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As hipóteses no experimento científico no ensino das Ciências Naturais

Gràfico 2 Disciplina em que trabalha

5 A HABILIDADE DE MEDIR NO TRABALHO PRÁTICO E EXPERIMENTAL

5.4 Ensinar a operacionalizar variáveis de uma hipótese

5.4.2 As hipóteses no experimento científico no ensino das Ciências Naturais

A hipótese é uma afirmativa que se faz no desejo de se averiguar a validade da resposta existente para um determinado problema. É uma conjectura que precede a comprovação dos fatos e tem como atributo uma formulação provisória; precisa ser testada, para que sua legitimidade seja confirmada (OLIVEIRA, 2002). Certa ou errada, de acordo com o senso comum ou contrário a ele, a hipótese sempre leva a uma verificação empírica pela via da experimentação.

As hipóteses são prováveis soluções do problema proposto, expressas em forma de proposição. São afirmações comprováveis sobre uma possível relação entre duas ou mais variáveis. Hipótese é uma suposição a respeito de algo. É uma resposta antecipada, transitória, relativa a alguma situação (COSTA, 2001). Para Oliveira (2002, p. 156), “a função da hipótese, na pesquisa científica, é propor explicações para certos fatos e ao mesmo tempo orientar a busca de outras informações”.

Na visão de Simona et al. (2003) a hipótese é a idéia a defender, e representa uma resposta antecipada ao problema a qual que conduz e guia a busca. À medida que se realiza o estudo e a construção em torno do problema e do objeto, sistematizam-se determinadas idéias prévias sobre a solução.

Na perspectiva de Oliveira (2002),

A síntese da ciência assenta na sua capacidade para estabelecer, com base em provas observacionais, testes, experimentos e pesquisas, importantes hipóteses sobre a natureza, sobre o ser humano, sobre a administração empresarial, economia, qualidade, meios de comunicação, doenças e pragas, problemas no campo da matemática e da engenharia; são utilizadas para confirmar ou refutar hipóteses científicas (OLIVEIRA, 2002, p. 81).

A nitidez da definição da hipótese é condição fundamental para o desenvolvimento da pesquisa.

Não existem regras específicas para a formulação de hipóteses, mas é necessário que elas sejam baseadas em conhecimentos práticos e/ou teóricos, de forma que possam servir de referência para a investigação.

Segundo McGuigan (1977) e Bunge (1981) apud Bisquerra; Sarriera; Martínez (2004), a formulação de uma hipótese deve satisfazer uma série de critérios, que podem ser assim resumidos:

a) ser comprovável ou empiricamente demonstrável;

b) estar em conformidade com o referencial teórico e com outras hipóteses do campo de pesquisa e, conseqüentemente, fundamentada em conhecimentos prévios; c) exercer o princípio da “parcimônia”, isto é, entre duas hipóteses igualmente

possíveis, deve-se escolher a mais simples; d) dar resposta ao problema, ou ser aplicável a ele; e) ter naturalidade lógica;

f) expressar-se quantitativamente, ou ser suscetível de quantificação; g) ter um amplo número de conseqüências.

Costa (2001) afirma que para se formular uma hipótese, é essencial levar-se em conta a experiência acumulada. É o que os psicólogos titulam de transferência de conhecimento. Para o autor, trata-se, na verdade, de conjecturas do seguinte tipo:

- Se deu certo para fulano, porque não daria certo para mim? - Tudo o que li a respeito mostra resultados positivos.

sucesso!(COSTA, 2001, p. 29)

Nuñez; Silva (2008b) apontam que, para uma hipótese ser bem formulada ela deve a) ser conceitualmente clara, de fácil compreensão e sem ambigüidades;

b) ser específica e susceptível de especificação; c) poder constatar seus termos com a realidade; d) estar relacionada com a teoria.

Os resultados da pesquisa poderão confirmar ou refutar a hipótese: se esta for reformulada, outros testes terão de ser realizados para sua comprovação. É como se houvesse uma ponte chamada “inferência”, na qual a hipótese está em uma das extremidades e a decisão na outra (COSTA, 2001). O autor alega que a inferência é inevitável: ela vincula a hipótese à decisão. Para esse autor, “[...], a inferência é uma ponte. Se a inferência for fraca, a ponte cede e a decisão cai junto!” (COSTA, 2001, p. 30).

Na formulação de hipóteses úteis, há três dificuldades principais, segundo Goode; Hatt (1968 apud OLIVEIRA, 2002),

a) ausência ou desconhecimento de um quadro de referência teórico claro; b) falta de habilidade para utilizar logicamente esse esquema teórico;

c) desconhecimento das técnicas de pesquisa existentes para ser capaz de expressar adequadamente a hipótese (GOODE; HATT, 1968 apud OLIVEIRA, 2002, p. 156).

Na hipótese, ou idéia a defender, vinculam-se as categorias objeto, campo e objetivo, para resolver o problema. O sistema se relaciona com o objetivo para solucionar o problema que se manifesta em determinado objeto. Ou seja, “a hipótese ou idéia a defender deve caracterizar o modelo (campo de ação) em suas relações essenciais, deve superar a contradição” (SIMONA et al., 2003, p.15)

Na opinião de Pérez (2003), as hipóteses podem ser classificadas em três grupos: correlacionadas, de diferença de grupos e causais:

a) As hipóteses correlacionadas relacionam duas ou mais variáveis, chegando, em alguns casos, a explicar essa relação;

b) As hipóteses de diferenças de grupos estabelecem disparidades entre dois ou mais grupos a respeito de uma variável escolhida, chegando, em determinados casos, a definir o sentido em que se opera tal diferença;

c) As formulações causais tentam esclarecer as causas e efeitos da relação entre variáveis ou das diferenças entre os grupos. Podem ser bivariadas, quando estão

envolvidos dois elementos: um como variável independente e outro com variável dependente; ou multivariadas, quando participam mais de duas variáveis em qualquer das circunstâncias apontadas anteriormente.

Enfim, a hipótese deve ser elaborada em termos bastante claros e precisos, sem ambigüidades, e designar os objetos em questão de modo que seja possível apresentar provas concretas ou argumentos bastante convincentes, favoráveis ou não ao objeto de pesquisa (COSTA, 2001).

Para Nuñez; Silva (2008b), os procedimentos experimentais nas Ciências Naturais implicam o uso de instrumentos, medição de variáveis, utilização de técnicas de laboratório, orientadas, em geral, por hipóteses - como respostas provisórias a problemas definidos, uma vez que uma pesquisa experimental visa a responder às perguntas que configuram o problema, pela via de um experimento e da avaliação dos resultados.

Historicamente, muitos cientistas trabalharam durante anos na elaboração e confirmação de suas hipóteses, a partir de experimentos planejados. Sendo assim, o trabalho com hipóteses e a experimentação orientada a testar essas hipóteses em condições do laboratório escolar podem aproximar os alunos da compreensão de um dos procedimentos da construção do conhecimento científico (NUÑEZ; SILVA, 2008b).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio da área das Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (BRASIL, 2002) apontam como competências e habilidades necessárias ao trabalho prático e experimental:

- Identificar variáveis relevantes e selecionar os procedimentos necessários para a produção, análise e interpretação de resultados de processos e experimentos científicos e tecnológicos;

- Formular hipóteses e prever resultados;

- Entender e aplicar métodos e procedimentos próprios das ciências naturais (BRASIL, 2002, p. 12).

Desse modo, o procedimento de operacionalizar variáveis se faz necessário, como parte do ensino de experimentos orientados a testar hipóteses.