• Nenhum resultado encontrado

Capítulo VI – O grupo de crianças da Sala Vermelha

6.5. Projeto de Investigação-Ação

6.5.2. Revisão preliminar para este estudo

Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar

Nas OCEPE (Silva et al., 2016) são várias as Áreas de Conteúdo com competências que remetem para o desenvolvimento da motricidade nas crianças, tal como é possível verificar na tabela 7.

Tabela 7. Áreas de Conteúdo e competências usadas nesta I-A

Esta foi a base para poder planear a prática e as atividades, de modo a permitir que as crianças adquirissem maior destreza no seu controle motor. Algo que se vai verificar ao longo do tempo na concretização de determinadas atividades manuais ou físicas, ou seja, ligadas ao desenvolvimento da motricidade fina e grossa.

O educador de infância tem um papel fulcral na observação e compreensão do nível no qual se encontram as crianças, através de atividades diagnósticas. Além disso, tem de ser

capaz de refletir se as atividades proporcionadas por si estão a contribuir para o efetivo crescimento e evolução gradual das crianças.

Motricidade

Iniciei a observação do comportamento das crianças, analisando os mecanismos que possibilitam a realização (intenção, estímulo, processamento e resposta), ou seja, o controlo motor das mesmas (Godinho, Mendes, Melo & Barreiros, 1999; Godinho, 2007).

As crianças de 3 anos estão na idade de equilíbrio tanto no aspeto social como no aspeto interno. Aí já demonstram recetividade às ações realizadas pelo educador, dado que estão bem consigo próprias e com o meio que as rodeia. Todavia, aos 4 anos de idade verifica-se uma alteração neste equilíbrio, caraterizado por um género de explosão motora, existindo então uma grande necessidade de movimento que nem sempre é controlado. Aqui, a criança é imaginativa e excessiva em relação às suas falas, ideias e movimentos (Brito, 1971).

O estudo do movimento na origem do comportamento humano é complexo prendendo- se com o facto do mesmo ser o suporte de toda a estruturação da atividade psíquica e da sua ligação ao desenvolvimento do córtex. O movimento auxilia a estruturar internamente o ser humano, sendo ele o responsável pela libertação e fixação de estruturas. Aí ganham importância a lei céfalo-caudal, que implica o controlo muscular desde a cabeça até aos pés, e próximo-distal, que é relacionada com o controlo muscular desde o centro do corpo até às suas extremidades. Assim, ocorre uma maturação orgânica da criança (crescimento), essa é enriquecedora para a mesma, pois está em contacto com o meio circundante. O meio é então responsável pelo crescimento e desenvolvimento da criança, uma vez que as experiências proporcionadas pelo mesmo, resultarão na maturação progressiva do córtex. As novas aquisições que a criança adquire influenciam as anteriores, no domínio mental e motor, valorizando, assim, as relações com o meio e notando-se a existência de uma adaptabilidade a novas circunstâncias (Fonseca, 1989).

A motricidade apoia-se em infraestruturas biológicas e neurológicas cruciais para o entendimento da vida mental. Importa salientar que as aquisições motoras estão interligadas com o desenvolvimento psicofisiológico da criança. Deste modo, o movimento torna possível a assimilação e organização do real, que, tendo em conta as vivências de cada pessoa e do meio envolvente, irá ocasionar a linguagem e, por conseguinte, a inteligência (movimento-

linguagem-inteligência). Logo, subentende-se que a motricidade tem um peso positivo no

relevância da psicomotricidade (Fonseca, 1989; Fonseca, 2002). De facto, o movimento é o centro de vida ativa das crianças. O desenvolvimento motor e percetual das mesmas implica a gradual aquisição de competências.

A motricidade fina é o modo como utilizamos os braços, as mãos e os dedos. Este controle motor fino tem em conta as competências necessárias para manipular um objeto. Logo, a forma adequada de usar as mãos e os dedos de forma precisa, tendo em conta a exigência de cada atividade. A criança precisa de desenvolver a motricidade fina para poder interagir com o meio envolvente, este desenvolvimento acontece quando ela interage com objetos e utiliza diversas ferramentas, fundamentais em atividades do dia a dia. Quanto à motricidade fina em crianças com 4 anos, o uso da mão é caraterizado pela diminuição do movimento do ombro e do cotovelo e o aumento da aptidão para fazer movimentos das mãos coordenando com os dedos e o pulso (Serrano & Luque, 2016).

A nível da motricidade grossa, quando as crianças não conseguem desenvolver determinadas competências motoras fundamentais, nota-se frustração e fracasso sentidos tanto em jogos, desportos, como também, atividades recreativas, onde ela aprende vários skills (lançar, agarrar e bater a bola). Só quando essas competências são devidamente adquiridas é que as crianças conseguem participar nas atividades com sucesso. É importante referir que a mecânica corporal dos movimentos fundamentais é basicamente igual para todas as crianças, partindo do princípio que não existe nenhuma limitação ou deficiência (Gallahue, 2002).

Considera-se fundamental a quantidade de prática exercida pelas crianças, possuindo uma influência positiva na sua capacidade de memorização. O facto de repetir exercícios ou movimentos leva as crianças a utilizarem recursos idênticos do organismo, fortalecendo a relação entre os estímulos desencadeados e a resposta motora. No fundo uma tarefa motora implica o objetivo da mesma, as operações, o contexto e o material a ser utilizado e, por fim, o critério de êxito dessa tarefa. Em várias atividades aplicadas recorri à imitação como mecanismo base para a demonstração, levando as crianças a entenderem o objetivo da atividade (Godinho et al., 1999; Godinho, 2007).

O educador de infância tem o trabalho basilar de identificar nas crianças as suas necessidades e dificuldades para poder inventariar múltiplas estratégias de modo a desenvolver a motricidade das mesmas. Assim, o docente, quanto ao controle motor fino, pode propor momentos de exploração de materiais manipuláveis, desde lápis, canetas coloridas, papéis de diversas texturas e tamanhos, tintas variadas, plasticina, tesoura, entre outros. Ainda pode proporcionar outras atividades que envolvam o desenvolvimento do controle motor grosso,

podendo propor por exemplo, a concretização de um circuito com diversos obstáculos que envolvam imenso movimento.