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Os impressos de propaganda das ligas pernambucana e sergipana contra o analfabetismo são as principais fontes deste trabalho, complementados por periódicos de

ampla circulação no período estudado (1916-1922). A seleção dos periódicos baseou-se na incidência de notícias concernentes ao objeto de estudo. Da imprensa de Pernambuco foram selecionados os jornais ―A Província‖, ―Diário de Pernambuco‖, ―Jornal do Recife‖ e ―Jornal Pequeno: Pequeno Jornal‖. Esse conjunto de fontes foi retirado de um total de vinte e sete jornais consultados nos acervos do Arquivo Público Jordão Emerenciano (APEJE) e onze jornais da Hemeroteca da Faculdade de Direito do Recife.

Entre as fontes escolhidas para o estudo da LPCA, o Jornal ―A Província‖ destaca-se como órgão propagandista dos sócios responsáveis pelos comitês da periferia de Recife. Sobretudo as ações e ideias desenvolvidas pelas lideranças dos bairros da capital tiveram destaque nesse periódico, devido à clara afinidade ideológica. Os propagandistas mais afeitos aos discursos construtores de um novo combate à escravidão tiveram espaço no Jornal ―A Província‖, cujas atividades foram uma espécie de tribuna dos propagandistas do ensino primário, que assumiram o combate ao analfabetismo como uma continuidade da luta contra a escravidão negra no passado. Convém lembrar que o Jornal ―A Província‖ foi fundado pelo abolicionista Jose Mariano Carneiro da Cunha (1850-1912), membro do Partido Liberal de Pernambuco. O periódico começou a circular em 6 de setembro de 1872, impresso na Tipografia do Comércio. Na década de 1920 envolveu-se nas disputas políticas posteriores à morte do Governador de Pernambuco José Rufino Bezerra Cavalcanti (1865-1922), ao apoiar o candidato Eduardo de Lima Castro (1873-) de oposição a Jose Henrique Carneiro da Cunha (1867-1944). Em 1930 o Jornal deixou de circular por mais de um ano, reaparecendo em 8 de maio de 1933. O retorno não perdurou e as atividades cessaram, sendo vendidos o material tipográfico e a maquinaria à nova empresa, ―O Estado‖ (NASCIMENTO, 1966).

No ―Diário de Pernambuco‖ foram publicadas as informações oficiais da LPCA. Nesse jornal está disponível a série completa das atas das sessões institucionais, por exemplo. Não obstante a longa história desse periódico, é suficiente informar que antecedeu o ―Jornal de Recife‖ na divulgação dos atos oficiais do governo. Fundado em 7 de novembro de 1825, o ―Diário de Pernambuco‖ foi adquirido em 1901 por Francisco de Assis Rosa e Silva (1857- 1929), sendo dirigido pelo jornalista Artur Orlando (1858-1916). No período do presente estudo esteve na direção do jornalista Carlos Lira Filho que imprimiu um tom de neutralidade ao periódico (NASCIMENTO, 1966).

O ―Jornal Pequeno‖ destaca-se como fonte pelo detalhamento da rotina das personagens centrais das histórias. Dessa fonte foram retiradas, por exemplo, a maior parte das datas de nascimento e morte das personagens, limites temporais importantes para a verificação de outros acontecimentos inerentes ao objeto. Esse diário vespertino teve o

primeiro número publicado em 1 de julho de 1898. Pertenceu a Luiz Pereira de Oliveira Faria e foi imprenso nas oficinas do ―Jornal do Recife‖ até 20 de julho de 1899. Quatro dias depois voltou a circular com o título de ―Pequeno Jornal‖, livre do antigo proprietário, dirigido por Tome Gibson (1872-1928). No final de 1917, por assumir a defesa do governo de Manuel Borba, travou polêmica com o Jornal do Recife, fato que se repetiu em 1918.

O antigo proprietário de ―Jornal Pequeno‖, Luiz Pereira de Oliveira, arrendou o ―Jornal do Recife‖ em 1912. Lançado como Revista Semanal de Ciências, Letras e Artes em 1 de Janeiro de 1859, pela Tipografia Acadêmica. Dirigido pelo proprietário, Joao de Barros Falcão de Albuquerque Maranhao (1807-1882) a princípio, a partir de 1 de abril de 1894 tornou-se porta-voz do Partido Progressista, uma coligação dos dissidentes dos Partidos Conservador e Liberal. Na administração de Luiz Pereira de Oliveira Faria, o periódico tornou-se publicação oficial do estado e porta-voz do General Emídio Dantas Barreto (1850- 1931) (NASCIMENTO, 1966). Essa relação terminou em 1915, na administração do Governador Manoel Antonio Pereira Borba (1864-1928), criador da Imprensa Oficial. São dessa época as controvérsias com o Jornal ―A Província‖ e com a LPCA. Em 1929 o jornal apoiou a campanha da Aliança Liberal, defendendo as candidaturas de Getúlio Vargas e Joao Pessoa à Presidência e Vice-Presidência da Republica, apoiadas pelo Partido Democrata de Pernambuco. Em 1938 parou de circular (NASCIMENTO, 1966).

Além das informações específicas ao objeto de estudo, a história da imprensa oferece informações acerca dos aspectos políticos, sociais e econômicos do Norte do Brasil. A proliferação de jornais no Brasil na Primeira República resultou de uma conjuntura marcada pelo apogeu do café e diversificação das atividades produtivas, pela nova ordem política republicana e pela difusão de programas de alfabetização e urbanismo. Os avanços nas técnicas tipográficas e de ilustração impulsionaram a carreira dos jornalistas, que passaram a compor os quadros do poder, ganhando outra visibilidade e se impondo profissionalmente (MARTINS e DE LUCCA, 2006).

Em se tratando da imprensa sergipana, foram selecionados os seguintes jornais, prioritariamente: ―Correio de Aracaju‖, ―Diário da Manhã‖, ―Estado de Sergipe‖ e ―Sergipe Jornal‖, de um total de dezesseis jornais consultados nos acervos do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) e no Arquivo Público do Estado de Sergipe (APESE). O Jornal ―Correio de Aracaju‖ divulgou especialmente a rotina da LSCA com notícias acerca das inaugurações das escolas, homenagens aos sócios diretores, festivais, deliberações das assembleias etc. O periódico teve a primeira publicação em 24 de outubro de 1906, quando anunciou suas relações com o ―Partido Republicano Conservador Sergipense‖ (ROTA...,

1906, p. 1). Fundado por João Menezes (1866-) a partir de setembro de 1918 o Jornal ―Correio de Aracaju‖ passou a ser dirigido pelo engenheiro civil Gentil Tavares da Mota (1892-1970), vice-presidente da LSCA entre 1919 e 1921. Foi Gentil Tavares quem assumiu a Imprensa Oficial logo após a morte do Presidente do Estado de Sergipe, Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão (1849-1921).

Aliado ao ―Correio de Aracaju‖ surgiu o vespertino ―Sergipe-Jornal‖, que lançou críticas a LSCA. A primeira edição data de 25 de julho de 1921, como órgão político, independente e noticioso de uma ―sociedade anônima‖ (TOPICOS..., 1921, p. 1). O periódico tinha um objetivo claro: defender a candidatura de Arthur da Silva Bernardes (1875-1955) e Urbano Santos da Costa Araujo (1859-1922) à Presidência e Vice-Presidência da República pelo Partido Republicano Conservador. Ambos tiveram o apoio do ―Correio da Manhã‖, tendo à frente da diretoria Antônio Manoel de Carvalho Neto (1889-1954). Na primeira edição elogiou a personalidade de José Joaquim Pereira Lobo (1864-1933), então presidente do estado de Sergipe (1918-1922), pela continuidade do trabalho levado a efeito por Oliveira Valadão no segundo mandato (1914-1918).

Quanto ao Jornal ―Estado de Sergipe‖ chama atenção em relação à LSCA pela publicação dos discursos públicos dos sócios, proferidos em inaugurações de escolas, por exemplo. O periódico foi fundado em 6 de dezembro de 1889, por Olímpio de Sousa Campos (1853-1906), líder do Partido Republicano Sergipense. Então, Olímpio Campos já havia assumido a presidência do estado e apresentou o periódico como a ―sentinella intimerata da pureza do regimen democrático. A elle adhirão os que tem coragem para affrontar os perigos, energia para resistir aos embates e muita abnegação para sacrificar interesses individuaes em bem do maior numero.‖ (ESTADO DE SERGIPE, 1889, p. 1). Até 1908 o Jornal ―Estado de Sergipe‖ foi órgão oficial do estado, período em que foi alvo das críticas do ―Diário da Manhã‖.

Entre as fontes utilizadas nesta pesquisa, o ―Diário da Manhã‖ destaca-se pelo conteúdo pedagógico dos artigos. Os textos fornecem informações acerca de autores e obras educacionais que orientaram o pensamento e a prática da LSCA. Além disso, as colunas registraram polêmicas discussões teóricas e políticas entre os sócios. A primeira edição desse periódico, de 1 de janeiro de 1911, informa o intuito de servir não somente de arena para o debate franco e livre da política oficial, bem como para servir de espaço às discussões científicas e expressões artísticas, entre outras finalidades. O Jornal de Apulchro Motta (1857- 1924) apresentou-se a sociedade sergipana como um órgão de imprensa a favor dos que

produzem, pensam e agem; enfim, aos trabalhadores e professores. O subtítulo resume a descrição ―Jornal para Todos‖ (DIÁRIO DA MANHÃ, 1911, p. 01).

Os periódicos são fontes principais deste trabalho porque portadores dos discursos propagandísticos das ligas pernambucana e sergipana contra o analfabetismo. Especialmente os mensários ―Nova Cruzada‖ e ―Pela Patria‖ importam ao estudo, pelo conteúdo e alcance. Foram distribuídos gratuitamente nas repartições públicas, instituições culturais e grande imprensa dos estados de origem. O Jornal ―Nova Cruzada‖ circulou pela primeira vez em 14 de março de 1917. Dez edições foram publicadas entre 1917 e 1918. Consta que chegou a atingir 6.000 exemplares. Todavia, somente o número cinco foi recuperado durante os levantamentos realizados nesta pesquisa. A edição de 14 de julho de 1919 foi localizada no Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Arqueológico) (ICE). Contém quatro páginas, com trinta e sete textos. Impresso na redação do Liceu de Artes e Ofícios de Pernambuco, o Jornal ―Nova Cruzada‖ registrou os nomes das principais lideranças do combate ao analfabetismo no estado pernambucano e das principais instituições financiadoras da propaganda local.

O primeiro número do Jornal ―Pela Patria‖ saiu em 15 de novembro de 1919. Era composto de oito páginas editadas nas oficinas gráficas do estado. Vinte números contabilizaram a produção jornalística de sete anos, entre 1919 e 1927. Os 14 números iniciais foram editados até agosto de 1921. A terceira edição não foi localizada. Em 1923 saíram os números 15 e 16. No biênio 1924-1925 foram publicadas as edições 17 e 18, ambas não localizadas. Uma edição foi publicada em dezembro de 1926; outra edição no trimestre abril/junho de 1927. A irregularidade do periódico foi explicada em razão dos limites da capacidade de atendimento da gráfica do estado, que priorizava o serviço oficial.

Dezessete edições do ―Pela Patria‖ foram localizadas na Biblioteca Publica Epifânio Dórea, em Aracaju. A série contém 48 autores3, bem como 226 textos publicados. O primeiro número do jornal anunciou a finalidade de propagar as ideias e ações das ligas contra o analfabetismo. Suspensa a circulação antes de completar dois anos de inaugurado, retornou em 12 de outubro de 1923 com o número 15. O relançamento do ―Pela Patría‖ aconteceu por volta das 19 horas, na Biblioteca Pública de Aracaju, em meio ao festival de arte ―Noites de Flores‖ (FESTIVAL..., 1923, p. 4). Para o historiador Epifânio Dórea (1884- 1976) esse

evento marcou uma ―interessante coincidência‖ com a data de ―12 de outubro de 1861‖, quando aconteceu a inauguração do Farol do Cotinguiba4 (E.D. 1923, p. 4). Ambos os acontecimentos revestiram-se de idêntica grandeza: fazer funcionar um instrumento de propagação da luz.

No âmbito da pesquisa, os acervos virtuais foram de extrema importância, principalmente, a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional Digital Brasil. As primeiras incursões por registros acerca das instituições pesquisadas nesse espaço virtual resultaram em pistas para localização de documentos. Durante a pesquisa, consultas permanentes foram realizadas nos jornais e revistas disponibilizados pela Biblioteca Nacional Digital. Merece destaque, também, os acervos virtuais das seguintes instituições: Acervo Estadão, Biblioteca Acadêmica Luiz Viana Filho/Senado Federal/Brasil, Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin/USP, Biblioteca Digital Mundial; Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC)/FGV, Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Sergipe.

33Escreveram no Pela Patria: Álvaro Sant‘Anna, Anternor Lyrio Coelho, Antônio Xavier de Assis, Bernardina Rosa Nascimento, Cesartina Regis, Christiano Flavio, Clara Campos, Deolindo Nascimento, Edgar Coelho, Edison Lacerda, Edson de Oliveira Ribeiro, Enoch Santiago , Helvecio de Andrade, Hilario Sanz, José Augusto, J. Rodrigues da Silva, João Já, Julio Amzabuja, Lindolpho Salles de Campos, Lizete de Carvalho, Luiz Rolemberg, Maria Gertrudes Torres, Nolita Regis, Octaviano Tavares, Ornélia Vianna Silva, Pedro Machado, Sebastião Albuquerque, Vigílio Maurício. Alguns textos foram assinados por pseudônimos: A.B., A.F.E., C.C.C., E. A., E.C., E.D., M. ELLE X, M.O., X

4 O Farol do Cotinguiba tornou-se símbolo da cidade e funcionou até 16 de julho de 1991. Denominado assim por alusão ao antigo topônimo do Rio Sergipe, foi tombado e alcançou a atualidade. Hoje, é parte do patrimônio histórico de Sergipe e está situado no Bairro Farolândia. Cf.: ALVES, José do Patrocínio Hora Alves (Org.) Rio

Sergipe: importância, vulnerabilidade e preservação. São Cristóvão: Editora UFS, 2006. ARACAJU,