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Capítulo II – A Teoria Construtivista e as suas implicações

2.2. As Expressões Artísticas na gestão do currículo

A expressão corporal da criança inicia-se, normalmente, antes do nascimento, quando o feto se mexe no ventre da mãe. Após o nascimento, o bebé realiza as primeiras expressões corporais como movimentar as pernas, os braços e a cabeça. Com o passar das fases seguintes (gatinhar, bater palmas ou andar), a criança, por volta dos quatro anos de idade, ingressa na escola com um desenvolvimento motor compatível com o seu estágio, ou seja, saber andar, manipular objetos e transpor obstáculos. É neste momento que os educadores devem criar situações para que as crianças desenvolvam a sua motricidade geral e fina, sendo esse o tema do Projeto de I-A da EPE. Não obstante, a criança também deve ter oportunidade de participar em situações de desenvolvimento do sentido espacial para ganhar a consciência do seu espaço, do espaço do outro e aprendendo a respeitar os limites entre esses espaços. Os movimentos de saltar, escorregar, correr, baloiçar, entre outros são imprescindíveis para que a criança possua um bom domínio do próprio corpo (Reis, 2003). Acrescente-se que, ao longo do capítulo, foram retirados e adaptados excertos de um estudo realizado na UC de Didática das Expressões.

Com a Lei de Bases do Sistema Educativo (DL n.º 46/1986), iniciou-se o período da história da arte no sistema educativo português, no qual se aceitou a arte como um fator importante na formação integral da pessoa. A partir dessa lei, os currículos dos diversos níveis de ensino integraram áreas disciplinares alusivas às expressões.

A educação deve ser vista como um todo global, incluindo as várias disciplinas do conhecimento e as EA. Educar pela arte permite que a criança se forme integralmente a todos os níveis: afetivo, social, motor e cognitivo (Sousa, 2003). Apesar de já não se verificar tão afincadamente, as artes ainda continuam num estádio de subdesenvolvimento relativamente às outras áreas básicas do saber, sendo uma área desvalorizada por muitos docentes. Edwin Gordon desperta a atenção para a importância da Educação Artística nos primeiros anos de escolaridade. Isto porque possibilita a afirmação e a exercitação das potencialidades individuais artísticas da criança. Esta etapa da vida da criança carece de estimulação a nível artístico e,

para isso, é crucial a aposta na formação dos educadores e professores. Assim sendo, a escola necessita ser um local de aprendizagem motivante e atrativo, com espaço para respeitar as diferentes capacidades e motivações dos alunos, existindo oportunidades de formação e realização individual (Santos, 1996). Se o professor assumir as EA como uma área transversal consegue aplicá-las em variadas atividades e projetos relacionados com as áreas do saber, ou seja, o Português, a Matemática e o Estudo do Meio.

O docente deverá quanto possível proporcionar atividades que promovam uma harmonia entre o desenvolvimento pessoal do indivíduo e o desenvolvimento das suas faculdades mentais, de forma a promover uma educação estética e uma educação dos sentidos, que se fundamentam na consciência, na inteligência e no raciocínio. Para isso, primeiramente, precisa “(…) aprender a aprender antes de poder aprender qualquer coisa.” (Rey, 2002, p. 58). A educação dos sentidos é atingida através da realização de jogos sensoriais e outros materiais didáticos (Anónimo, n.d.). Os jogos podem ser acompanhados por palavras ou músicas e são bons instrumentos para desenvolver a motricidade global.

Ensinar e aprender é um processo de comunicação espontânea e pragmática. É com a criação artística que conseguimos reconhecer, ordenar e exteriorizar os nossos conflitos ou sentimentos e resolver a “dificuldade sensitiva” (Martins, 2002; Swanwik, 2000). Neste sentido, atividades que impliquem movimento e jogo possibilitam à criança a interação e a perceção do meio ambiente. O docente, ao conseguir perceber se a criança consegue agarrar numa bola, e o modo que o faz, facilita a execução de movimentos mais diversificados e coordenados. Ao educar o movimento estrutura-se a personalidade por processos de aprendizagem motora. A criança, aos poucos, desenvolver-se-á a nível psicomotor ganhando auto competência (perceber e explorar o seu corpo e a si própria), competência para se adaptar ao meio ambiente e competência social (Samulski, 2003).

Através das artes, o hemisfério direito do cérebro opera com o propósito de elaborar os elementos sensíveis, intuitivos e espaciais da perceção da ação. Reconhece-se como vantagens: desenvolver certas qualidades e destrezas como o equilíbrio, a graça e a coordenação; fomentar a disciplina, a dedicação e a atenção ao detalhe; e favorecer o acordo interpessoal e internacional. Caso as artes não estejam introduzidas no desenvolvimento do pensamento, não é possível entender a sua função, nem o seu papel na educação (Swanwik, 2000).

Torna-se fulcral que a criança desenvolva a formação do ser na escola, proporcionada pelas áreas de desenvolvimento artístico. Graças às EA pode-se formar bases e competências para a vida da criança. Assim, dá-se a promoção de uma educação equilibrada, promovendo atividades lúdicas e prazerosas, onde os alunos podem criar e imaginar além da sua realidade

(Sousa, 2003). De acordo com o Despacho n.º 6478/2017, as competências a serem desenvolvidas na área da sensibilidade artística e estética relacionam-se com processos nos quais se experimenta, interpreta e onde se desfruta de múltiplas realidades culturais, cruciais para o desenvolvimento da expressividade social e pessoal dos discentes. Assim, os alunos entendem o domínio dos processos técnicos e performativos inerentes à criação artística, o que permite o desenvolvimento de critérios estéticos para o gosto de criar e para o seu pensamento crítico.

O docente, por sua vez, tem como uma das principais funções encorajar o crescimento da criança, abarcando o desenvolvimento global da mesma, numa perspetiva das EA. Além do professor fazer parte deste crescimento, é indispensável a participação dos familiares, dos amigos, bem como de outros elementos da comunidade. Assim, a educação na escola é conciliada com a realidade da criança, que aprende diversos comportamentos integrantes na vida em sociedade (Reis, 2003).

As EA, no 1.º CEB, são parte integrante do currículo. A nível nacional é o professor titular de turma que as leciona, podendo este ser auxiliado por um especialista, caso exista. Já na RAM esta realidade diverge, pois, nas escolas, existe oferta de docentes especializados para a Expressão e Educação Físico-Motora e para a Expressão e Educação Musical. No caso da Expressão e Educação Plástica, esta poderá ser lecionada pelo professor da componente curricular. Nesta ordem de ideias, destaco que a interdisciplinaridade é cada vez mais importante e põe de parte a incessante fragmentação das disciplinas, que minimizam as EA. As expressões são uma mais-valia na sala de aula, tendo um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem, que terá maior destaque se se articular com as áreas do saber. Logo, o sucesso de uma Educação Artística dependerá da forma como os objetivos da educação pela arte são promovidos e concretizados.

O espaço educativo entre a EPE e o 1.º CEB é considerado um espaço privilegiado para a Educação Artística. Faixa educacional na qual a Educação Artística se encontra desprotegida, carecida de maiores investimentos, especialmente, na formação dos educadores e dos professores do 1.º CEB (Santos, 1996). A intervenção dos professores e educadores, no campo da Educação Artística, iniciar-se-á a partir das capacidades das crianças/alunos e daquilo que conseguem fazer. Neste sentido, proporciona-se experiências e oportunidades de aprendizagem diversificadas e significativas (Silva et al., 2016) para que se obtenham resultados permanentes. Mostra-se essencial que as crianças, além de fazerem e criarem, dialoguem acerca das suas produções e dos outros, num sentido de promover a descoberta da importância e expressividade dos elementos formais da comunicação visual, bem como o aprimoramento do

seu sentido crítico. As expressões permitem aos alunos apreender o mundo e desenvolver a sua criatividade, sensibilidade, exploração e transmissão de valores (ME, 2001).

As EA são de facto elementos integrantes e indispensáveis na gestão do currículo da EPE e do 1.º CEB, considerando-se uma mais valia para facilitar e articular a aprendizagem das crianças, tornando-a mais significativa.

Capítulo III – Desafios educativos ao professor do século XXI: A aprendizagem