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AS FUNÇÕES DE ENSINO E PESQUISA EM RELAÇÃO À GRADUAÇÃO

OS DADOS SOBRE GRADUAÇÃO NAS PRODUÇÕES DA ANPED

AS FUNÇÕES DE ENSINO E PESQUISA EM RELAÇÃO À GRADUAÇÃO

Inferências sobre a relação entre ensino e pesquisa na graduação aparecem em diversos textos que abordam a questão da diversidade de instituições que no ensino superior assumem essas funções em conjunto ou isoladamente, no bojo de discussões sobre políticas governamentais para a Educação Superior, sobre autonomia institucional e financiamento do Ensino Superior ou sobre a história da Educação Superior no Brasil, entre outros. Parece existir consenso entre os autores ao ressaltar o papel social que o Ensino Superior, por meio de suas funções de ensino, pesquisa e extensão, desempenha no desenvolvimento da cidadania e do país e ao questionar a idéia de um ensino de graduação entendido como ação executada por professores que não exercem pesquisa em instituições que não assumem essa função.

Pode inferir-se que, de modo geral, nos trinta e seis textos selecionados para análise, existe a suposição de que sem processos investigativos perde-se o incentivo para o desenvolvimento de capacidades de crítica e de raciocínio reflexivo indispensáveis para a formação do aluno, seja porque ele não realiza atividades investigativas, seja porque o professor não as realiza, prevalecendo, conseqüentemente, um modelo de ensino transmissivo e uma idéia de conhecimento estático.

As idéias de um conhecimento em construção e de um processo de ensino- aprendizagem ativo e em sintonia crítica com a realidade social imediata parecem estar implícitas em três textos [11; 36; 77] que discutem, entre outras, a necessidade de articular ensino e pesquisa à extensão e de criar, tanto no ensino quanto na pesquisa, envolvimento e compromisso com essa realidade e não apenas com um contexto mercadológico ou internacional.

Seis textos [19; 25; 26; 60; 111; 132] analisam aspectos como: a) as dificuldades de concretizar no Brasil a associação das funções de ensino, pesquisa e extensão - especialmente no âmbito da graduação - no bojo das discussões sobre autonomia e financiamento das Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Superior privadas; b) concepções de pesquisa que constam na literatura acadêmica brasileira e nas políticas para a educação superior; c) dificuldades de institucionalização da pesquisa em universidade emergentes públicas ou privadas.

Nos textos mencionados acima, ressalta-se como, ao longo do tempo, na história do Ensino Superior brasileiro ocorre descompasso entre as políticas públicas de incentivo e financiamento ao ensino e à pesquisa, com conseqüências que levam a expansão por um lado, mas a desvalorização, por outro, do ensino de graduação. Questiona-se a qualidade desse ensino expandido de graduação que parece obedecer mais à lógica de formar para o mercado de trabalho e menos à lógica de educar no sentido crítico e reflexivo, em contradição com o que parece ser necessário para a sociedade da informação.

Alguns textos abordam a relação entre ensino e pesquisa na graduação de uma perspectiva explicativa e crítica da estruturação didática e administrativa atual das universidades. A estrutura que é discutida é a que relaciona ensino à graduação, pesquisa à pós-graduação. Um texto [64] aborda a dificuldade de associar ensino e pesquisa na graduação, como resultado da estrutura departamental e da reformulação dos currículos de graduação e da institucionalização da pesquisa na pós-graduação. Dois textos [99;143] analisam os programas de iniciação científica considerados como um meio de integração entre ensino e pesquisa nas universidades e que, para os autores dos textos, apesar do efeito favorável nos alunos participantes, cumprem esse papel apenas

para poucos; para os alunos que não participam desses programas em sua formação, a experiência acadêmica é, geralmente, de dissociação entre ensino e pesquisa.

Outros autores analisam a re-organização e re-estruturação dos cursos de graduação na história de diversas instituições brasileiras na década de sessenta e após a Reforma Universitária de 1968 e sugerem que não há incentivo para a associação entre ensino e pesquisa em esse nível de ensino. Assim, encontramos um texto [10] que analisa a estruturação diferenciada dos cursos de Ciências Sociais e Ciências Básicas de uma universidade e conclui que o maior incentivo e financiamento para a área tecnológica – em função das políticas governamentais prioritárias para Ciência e Tecnologia - e o menor para a área de humanas levou ao desprestígio desta última. De modo similar, um texto [18] sugere que nos projetos político-pedagógicos há maior incentivo à pesquisa – institucionalizada na pós-graduação - do que ao ensino – institucionalizado na graduação. O mesmo raciocínio aparece em outro texto [22] que sugere que o incentivo das políticas de ciência e tecnologia cria dissociação entre ensino e pesquisa no nível de graduação.

Em síntese, sobre a associação ensino e pesquisa na graduação, depreende-se desses textos que a situação que, aparentemente, está posta é: o aluno de graduação, em geral, pouco ou nada entra em contato com a pesquisa produzida - e pouco ainda a realiza - e o professor envolve-se mais com os programas de pós-graduação e com os órgãos de financiamento à pesquisa, pressionado, em parte, pelas condições externas de financiamento e avaliação desses programas e, em parte, pelo status que essa participação confere na vida acadêmica.

Um pouco do histórico da forma como é associado o ensino à pesquisa - ou o ensino profissional e a atividade científica e acadêmica nas instituições brasileiras de ensino superior - pode ser observado em textos de autores que se debruçam sobre as

concepções, os modelos e a configuração, principalmente, das universidades no mundo e no Brasil.

Cinco trabalhos [3; 6; 100; 133 e 161] comparam: o ensino entendido como formação profissional no modelo francês napoleônico, o tipo de associação entre ensino e pesquisa do modelo alemão humboldtiano e do modelo americano com os modelos desenvolvidos para o Ensino Superior nas instituições brasileiras. O que é sugerido nesses textos é que variações dos modelos napoleônico e humboldtiano foram adotados na criação de instituições brasileiras e que o modelo americano seria uma tendência atual.

Dois textos [61 e 78] abordam modelos de ensino superior presentes em três momentos históricos: 1) no contexto posterior à Segunda Guerra Mundial momento em que o ensino era tido como “formação profissional”, a pesquisa era “saber” e extensão era “serviço social”. 2) no contexto altamente individualista das mudanças produtivas e do mercado de trabalho após os anos sessenta do Século XX, modelo caracterizado pela dissociação entre ensino e pesquisa no contexto de expansão e diversificação de instituições. 3) o contexto que se espera para o Século XXI no qual o ensino centra-se no aluno, associa-se à pesquisa e se torna ensino interligado por meio de redes virtuais locais e internacionais.

O ensino superior no Brasil após a Reforma Universitária de 1968 e o modelo de expansão do ensino em instituições privadas e cursos isolados que não incentiva pesquisa são discutidos em um texto [129]. Oito trabalhos [5; 20; 33; 73; 98; 150; 152; 155] abordam a situação atual do ensino superior brasileiro e as novas propostas de Reforma Universitária. De modo geral, esses textos questionam: a subordinação da formação profissional (ensino) e da produção de conhecimento científico (pesquisa) à lógica do mercado; a contradição entre um discurso que valoriza a produção de

conhecimento em todos os níveis de ensino mas, não discute as condições institucionais e de financiamento para efetivar essa produção; a expansão de um ensino sem pesquisa que alia nos cursos conteúdos e tempo aligeirados, resultando em ensino fútil e superficial, justamente o contrário da reflexão aprofundada e crítica que se suporia necessária para lidar com o volume de informação da “Sociedade do Conhecimento”.

Além dos aspectos mencionados, outras questões sobre a relação entre ensino e pesquisa na graduação são mencionadas em quatro textos [8; 58; 126; 145] que abordam o significado e o sentido da formação no bacharelado; o modelo de expansão do ensino superior brasileiro em estabelecimentos isolados - após a Reforma de 1968 – e, a possível exclusão e desigualdade social que pode ser produzida pela dissocia ção entre ensino e pesquisa – quando se trata de instituições de pesquisa e instituições de ensino, por exemplo – e, por último, um texto [80] refere essas questões à formação de professores.

A Tabela 19 mostra a quantidade de textos que abordam aspectos da relação entre ensino e pesquisa no período entre 1996 e 2003.

Tabela 19: número de textos da categoria relação entre ensino, pesquisa e extensão no período de 1996 – 2003.

Ano Categoria

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Total

Relação entre ensino,

pesquisa e extensão 6 6 2 1 7 3 5 6 36

O Gráfico10 permite comparar a produção ao longo do período. Vemos que textos que discutem aspectos relacionados à relação entre ensino e pesquisa têm presença bastante elevada com exceção dos anos 1998, 1999 e 2001. Há um número elevado de textos em 1996 e 1997, anos em que o debate sobre a nova Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional, LDNEN, é acirrado em torno das funções das universidades e da diferenciação de instituições; também é elevado no final do período, possivelmente esse interesse é suscitado pelos debates em torno do projeto da Reforma Universitária. O mesmo pode inferir-se em relação ao ano de 2002 em que sete textos abordam questões que trazem à tona a relação entre ensino e pesquisa: como os que discutem modelos de universidade, história das instituições brasileiras ou políticas de avaliação e financiamento do ensino e da pesquisa.

Chama a atenção, ao observar a Tabela 20, o fato de que dos trinta e seis textos que selecionamos para análise porque forneciam aspectos sobre a relação entre ensino e pesquisa na graduação, trinta e três foram apresentados no GT de Políticas da Educação Superior. A preocupação neles é mais com a defesa de um ensino de qualidade no sentido político geral do que com a discussão sobre os aspectos pedagógicos implicados. Neste sentido, apenas um texto escreve sobre o sentido formativo crítico e emancipatório da relação entre ensino e pesquisa na graduação.

Tabela 20: distribuição dos textos sobre relação entre ensino, pesquisa e extensão por Grupo de Trabalho da ANPEd

Grupo de Trabalho Nº de textos

2) História da educação 1 [18]

4) Didática 1 [145]

8) Formação de professores 1 [80]

0

1

2

3

4

5

6

7

1996

1998

2000

2002

relação entre

ensino,

pesquisa e

extensão

Gráfico 10: distribuição de textos sobre relação entre ensino, pesquisa e extensão no período 1996-2003.