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2.1 Perspectivas teóricas (e práticas) da avaliação da aprendizagem

2.1.3 As funções e os objetivos da avaliação

Na perspectiva de Hadji (1994), as funções da avaliação se inserem no conjunto das práticas de ensino do professor. Para compreender essas funções, Hadji (1994) apresenta, a partir do que propõe De Landsheere (1974), três objetos possíveis da avaliação:

O inventário permite verificar se o aprendente domina bem as competências e capacidades que faziam parte do objeto do ensino. [...]. O diagnóstico é a ocasião, por um lado, de situar o nível actual das aptidões, das necessidades ou dos interesses de um indivíduo, de verificar a presença de pré-requisitos; mas, por outro lado, é, sobretudo, a ocasião de situar e de compreender as dificuldades sentidas pelo aprendente, tendo em vista a concepção das estratégias de remediação possíveis. Por fim, o prognóstico versa sobre as possibilidades de êxito ulterior em função do que, actualmente, parece aprendido (HADJI, 1994, p. 61-2, grifos do autor).

A partir desses três objetos, Hadji (1994) distingue três objetivos de avaliação, os quais conduzirão a uma estratégia de realização diferente, ou seja, com a intenção de atingir cada objetivo a avaliação possui uma função que lhe é peculiar. Segundo o autor, se o objetivo principal é de orientação, fala-se de avaliação diagnóstica, que

“trata de explorar ou de identificar algumas características de um aprendente [...] com vistas a escolher a sequência de formação mais bem adaptada às suas características” (HADJI, 1994, p. 62). Quando o objetivo é de regular16, fala-se da avaliação formativa17, cuja

[...] característica essencial é a de ser integrada na acção de “formação”, de ser incorporada no próprio ato de ensino. Tem por objectivo contribuir para melhorar a aprendizagem em curso, informando o professor sobre as condições em que está a decorrer essa aprendizagem, e instruindo o aprendente sobre o seu próprio percurso, os seus êxitos e as suas dificuldades (HADJI, 1994, p. 63- 4).

A avaliação somativa está relacionada a um balanço final ao término de uma sequência ou um ciclo de formação, que pode ser, por exemplo, um curso, uma disciplina, uma unidade, uma atividade. Por isso, de maneira geral, ela é pontual (HADJI, 1994).

No que diz respeito aos objetivos da avaliação, Lopes e Silva (2012) também apontam três, nomeadamente: a avaliação da aprendizagem, avaliação como aprendizagem e avaliação para a aprendizagem.

A concepção de avaliação da aprendizagem está pautada em exames e testes que revelam o que o estudante atingiu dos objetivos propostos, ou seja, o que o estudante demonstra saber. Portanto, esse tipo de avaliação é utilizado para certificar e está alinhado à concepção de avaliação somativa apresentado por Hadji (1994).

A avaliação como aprendizagem é uma concepção que enfatiza o papel do estudante no processo de aprendizagem e de avaliação. Nessa direção, o estudante deve refletir sobre como monitorar os seus progressos para informar os seus futuros objetivos de aprendizagem. “Professor e alunos constroem em conjunto a aprendizagem e a avaliação, e coconstroem formas de monitorizar o progresso da aprendizagem (LOPES; SILVA, 2012, p. 4). Isso implica em responsabilizar o estudante no acompanhamento da própria aprendizagem, em obter informações acerca da qualidade desta e em (re)pensar adaptações e ajustes com vistas a melhorá-la. “Para poderem agir nesse sentido necessitam de possuir competências de questionamento reflexivo e de considerar uma série de estratégias para otimizar a

16 Hadji (1994), assim como os demais pesquisadores da área de avaliação que seguem a

chamada escola francesa, utiliza o termo regular com o significado de guiar constantemente e facilitar o processo de aprendizagem.

aprendizagem futura” (LOPES; SILVA, 2012, p. 4). Além disso, esse tipo de avaliação envolve os estudantes em processos de auto e heteroavaliação.

Na concepção de avaliação para a aprendizagem cabe ao professor averiguar o conhecimento dos estudantes, as suas percepções, concepções alternativas e falhas na aprendizagem e usar desses dados para informar a organização das aulas e da prática pedagógica. A finalidade é que os estudantes possam atingir o máximo de suas competências. Assim, a avaliação para a aprendizagem pode ser compreendida como um suporte à aprendizagem do estudante. De acordo com Lopes e Silva (2012), a avaliação para a aprendizagem deve acontecer a todo o tempo, pois incentiva a participação ativa dos estudantes na sua aprendizagem e o aumento da sua autonomia. Para tanto, implica que o professor:

 Partilhe as metas de aprendizagem com os alunos, de forma que estas se tornem explicitas para eles;

 Ajude os alunos a compreender essas metas a fim de que as atinjam  Forneça feedback construtivo que ajude os alunos a identificar as

formas de melhorar o seu rendimento;

 Acredite que cada aluno pode melhorar seus resultados de aprendizagem anteriores e que os alunos possam rever e refletir sobre o desempenho e os progressos conseguidos;

 Se assegure de que os alunos aprendem estratégias de

autoavaliação para identificarem áreas que precisam de melhorar;  Reconheça que tanto a motivação como a autoestima, essenciais

para uma aprendizagem eficaz e para o progresso, podem ser intensificadas através de técnicas de avaliação eficazes. (LOPES; SILVA, 2012, p. 4).

Esses dois tipos de avaliação – avaliação como aprendizagem e avaliação para a aprendizagem – estão alinhados com a concepção de avaliação formativa, uma vez que seguem

[...] um processo frequente, contínuo e dinâmico que envolve professores e alunos numa relação de cooperação, com vistas a recolherem dados sobre a aprendizagem. Ambos (o professor – avaliação para a aprendizagem – e o aluno – avaliação como aprendizagem) usam os dados obtidos para tomar decisões sobre que ações tomar para promover a aprendizagem futura (LOPES; SILVA, 2012, p. 6-7).

Lopes e Silva (2012, p. 3) baseiam-se na ideia de que os estudantes “[...] aprendem mais quando compreendem os objetivos pretendidos para a sua aprendizagem, onde estão em relação a esses objetivos e como podem alcançá-los [...]”.

Para fins de visualização, o Quadro 3 resume as funções e os objetivos da avaliação a partir do que é colocado por Hadji (1994) e Lopes e Silva (2012).

QUADRO 2.3 – As características de cada tipo de avaliação. Tipo de

avaliação Dimensão

Diagnóstica Formativa Somativa

Funções Identificar e orientar Inventariar e regular Certificar e classificar Objetivo Avaliação da e para a aprendizagem Avaliação como e para a aprendizagem Avaliação da aprendizagem

Foco No produtor e nas

suas características Nos processos e nas atividades em curso Nos produtos

Ação social Predição Compreensão de

dificuldades

Verificação (pôr à prova)

Ocorrência Antes da ação de

formação Durante a ação de formação Depois da ação de formação Fonte: A autora.