2.3 Das Finanças Modernas às Finanças Comportamentais
2.3.2 As Finanças Comportamentais
2.3.2.1 As finanças comportamentais corporativas
Schwartz (2010), identificou que administradores financeiros combinam as abordagens tradicional e comportamental em determinadas situações. Atalhos mentais foram justificados pela pressão do tempo, falta ou custo de dados e mudanças tecnológicas.
Considerado um dos pioneiros das finanças comportamentais, Hersh Shefrin (2007, 2010) direcionou suas pesquisas também ao mundo corporativo, as quais “identificam os principais obstáculos psicológicos à maximização de valor das empresas, juntamente com os
passos que os administradores financeiros poderiam seguir para mitigá-los.” (SHEFRIN, 2007, p. XIV). Apurou as armadilhas comportamentais relacionadas aos principais tópicos de finanças corporativas: orçamento, estrutura de capital, avaliação de empresas (valuation), fusões e aquisições, política de dividendos e governança corporativa. Entre os vieses encontrados nos gestores financerios estão:
• Excesso de otimismo, comum entre estes profissonais, leva à superestimação de resultados positivos e subestimação de negativos;
• Excesso de autoconfiança, presente nos que se consideram melhores do que realmente são;
• Confirmação, que explica a tendência pessoal a considerar informações que confirmem sua visão e desconsiderar informações contrárias;
• Ilusão de controle, dependente da combinação de habilidade e sorte, alguns gestores exageram na percepção sobre o controle que exercem em determinados eventos e seus resultados.
Segundo o autor, o processo de tomade de decisões destes executivos também é influenciado por heurísticas:
• Representatividade, caracterizada por estereótipos e pela influência de determinado evento sobre outro;
• Disponibilidade, que provoca descarte de informações importantes e não prontamente disponíveis, em detrimento de informações prontas e rápidas;
• Ancoragem, por meio da qual gestores se baseiam em números iniciais para estimativas e leva a ajustes insuficientes;
• Afeto, que revela a influência do que os gestores julgam emocionalmente correto, baseados em intuição ou instinto;
• Enquadramento, que influenciaria gestores pela maneira como as opções de escolha são apresentadas. Considerado aspecto importante da Teoria do Prospecto, que estuda dois fenômenos: aversão a perdas e aversão à perda certa. No mundo corporativo, a aversão a perdas é evidenciada por gestores ao se depararem com alternativas arriscadas. No caso de aversão à perda certa, tendem a aceitar riscos injustos na tentativa de evitar perdas certas.
A Tabela 5 contém exemplos do efeito de fatores comportamentais do cotidiano empresarial identificados por Shefrin (2007, 2010) em estudos de caso e pesquisas envolvendo diversas empresas.
Tabela 5 - Exemplos de fatores psicológicos que afetam decisões de gestores financeiros corporativos
Fenômeno
Psicológico decisões tomadas nas Identificado em seguintes atribuições
Exemplos de falhas em
decisões corporativas para Empresa Resultado
Vieses Excesso de Otimismo Avaliação de Empresas e Fusões e Aquisições Superestimar receitas futuras e índices. Maior volatilidade no Fluxo de Caixa e na Redução de Lucros.
Orçamento Atrasar cortes de custos
em períodos recessivos.
Estrutura de Capital Empresas com caixa não
emitem dívida, mas tendem a investir em projetos de VPL negativo. Excesso de
Confiança
Orçamento Aquisições inferiores
quando tem caixa.
Redução do valor da firma por subestimação
Estrutura de Capital Empresas com caixa não
emitem dívida, mas tendem a investir em projetos de VPL negativo
de riscos.
Fusões e Aquisições Superestimar receitas
futuras e índices. Conflitos de Agência e Governança Corporativa Aprovar políticas de compensação que os remuneram acima do justo pelo resultado alcançado. Além de assumirem os créditos de boas decisões e culparem outros por decisões ruins.
Redução do Valor da Firma pela visão de curto prazo, contrária aos interesses de investidores.
Confirmação Relação Risco-Retorno Ignorar informações
relevantes e contrárias a
Redução de Lucros por demora na tomada de decisões.
Orçamento seu ponto de vista.
Ilusão do Controle
Relação Risco-Retorno Superestimar sua capacidade de controlar riscos. Potencial destruição de valor. Heurísticas Representa- tividade
Orçamento Escolher projetos errados
com base em previsões
Redução do valor da firma pela não maximizaçao do VPL Relação Risco-Retorno enviesadas.
Disponibili- dade
Avaliação de Empresas Escolher projetos errados com base em previsões
Redução do valor da firma por falta de julgamento criterioso Relação Risco-Retorno enviesadas.
Ancoragem Orçamento Se fixar em determinado
número e ajustá-lo
Redução do valor da firma por projeções enviesadas.
Dividendos insuficientemente.
Afeto, Wishful
Thinking e
Intuição
Orçamento Confiar mais no instinto do
que em análises ou
Redução do valor da firma por projetos com VPL negativo.
Relação Risco-Retorno avaliações formais. Enquadra-
mento, Aversão a perdas
Avaliação de Empresas Perdas potenciais agigantam-se se comparadas a ganhos potenciais do mesmo tamanho.
Ignora benefícios fiscais por aversão à divída.
Governança Corporativa
Joga fora dinheiro bom após perdas em projetos ruins.
Ben-David, Graham e Harvey (2010) pesquisaram as 11.600 projeções de executivos financeiros para o índice Standard & Poors 500 (S&P 500), baseado nas ações das 500 maiores empresas negociadas na bolsa norte-americana. Possivelmente influenciados por excesso de confiança, não calibraram suas projeções adequadamante, superestimaram suas expectativas, subestimaram riscos e foram influenciados por eventos passados.
Em sua revisão sobre estudos relacionados às Finanças Comportamentais Corporativas, Nguyen e Schubler (2013) reforçam o poder explicativo dessa abordagem sobre alguns fenômenos financeiros, em detrimento da abordagem tradicional. Administradores financeiros e investidores apresentaram comportamentos irracionais similares para tomada de decisões.
Baker e Wurgler (2013) revisaram a teoria de finanças comportamentais corporativas relacionada a: políticas de investimento, de financiamento e outras decisões corporativas como distribuição de dividendos e gestão de resultados. Entre os aspectos abordados, confirmam que o excesso de confiança dos gestores contribui para maior propensão a riscos. Concluem reforçando a utilidade de estudos comportamentais corporativos em complemento às ferramentas modernas.