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CAPÍTULO I FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA

1.3 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO E

1.3.3 As etapas de inserção das TICs: refletindo sobre a posição da

A inserção de tecnologias com um propósito pedagógico não acontece de forma simples e rápida. É preciso que haja muita reflexão acerca do seu uso, destacando principalmente os pontos positivos e negativos de tê-las como mediadoras do processo de ensino e aprendizagem, já que, como pensa Oliveira (2012, p. 4), “a tecnologia por si só não muda a prática, as pessoas o fazem”. Dessa forma, é necessário entender que a existência das TICs não, necessariamente, implica a aprendizagem, já que o contexto de ensino e aprendizagem em que estão inseridas passa por diferentes fases de implementação.

Gibson30 (2001) tece comentários importantes sobre algumas etapas pelas quais passa a adoção das TICs. A primeira delas é a infusão, estágio inicial caracterizado pela inserção de hardware nas escolas; isto é, a mera existência das tecnologias nesse contexto. Quando tal processo de infusão é feito de imediato, por exemplo para satisfazer demandas da sociedade, sem uma finalidade pedagógica, pode não atingir seus reais objetivos.

A segunda etapa é a de integração. Nela, segundo Gibson (2001), já se inicia uma preocupação para inserir as TICs no currículo e nas práticas escolares. Estuda-se se há objetivos para o seu uso nas aulas e se eles estão sendo alcançados, bem como incorporados às práticas já desenvolvidas com um pouco mais de eficiência. Essa fase é ainda marcada pela escritura e reescritura de documentos a fim de integrar as TICs substancialmente ao currículo escolar.

A última etapa é a da transformação e, segundo o autor, é quando podemos notar uma mudança, ainda que sutil, nos papéis do professor e do aprendiz, nas relações de poder em sala de aula e na forma como a aprendizagem ocorre, permitindo que os professores reflitam sobre a sua prática no processo de aprendizagem mediado por essas tecnologias.

Ao refletirmos sobre os estágios pelos quais a LDI, objeto de estudo desta dissertação, tem passado no Brasil, observamos que a sua inserção no processo de ensino e aprendizagem passa por momentos semelhantes aos descritos por Gibson (2001) e depende do contexto onde ela está inserida.

30 Apesar de o autor ter caracterizado e dissertado essencialmente sobre o uso do computador na escola, nossa leitura para as suas ideias constrói uma ponte entre os estágios de inserção que ele descreve e TICs de outra sorte.

Oliveira (2012) realizou um estudo com três professores de uma escola de idiomas a fim de compreender em que estágio encontrava-se a utilização da LDI naquele contexto, onde os professores já faziam uso da ferramenta desde 2006. Por meio de entrevistas conduzidas com os participantes e um total de seis observações de aulas, a professora-pesquisadora verificou por meio das opiniões desses profissionais (ver Figura 6) que eles achavam que estava havendo uma possível transformação no contexto de ensino e aprendizagem.

FIGURA 6: Opiniões de três professores sobre o uso da LDI Fonte: Oliveira (2012)

Todavia, no estudo de Oliveira (2012), as observações de aulas trouxeram outros dados que contrastam com os das entrevistas. Os participantes foram questionados - ao término das aulas - sobre o uso do livro didático, exposto de forma eletrônica pelo professor na lousa digital, em substituição ao livro didático de papel utilizado pelos aprendizes durante toda a aula. Muitos ficaram surpresos, pois acreditavam que aquilo já era um avanço na forma de lidar com a ferramenta. Além disso, as observações feitas indicaram que os professores monopolizaram o uso da LDI nas aulas, sendo poucos os momentos em que os aprendizes puderam interagir com ela durante a condução da aula.

Miller et al (2005) analisaram como o uso da LDI poderia aprimorar a natureza do ensino e aprendizagem de matemática e L2. Após observações e gravações de aulas e entrevistas semiestruturadas com os professores que fazem uso da ferramenta em suas aulas, os autores fizeram alguns apontamentos sobre três estágios de desenvolvimento do professor que interferem na sua prática ao lidar com a LDI e consequentemente no modo como a aprendizagem ocorre no contexto.

Segundo os autores, no estágio “suporte didático”, a LDI é usada como suporte visual para a tarefa, havendo pouca interatividade, envolvimento do aprendiz com a LDI e discussão. No estágio “interativo”, o professor utiliza a LDI para estimular as respostas dos aprendizes e demonstrar alguns conceitos em alguns momentos da tarefa, a qual possui elementos que incentivam o aprendiz a pensar por meio de estímulos verbais, visuais e estéticos.

Já no estágio “interativo-aprimorado”, considerado pelos autores como o estágio “suporte didático” mais desenvolvido, logo ideal, há uma mudança de pensamento dos professores. Eles tentam usar a LDI como parte das lições, buscando integrar o desenvolvimento conceitual e cognitivo dos aprendizes de forma que explore os potenciais interativos da ferramenta e potencialize uma aprendizagem interativa aprimorada. Nesse estágio, os professores são “fluentes” no uso da tecnologia e a LDI é usada para promover discussões, desenvolver hipóteses ou estruturas e explicar processos. Os materiais que servem de suporte para aprimorar a interação podem ser produzidos pelo professor, retirados da Internet ou ainda softwares específicos para a LDI.

Vemos por meio de estudos como o de Oliveira (2012) que há escolas que, embora acreditem já terem integrado a LDI ao seu currículo, estão, de fato, passando pela fase da infusão (GIBSON, 2001), ainda equipando as salas com as LDIs. Outras escolas, como o contexto em que ocorreu a pesquisa da autora, estão na fase da integração, já repensando, ainda que inicialmente, as formas de agir e pensar sobre a utilização da LDI nas aulas. Consequentemente, os professores são os que lidam mais diretamente com essas novas demandas na sua prática com a LDI, passando também por diferentes estágios de desenvolvimento até alcançar o “interativo-aprimorado”, como propuseram Miller et al (2005).

É fundamental que durante esse processo de desenvolvimento do professor em relação à utilização da LDI, nos preocupemos com algumas questões de interatividade e multimodalidade presentes nas tarefas conduzidas por meio da LDI, pois elas podem ter impactos na aprendizagem da L2. Abordamos algumas dessas questões na seção seguinte deste capítulo.

1.3.4 Questões de interatividade e multimodalidade nas tarefas de aprendizagem