainda que sejam mais fixos que os sentidos, os significados também se transformam, alterando, consequentemente, a relação entre pensamento e palavra. (AGUIAR e OZELLA, 2013).

Portanto, ao analisar os dados das entrevistas em três momentos diferentes (início da alfabetização [entrevista inicial], durante o processo [autoscopia] e após a conquista das práticas sociais de leitura e escrita [entrevista final]), pretendeu-se observar, a partir das unidades de significado do discurso do sujeito, as alterações nas

zonas de sentido, possibilitando sinalizar e inferir alterações em sentidos e significados, vislumbrando novos constructos subjetivos – alterando a subjetividade do sujeito.

Para Aguiar (2006), a análise dos sentidos e significados é fruto do esforço analítico, interpretativo e inferencial do pesquisador, constitui uma produção do pesquisador na busca por alcançar as zonas de sentido e a subjetividade humana, diante da impossibilidade de acessar empiricamente a totalidade de sentidos que o sujeito produz. Faz-se importante destacar o caráter inferencial dos dados científicos que serão construídos a partir da análise dos dados coletados. Para Leite e Colombo (2006), nos procedimentos de pesquisa qualitativa envolvendo a autoscopia, a construção dos conhecimentos deriva de processos centrados em decisões marcadamente inferenciais: “tais decisões são assumidas a partir da consistência e coerência dos próprios dados coletados e analisados, além, obviamente, do referencial teórico assumido previamente pelo pesquisador” (p. 7). Ainda sobre as decisões inferenciais, os autores afirmam que,

Assim, a questão da decisão inferencial é assumida com mais tranquilidade pelo pesquisador, que tem, na natureza dos seus dados coletados, nas suas bases teóricas e no próprio ambiente cultural, os respaldos necessários para tais decisões e, em ultima instância, condições para a construção de dados de pesquisa coerentes e fidedignos. (LEITE e COLOMBO, 2006, p. 7).

Na etapa final, desenvolve-se a discussão dos núcleos e subnúcleos, baseada na perspectiva histórico-cultural, principalmente nos conceitos de sentidos e significados, e nos referenciais políticos-pedagógicos utilizados na caracterização teórica da pesquisa, com o objetivo de responder o problema proposto pelo projeto.