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Cai Wen Yu - Lao Qi Gong, 2012

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Livro editado por Cai Wen Yu: www.caiwenyu.com.br. Texto: Fabíola Luz

Diagramação: José Banch e Rene Bueno Ilustrações: Adriana Lisboa

Fotomontagem: Maria Carolina Turin Capa: Rene Bueno

Todos os direitos desta obra reservados a Cai Wen Yu. Copyright: Cai Wen Yu

É terminantemente proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem a expressa autorização do autor. A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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3 INDICE Prefácio Pg.4 Introdução Pg.6 Capitulo I Pg.9 O que é QiGong Capítulo II Pg.19

Zhan Zhuang – Em pé como uma árvore As formas do treino

Capitulo III Pg.42 Entrar no rio Capitulo IV Pg.49 Luta e Força Capitulo V Pg.61 Meditação Capitulo VI Pg.64 Saúde Capitulo VII Pg.103 As Fases do treino

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PREFÁCIO

Vivemos em um mundo marcado pela pluralidade, pela fragmentação e por suas lamentáveis consequências.

Faz parte disso a ingênua percepção que se tinha de que o estrago feito em uma parte do planeta não atingiria o outro lado; no entanto, determinou inúmeros desastres ecológicos, conforme se pode ver hoje.

Ao focalizarmos o microcosmo da vida humana, notamos que o bem-estar físico e psíquico do homem contemporâneo segue a mesma propensão fragmentária – depende da atuação de vários especialistas entre médicos, fisioterapeutas, personal trainers etc., compondo um verdadeiro arsenal terapêutico, cuja manutenção é por vezes exaustiva e dispendiosa.

Essa tendência revela, por um lado, a crença na autonomia das partes que compõem o organismo humano e, por outro lado, a terceirização do cuidado de si mesmo aos profissionais escolhidos. Assim, manter-se saudável, calmo e bem-disposto parece depender apenas da competência da equipe de cuidadores.

Eis que surge então, do outro lado do mundo, um conjunto de exercícios e posturas cuja origem data dos primórdios da civilização chinesa. Ele devolve o corpo ao seu estado natural, chama-se QiGong, e em seu estilo mais antigo, fundado e ministrado pelo mestre Cai Wen Yu, é hoje denominado LaoQiGong.

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Com essa prática, pode-se experimentar que, assim como as partes do corpo não são isoladas umas das outras, um homem não é separado de outro homem, não é independente da ligação com a Terra, não está solto no Universo gozando da indiferença das estrelas. Ele é parte de um todo. Tudo está ligado, tudo é um.

O treino do LaoQiGong permite identificar, no plano sensorial, o Qi – fio energético comum a toda vida manifesta, fator de ligação que unifica a complexa diversidade do mundo. Reconecta o sujeito com seu próprio eixo, unifica a percepção de suas várias dimensões em um todo capaz de tratar a si mesmo em inúmeros aspectos. Este trabalho pretende dar uma ideia dessa possibilidade.

O conteúdo deste livro foi coletado a partir de conversas com o mestre Cai, no Parque da Aclimação, em São Paulo, tendo como ponto de partida minhas anotações de aula feitas durante anos de treino. As falas foram gravadas, transcritas, adaptadas à língua portuguesa – e estão agora dispostas à sua apreciação.

Fabíola Luz1

1 Médica psiquiatra (Unifesp), doutora em Psicologia Experimental (USP). Acupunturista (Amba).

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INTRODUÇÃO

A história da humanidade sempre foi a história do desenvolvimento contínuo do ser humano. O processo de seleção natural possibilitou várias mudanças na estrutura do corpo.

Em primeiro lugar, do ponto de vista da seleção natural, o precursor do homem andava de quatro, depois passou a andar sobre os dois pés. Por causa disso, pôde aumentar seu campo de visão. As mudanças estruturais foram o primeiro passo para o desenvolvimento cerebral e possibilitaram a produção inicial das linguagens primitivas. Nessa época a humanidade conseguiu, por meio da linguagem, ajudar-se mutuamente e aumentar o nível de interação social.

Em segundo lugar, graças ao andar bípede, os braços e pernas adquiriram funções diferentes e especializadas, possibilitando a fabricação de ferramentas e utensílios. O próprio uso do cérebro nesse ponto adquiriu um nível maior de desenvolvimento. Nesse momento, as atividades da vida humana não tinham como foco a sobrevivência individual, e sim a continuidade da sociedade como um todo. Essa é a diferença mais importante entre a sociedade humana e a da maioria dos animais. Pode-se dizer que a vida animal se resume em manter a continuidade da espécie: é um processo não histórico. Enquanto a vida humana constrói culturas e as deixa de herança aos descendentes, os animais não mostram mudanças nesse comportamento primitivo. Essa é a

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principal razão para afirmar-se que os homens vivem na história.

Como já dissemos, as mudanças do corpo humano possibilitaram o aparecimento de funções muito específicas, especialmente do cérebro, que se desenvolveu cada vez mais. Por causa disso, a linguagem se tornou mais abundante e complexa, e o pensamento se ampliou.

No estágio atual, o corpo humano costuma ser retratado como um instrumento avançado, com funções complexas, trabalhando como aparelho emissor e receptor com autocontrole próprio para análise, gerenciamento, dedução etc. Isso torna o homem a melhor calculadora biológica que existe. Nesse estado, o corpo humano parece estar no seu ápice e na perfeição.

Eis a importante questão que analisaremos agora: o desenvolvimento humano, que aparenta estar perfeito, pode não estar no seu fim. Precisamos saber se o estado atual não é apenas mais um passo da evolução e, caso seja, como fazer para prosseguir o desenvolvimento.

O LaoQiGong considera o desenvolvimento uma sucessão de etapas. Isso explicaria por que o pensamento lógico se dá em etapas. O corpo humano então estaria sujeito a melhoras, e consequentemente seu poder interior aumentaria. O cérebro nesse ponto se desenvolveria mais para chegar a um nível maior. Então, nesse estado, devemos repetir os mesmos passos dos nossos ancestrais primitivos para ascender cada vez mais (essa não é uma simples repetição, é a filosofia de voltar ao natural).

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Talvez a capacidade do homem de andar com os próprios pés não tenha alcançado sua plenitude, talvez estejamos mais uma vez num processo de seleção natural.

Todas as ideias do LaoQiGong existem para explicar e exercitar esse tema. Ao mesmo tempo que é o ponto do começo, é o ponto final da filosofia do LaoQiGong. O aprimoramento do homem é o foco das suas atenções. É a partir daí que eu fundei o LaoQiGong. Outros tipos de QiGong, embora semelhantes em alguns pontos, não seguem os mesmos princípios que este, por isso a comparação não se aplica.

Liberdade e expressão são o maior anseio humano, o limiar da vida e a meta final do LaoQiGong.

Dizemos que os membros do homem não são apenas uma parte do conjunto do corpo, são uma parte do Universo, fazem todas as tarefas em benefício do universal. Cada pensamento e ação de nossas vidas sempre trará como pergunta se seremos capazes de beneficiar o Universo. Afirmamos que essa é a busca do LaoQiGong: unir o plano do homem, da terra, com os céus. Chamamos a isso ainda de junção com o Universo. Dizemos também que somente quem chegou a esse nível está na plena felicidade e saúde.

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CAPÍTULO I

O QUE É O QI

O QUE É QIGONG

O QUE É LAO QIGONG

É difícil definir o que é o Qi. Na Antiguidade, foi definido pelos chineses de várias maneiras. Já disseram que Qi é cor, que é luz, que é brilho. Depois, disseram que Qi é informação, que é sentir. Nenhuma dessas palavras define, na verdade, o que é o Qi.

Para dizermos algo que se aproxima do que queremos tratar neste livro, para termos uma ideia daquilo com que lidamos em nossa prática, podemos dizer que “Qi é a energia da vida”. Nossa vida é Qi. Mais precisamente, nossa vida é a energia do Qi. Ao nos darmos conta de que agora temos vida e a distinguimos, nesse momento percebemos o que é o Qi, por assim dizer.

Creio que é mais sensato deixar esse assunto em aberto. Talvez no futuro, não se sabe daqui a quanto tempo, alguém poderá explicar com mais precisão o que é o Qi. Por ora, ficamos com isto: Qi é a energia da vida.

Podemos dizer também o que não é Qi. Respiração não é Qi, imagem não é Qi, tirar energia do corpo de outra

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pessoa para remover doenças não é Qi. Também podemos dizer que “um estado de força” é o Qi.

No budismo dizem que as pessoas mortas também têm Qi, que a pedra tem Qi; mas nós queremos o Qi das pessoas vivas, das plantas, dos animais. É isso que nos interessa, é com isso que lidamos na nossa prática. Na estrela distante, que parece incandescente, lá também existe Qi. Pode-se falar também do Qi do Universo, mas, para os fins deste livro, optamos por focalizar o Qi das pessoas vivas, das plantas, dos animais.

É importante dizer ainda que não se pode falar do Qi de maneira separada, não se pode tratar isoladamente do Qi de uma pessoa. Do mesmo modo que, ao falarmos do peixe, não devemos considerá-lo isoladamente, e sim levar em conta também a água que o envolve – nesse contexto, a água e o peixe juntos são uma coisa só. Ao falarmos do Qi de uma pessoa, é preciso considerar o ar, a terra e a pessoa, tudo junto. Pois o Qi está em tudo, a tudo envolve.

Outro olhar ainda poderia ser considerado a respeito do Qi, no plano microscópico. Muito se tem dito atualmente nessa direção, notadamente nos estudos sobre a física quântica. Mas, a rigor, nada se sabe com precisão. Muito se fala sobre o Qi humano, sobre o fato de que tudo tem Qi. Mas o que sabemos ao certo é que, quando queremos falar do Qi, precisamos levar em conta três coisas conjuntamente: o homem, a Terra, o Universo.

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O que é QiGong

Há mais de 5 mil anos o povo chinês descobriu uma série de posturas e exercícios físicos que se mostraram eficazes na manutenção e recuperação da saúde e no aumento da força física. Essas práticas auxiliaram na sobrevivência daquele povo, como também possibilitaram bom desempenho nas lutas. Esse conjunto de exercícios veio a se chamar de QiGong, termo cujo significado se perdeu na origem dos tempos, mas que poderíamos traduzir aqui, para fins práticos, como “trabalho com o Qi”. Ou, conforme vimos anteriormente, ao traduzirmos o Qi como “energia vital”, podemos entender o QiGong como o “cultivo da energia vital”.

O treino do QiGong gera várias sensações diferentes, que acabam por caracterizar esse tipo de prática. Isso nos leva a dizer também que QiGong é sentir, conforme veremos adiante.

LaoQiGong é um tipo de QiGong

Lao é uma palavra chinesa que significa “antigo”. A escolha do nome foi proposital, pois, a rigor, esse estilo não nasceu agora. A origem de tudo o que poderá ser lido nos capítulos seguintes perde-se no início da história do povo chinês, pois se refere ao período anterior ao do Imperador Amarelo – Huang Di, imperador lendário, sábio e moralmente impecável que, ao que tudo indica, governou a China de 2.690 a 2.590 a.C. Já naquela época, os chineses

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treinavam da mesma maneira com que praticamos hoje. A postura em pé, o jeito específico de andar, conforme veremos nos capítulos seguintes, remontam àquele tempo.

LaoQiGong é um tipo de treino bem antigo, ligado à natureza, que originalmente se desenvolveu na busca da cura para doenças, no tempo em que não havia ciência, nem medicina, nem hospitais. Esse tipo de treino morreu na China, agora nós o descobrimos de novo. É importante frisar que não estamos inventando nada. O nome, a marca LaoQiGong, é apenas uma maneira de distinguir essa prática dos estilos que se podem encontrar em vários lugares do mundo, dado que este aqui preserva as posições e o entendimento do QiGong como era ensinado antigamente.

O QiGong que se encontra hoje em dia, mesmo na China, é muito diferente. O original se ramificou em vários estilos, sendo que cada família desenvolveu teoria e prática muito diferentes entre si. Questionamos muitos desses estilos, porque não são ciência nem são natureza: parecem técnicas e posturas inventadas. A ciência e a natureza não mudam, sabemos que a química é igual aqui e na China; um cavalo corre da mesma maneira, aqui e na China.

Nosso estilo, completamente ligado à natureza, não foi inventado, foi descoberto por mim a partir de pesquisas na tradição da arte marcial da minha família, da minha cultura e da observação na prática diária que desenvolvo há vários anos. Resolvemos batizá-lo de LaoQiGong justamente para fazer referência às raízes dessa prática milenar. Poderíamos ter usado o nome antigo, caso houvesse, mas esse estilo não tinha nome; naquele tempo, o povo chinês

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não tinha pressa em nomear as coisas nem as pessoas. O chinês da Antiguidade não se preocupava com isso; quando nascia um filho, somente mais tarde ele recebia um nome. Apenas a nossa marca é nova, para falar da descoberta de algo que já existia antigamente, mas não tinha nome.

INTRODUÇÃO À PRÁTICA

Duas considerações precisam ser feitas antes de iniciarmos a explanação da prática, desenvolvida nos capítulos seguintes. A primeira delas diz respeito às diferenças no modo de pensar oriental e ocidental. E, a segunda, à questão da forma e do conteúdo.

A diferença no modo de pensar entre Oriente e Ocidente é a primeira questão a ser esclarecida. A cultura chinesa não tem interno e externo, a rigor. Para esclarecer isso, é preciso pensar que, para o chinês, quando você quer conhecer fora, primeiro precisa conhecer a si mesmo. E, quando conhece a si mesmo, já conhece fora. Por isso, fora é dentro, dentro é fora. Isso é mais ou menos o que prega a cultura da China, na sua origem. Por isso não há dentro, não há fora. Mas os chineses atualmente também se equivocam dizendo que dentro, interno, é a China; e fora, externo, é o Ocidente.

Na verdade, esse não é o modo de conhecer a fundo alguma coisa. Quando conhecemos a fundo, dentro é fora, fora é dentro. Na medicina, você pode pensar que uma parte é o pé, outra parte é a cabeça, mas, na verdade, tudo é um só, é um corpo só. “Fora e dentro” também é outra maneira de

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falar do modo objetivo e subjetivo com que se aborda uma questão. Esse tema complicado da filosofia tem dividido, desde sempre, as várias correntes que passam a considerar como mais importante a visão objetiva dos fenômenos ou a visão subjetiva. Não me parece correta nenhuma dessas partes, isoladamente.

Eu sempre digo que o pensamento humano do futuro não pode ser ocidental nem oriental. Que precisamos sair daí desse lugar em que estamos acostumados a ver os fenômenos, seja dentro ou fora, subjetivo ou objetivo, e ir a outra parte para olhar melhor. É como se estando na Terra precisássemos sair da Terra para ver a Terra.

Do mesmo modo, falando do QiGong, se nossa investigação for feita de dentro do QiGong, a abordagem será superficial, como o falar de filosofia de dentro da filosofia será também superficial. Precisamos sair da filosofia para entender profundamente a filosofia, sair do QiGong para entender QiGong com profundidade. Assim a possibilidade de errar será menor.

Essa linha de raciocínio nos leva à importante questão da forma e do conteúdo. A filosofia também se ocupa dela, desde sempre. E diz que o conteúdo é a essência da forma; que a forma também influencia o conteúdo; que uma forma pode ter vários conteúdos; que um conteúdo também pode ter várias formas etc.

Para a nossa prática, queremos que o conteúdo seja sempre um, determinado, enquanto a forma pode ser diversa. O conteúdo não se altera, a forma precisa se alterar muito. Quanto mais formas, melhor. A rigor, dois conteúdos apenas

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para uma mesma forma também é possível encontrar. Forma e conteúdo precisam ter harmonia. Não pode ser uma forma qualquer, pois aceitamos que há uma equivalência entre forma e conteúdo.

Do mesmo modo que uma pessoa de coração ruim pode roubar, fazer um movimento ruim na vida. E uma pessoa de coração bom costuma fazer um movimento bom; assim como uma pessoa com saúde tem expressão bonita, e um doente não pode ser bonito. Do mesmo modo, para o QiGong, embora várias formas devam existir, não se pode fazer qualquer forma. Ao treinar é importante, principalmente no início, que se procure fazer a forma correta. Com o tempo recomenda-se não pensar no conteúdo e na forma, tem de parecer que não se está fazendo nada. Não fazer nada é um fazer. Mas esse é um estágio muito avançado da prática. Inicialmente é preciso ser cuidadoso. No treino, algumas regras precisam ser respeitadas.

Primeiro, não se pode treinar sentado, pois essa posição não permite abrir a articulação do quadril nem outras articulações importantes que possibilitam sentir a energia da cauda. Essa estrutura se perdeu na evolução humana, mas sua energia se mantém e pode ser sentida em algum momento do treino.

As formas não podem ser retas. A força que advém da reta quebra coisas, é força de destruição. Para começar, as formas do corpo precisam formar triângulos, alavancas, círculos, no mínimo. Sem isso, a energia não consegue

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funcionar. Como a força de uma máquina, a física do corpo precisa ter isso, essa é nossa forma.

A forma não pode ser reta, a curva é a forma de melhor força, a forma da natureza. Parece-se com a espiral do DNA, com as curvas do cabelo, dos rios, das montanhas. Já a força da forma reta é força de quebrar coisas. Como prova disso propomos a seguinte experiência: em dois copos iguais, misture com uma colher, na mesma proporção, água e mel. Em um deles, a mistura deve ser feita com movimentos circulares; no outro, com movimentos retos. O resultado é que com o movimento circular fica difícil misturar o mel com a água. Os movimentos retos realizam a quebra mais rápido, facilitando a dissolução.

Do mesmo modo, na arte marcial, a forma reta machuca mais. Na natureza, o caranguejo, o camarão, tudo tem curvas. Muitas vezes vemos formas retas na natureza. Mas, quando observadas por dentro, elas revelam inúmeras curvas. Isso é uma força do Universo à qual estamos ligados. Não podemos considerar o homem isolado do Universo. Não se pode separar, falar do ser vivo sem considerar a Terra, por exemplo.

A relação dos seres com a Terra pode ser vista nas árvores. Uma laranjeira é igual em qualquer lugar do mundo, mas a forma apresenta variações, porque cada lugar é diferente. Comparem-se Brasil e China. Na China as raízes das árvores são profundas. Aqui, muitas vezes a raiz é exposta. É a mesma árvore, mas a forma da raiz é diferente, porque a energia da Terra é diferente, dependendo do lugar. O mesmo pode ser dito do animal, das pessoas. Há inúmeras

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formas, a vida é bonita justamente por essa diversidade. Se houvesse uma só forma, se fosse tudo igual, seria feio. Aí reside a beleza da Terra.

Ainda em relação à forma, podemos dizer que para cada doente há uma forma que pode harmonizar o seu tipo de doença; no mínimo, uma forma pode auxiliar. Podemos citar a pressão alta. Nessa enfermidade, o doente precisa treinar com a mão para baixo. E se a coluna dói, como fazer? Quantas estruturas há para harmonizar as enfermidades? Podemos dizer que inúmeras. Não podemos nos estender nesse item, pois, de tão vasto, seria assunto para outro livro.

Em cada tipo de esporte, também, há uma forma ideal para harmonizar os movimentos e obter o melhor resultado. Uma forma seria treinar, outra pular e assim por diante. Como podemos ver, a forma é um assunto vasto.

No QiGong, como na natureza, toda forma está relacionada a algum conteúdo. Essa associação forma-conteúdo foi um presente que a natureza nos deu, mas a inconsciência dessa relação tem nos impedido de cultivar tal padrão de harmonia que os animais usam o tempo todo; e, como consequência, tem nos levado a problemas de saúde de vários tipos. A prática do LaoQiGong é uma maneira de experimentar, no próprio corpo, essa correspondência entre forma e conteúdo e de usufruir os benefícios dela decorrentes. Vamos a ela.

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CAPÍTULO II

ZHAN ZHUANG

EM PÉ COMO UMA ÁRVORE

A forma

O conjunto de posturas e exercícios do LaoQiGong compreende partes que podemos chamar de “as cinco fases do primeiro início”, nas quais modalidades específicas de força serão metas a ser alcançadas. São elas: a “força da forma”, a “força da máquina do corpo”, a “força do pensamento”, a “força do instinto” e a “força da energia”. Este livro tratará da “força da forma” e da “força da máquina do corpo”. Os outros tipos de força serão assunto de trabalhos futuros.

Este capítulo tratará da força da forma.

Desde sempre, na história do conhecimento humano, as considerações sobre a forma evocam o seu complemento, o conteúdo. Forma e conteúdo são assuntos da filosofia, e, nesse âmbito do conhecimento humano, forma e conteúdo podem ser vistos em várias representações: afirma-se que o conteúdo é a essência da forma, que a forma também influencia o conteúdo, que uma forma pode ter vários conteúdos, que um conteúdo também pode ter várias formas.

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Para o LaoQiGong, o conteúdo tem a forma correspondente. Assim como se espera que uma pessoa boa não jogue papel na rua e que faça movimentos bons, supõe-se que uma pessoa de coração ruim possa roubar, fazer coisas ruins. Do mesmo modo que uma pessoa com saúde costuma ter um rosto bonito, espera-se que alguém doente não se mostre bonito. Para nós, quanto mais feliz estiver a pessoa, mais saúde ela tem, mais bonita ela é.

Portanto, no início do treino de LaoQiGong, a forma é muito importante, pois ela, uma vez correta, será equivalente ao bom conteúdo que buscamos alcançar.

Em primeiro lugar, o treino precisa ser feito em pé. A postura sentada não permite a abertura adequada da articulação do quadril nem a movimentação de outras articulações importantes, muito menos a experiência de sentir a “cauda”. O LaoQiGong considera que o humano perdeu a cauda no processo de evolução, mas preserva a energia dela, conforme já foi dito. E que é preciso recuperar a sensação da energia dessa estrutura perdida.

A forma do corpo durante o treino precisa ter círculos, triângulos, alavancas. Caso contrário, a energia não consegue fluir. A forma não pode ser reta. A força correspondente à forma reta é uma força destrutiva, ideal para quebrar coisas. No começo do treino é preciso atentar para a forma do corpo, que precisa ter curvas, círculos, formas semelhantes a rios, a montanhas, a forma do DNA, a forma da natureza, enfim.

Na natureza, tudo tem curva. Mesmo as estruturas dos animais aparentemente retas são curvas no seu interior. Essa é uma força do Universo. É a energia do Universo que

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está em tudo o que existe. Por isso não se pode considerar o ser humano sozinho, de forma separada. Não se pode falar do homem sem falar da Terra, sem falar de energia que tudo abrange.

No âmbito da natureza em geral, observamos que as árvores, embora sejam as mesmas em qualquer parte do mundo, possuem diferenças nas formas, porque cada lugar é diferente, como citamos no capítulo anterior.

Com as pessoas ocorre o mesmo. Todas têm uma cabeça, dois olhos, dois braços, duas pernas, mas cada pessoa é diferente, e aí reside a beleza.

O corpo humano pode apresentar inúmeras formas, inúmeras proporções. Mesmo se considerarmos as enfermidades, vamos observar que cada doença se apresenta de forma peculiar – no conjunto que a medicina chama de “sinais e sintomas”. Percebemos que, mesmo nessas circunstâncias, o treino de LaoQiGong pode beneficiar cada doente com a possibilidade de, no mínimo, uma forma específica que o auxiliará a retornar à saúde.

Nos esportes também podemos observar os benefícios do entendimento da forma. O LaoQiGong compreende que o jogador, de qualquer modalidade esportiva, precisa treinar com o corpo ligado, e não fragmentado. Respeitando essa regra básica, precisará de uma forma específica para pular, outra para correr e assim por diante.

Todas essas considerações sobre a forma precisam ser respeitadas pelos principiantes do treino de LaoQiGong. Somente em estágios mais avançados, recomenda-se que, durante a prática, não se pense na forma ou no conteúdo, No

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início do treino, precisamos atentar, com cuidado, para as orientações da postura, conforme veremos a seguir.

As formas do treino

Descreveremos agora, em linhas gerais, a primeira posição do LaoQiGong, que pode ser vista na figura 1.

A coluna é reta, a cabeça levemente pendida para a frente, de modo que o queixo fique para dentro. Os braços abertos ao lado do corpo, como se pudessem abrigar duas bolas nas axilas. Os pés voltados para a frente, separados a uma distância equivalente à largura dos ombros.

A coluna deve esticar, como se a cabeça atingisse o céu. Os pés devem estar plantados no chão, como se alcançassem o centro da Terra.

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23 fig. 1

Posição 2 - Zhan Zhuang, ou Tou Li Shou Shen

A segunda forma será vista agora. Dada sua importância na prática do LaoQiGong, tentaremos descrever com detalhes a extensão dessa complexa posição, embora à primeira vista possa parecer simples. É chamada de Zhan Zhuang, termo que possibilita várias traduções, como “estar em pé como uma árvore”. Pode também ser chamada de Tou Li Shou Shen, que quer dizer “em pé, sozinho, segura o shen”. (Ver a figura 2.)

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24 fig. 2

A coluna é reta, a cabeça levemente pendida para a frente, de modo que o queixo fique para dentro. Os braços abertos como se abraçassem uma bola ou uma árvore. Os pés voltados para a frente, separados a uma distância equivalente à largura dos ombros.

Vamos agora detalhar a posição focalizando: a expansão da cabeça, as articulações da cabeça, os músculos do rosto, os cinco pontos de ligação, os triângulos.

Expandir a cabeça

Consideramos que a raiz do humano está na cabeça. Essa afirmação se assemelha aos ensinamentos de algumas

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teorias ocidentais que dizem que do mesmo modo que a raiz das plantas vai ao encontro do seu alimento num processo de expansão no interior da terra, a cabeça humana se dirige ao mundo por meio da visão, audição, degustação, absorvendo a luz, o som, a comida etc. Analogamente, consideramos que a raiz das árvores está na terra e a raiz do humano está na cabeça. Durante o treino, pode-se sentir como se algo puxasse a cabeça para cima. Isso é importante, pois, quando a cabeça se dirige para cima, o pé pode ir para o chão, como se entrasse no chão. Em cima se liga ao céu, enquanto o pé se liga ao chão. Esse é um aspecto concreto fundamental do treino, é preciso sentir isso. Depois, com muito tempo de treino, vem a sensação de estarmos pendurados lá no alto, pelo cabelo. Essa conexão com o alto parece algo vazio, à primeira vista, mas não é, é a sensação da raiz de que falamos.

Visualizando a postura da cabeça em relação ao corpo, é como se fosse uma bola, uma bexiga presa na ponta de uma vara – que, nessa, analogia seria a coluna reta. A coluna impõe certa reverência à posição do rosto, levando o queixo para dentro.

A cabeça é o chefe do corpo, é o mais importante. Por isso, em todos os movimentos da prática de LaoQiGong, a cabeça vai primeiro. O que se observa comumente no ser humano é que a cabeça, que é o chefe, costuma ficar descansando, enquanto o corpo trabalha, o que acaba levando a vários problemas de coluna. Por isso precisamos sentir sempre que a cabeça puxa a coluna e puxa a cauda, por consequência: essa é uma regra básica. Sinta a cabeça grande,

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como se saísse do pescoço, como se fosse uma pipa. Esse é um ponto concreto importante do treino.

As articulações da cabeça

Prossegue-se então a postura Zhan Zhuang focalizando as articulações da cabeça no sentido de expandi-las.

Com a boca levemente aberta, buscando a expansão da mandíbula, é preciso sentir como se mordesse duas bolinhas nos últimos dentes da boca. É preciso relaxar a boca e sentir que lá no fundo existe uma base nas laterais do músculo da língua. Para isso a mandíbula tem de estar solta.

Deve-se sentir as duas orelhas puxadas para cima, assim como o cenho, a raiz do nariz. A pele do rosto expandindo, a cabeça para cima, os caninos quase aparecem. É preciso sentir que as duas orelhas são puxadas em sentidos opostos, como se fossem orelhas de abano, como se fossem asas. É preciso sentir a pele do rosto expandindo.

É preciso imaginar que a língua continua para dentro, na direção da base, e que, a partir da ponta, tem um tamanho ilimitado. Não é necessário preocupar-se com a relação da ponta da língua com o céu da boca, conforme outras práticas de QiGong enfatizam. Em algum momento do treino ela pode subir naturalmente. Pode-se apenas dizer que, quando isso acontece, o praticante está experimentando o corpo inteiramente ligado, como um todo.

Deve-se sentir como se houvesse uma corda atravessando a boca semiaberta, oferecendo resistência ao

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movimento de ir para a frente. Nessa hora deve-se tentar experimentar a existência de três pontos: dois deles em pontos ilimitados, lá fora, e outro ponto dentro da boca.

Também se deve procurar sentir como se houvesse um tubo que sai da garganta e alcança a barriga, num percurso único, como se o diafragma não existisse. Esse é o preparo para que, futuramente, esse tubo mantido dê condições para a respiração natural, que perdemos em função de preocupações da vida. Vale lembrar que, quando dorme, todo mundo abre a boca.

Antes que se chegue a isso, no entanto, é possível que a barriga chame a atenção como algo que está preso. Esse já é um efeito do treino, é o corpo mostrando que uma parte precisa relaxar. E por isso, em muitos momentos do treino, é possível que a respiração chame a atenção, como se a barriga estivesse presa. Nesse momento, é preciso esquecer a barriga e a respiração, pensar em “fora do corpo”. Isso ajuda a esperar o tempo necessário de treino, quando a respiração natural acontecerá com tranquilidade.

Às vezes pode-se usar som ao treinar. São sílabas ditas em alto e bom tom. O som atravessa o tubo e alcança o líquido da barriga, como se fosse um lago. Isso dará condições para que mais tarde se possa tentar falar sílabas secas sem que o ar saia, mas que vá para dentro e que, atravessando esse tubo imaginário, alcance os líquidos abdominais, ricocheteando-os. Esse é um exercício altamente benéfico para as vísceras.

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Os cinco pontos

Ainda na descrição da postura do Zhan Zhuang, atentemos para a existência de cinco pontos: a cabeça, os dois pés e as duas mãos. Além disso, um ponto no centro dos pés e outro no centro da cabeça (o lugar da fontanela dos recém-nascidos), formando um triângulo. E quatro articulações: duas dos ombros e duas da virilha. Temos, então, cinco pontos, quatro articulações e a coluna reta, tudo ligado.

Considerando na frente as quatro articulações e os cinco pontos, podem ser vistos três tipos de triângulo, para fora. Um deles é formado pela cabeça e pelos dois pés. O segundo é formado pelos cotovelos e pela nuca. O terceiro, pelos dois joelhos e pelo sacro. (Ver a figura. 2a.)

Nas costas podemos visualizar outro triângulo formado pelas duas escápulas e pelo ponto de inserção do pescoço na cabeça. Além disso, nas costas, podem ser visualizadas também duas cruzes: uma formada pela cintura escapular cruzando a coluna e a outra pela cintura pélvica cruzando a coluna.

Para dentro podem ser considerados mais três triângulos. O primeiro liga a sétima cervical com a parte superior do músculo trapézio. O segundo liga os dois pontos das articulações dos ombros com o coração. O terceiro liga os pontos da articulação do quadril com o umbigo. São os triângulos internos.

Além disso, o LaoQiGong entende a coluna, vista longitudinalmente, como sendo composta de três partes: a cabeça, a parte que percorre o tronco e a cauda, tudo junto.

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29 fig. 2a

Assim, consideramos as condições básicas para a energia de máquina de força, que será vista no capítulo seguinte, como: coluna reta, cauda, cruz, seis triângulos, quatro articulações. E mais cinco pontos e cinco nucas diferentes. Isso é a máquina da energia.

Consideramos que a preparação desses pontos no treino é a educação física do corpo, na medida em que a prática desse conhecimento tem a capacidade de consertar o corpo. Gostaríamos que terapeutas corporais conhecessem essa antiga sabedoria sobre o corpo.

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Sabemos que outras escolas de QiGong se preocupam com poderes sobrenaturais como mudar a cor da água, levantar objetos sem tocá-los etc. Nós não queremos o sobrenatural, não queremos novidade, queremos conhecer a verdade natural do corpo.

A posição 2 –“sentado”

A prática na importante segunda posição levará naturalmente a um desdobramento necessário, que chamaremos aqui de posição 2 – “sentado”. (Ver a figura 2b.)

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Ao olharmos de perfil, na figura 2b, vamos observar mais detalhes da postura: na coluna reta, a cabeça tem o movimento de subir, enquanto o cóccix desce. É preciso notar que a postura “sentada” não se dá pela flexão do joelho, mas da articulação coxofemoral, ou do quadril.

É preciso saber que, ao abrir a articulação do quadril, a barriga pode relaxar. Ao abrir o ombro, o coração e o pulmão podem relaxar. Abrir as articulações é a condição básica para fazer fluir a energia.

O olhar

É preciso ouvir o ilimitado, sentir grande. Lá há som, há a música do Universo.

É preciso olhar o ilimitado para ativar o triângulo interno do olho. O olho faz uma espécie de alavanca quando olha para o ilimitado. Parece olhar a luz, é uma espécie de matéria, não é o ar. Nessa forma de olhar, o ar parece gelo, e o uso da tal alavanca parece quebrar o gelo, o ar não parece o ar, é como se fosse duro. É um tipo de foco, não é o olhar normal. Isso é o uso da alavanca no que chamamos de triângulo interno da visão. Por isso antigos mestres chineses, falando dos tendões, diziam que o chefe dos tendões está embaixo do pé, a terra dos tendões está na sola do pé. E o céu dos tendões está no olho. Esse tendão do olho é muito conhecido pelos antigos taoistas. Mas o que é? Como fica lá? Não é só a cabeça que levanta, há um pequeno movimento efetuado pela alavanca interna do olho. A cabeça não olha só para cima, há um pequeno movimento.

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Essas sensações físicas aqui descritas são percepções da natureza do corpo, podem ser experimentadas por todo praticante disciplinado. Para esse nível de percepção, são necessários alguns anos de treino.

A terceira posição

fig. 3; pos. 3

A terceira posição (ver a figura 3) é uma variante da posição 2 e 2a. As mesmas recomendações da posição anterior devem ser mantidas. Aqui, ainda com duas variantes: as mãos abertas para fora e em concha ou as mãos colocadas no ar, como se segurassem uma bola invisível. Nessa posição

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pode-se experimentar a energia se deslocando para as mãos. E também se experimenta um balanço do corpo, que se sustenta em uma perna e na outra. A importância do exercício consiste em experimentar o peso do corpo, percepção fundamental no treino, conforme será visto adiante.

A quarta posição

A quarta posição, que deverá ser tentada depois de muito tempo de treino, quando o básico já tiver sido consolidado, consiste em se sentar no ar, com a coluna reta. Como se fosse uma variação da posição 2b, em que se levou o movimento do “sentar” ao seu limite. (Ver a figura 4.)

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34 fig. 4

O praticante se coloca, de cócoras, com a coluna reta. As mãos podem experimentar quatro posições: “abraçar a árvore”; abraçar a árvore com as mãos espalmadas para fora; ladear o corpo, como se formassem uma cruz em relação ao plano do corpo; e permanecer caídas lateralmente ao corpo. A posição tem importância para que se possa experimentar: a terra, você, o céu. É, na verdade, um exercício de mola. Essa posição facilita o treino da mola e permite caminhar como um animal que antecedeu o antropoide na história da evolução humana.

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A quinta posição

Podemos observar na figura 5 a quinta posição. Nela, a coluna deve se manter reta, a cabeça para cima. Começa pela postura Zhan Zhuang. A seguir, um dos pés é levantado, numa posição que lembra certos animais alados, especialmente o flamingo dentro da água. (Ver a figura 5.)

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Ao mesmo tempo que a coluna se mantém reta e a cabeça busca o céu, o pé que se encontra no chão busca o centro da Terra. É uma posição importante para equilibrar os dois lados, para trabalhar as polaridades do indivíduo: yin-yang, masculino-feminino etc.

A sexta posição

Essa posição sentada não é recomendada a principiantes, pois seu efeito se dá quando é possível experimentar a ligação dos olhos com o pé contralateral, os dois pés colocados como se tocassem duas bolas.

fig. 6; pos. 6

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Mestre Cai na 5ª. Posição

Um iniciante poderia conseguir se sentar na posição, sem alcançar o efeito, que pode ser visto ao se observar a posição de cima (figura da direita). Ali visualizamos dois círculos concêntricos que se ligam à coluna. Se observarmos a mesma figura, a segunda imagem, caso fosse entendida como alguém andando no chão, também pode ser vista como o andar de um primata não humano.

A sétima posição

De extrema importância para a luta, essa posição parte também do Zhan Zhuang. Na sequência, o corpo é torcido para o lado. Possibilita a movimentação do peso do

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corpo de maneira que se pode experimentar a ação da inércia no corpo.

fig. 7

No treinamento para a luta, a ausência da prática dessa posição leva o praticante a usar o músculo, em vez de experimentar a força advinda da movimentação do corpo.

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A posição 8

A oitava e última posição, só recomendada para o praticante experiente, consiste em abaixar o tronco em torção, com os braços abertos, para um lado e depois para o outro. A posição permite esticar, ao mesmo tempo, toda a coluna e, praticamente, toda a pele do corpo. (Ver a figura 8.)

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CAPÍTULO III

ENTRAR NO RIO

Fabio Fabregas

O treino de LaoQiGong não se limita a buscar a forma. Também é sabido que não adianta buscar imagens do ilimitado, algo tão falado nesse meio; buscar apenas a imagem do ilimitado é sonho, não é verdade. É preciso que o corpo experimente por dentro alguma coisa. Que

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experimente por dentro o ilimitado, caso contrário o praticante pode treinar durante dez anos e não mudar nada.

Vamos descrever neste capítulo algumas sensações esperadas como resultado do treino de LaoQiGong. Vale frisar que as sensações que experimentamos não são imagens produzidas pela mente, mas percepções, tanto aquelas detectadas por meio dos sentidos conhecidos como outras que, embora naturais, não costumam ser acessadas por vias comuns, de modo espontâneo.

Primeiramente precisamos saber que os exercícios da prática do LaoQiGong buscam a expansão do corpo, a abertura de todas as articulações, levando à separação entre os músculos e os ossos. Quando o osso se separa do músculo, a pele se abre, as células funcionam. Esse movimento de expansão que leva à abertura da pele é um excelente remédio para várias enfermidades, não somente as da pele.

No taoismo se diz que, quando o osso está fechado, o músculo abre. O músculo é uma força, o osso é uma força, a pele é uma força. No nosso treino é preciso sentir que entre o osso e o músculo existe espaço. Isso é o que chamamos de relaxar.

Relaxar é expandir. Conforme já disse em trabalho anterior2

, relaxar não é ausência de força. Relaxar não é ficar mole, não é ser fraco, é expandir. Em termos concretos, é preciso ganhar espaço nas articulações e entre os músculos e os ossos. Depois disso é possível se comunicar com o espaço

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‘fora’ dos limites do corpo. “Fora” não é você, mas quando você consegue abrir por dentro, “fora” também se expande e produz um efeito em você, muda o seu corpo.

Ganhar espaço é um dos efeitos da prática do LaoQiGong; pele, barriga, coração, tudo ganha espaço. E é também uma das condições para que, na sequência, seja possível sentir outras coisas.

Nas artes marciais, “ter esse espaço” tem sido equivalente a ter kung fu (ter energia). Nesse meio, tradicionalmente, é costume comparar as pessoas e dizer que fulano tem mais kung fu do que sicrano, referindo-se à pessoa que tem espaço maior, que conseguiu “conquistar” mais desse espaço no trabalho com o QiGong.

Nós também sempre dizemos que é preciso sentir o ilimitado. Nós queremos o ilimitado, mas nem sempre conseguimos sentir isso, não é fácil, sempre deparamos com os limites.

Já dissemos, no capítulo I, que QiGong é um sentir. Como? Não é sentir frio, sentir calor, sentir a água em contato com o corpo. Na verdade, é sentir muita coisa diferente daquilo a que estamos acostumados. Precisamos nos propor a sentir principalmente duas coisas: a força da Terra, aquela força da Terra que puxa as coisas, a chamada força centrípeta. E a força do ar que nos empurra. É isso que importa inicialmente. Quando aprendemos a expandir, somos capazes de sentir que o ar nos empurra. Queremos nos sentir leves, queremos sentir a força da Terra nos puxando, sentir o que é a vida humana na Terra, em contato com o ar. Assim como o peixe sente a água e a força da Terra,

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assim como os animais que, em seu ambiente natural, se orientam também por essas sensações.

O treino de QiGong tem três partes, costuma-se dizer. Primeiro é necessário experimentar o corpo inteiro ligado. A maioria das pessoas tem o corpo fragmentado, a cabeça, o tronco e as pernas parecem três partes distintas. Às vezes os alunos me perguntam se é possível existir a ligação apenas na forma, externamente, enquanto dentro não está ligado. É, no começo é só a forma, e é importante que a forma busque essa ligação, o todo do corpo. Depois, com o tempo, percebe-se que não é só a forma, que por dentro também está ligado. É isso o que nós queremos. Quando o corpo está ligado por dentro, aí existe a condição de sentir o ilimitado. Se a ligação se dá somente na forma, não existe a experiência do ilimitado, apenas a imagem dele. Quando eu sinto o ilimitado, muitas vezes ele se impõe a mim sem que eu o busque.

Então costumamos dizer que o ligar pode ser experimentado de duas maneiras: na forma mesmo, em que se pode ver o corpo como uma coisa só; e por dentro, e aí, sim, é possível verdadeiramente experimentar o ilimitado.

Em segundo lugar, é possível experimentar o que chamamos de mola. Para essa modalidade de treino é preciso considerar a existência da cabeça, da coluna e da cauda como uma coisa só. Essa estrutura unificada então fará o movimento de expansão e contração, concomitantemente com todas as articulações do corpo, de modo que tudo abre e fecha, como uma mola. Quando o praticante vivencia a mola, podemos dizer que já tem conteúdo, é a segunda ligação.

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Em terceiro lugar, é possível experimentar o que chamamos de ondas. Essa é uma parte mais complicada. As ondas acontecem em qualquer direção. Aí, sim, a essa altura do treino, o praticante pode, de fato, experimentar o ilimitado. A rigor, já a partir da mola é possível sentir o ilimitado. Sem a experiência da mola, ou das ondas, consideramos que a experiência do ilimitado é só imagem, é apenas sonho. A experiência de ligar e de sentir o ilimitado possibilita a percepção de ondas dentro do corpo. Ondas são um efeito, são a energia do QiGong trabalhando, fazendo você se sentir maior, expandindo o seu corpo, os membros parecem compridos, tudo comprido. Se o corpo tem ondas, dentro tem fervor.Quando se chega lá, o corpo já sabe o que é QiGong.

A experiência de ligar o corpo é mais fácil de alcançar. O praticante disciplinado pode conseguir esse resultado em pouco tempo. A experiência de ligar por dentro é mais difícil, às vezes liga, às vezes não. O mesmo acontece com as ondas: às vezes são percebidas em uma região do corpo, outras não.

Ao chegar a esse ponto, você já entende o que é QiGong. Não é adquirir poderes, ser imortal, querer voar, ficar dias sem precisar comer. O LaoQiGong se preocupa com o ser humano; quer saber como o corpo funciona; como se podem aumentar as habilidades, é só isso. É preciso sentir como expandir, como funciona, qual é o limite para sentir o ilimitado do nosso corpo. Isso é o aumento da sensibilidade, não é filosofia. O corpo pode ter isso, todo mundo tem isso, só não sabe que tem.

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A experiência da mola vem antes das ondas. É preciso usar a mola para chegar às ondas. A mola dá aumento da força, dá impulso, e a forma precisa mexer. Na experiência das ondas, a forma praticamente não mexe.Depois de muito treino você não sabe diferenciar o que é mola do que é onda.

Na experiência da onda, primeiro se percebe a onda por dentro do corpo. Principalmente dos pés para as mãos. Depois para cima e para trás, como um tigre pronto para pular.

Depois se percebe a onda lá fora, como se um grande mar fosse as ondas. Equivale a dizer que, quando se tem energia, não se deve guardar na barriga – como professa o taoismo, deve-se guardar fora. Como quando se ganha dinheiro, não se deve guardar no banco, mas fazer negócio. Quando as ondas são sentidas lá fora, a região do corpo que detecta essa percepção é a debaixo dos braços, nas axilas.

Ao conseguir treinar as três possibilidades: ligar a forma, ligar por dentro na experiência da mola e vivenciar as ondas, o praticante conseguiu vivenciar o que se chama de entrar no rio.

Ao experimentar entrar no rio, sente-se que todos os músculos querem expandir, querem abrir. Creio que a ciência diz que a possibilidade dos músculos de cada pessoa, quando ligados, soma toneladas de força, não me lembro bem. O músculo sozinho não pode muito, pois há forças contrárias à ação que ele executa. Mas, ao conseguir somar essa força toda, pela experiência de entrar no rio, é possível alinhar essas forças e conseguir uma força maior.

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Por fim, depois de vários anos de treino percebemos que a experiência de acertar a forma que levará a entrar no rio são pontes necessárias para atingir um estado em que se percebe que dentro e fora são uma coisa só. Para chegar até isso, precisamos praticar todos os dias.

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CAPÍTULO IV

LUTA E FORÇA

Há mais de 5 mil anos o homem conhece o lugar em que se encontra a força do corpo para tudo, para viver, para lutar. Sabe-se que está na alavanca que se faz com o corpo. Não é necessário inventar nada. Hoje se sabe que a alavanca usa a energia potencial. Pode-se ter ciência dessa energia quando, de súbito, quase caímos – aquilo que nos sustenta, naquele momento, é essa energia de que falamos agora.

O corpo humano foi construído em bilhões de anos. O corpo é uma ciência pronta para ser estudada. Não muda mais. Temos dois olhos, uma boca, um cotovelo em cada braço. Não precisamos de dois cotovelos. Precisamos saber como conhecer o corpo para saber usar o corpo. Podemos dizer que o estudo do kung fu ou do QiGong, que já tem 5 mil anos, é uma ciência do corpo. Nós precisamos saber como trabalhar, como mudar o corpo. O corpo é uma máquina.

A alavanca, o triângulo, o círculo são os três materiais da força, podemos dizer assim. Após essas formas estarem devidamente entendidas e executadas, é preciso que a alavanca faça círculo e que o triângulo faça círculo. A alavanca faz círculo e isso constitui uma força, como pode ser visto no movimento das rodas de um trem.

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A alavanca

A alavanca foi a primeira máquina que o homem conheceu. Arquimedes e Newton já falaram sobre a alavanca, a primeira máquina de força do corpo. Usar essa primeira máquina é fundamental para acessar a força. Sem a alavanca o corpo é só músculo, sem força.A alavanca permite usar a energia.

Podemos nos perguntar por que, na prática do QiGong, a postura fundamental é a de “segurar a árvore”. A alavanca é a primeira resposta a essa pergunta. A postura de “abraçar a árvore” – Zhan Zhuang – produz várias alavancas. E, uma vez conquistado o todo do corpo, consciente do espaço existente em todas as articulações, percebemos que ele inteiro é uma alavanca, cujo movimento produz energia. A rigor,para fazer essa energia movimentar, é necessário ter alinhado a “árvore”, o peso do corpo e o pensamento. Na prática é necessário que as forças trabalhem juntas, todas funcionem ao mesmo tempo, ou de forma sincrônica.

Como vemos, buscar entender o funcionamento da alavanca não equivale a encontrar prontamente o grande, o ilimitado. A necessidade de se ligar com o Universo é assunto da religião, a busca da imagem de deuses é sonho, conforme já dissemos. O LaoQiGong se propõe a conhecer a ciência do corpo para saber como usar a energia dele e então experimentar a ligação com o todo, com o Universo, pela via natural.

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A Força

Força não é raiva ao quadrado.

A força já foi definida por Newton na equação F = m.a., quer dizer, a quantidade de força é diretamente proporcional à massa e à aceleração.

Quando nos movimentamos normalmente, por vezes é só uma parte que se mexe: o braço ou a perna, por exemplo. No treino de LaoQiGong, a conquista do “todo do corpo” equivale a um aumento da massa, na medida em que não é uma parte isolada que se movimenta, mas o corpo todo. Ao conseguir ligar o corpo todo, o “m” da equação aumenta, e a força também pode aumentar.

Para cultivar a força, é necessário aprender a fazer do corpo uma arma, cujo peso é o peso do corpo = m. É necessário aprender a projetar esse “m” em direção ao adversário. Somente a conquista do “todo do corpo”

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possibilita essa projeção. Essa variável, obviamente, é limitada, na medida em que cada indivíduo tem um peso específico.

Por outro lado, a aceleração também é beneficiada no treino de LaoQiGong. A aceleração mede a variação da velocidade, diz a física. Para adquirir velocidade, é preciso relaxar, o que se entende aqui por “expandir” o corpo, conforme vimos anteriormente. Assim diz a ciência do corpo, nosso objeto de pesquisa. A velocidade também é força, é um tipo de força; se analisarmos mais a fundo, só a velocidade é força; por isso precisamos relaxar, porque relaxar permite movimentar-se com velocidade. E como se faz o movimento? O movimento ocorre ao passarmos de uma estrutura para outra. É preciso saber qual é a melhor estrutura.

Até agora, sabemos que a experiência do todo aumenta o “m” e que “relaxar” permite a velocidade. Então, tanto com o “m” quanto com o “a” da fórmula de Newton pode-se ganhar força. Força é energia. Essa é uma teoria de força.

Na modalidade esportiva chamada “levantamento de peso”, já se sabe que o relaxar possibilita o levantamento rápido, enquanto o corpo duro não consegue velocidade. Do mesmo modo, na luta, o corpo duro não permite rapidez dos movimentos. É fácil imaginar a importância da movimentação rápida na defesa dos animais, inclusive do homem, contra predadores. Se um cachorro quiser me morder, e eu, por estar relaxado, me movimentar rápido, ele não conseguirá me atingir.

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Pode parecer uma teoria abstrata. Mas, concretamente, ao fazer o movimento, podemos dizer que a nossa força (ou energia) conta em primeiro lugar com a força da terra, em segundo lugar com a força do ar e em terceiro com a nossa força. As três variáveis precisam estar em harmonia, juntas. Para que eu me movimente para fora com rapidez, é preciso que jogue o “m” em direção à terra com rapidez. O peso do corpo bate rápido no chão e adquire “velocidade”. A força bate no chão, o chão joga para fora com força. Essa é “força centrífuga” que a física conhece. A força centrípeta e a força centrífuga, a rigor, acontecem ao mesmo tempo. É isso que chamamos de “força da terra”.Se não existisse a terra, não poderíamos ter uma força significativa. Um atleta que faz saltos consegue pular rápido quando bate rápido no chão porque o impulso vai no sentido contrário.

A variável “a” da fórmula de Newton usa o pensamento, é o pensamento ajudando o corpo, levando-o a aumentar a velocidade. Ao ter consciência (pensamento) de que ali vem um tigre, você pode pular rápido para longe e escapar do perigo.

Também sentimos a força do ar, ao fazer movimento. A força do ar possibilita ganhar velocidade. De que maneira, se, quando queremos ir para a frente, não podemos ir tão rápido quanto gostaríamos? Vamos nos lembrar de que um pneu de carro gira tão rápido que parece parado. Quando queremos ir rápido, ficamos quase parados porque o ar nos empurra, opõe-se ao nosso movimento, o ar nos segura, sentimos a força do ar. Queremos ir rápido, o ar nos

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empurra, a terra faz a força centrífuga, de modo que o nosso corpo não consegue se mexer, mas dentro funciona – aqui reside o ponto principal da força do ar.

Uma analogia para esse mecanismo pode ser encontrada no funcionamento das armas, das bombas. A bala do revólver precisa que o ferro a segure. O ferro a segura e o ar a empurra. Desse modo a bala se movimenta para a frente. O nosso corpo é uma arma.A força da terra nos joga para fora e rápido. É importante que o ar nos empurre no sentido contrário. A força de dentro está em oposição à força do ar que está fora, e isso é o que dá movimento. Sem resistência não há movimento. Do mesmo modo, muitas coisas na vida só se desenvolvem se tiverem uma resistência.

Já sabemos que para o LaoQiGong a força é composta de três partes: a força da terra, a força do ar e a força do homem.

Consideramos que essa teoria seria importante para a educação física. Sem levar em conta essas variáveis, as lutas costumam usar apenas a raiva e a força do músculo. O uso da raiva não é eficaz: esse é o sentimento de pior energia, por ser uma energia fechada. Os esportes usam as articulações e os músculos, que são partes da energia, mas apenas partes. Acreditamos que os esportes, as lutas, a dança, as artes ganhariam muito caso levassem em conta a força da terra, do ar e do indivíduo, em harmonia.

Nós não queremos ser imortais, nós queremos ser pessoas, nossa vida é ar e terra, por isso precisamos pensar nisso, em todas as áreas do conhecimento humano.

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A luta

Forças de fora e de dentro

A luta faz parte da história do homem, desde sempre. A arte marcial é o resultado da experiência de luta pela sobrevivência. Em cada período da história da China, na formação de cada sociedade, o indivíduo criou métodos de defesa e de ataque para sua própria proteção. Precisamos compreender as bases dessa luta, aprender como ela funciona, o que pode ser questionado, qual é o nosso objetivo na prática.

Nós queremos que a energia do corpo funcione. Já sabemos que é preciso considerar a dimensão de fora. Ar e terra são de “fora”. Usamos fora para treinar dentro. Usamos dentro para sentir fora. Nenhum dos dois deve faltar.

Os praticantes da arte marcial, tradicionalmente, têm considerado duas possibilidades em sua prática, chamadas interna e externa. Para eles, a arte marcial interna é aquela que só usa a respiração, só trabalha com o ar. Para nós não existe essa separação por considerarmos tudo uma coisa só, ou seja, treinar “fora” é importante, treinar “dentro” também é importante. Vamos deixar claro que treinar dentro é focalizar as alavancas, as molas etc. Enquanto as forças de fora são as forças da terra e do ar.

Interno e externo nasceram do budismo. Na origem, o externo foi chamado assim porque os primeiros praticantes saíam de casa, iam para uma academia. O kung fu shaolim é externo, por exemplo.

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Primeiro, o corpo ligado, sozinho, tem harmonia, isso é o que chamamos de interno. Depois, a harmonia com o “fora” chamamos de externo. A energia precisa passar pelo corpo, o corpo é ponte. Terceiro, o kung fu interno não quer ganhar mais força, mas se propõe a ajudar a passar a força da natureza.

No momento do treino, é importante esquecer o “dentro” e só sentir o “fora”. O efeito é dentro, mas não se pensa nele, é resultado de fora mais você juntos, em harmonia. Assim dizemos que usamos “fora” para treinar dentro. Só “fora” pode nos mudar. Não se deve usar dentro para ajudar fora, como pensar na barriga, pensar nos meridianos, para conseguir algum efeito no treino. O trabalho é feito com o corpo em relação com o “fora”. Eventualmente, algo de dentro pode nos chamar a atenção, mas isso já é um resultado, e não o início do processo.

Na luta, então, há três forças: da terra, do ar e do indivíduo. A força do indivíduo parece uma arma, uma máquina, uma alavanca, tanto faz. Na luta, a força do ar somada à do adversário é uma força, a força de fora, pois a gente não bate no ar, bate no adversário.Usamos a força dele, nos ligamos à força dele.

Primeiro, precisamos que o peso do corpo tenha movimento. Segundo, é precisa ter molas. Terceiro, ondas. Mola é uma linha. A onda ocorre em várias direções. Precisamos acessar as três coisas ao mesmo tempo. Isso é lutar.

Usamos também a força do adversário. A força de fora equivale à força dele somada à força do ar. Podemos

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dizer que a frequência da respiração do corpo, a frequência da terra e a frequência do ar precisam estar juntas, em harmonia. Diante de uma pessoa sentada, sem movimento, não podemos fazer nada. O outro em movimento tem uma frequência, você tem uma frequência, a Terra tem uma frequência. Com tudo junto pode acontecer uma luta. O bom lutador sabe como usar essas três forças, em harmonia.

A luta não tem mais a mesma procura que tinha no passado. É provável que, quando o homem começou a ficar em pé, o corpo dele tivesse mais força, ele estava mais perto do animal. Hoje, podemos dizer que o kung fu está nas armas.

O humano cresceu muito. Em alguns lugares ganhou muito, em outros perdeu. O pensamento ganhou muito com a ciência, o que não deixa de ser um tipo de força. O corpo perdeu a cauda, perdeu a força. Com o crescimento da ciência, o homem produziu armas, uma espécie de prolongamento dos membros.

Gostaríamos que, com o desenvolvimento da cabeça, o corpo não perdesse a força, a energia. Recuperar isso é o nosso trabalho com o corpo. E, em relação à cabeça, queremos abrir canais, outras formas naturais de percepção.

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CAPÍTULO V

MEDITAÇÃO

O que é meditação?

Para o LaoQiGong, meditação não é a imagem de uma coisa, de um deus, de uma paisagem. Imagem é a mente em atividade. Entendemos que a meditação é alcançada na ausência de imagem, na ausência de pensamento.

A meditação deve ser feita com o corpo todo trabalhando, preferencialmente em pé, na postura Zhan Zhuang. Esse é o nosso modo de meditar.

O homem tem cinco sentidos comuns: visão, audição, tato, olfato, paladar. E sabemos que existe a possibilidade de fechar esses canais e abrir outros que possibilitam trazer novas informações da vida. No treino do LaoQiGong, busca-se o fechamento dos cinco busca-sentidos e o esvaziamento da mente. Como resultado da meditação, aparece o “outro sentido”. O corpo, ademais, percebido como um todo, é capaz de sentir fora de seus próprios limites. Isso também é meditação.

A abertura do “outro sentido” torna possível acessar habilidades humanas diferentes, habilidades incríveis que estão lá, mas permanecem fechadas. Consideramos que o desenvolvimento dessa potencialidade é um caminho

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importante para o desenvolvimento do ser humano, na medida em que aumenta a inteligência – é também o que chamamos de continuar a obra do humano, conforme mencionado na introdução deste trabalho.

Um exemplo dessa habilidade de que falamos aqui acontece quando algum parente está com problemas e você telefona para ele preocupado, como se sentisse à distância que algo não vai bem. Episódios como esse são relativamente comuns entre pessoas da mesma família porque elas costumam estar conectadas numa mesma frequência.

Outro exemplo desse “outro sentir” é o que ocorre com os animais. Eles sabem quando vai chover, quando se aproxima uma tempestade, um terremoto. Nosso corpo também sabe quando o tempo vai mudar, apenas não damos atenção a isso. Hoje usamos apenas a ciência, as máquinas, para obter esse tipo de informação. Mas as pessoas do campo, muito ligadas à natureza, ainda conseguem ter esse tipo de percepção.

Nós podemos sentir mais, saber mais coisas. Nós temos recursos para isso: em nossa cabeça há bilhões de neurônios, dos quais só usamos um pouquinho. Queremos acessar outras possibilidades. A meditação é praticada para desenvolvê-las.

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CAPÍTULO VI

SAÚDE

“Aqueles que nos tempos antigos

conheciam a maneira de

conservar uma boa saúde, sempre nortearam seu comportamento do dia –a dia de acordo com a natureza. Seguiam o princípio do Yin e do Yang e se conservavam de conformidade com a arte da profecia, baseada na interação do Yin e do Yang. Eram capazes de modular sua vida diária em harmonia, de forma a recuperar a essência e a energia vital, portanto podiam se cuidar e praticar a maneira de preservar uma boa saúde.” (Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo – Bing Wang. São Paulo. Editora Ícone, 2001, pág. 25)

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Está registrado no livro do Imperador Amarelo que seus antepassados usavam a arte marcial para curar doenças e aumentar a sabedoria.

Em outro livro, da mesma época, está registrada a viagem do Imperador Yu, que viu pessoas fazendo QiGong, bebendo água de orvalho depositada sobre as plantas e jejuando.

Na China, o Imperador Yu (também chamado de Da Yu) tem uma influência histórica igual à de Confúcio, Lao Tse e o Imperador Amarelo. Seu grande feito foi o de ter desviado as águas de um rio, trabalho que durou três anos; durante esse período, ele jamais voltou para seu palácio, apesar de ter passado três vezes na frente do mesmo.

Diz a lenda que se machucou e que a cura de sua perna se deu de forma muito interessante. Depois de observar um grande pássaro (já extinto), que andava de maneira muito estranha – seus passos circundavam uma rocha, atrás da rocha havia uma serpente, o pássaro conseguiu mover a rocha e comer a serpente –, o Imperador Yu passou a imitar o andar do pássaro, curando dessa forma a sua perna. Esses passos ficaram conhecidos como os “Passos do Yu”.

Os Passos do Yu são considerados movimentos milagrosos que usam o Qi das pessoas, do ambiente e do Universo. Depois do surgimento da religião taoísta, eles foram considerados a essência da arte marcial.

Posteriormente, os monges taoistas, ao praticarem os Passos do Yu, acharam muitas semelhanças com o símbolo

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