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AS FASES DO TREINO

No documento Cai Wen Yu - Lao Qi Gong, 2012 (páginas 102-118)

Antes de descrever as fases do treino, vamos falar de alguns conceitos importantes, de um pouco da história e dos tipos de QiGong.

O primeiro conceito importante para o que vamos conversar aqui diz que o crescimento se dá para a frente e em círculos, em espiral, melhor dizendo. Os processos da vida e da natureza andam para a frente, assim como a primavera desse ano foi diferente da do ano passado. Podemos dizer que crescer é estar em sintonia com círculos que andam para a frente.

O segundo ponto refere-se à união dos contrários. Todos sabem que tudo tem dois lados, é necessário saber a distância certa entre os opostos. Por exemplo, um porco- espinho tem as conhecidas hastes no próprio corpo, cortantes à aproximação de outro animal. No clima frio eles precisam se aproximar para reter calor. Para isso, fazem muitas tentativas, até encontrar a distância ideal. Do mesmo modo, as brigas são comuns entre amigos, são como motor da energia de estar junto. Compreendemos assim que manter duas forças opostas é conquistar outra força distinta das partes opostas, exemplificada pelo calor dos porcos-espinhos e pela conservação da amizade.

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O terceiro ponto diz respeito à eterna transformação que se pode observar na vida. Antes que se esgote uma fase, o broto da fase nova já se encontra lá. É dentro do velho que nasce o novo, dentro da primavera existe a semente do verão. Nessa direção, a filosofia diz que as coisas não podem ser analisadas como objetos fixos, mas em movimento. E que não existem isoladas, independentes, mas como um todo coerente e interligado. O método dialético da filosofia fala da “ação recíproca”, ou do modo como tudo se relaciona. Assim, o fim de um processo é sempre o começo de outro.

A chance é a negação da velha coisa. Podemos dizer que a chance ocorre no momento da virada entre o velho e o novo. Isso é o que se chama de oportunidade. Para efetivarmos uma coisa, é necessário conhecer a natureza. Caso contrário, você pode ter iniciativa própria, mas, se não é o momento, não há chance, não há oportunidade.

Um pouco de História

Até 2 mil anos atrás, o QiGong era natureza, harmonia, só se preocupava em manter a saúde, em tirar a doença. Por isso a prática era honesta: cada ação, cada movimento eram praticados com seu propósito definido, buscando um efeito específico. As pessoas só queriam saúde, longevidade. Por isso treinavam certo, o assunto era claro, definido. Esse foi o início do QiGong.

De 2 mil anos atrás até agora, a coisa progrediu de modo diferente, como era de esperar que ocorresse em algum momento, pois a negação do primeiro início é uma lei

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natural, é crescimento. E encontramos o que podemos chamar de “a segunda fase do QiGong”, que permanece até agora. A terceira fase ainda não chegou, mas sabemos que essa segunda fase já contém a semente da terceira.

A fase atual, a segunda fase do QiGong, agregou muita coisa errada. A religião – em particular o budismo e o taoismo – incorporou o Qigong, que antes era uma prática das pessoas comuns que buscavam saúde.

Budismo

O budismo nasceu na Índia, mas cresceu também na China. Sabemos que quando Gautama morreu, o budismo se separou em “grande budismo” e “pequeno budismo”.

O “grande budismo” diz que não existe forma, não existe ideia, não há budismo. São afirmações profundas e difíceis de entender. Por isso o grande budismo, em 2 mil anos, não é forte. Poucas pessoas acreditam, poucas pessoas treinam no mundo.

Já o “pequeno budismo” tem uma teoria bonita, uma prática bonita, mas não é um bom caminho. Por isso na Índia já diminuiu muito o número de seus adeptos. Eles mesmos dizem: “Temos 96 caminhos ruins de budismo”.

Sakiamuni (Sidarta) queria ajudar o ser humano a sair do “mar de sofrimento”. Ele sozinho sofreu muito. Certa vez, quando tinha fome, Gautama comeu carne e quase morreu. Ele disse: “Agora eu sei o que é o mar de sofrimento”. Os budistas não podem comer carne. Budismo não é forma.

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O taoismo diz que há 3 mil maus caminhos. Sua prática é bonita. A virtude do taoismo foi de, desde o início, experimentar.

Na prática do QiGong, a gente treina, mas não sabe qual é o caminho certo. Quando você quer comprar um carro sabe qual é o melhor, qual é o mais bonito. Quando quer treinar Qigong, não sabe, com certeza, qual é o correto.

Na segunda fase, o QiGong quase morreu. A terceira fase começa a se levantar agora. Essa é a chance para o LaoQiGong.

Começa em quase todos os países, hoje, um tipo de fervor em relação às artes marciais. Sabe-se que atualmente, no mundo, 180 milhões de pessoas treinam tai chi chuan. É provável que algumas dessas pessoas treinem certo, mas a maioria faz apenas uma coreografia bonita.

Nós queremos ajudar o humano. Às vezes uma pessoa quer mudar o modo de pensar, mas não consegue porque precisa mudar o cérebro, não pode só mudar o pensamento. Conforme dissemos na introdução deste trabalho: a evolução dos humanos ainda não terminou, ainda há muito a mudar. Tipos de QiGong

O QiGong abarca mais de 1.500 tipos. Grosso modo, porém, podemos dividi-lo em dois grandes tipos.

Um desses dois tipos busca a imagem. Focaliza a respiração e o pensamento na busca da energia, procura fazer o pensamento puxar a energia. Não consideramos esse um bom caminho, mas não é tudo errado, é o ideal.

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A psicologia diz que o pensamento é uma função do cérebro. Se não há cérebro, não há pensamento. Mas, se tirarmos a cabeça, a energia não desaparecerá. Esse tipo de QiGong usa só imagem, só a ideia. E isso é somente uma parte do corpo.

Sabe-se também que o pensamento reflete o mundo objetivo. Se não há mundo objetivo, não há pensamento. A psicologia já provou isso.

Para fazer QiGong, a rigor, não há forma, não há ideia, não há si mesmo: ele é imaterial. Pensar vem primeiro ou existir vem primeiro? O QiGong, no passado, quase derrubou a filosofia e sua divisão entre mundo concreto e abstrato que trazia como corolário a discussão de que existir viria antes de pensar.

Na China Antiga registrava-se uma série de experiências de atravessar a parede, atear fogo com o pensamento em um material qualquer. Hoje se sabe que isso era mentira, ilusionismo, teatro. Algumas pessoas até hoje, usam QiGong com essa ideia.

O LaoQiGong

A prática do QiGong não pressupõe um sistema, uma ideia.

No treino de QiGong o material é você. É diferente da medicina, onde o material é o outro, o paciente.

A religião também busca isso, para ela o foco também é você. Ela se preocupa em como sair do “mar de

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sofrimento”. Por isso podem ser úteis para nós as quatro regras do budismo:

1. considere que não existe o “eu”. Quando sinto o “eu”, já tenho egoísmo, já entro no mar de sofrimento. Se não existe um eu, não há idade, não há pessoa. O artista, como um cantor, também precisa ser assim: quando cantar, não pode pensar no que as pessoas estão achando, não pode se preocupar com o público. Ao treinar é igual: não pense na respiração, respiração não é você. Não queira que o pensamento puxe a energia. Ao pensar na energia, já existe separação, você já entra no “mar de sofrimento”, já está em mal caminho.

Precisamos saber que não há forma, não há algo ideal, não há “eu acho”. Existem, sim, critérios.

Quando avaliamos alguém treinando e dizemos que está bonito, ou que houve progresso, não se trata de um “eu acho”. A avaliação é feita baseada em critérios. É preciso levar sempre em conta o que é o material para nós. A apreciação deve considerar a terra, o ar, você. Esse é o material que nos interessa. Observamos sempre como o seu corpo está ligado num todo harmônico, como a terra puxa você, como se liga com o ar. A rigor, em última instância, avaliamos a influência do Universo sobre nós.

Agora vamos detalhar os critérios para avaliação do rendimento do praticante de LaoQiGong. Pessoas que treinam há muito tempo querem saber como podem avaliar o seu treino, se progrediram ou não, o que precisam fazer para ir adiante. Esse é um assunto importante.

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Vamos dividir o processo em fases, a que chamaremos de inícios porque, a rigor, são verdadeiros começos a cada etapa. Em cada início avaliaremos: como o corpo sente, como o pensamento se comporta, quais são os problemas, como continuar.

Primeiro início

Consideramos o primeiro início o período que vai de um mês a seis meses de treino.

O iniciante treina dez minutos, 20 minutos, os músculos estão tensos, a respiração é difícil, os ombros doem, a articulação dói, as pernas doem. Alguns têm menos problemas, mas, no geral, não se sentem muito confortáveis.

No plano do pensamento, observa-se uma espécie de paixão. Só paixão: quando o iniciante treina, tem medo de treinar, teme a dificuldade.

A paixão dá lugar à dúvida e, nesse momento do treino, é provável que 70% desistam. Perdem a paixão e se instala uma dúvida, que acaba por vencer a certeza inicial, na maioria das vezes.

Podemos nos perguntar qual é o problema. A questão é que o pensamento quer relaxar, mas o corpo não consegue. A cabeça quer uma coisa, e o corpo não obedece. É como na analogia do cavalo e da carroça, sempre citada no budismo. Se o cavalo não anda, você bate no cavalo, e não na carroça. O cavalo pode obedecer e andar mais rápido, já a carroça quebraria se você continuasse batendo. O pensamento é o cavalo, o corpo a carroça.

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Então, é fundamental desenvolver a coragem, a confiança, a paciência. Na falta de qualquer um deles, o praticante desiste do treino. Na verdade, no desenvolvimento de outras habilidades ocorre o mesmo. Se você estuda música, no começo o som não sai direito. Então é necessário ter coragem, confiança, paciência.

Segundo início

Chamamos de segundo início o período que vai de seis meses a dois anos ou 3 anos, mais ou menos. A partir de agora, já podemos fazer a ressalva de que, quando eu digo seis meses ou dois anos, não me refiro à idade de treino, mas à idade do kung fu. A pessoa pode treinar durante apenas um ano e pode chegar à idade de três anos; o oposto também se observa, um aluno pode treinar seis anos e se encontrar no segundo início. A idade do QiGong depende da pessoa, da natureza de cada um.

A essa altura, o corpo começa a expandir-se. Os músculos se soltam, abrem. O corpo mudou, algumas partes já estão ligadas, braços ou pernas. As partes referidas aqui não equivalem às partes de outros esportes, são as partes do QiGong.

Observamos também que o lado yang cresce com mais facilidade, o yin com menos. O lado yang expande-se primeiro, o yin dos dois lados precisaria crescer também, mas geralmente leva de dois a três anos para crescer. Yin e yang correspondem a uma regra da natureza. O lado yin dificilmente é sentido. Gilberto, um aluno de oito anos de

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treino, já sente uma espécie de pele invisível que lhe sai dos braços até o chão, como uma asa de morcego.

No segundo início, a paixão muda para interesse. Interesse em QiGong. O corpo quer treinar, sofre um pouco, mas você está feliz. Só o corpo está cansado. Como uma criança brincando, você não se importa com o cansaço. A criança tem interesse por tudo e isso é mais importante para ela do que todo o resto.

Nesse estágio, o pensamento tem pressa. Esse é um problema, aqui entra o “mar de sofrimento”. E é preciso ter paciência, estar tranquilo e saber que o interesse já é efeito do treino, é uma possibilidade de sair do “mar de sofrimento”. A essa altura, você mal ganhou um benefício do treino e já quer outro. Mas não se pode ter pressa. Eu sempre digo que é importante ser shagua, um bobo. Nessa fase, quanto mais shagua, melhor. Quando alguém diz “faça isso”, deve-se responder “está bem, eu faço”. Se você for um grande shagua, terá um futuro interessante no QiGong. Não se compare a ninguém, sinta-se um bobo, apenas treinando, fazendo o que tem de ser feito e pronto. Se não tiver essa disposição, não poderá crescer no treino. Se você não entender o que é QiGong, acate o fato: o aluno precisa ser honesto. Ser shagua é ser honesto. O bobo tem muitos amigos.

O problema nessa fase é que as três partes não conseguem se ligar. A essa altura do treino, no máximo ligam-se duas partes. Como a parte de cima e a parte de baixo não conseguem se ligar, o corpo apresenta grande pontos em que a energia não passa. É preciso mudar o cérebro.

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Nosso corpo é como uma rede com muitos pontos, todos ligados. É preciso abrir esses pontos. Nosso treino quer isso. O taoismo diz que é difícil a energia passar pelo joelho, por exemplo.

O terceiro problema ocorre quando, a essa altura do treino, o aluno machuca o corpo. Quando sente determinado lugar fatigado, a continuação do treino acaba machucando ou aumentando mais o desconforto. Como treinar, então? É preciso usar o fora para treinar o dentro. Use o fora, como no exercício de entrar no rio, citado anteriormente, e a água consertará você. Pense em lá fora, entre no rio: a água envolverá você, ela vai mudar você. O pensamento querendo o lá fora, o efeito será a mudança do corpo.

Terceiro início

De quatro a seis-sete anos de idade deQiGong.

O corpo sente que os membros já têm energia, sente que ela vai para a barriga. É um todo integrado, belo, como uma bola.

Primeiro ponto: o corpo é sentido como duas salas, duas cavidades, uma embaixo (abdome) e a outra em cima (tórax). Antes, no máximo, sentiam-se os braços ligados na coluna.

Segundo ponto: aqui já aparece o morcego, isso é a força da terra.

Terceiro: já se sente abrirem-se as grandes articulações, que são tornozelo joelho, quadril, nuca, cabeça. É possível

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abrir tudo, tudo tem força para separar-se. Antes sentíamos o corpo todo ligado. Agora, sente-se o todo, mas também as partes. Antes tudo era duro, agora já se separa, torna-se flexível, como se a parte e o todo se misturassem.

Quarto: agora você sente a respiração cheia. Na verdade, todos tínhamos esse sentir. Dentro já se liga com o fora, fora já se liga com o dentro, já se constata isso. Ao fazer Zhang Zhuan, parece que o umbigo liga-se com o lá fora, que existe esse contato. Se você sente lá pesado, percebe que aqui está leve. Se quer que lá fora esteja leve, precisa sentir que aqui está pesado.

Quinto: você sente que algo puxa sua cabeça, parece estar pendurado. É preciso sentir a raiz da cabeça. No humano, a raiz está acima, conforme dissemos anteriormente. As dançarinas são treinadas para sentir isso e conseguem, só não têm a compreensão, a teoria para explicar.

Também podemos dizer que parece haver uma pedra grande na cabeça. Sentir-se pendurado ou com uma pedra grande na cabeça são coisas diferentes. Às vezes, a metade puxa você e a outra metade empurra. Isso é “esticar e dobrar”, é a essência do esporte. Isso é a raiz do humano. Sentir-se pendurado é importante.

No terceiro início, esses dois movimentos se misturam. Também se pode perceber a dinâmica entre o esticar e o dobrar. O esporte, de modo geral, precisaria levar isso em conta. Precisaria saber que, ao se lidar com a força em harmonia no Universo, é preciso esticar para treinar o dobrar. E dobrar para treinar o esticar. Que a forma precisa ser curva, e a força reta. Esse é a essência do esporte. Nesse

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início pode-se perceber que dentro o treino é energia, fora é pele. Você sente que a pele parece tensa, parece que é pesada e que puxa você.

Cinco: o rosto tem movimento. Parece que pode fechar e abrir, mesmo que não se tenha intenção de fazer mímica facial.

Seis: parece ser possível dividir do corpo com o pensamento. Agora pensamento e corpo começam a ligar-se. O pensamento pode dirigir o corpo.

Agora o pensamento é crença, é fé no LaoQiGong. Nessa fase o interesse pode mudar: infelizmente o praticante pode interromper o treino. Esta é uma sequência natural, pela qual todos os praticantes passam: paixão, interesse, crença. Quando se chega a esse início sente-se autoconfiança, às vezes arrogância. Nesse início, você se sente chefe do Universo, sente que o Universo é pequeno. O taoismo diz que você é o Universo, o Universo é você. Mas nesse início você se sente mais do que o Universo. O pensamento está alto. Essa é a crença e esse é o risco: é preciso livrar-se da arrogância.

Nesse estágio não se pode ser bobo: você é inteligente, você não pode perguntar a ninguém como treinar.

O problema desse estágio é que a cabeça, a coluna, a cauda ainda não se ligam. A cauda não nasceu: você já tem força, mas não é a força da cauda. O corpo já mudou, mas cabeça, coluna e cauda ainda não estão prontas. O “fora” ainda não é verdade. Você ainda não pode sentir que a sua mão pode chegar lá longe.

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No início anterior eu dizia para usar o “fora”. Agora, você precisa treinar o corpo para mudar o “fora”. Entrar e sair, mudar. Se você não mudar para fora, não poderá crescer. Os artistas também têm esse problema. Os cientistas também. Um artista muito forte, famoso, depois de um tempo poderá não crescer mais. Qual o problema? Perdeu a chance, não sabe como mudar. Quando chegar aqui, você precisará saber aonde vai. Precisará mudar: se não mudar, não irá adiante.

Outro ponto é que agora o pensamento precisa ser o mais importante. Antes era o corpo. Agora o pensamento vale mais, o corpo menos. Depois, o pensamento poderá ser descartado.

O que é ser inteligente? É você saber da oportunidade, saber aonde vai. A vida sempre nos apresenta isso. Nesse início, você tem de ser seguro sozinho, você é o patrão de sua vida.

Quarto início

Dos sete anos até os dez anos de treino observamos as seguintes mudanças.

Primeiro: o conjunto cabeça-coluna-cauda já existe. Segundo: a energia já passa para o sistema reprodutor. Órgãos sexuais já têm energia, tanto no homem como na mulher.

Terceiro: você sente que o fora tem algo que sempre puxa você. Árvore, montanha, terra, tudo parece envolver você, segurar você. Também pode sentir ondas junto de você, ao andar na rua. Isso é “fora”. Penso que os animais sentem

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isso. Nesse início, o corpo é, no máximo, igual ao de qualquer animal.

O pensamento vem primeiro. Você está muito tranquilo. A essa altura, você conhece tudo das regras da natureza. Você entende que religião e filosofia, na essência, são regras da natureza. Você sabe o que é nascer, o que é morrer. Você já tem consciência do conteúdo de outras ciências. Você pode conversar com um médico e, mesmo sem conhecer a medicina, saber o problema de saúde que uma pessoa tem. Isso é sabedoria. Você pode não saber música, mas sabe música, de certa maneira. Você consegue avaliar uma música.

Como resultado dos dez anos de treino, o corpo já mudou, já chegou lá, o morcego, a cauda, tudo está descartado. Agora, sim, não há sistema, não há nada: é o vazio. Vazio é nada e é tudo.

Você sente que sua força parece um choque, pode produzir choque. Esse é o efeito último.

Quando o choque sai do dedo, é a energia da terra que passa por você e vai adiante. Depois, não é só o dedo: cada ponto do corpo alcança essa sensação de choque. Terminou, você chegou lá. E eu acho que todo mundo pode chegar lá.

O fora parece ter força. Isso é terra, você e ar misturados, juntos em uma coisa só. Nosso caminho sem o treino só chega até aqui. Quando chegarmos lá, poderemos achar outro caminho, em que não estão fixados limites. Nós, juntos, precisamos fazer essa mudança. Esse é o importante efeito do QiGong.

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O problema dessa, ou de qualquer fase, se dá quando uma pessoa diz “eu já treino há sete anos e não sinto isso”. Pode ser que o pensamento esteja errado ou corpo esteja errado. Talvez você já sinta os efeitos e não saiba dizer. Você precisa pensar no que aconteceu. Talvez a prática esteja errada.

É preciso me perguntar como eu treino, me observar, observar outros praticantes no treino e também refletir sozinho. Olhar e treinar e pensar: não pode faltar nenhuma dessas condições.

É importante também olhar a natureza: animais, árvores, montanhas.

E atentar para as informações deste livro. Preocupar- se em acertar. Se você está errando, não pode treinar sozinho. Eu errei por muitos anos, tentei muita coisa. Não preciso tentar mais. Por isso, posso ajudar vocês. Eu costumo aprender olhando os animais. Um animal tem movimento. Parece que puxa energia de nós. A natureza mostra, mas muitas vezes não conseguimos ver.

O ser humano, no entanto, não tem um grande mestre. Tudo está mais ou menos no mesmo nível. Falta um grande artista, um grande cientista. Falta um grande mestre da vida. A natureza é quem pode nos orientar.

Quando um aluno me pergunta qual é minha idade de LaoQiGong, eu respondo que como ele, também estou estudando LaoQiGong.

No documento Cai Wen Yu - Lao Qi Gong, 2012 (páginas 102-118)

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